sexta-feira, fevereiro 29, 2008



Imagem: foto de Rafael Mariante

DESIDERATO

Luiz Alberto Machado

Até onde o sol brilhava eu não via a vida, vagava de mim solitário, a bel prazer do destino
Quando enfim você virou alvo e aguçou minha mira:
Você, a propiciatória de tudo que sempre aspirei e almejo com seu riso deslumbrante na rota da vida.
Você e a bússola de suas mãos fagueiras a me mostrar a trilha do norte nas carícias do seu toque. Você e o curso dos rios nos seus seios com o crisol de toda a sua manifestação.
Você e as águas revoltas do seu corpo em meu leme para navegar o infinito de sua imensidão.
Você que eu carançudo vasculho suas pernas e bocas e sexo, no seu regaço o meu espalhafato de mergulkar seus esconderijos no fogo da nossa paixão escandalosa.
Você e a sedução de sua alma nas rédeas do prazer que persigo no encalço do seu encanto para realizar minhas ambições mais famintas.
Você e farol nos olhos de mar na direção do amor a me dar o encontro de mim na descoberta do que sou em você.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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quinta-feira, fevereiro 28, 2008



UM POEMA EM CANÇÃO DE AMOR POR ELA

DESEJO
Música & letra de Luiz Alberto Machado
Interpretação: cantora Sônia Mello
Edição/arte visual: Derinha Rocha.

Quero ficar no seu coração
E assim poder sonhar
Toda aventura que pintar da emoção
Todo fervura que brotar da sua mão
Para iluminar a reticência que aprumou a minha vida
E um dia ser feliz e nada mais
Quero ficar no seu coração
E assim me agasalhar
Do frio impune que semeia a solidão
E feito imune repetir a sensação
Que vai para lua na volúpia mais fervida
E um dia ser feliz e nada mais
E quando o jeito de você virar absoluta adoração
Será o véu perfeito e a ternura abraçará minha ilusão
Quero o meu destino a confundir-se com o seu
E sermos um, o que a sina prometeu
E o que sobrar de nós será um ninho verdadeiro
E um dia ser feliz e nada mais

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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quarta-feira, fevereiro 27, 2008




Foro/Imagem: Derinha Rocha.

GINOFAGIA: GULA VORAZ

Luiz Alberto Machado

Quando ela quer, em mim se advinha: o ventre em colher larga a sianinha. Ela então se aninha, ficando de conchinha, em marcha-à-ré. É quando ela quer, olhos de oásis. Nada mal-me-quer, nem para análise. E quando ela quer e seus lábios de espera vencem a primavera e todo verão. Tudibão! E quando ela quer de manhã - que mulher! - ela cunhã vem com todo terém, manda ver. Benzadeus, seu ser: uma gracinha. Quando as linhas da sua palma envolvem minhas mãos até minha alma. E logo de chegada dá logo um treino: me beija como quem quer me dar todo o seu reino, ah que talento nato. E me faz de novato, marinheiro de primeira viagem. E cai na vadiagem de invadir meus recantos. Dou-lhe asa enquanto ela se faz mais mulher. É quando mais ela quer com o dorso agoniado. E dos seus flancos alados se faz deusa que dança. Balança estrutura, lança, vence e apura, convence e arromba todas as fechaduras, sou todo seu por abrigo. E diz que esse é o castigo, domado da vontade ao postigo que vai dar na sua inquietude de quem perdeu latitude, tudo o mais e que só eu sou todo seu ademais. Zas-trás! Grudo nela, ah, tudo nela a ver comigo. E maldigo, erramos a conta, nem damos conta que arrasou geral. No mais alto astral ela se esparrama e se lambuza na lama do meu corpo, verdadeiro mar revolto que nunca foi tão maravilhoso eito, nunca antes do maior proveito, que jamais dissipasse toda permanência e, por coincidência, lavasse o fogo na face e mais se debatesse quando irrompesse o gozo, a única atmosfera. É ela na vera toda louvada e lavada grata e sem nexo. Até ser no meu sexo crucificada.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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terça-feira, fevereiro 26, 2008



Imagem: Penteando os cabelos, 60x80 cm. técnica mista 24/03/2003, de João Werner.

A ESPERA DE BIA, ARIANA

Luiz Alberto Machado

É noite e eu respiro o meu segredo e a minha solidão nessa casa vazia. Apenas este espelho é testemunha de tudo, e tudo que vejo refletido é a menina que se escondera em algum recanto esquecido dentro de mim e que hoje resultou numa mulher fatigada que confere seu jeito procurando dela a ânima linda de ontem para se iluminar. Não, não é mais a mesma, eu sei, nunca mais fora a mesma, o tempo assim fizera agora ajeitando as flores do jarro, removendo a poeira impregnando tudo e que pesam nos ombros, ajeitando a pulseira, alisando a face, escondendo com as mãos os cabelos que já se insinuam esbranquiçados, os brincos, o batom, o estojo de maquiagem, sabendo que não adianta querer me embelezar, ele, por certo, não virá.
A noite é apenas descoberta por uma simples vela no castiçal de madeira, a minha única companhia enquanto escuro está todo o mundo ao meu redor. Onde estará ele? Sei lá, já perdi a conta de esperar. Só me resta olhar essa face lívida e cansada na frente do espelho enquanto tento solfejar qualquer canção de amor e depois me enrolar no lençol, o travesseiro, a fronha, a minha repetitiva existência, até adormecer e não mais acordar...
Ah! espelho, só você flagra a minha lágrima, o batom borrado, as rugas indesejáveis, penteando os cabelos, apascentando minhas feras que botam as garras de fora dentro de mim. Você, espelho, consegue ser o caleidoscópio da minha vida passada a limpo: o noivado que findou trágico, o casamento que acabou antes da hora e o namorado que se esqueceu de voltar no meio da fantasia. O lado bom disso, são as minhas filhas e a dor de ser mãe que não passa, vigilante, noites e dias e dias e noites. Os sonhos, ah! os sonhos de felicidade, a vida dura doendo no peito, a esperança de sempre. Olho para ontem e vejo... ah! não quero lembrar. Olho para o amanhã e sei que tudo vai se repetir parece que da mesma forma de sempre.
Pos é, nesse rosto realçado pela sombra que me atormenta e pela luz da vela que me falagra, está tudo o que me resta das cirurgias, dos dias de choro, dos dias de riso solto, do ventre ardendo de prazer e me reduzindo à lembrança do namorado que não voltou nunca mais. Não dá para ver-me prendendo as mãos entre as pernas e o sexo. Tudo, tudo é muito difícil. Vou rabiscar uma carta, mandar um mail, discar no telefone para algum número, não, eu sei, não adianta, a vida está fazendo a sua parte. Ah! se eu pudesse rever a infância mimada, a adolescência agitada, tudo muito riso e muita felicidade. Agora, sozinha no quarto e nesta casa juntando as jóias nenhuma, algumas bijouterias, o diadema, algumas lembranças risíveis do passado, o castiçal molhado de puras lágrimas, o botão da flor como se estivesse nas feiras livres onde tudo está a granel: desejos, vassouras, verduras, panelas, pratos, talheres, gavetas, toalhas, tudo na carne da unha infestando-me de recordações no alvoroço de minha inquietação. Eu me espremo sozinha, passo o perfume na face, a fragrância na pele, tudo guardado esperando por quem nunca vem. Eu fico só no meio dessas tranqueiras foleadas, brincando de mentirinha que ainda sou amada. Ah! Quantos prazeres guardo embaixo da saia? Quanta volúpia nasceu da minha boca e da minha língua? Quanto frenesi acendi com meu corpo os prazeres do homem que insiste em não voltar? Eu me joguei de cabeça nesse amor e ele tarda e teima sem retorno. Estou só, toda esperança no peito, as mãos sentidas ávidas por afagá-lo enquanto eu morro supliciada com o desejo arraigado de alcançar elevadas alturas orgásmicas, o bom-gosto dos suntuosos lugares, o fausto do refinamento, a nobreza da fuga sentimental enquanto lições e tribulações são o línquido azedo da taça da vida que queima a minha ânsia interior e fujo do sórdido e da vulgaridade. Eu tenho o compromisso na palavra como jura de fogo no toque dos metais: eu amo. Eu sei, sou dominadora, sou imponentemente afável, às vezes impaciente com a demora, e me enganando ao fazer algo como ir decorando a casa, adornando o corpo, risonha para mim, teimosa por querer sempre sem que a piedade apaziguasse, e despetalando a rosa bem-me-quer, mal-me-quer. Ele me quer, eu sei, não vem e quem lhe chama na noite escura debruçada numa fria madeira do móvel a fitar duma vela que denuncia o meu ser no espelho, onde eu percebo o meu olfato aguçado do seu cheiro se aproximando, minha audição aguda ouvindo seus passos ao meu encontro, e à noite minha íris abre-se para buscar-lhe a imagem alhures na querência que venha, e se não vier boto prá fora minha sanha de suçuarana, andando na ponta dos pés como uma felina furiosa, na minha espinha flexível e poderosa, feroz, eu trêmula, pálida de raiva escondendo a saudade nos olhos e vingança de esganá-lo ao primeiro contato. É, ele não vem nunca e quando chega eternamente exausto, regiamente maduro, estupidamente tímido, enquanto eu balanço fogosa, tremendo na base com uma a chuva de uivos de loba e o meu amor numa areia movediça como se fosse o meu maior pecado lanhando meu dorso, o grande amor que aciona as palpitações do corpo, a luxúria da carne quando eu saio das trevas sem dar-me conta, abrindo o vestido, nua e deslumbrada, o cetro dele a me seduzir, eu voluptuária enfermeira, rameira particular, passeando por paisagens fenícias, Veneza, Berna, o lago Zurique e Edinburgh durante o seu beijo e o seu afeto. Eu me desmanchando atenta, zelosa, delirante, sem pose, a sua posse, o meu espanto com o formigamento na epiderme, o apetite e o deleite da matéria em movimento, na minha alcova onde somos iguais na forte atração recíproca, ah! como esqueço de mim e entrego-lhe tudo o que sou, eu com meu peito que se estufa de alegria, cheia de meneios fazendo-me flor quando faz de mim seu saxofone, servindo-me orvalhada ao seu ter, cheia de graça, deitada ao seu colo e mexendo todos os seus meridianos. Sou sua oferenda, a sua taça erguida, porque ele é como se fosse um deus e eu como uma mercadoria cobiçada, invadida até nos pensamentos, possuída toda pelo seu hálito de álcool e cigarro, a sua cara de Aretino safado, com seu hedonístico jeito obsceno de me cativar, seu refinado sondar, seu galante jeito de me descobrir, como um Diderot lúbrico, um Voltaire lascivo, um Mirabeau fanático, um Marquês de Sade indomável, a me chamar de Vênus arrancando-me a camisola, empurrando-me violentamente o seu cordão de São Francisco, a sagrada serpente que me leva ao orgasmo e à revelação espiritual, revolvendo minhas entranhas com suas mãos buliçosas, precitando-se de mim. Ah! eu sempre fora a sua plantação regada de carinhos e quando dou as costas, eu sei, ele me morde o ombro com uma sede de séculos. Ah! mas sua presença é algo além de minhas forças, enlouqueço e definho enquanto ele desenguiça minha máquina sobejando meus líquidos divinos e me enterrando sua gula profana, ah! quantas vezes se afogou em mim como quem mergulha águas prazeirozas, fazendo com que eu conheça todos os seus músculos, todas as mentiras, toda luxúria de um homem apaixonado se acercando dos meus ouvidos com seus gritos lancinantes de prazer; depois sentir-lhe o membro viril tocar entre as minhas pernas; e despejar o sêmen dele na minha mão, no meu rosto, na minha boca, nos meus seios, no meu ânus, minha vagina, minhas coxas, braços, pernas, labuzada toda para ser dele que se aproveita disso, atingindo a vulva, o útero, fecundada a fonte e todos os meus rios. Parece insaciável mordendo o meu pescoço e arrepiando-me ao seu contato até que mergulha no meu decote e descobre o meu pudor de santa, o meu pecado de puta de que fui sua janta, café da manhã, ceia, almoço e sobremesa; fui sua cama, mesa e banho; sua barba, cabelo, bigode e pentelho; fui bebida e sobejada; servida e seviciada; amada, comida e rejeitada; santa e demoníaca; panacéia e veneno; pronta para a carícia e o escalpelo; puxada pelos cabelos, partida em bandas, cuspida e escarrada; banida e enjaulada como a cobaia e a punição; seduzida e estrupada; fui o clímax da sua satisfação e a maldição dos tempos; fui jurada de morte e de cortes vitimada; gloriosa e sucumbida; desejada e maldita; adorada demais e a costela desprezada; fui égua em sua cavalgadura e senti seu peso nas minhas costas, na dor de perder-me a alma e o senso no coito anal, quando depois de gozar se estendia do lado enquanto eu lhe punha para dormir o sono dos justos, alisando o seu sexo. E depois ir embora sem ao menos dizer adeus, até logo, o beijo derradeiro, deixando o meu sorriso em sua carne; e eu sem sossego amarrando o bode onde podia, delirante para não deixá-lo ir nunca mais, mas fora, e eu ficara e continuo a me espremer sozinha, a vela apagada e eu choro a noite no travesseiro. Daqui a pouco o sol se levanta e eu tenho que sorrir para a vida.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados do autor.

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segunda-feira, fevereiro 25, 2008



Foto: Cindy, de Lany da Costa.

A FEITURA DE NILZA MENEZES

“Com a boca esfregar meu poema na tua pele para te marcar com o ardor da saliva no prazer das palavras (...) o corpo movido pelo espírito entregue ao vendaval ao temporal desaba em queda livre no abismo da noite escura (...) arrastar o medo de sentar na cadeira e não ter a eternidade para me balançar (...) anos a fio te esperei com a mesa posta hoje só porque demorei você vira e dorme (de costas) coração bomba relógio em estado de alerta meu corpo espera a explosão não te conheço mas te espreito o olhar deixa eu entrar nesse jeito de ser que olha não seu para onde não sei o quê deixa eu saber o gosto da tua pele e do que é feito você meu personagem é criado amoldado para te caber sei cada palavra para dizer quando ao meu lado teu corpo dorme cansado (...) falo o movimento dos meus lábios nem sempre meu corpo reconhece mas até quando não falo sinto meu corpo lhe é dado de forma ritual em feitio de oração me entrego sacralizando seu gesto profano (...) me deram homens mágicos: príncipes que não consigo acordar ídolos que não posso alcançar bandidos que me seduzem botos que desaparecem nas madrugadas e lobos maus que me assustam meus dedos comprimem meu corpo para tirá-los de dentro de mim assim sinhôs desejo um homem só de carne feito eu matéria em convulsão coloquei seu nome em todas as fogueiras para arder em mim a sua pele ensaiei rituais de tirar o sono espetei seu corpo com as agulhas do olhar por fim esfreguei meu corpo no seu para medir a força do maior tesão e descobri meus poderes na sua fraqueza com o toque das mãos vem, deita da sua pele o cheiro de bicho acuado pela fera que em mim te espreita (...) suas coisas ficaram incorporadas as minhas quando seu corpo quis sair do meu, meu espírito não retornou sempre em atitude suspeita armada pronta para atirar o coração num grande amor”.

Nilza Menezes é poeta, escritora, professora e adepta do Candomblé, autora do livro “Feitura”, publicado em 2003 pela Editora da Universidade Federal de Rondônia.

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sexta-feira, fevereiro 22, 2008



Imagem: Maldita, de Sérgio Frabris.

CONTENDA

Luiz Alberto Machado

Ela nua e linda ali pronta para o ataque: pele despida assaltando o meu coração apressado que vai com toda munição nas mãos para suplantar suas defesas e trapaças na mira do meu gatilho até a última instância de todas as suas sedições voluptuosas.

Ela, a Vênus nua dos olhos faiscantes de infinitos desejos e que possuem o néctar do gozo dos mil ventos que inebriam com o fogo das suas entranhas rasgando a velada intimidade fecunda de amor onde eu sou remador dessa canoa de desejos.

Nua e linda se fazendo errada às vergastas do meu carinho ateu enquanto o seu sorriso estelar compõe os matizes de luz que irradiam de sua carne fêmea uivante queimando a lenha da minha canção ardente e estiolada

Não me contenho e sou manhã integral no seu paraíso e embriagado com o vinho do seu corpo de vertiginosa flor das entranhas nuas com todos os ferrolhos destrancados, todas as escoras rebentadas, todos os pilares removidos, todas as searas para o meu domínio e eu torrencial no contágio da sua boca que engole a minha agonia e o sangue fervendo nas veias.

Sou mais que faminto porque sei que não oferece a menor resistência e se deixa espalmada no tabuleiro pronta para o sacrifício da última cartada no bem mais precioso: a sua dinamite úmida onde alcanço o céu e recolho toda maravilha do dorso felino no sonho de Ariano.

Revigorada e à espreita em plena temporada de caça, ela acomoda a nudez de esvoaçante onirismo: dos pés à cabeça é só sedução. E ela insurreta me faz caudatário da sua sublevação que nos confunde caça e caçador na mesma batalha, guilhotinando o tempo, minando os espaços e eu fico refém da fogueira do seu ventre, dos sóis e luas da boca dos lábios de carmim e riso tentador com açoites incontáveis que esfola a alma e se desata no arremesso demolindo todas as estruturas do universo.

Nosso olhar se confunde em nossa pele eriçada: é tudo explosão no trapézio da cama-de-gato, nos grilhões do desejo, na questão de honra de esmagar enquanto a faço prisioneira impedida de desertar do meu ataque. Assim, nua e linda capitula e se banqueteia na minha proclamação triunfante sobre a nossa mútua rendição.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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quinta-feira, fevereiro 21, 2008



Imagem: foto de Jam Saudek

UM POEMA EM CANÇÃO DE AMOR POR ELA

ARDÊNCIA

Letra & música de Luiz Alberto Machado

Que seja como for
a chama desse fogo ardendo o nosso amor
no vício do prazer
me deixe exangue
e lânguido a te querer
a te querer demais
a te querer demais
e desfaleço com o tempo
que o vento isento
me traz o tormento
a hostil solidão a te procurar
e vem teu corpo e revigora
a pureza do tom
do teu dom de tocar
se acercar dos meus sonhos
meu corpo, desejos
lampejo seduz
meu afã
minha estrela manhã
amuleto de luz
meu talismã
esperança de vida
que traz escondida no teu olhar
e a tua voz a me embalar
nos segredos vadios
nas nuvens lençóis com furor
nos mistérios sedentos
que invadem ardentes
e saciam o amor
é novo dia
é a mais rara poesia
que descubro a cada via
do teu corpo a me roçar
vem num átimo de um novo beijo
e eu recolho o teu sobejo
cada nervo é uma folia
a cada perna a se enroscar
ritual do tempo
e o firmamento a confundir-se em céus
em gemidos sensuais
luas ânsia e bocas tão iguais
refazem o nosso amor
nosso amor.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992.

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quarta-feira, fevereiro 20, 2008



Foto: Derinha Rocha

GINOFAGIA: ESFÍNGICA

Luiz Alberto Machado

Lá vem ela esfíngica linda cínica com suas quatro luas. Ela vem toda nua, fuviando, toda minguando, enxerida e na medida do desejo com meu beijo devorador. Ela é o andor porque ela é dos meus olhos. E sou o molho de vento que sopra no seu corpo e sou o fogo que queima sua carne quando a tarde faz rosa e ela ávida cheirosa no cio como um buquê para mim. E assim eu não abro mão e esquento forno, acendo o fogão, quando ela no torno fica em ebulição. E é nossa quebra de braço, no muque levo o terraço, na marra as fagulhas e ela jogando pulha enquanto eu socado dentro dela na maior acromania. Ah, é a maior orgia no nosso gólgota incendiado. E no seu alvo alado, meu bote acerta em cheio. Ela é só esperneio e dá rebote e eu na soieira catando a fagueira e seus vaza-barris, sua teurgia e seu pirangi: corpo delgado de deusa com minha boca na sua correnteza. Aí vira bailarina na marola quando eu entro de sola no seu oásis faustoso, sou mais que guloso e ela fraqueja e é toda andeja por cima de mim. E assim sou eu que mordo a primavera nos seus montes entardecidos. Sou eu renascido que viro fera quando o sol se põe nos seios dela e ela se perde por inteiro no meu fogareiro. E ela desenguiça. E com sua língua maciça tão grata e seus lábios de fêmea nata enxuga meu suor nos poros do meio-dia. A saliva, as suas narinas vivas, meus pelos arrepiados. O seu paladar e o bafo do seu respirar aplicam todos os golpes. Sou maior que o meu tope, viro poeta de todos os panteões com seu nome em todos os poemas, todas as canções. É assim que ela arrasa, eu me dou com ganho de causa. Quer saber de uma coisa? Eu quero mesmo seus olhos como verdadeiros semáforos enlouquecidos. Eu quero mesmo ela bravia enxerida toda ardida e com o gozo vencido. Eu quero mesmo ela inadimplente liquidando a fatura, com toda bravura do amor incontinenti. Eu quero ela linda que dá gosto, nua inteira em pleno agosto a me fazer sua rapadura, lavando a minha secura, metendo as catanas, ai ai, ai, para que seja a minha coisinha tão bonitinha do pai.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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terça-feira, fevereiro 19, 2008



Imagem: Danaë, 1636 (The Hermitage, St. Petersburg, Russia) do pintor e gravurista barroco holandês Rembrandt van Rijn (1606-1669)

O VERMELHO DA AMORA

Luiz Alberto Machado

"(...) da quimera ordinária de costas faz que se esvaia a ilusão banal de dorso desmaiar a miragem banal em decúbito..." (Mallarmé)

Privado fui, então, de todos os amores. Sabia desde já que tanto Pomona, quanto Lucrécia, quanto Safo, Aijuna e até Nachásh eram transformações de Perséfone, as suas muitas caras e heteronomias.
Pomona ficara na proibição de ver Lucrécia, vendo-me na pele de Piramo e Tisbe. Lucrécia fora expulsa escandalosamente por minha mãe que flagrara nossas libidinagens soltas. Eu já convivia embaixo de sua saia, cheirando seus mijados, viçando em sua vida e minha mãe desconfiava e me perseguia insone. Até que fizera um boi-de-fogo imenso e provocara meu pai a desterrá-la do nosso convívio. Ela foi-se e levou-me a alma, ficando meu corpo depenado.
Certa tarde Ezined, a Nizinha, uma estreita amiga de Lucrécia, trouxe-me uma missiva sua. Tão longínquas foram as suas palavras quanto a nossa distância cislunar, mas tocara fundo, parecia que proibido nosso amor mais aumentava.
Nizinha era a nossa fenda na muralha da proibição e nisso combinávamos encontros nos arredores da cidade. Desencontros nos privaram de saciar a sede que nos molestava e quando conseguimos ver-nos, ela me dissera que quando morresse queria ser enterrada neste local do encontro, como se fosse o túmulo de Nino, onde nasceria uma belíssima amora. Beijamo-nos ardentemente, mas a urgência da separação era imperativa, ela se envolvera com outro sisudo macho que não lhe permitia mais escapulidas. Fora o preço de seu refúgio e do escândalo da minha mãe. Não poderia mais retornar nem me ver, estava aprisionada para poder sobreviver.
Uma lágrima escorreu-lhe, fiz menção de sugá-la, não deixou. Tinha de ser assim e nem adeus dissera. Sofri a partir dali.
Muitas e muitas vezes pressionei Nizinha para que me desse seu paradeiro.
- Esqueça, ela agora pertence a outra seara.
E dizendo isso, deitava minha cabeça ao seu ombro, acariciando meus cabelos, alisando minhas faces. Confesso, eu chorava torrencialmente e Nizinha fazia de tudo para me alentar. E todas as tardes Nizinha arrumava um meio de me acalentar daquela difícil situação. Eu já até me acostumara de sua companhia e delatava as confidências das estripulias amorosas com Lucrécia me remoendo por dentro na sina desafortunada. Eu nem notava que ela se excitava com a minha sofreguidão, sempre prestativa, solidária com a minha dor. Até chorava com meus queixumes. Dissera-lhe que Lucrécia era a Pomona que eu não conseguira segurar, satisfazia minhas necessidades de não ter conseguido ficar com Pomona como eu queria, substituía até a minha mãe fria e malamada que nunca me fora terna ou maternal.
Nizinha esforçava-se por me agradar, me deitava na relva, deixando a minha cabeça no seu colo, contando-me histórias de mulheres que amaram e não foram correspondidas, aliviando-me do mormaço e tentando fazer rebrotar em mim o viço que perdera. Ela mesma me dizia que amava e não era correspondida, contando-me da dor do Cyrano de Bengérac. Tocou a minha sensibilidade, foi a minha vez de demonstrar ternura quanto aos seus sentimentos. Tornamo-nos, então, cúmplices de uma mesma dor. E, todas as tardes, um sacudia o outro, retirando-nos do marasmo, da misantropia que nos tolhia, da soturnidade que nos abalava.
Passara a ver-lhe com outros olhos: o de uma amizade sem confins. Mas ela mais mergulhava no dissabor e tive de me desdobrar para aflorar-lhe um riso qualquer e vê-la deslumbrante como sempre fora: alegre, jovial e bela ao jeito dela, uma beleza singular e dissonante.
Um baque. Um estalo me revirou por dentro. Ela chupava diligente um pirulito, mostrando-me seus grossos lábios róseos, sua boca enorme e seu jeito sedutor de felar. Estremeci e desentoquei o calor na minha virilha. Ampliei minha visão e conferi seu tronco, os seios arfantes, o umbigo delicado, o ventre arrochado pelo shortezinho curto, as coxas volumosas, as pernas bem desenhadas, os pés descansados.
Retornei toda a geografia até chegar nos seus olhos, ela vira os meus esbugalhados checando todo o seu trajeto corporal. Tomei outro choque, ela semi-sorriu enquanto desabotoava um botão da blusa, deixando à mostra a fresta entre as duas maçãs sedutoras. Fiquei imóvel e boquiaberto. Nunca me dera conta daquela suculência. Ela com seus olhos agarrados no meu. Fiquei perdido, meu Aconcágua dilatava crescendo por dentro da bermuda. E me agoniava. Ela engolia o pirulito inchando a bochecha de um lado para o outro inflando a boca como se pudesse abarcar toda dimensão de polegadas que se insinuassem da minha espada. Aquilo acelerava a batida do meu coração. A brisa da beira do rio não amainara o meu suadeiro provocado pelo desabotoar de mais um botão da blusa, escancarando mais o volume dos seios que se insinuavam prisioneiros dela. Eu estava imóvel, paralisado como por um novo feitiço de Nachásh. Ela largou o pirulito longe, passando uma de suas mãos na minha face e a outra alisando o meu pescoço. Timidamente minhas mãos se encaminharam aos seus seios, abrindo-lhe por completo a blusa e constatando os lindos seios de Eva Kryll para que eu chupasse tal bezerro desmamado. Beijei-lhe e aqueles lábios faziam bem ao meu paladar. Com alvoroço desnudei-lhe, deitando-a na terra da beira do rio. Depois de nua fiquei fitando o seu corpo, ela revirou-se, ficando de quatro e vendo-me, de cabeça para baixo, entre as pernas. Era uma cheba de cuscuz, tufada, e um cuzinho cor de rosa, lindos, à altura do meu rosto. Lambí-lhe os lábios da vagina e o orifício anal. Ela ronronou. Um arco-íris se fizera entre nós dois, trazendo uma música de sonhos e um cenário de céu para os nossos corpos. Que lorto, que virgo! Tudo exposto para o meu envoltório, tudo lentescente para o frege, que turgescência! Eu estava no rouço, arrancando-lhe o cabaço para a nossa checha, apalpando seus aclives e declividades. A poça de sangue da sua virgindade aguou o terreno e nosso sexo arrebentava o tempo, sobrepujava espaços, ultrapassando dias, usurpando calendários, maculando datas comemorativas e enovelando nossos corpos.
- Queria presentear a mim e a você, aceita? -, disse-me ela com a cara mais safadinha que se possa imaginar.
- Claro! O que é que você quer? -, respondi-lhe lambendo os beiços.
- Quero uma coisa que eu sei que você está louquinho e eu tô doidinha.
- Sim, se você acha isso, vamos lá, seja o que for!
Nem podia adivinhar o que era. Ela ficou de quatro, cuspiu no dedo e esfregou no ânus, deixando o orifício róseo salivado.
- Venha, é dessa forma que eu gozo de verdade!
Era o cúmulo do hedonismo! Fiz o meu remígio com adefagia e empurrei no seu sesso. Ejaculei com os nossos rounds e pude ver-lhe o sorriso faceiro de felizarda possuída.
Agora Nachásh era o meu pênis e Perséfone se misturava com o oxigênio que me dava cada vez mais a vida.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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segunda-feira, fevereiro 18, 2008



Imagem: Prueba de artista, do argentino Alfredo Benavidez Bedoya.

HAINETO Nº 10 DE ARI LINS PEDROSA – Um tributo ao poeta renascentista Pietro Aretino

Alfazemas exalam das tuas gretas, perfumando curvas prazerosas onde escorrego libertinamente em rosas. Pequenos seios em botões serenos, agora-agora, revelam montes humanos. Clássica silhueta de senhora, desmanchando-se no orgasmo de pastora, porta-voz da sedução atroz.

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sexta-feira, fevereiro 15, 2008



Imagem: Neith with Tumbleweed, 1986, do fotógrafo norte-americano Herb Ritts (1952-2002).

FASCÍNIO

Luiz Alberto Machado

Quando a atração de tua régia magia corporal gravita a minha concupiscência como uma girândola espetacular de todas as maravilhas festivas, torno-me escravo de teus desejos aflorados pelas buscas de tuas mãos magnetizadas que requerem de mim atracar célere de paixão no seu porto mais que seguro

E eu enlevado pelo feitiço de tua sedutora nudez fascinante, capturo viril e ancho de satisfação o teu corpo que treme ao meu leve e carinhoso contato buliçoso de apalpar por todos os teus contornos assimétricos, de alisar tua pele de caju bom de chupar, de esfregar minha carne na tua carne irresistível e de revirar tuas entranhas até não mais saber da louca querência de se entregar

Aí a minha perícia se completa com arroubo e ganha fôlego revigorado para me apossar dos teus encantos, usufruindo todas as tuas oferendas que castigo com o látego das minhas carícias e sinto teus olhos fecharem de tesão fugarem da lucidez rumo a alucinação que me fará senhor de todas as tuas remexidas de gozos que povoam nossos sonhos obscenos e te farei provar de todas as insanidades que me arvoram ao teu querer

E assim indefesa eu te penetro como quem se enfia na cata do pudim mais delicioso e rebusco forças para saculejar teu prazer com o meu dedicado vai-e-vem e te enterro fascinado e túrgido no coito de toda a minha vida.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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quinta-feira, fevereiro 14, 2008



Imagem: Simone Aver.

UMA CANÇÃO DE AMOR POR ELA

SERENAR

Letra & música de Luiz Alberto Machado

Ah, o amor brotou de mim como se fora a flor de lis
Seguiu no triz e nem se revelou
logrou a dor em certos sonhos infantis

Ah, o amor predestinado a ser eterno aprendiz
Fiz e refiz e nem se serenou
E arrumou o que de breve não se quis

Chegou de dentro como chama de vulcão
Queimou com força e fez a vez do coração
E nem sequer sabia onde encontrar você

Amor, fez a loucura dominar a solidão
Me diz que não que a ilusão não vai mandar
E vai me dar um sim até não ter mais fim

Chegou de dentro como chama de vulcão
Queimou com força e fez a vez do coração
E nem sequer sabia onde encontrar você

Pra me iluminar até que o mar
Seja comigo agora
Não vejo a hora de poder tocar na sua mão
Toda emoção pra se valer
Precisa ter o dom da vida
Vida vivida pelo coração.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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quarta-feira, fevereiro 13, 2008



Foto: Derinha Rocha.

GINOFAGIA: MÚTUA COLHEITA

Luiz Alberto Machado

Ela chega mansa erradia como uma festa no raiar do dia só pra me enlouquecer. E vem pra valer toda indulgente com os olhos fulgentes e cheiro raro. Eu logo deparo e se achega incidente jeito avaro indecente soletrando meu nome como quem morre de fome reincidente. E mais um tento e tanto com seus travessos encantos de gueixa amorosa a vicejar com seiva de rosa no ar e um beijo de fogo queimando tudo. E arde com zanga, sobretudo, a transpirar toda nua, dando pano pras mangas na grua da minha tenda onde ela desvenda seus seios à mostra robustos e opulentos de apostas, seu busto me provoca e sedento tomo-lhe a mão e o convite para saciar meu apetite pagão porque sou seu vilão e me dá de badeja o seu fruto bruto e foragida, vira o seu cocuruto toda tímida, minha beija-flor libertina. É quando ela inclina, menina vermelha insensata, tão feliz abelha candidata às minhas emboscadas. É já escrava pendurada e submetida à minha clava arretada que sou eu torpe menino mais perto no seu corpo feminino todo aberto, fazendo folia no seu lastro dorsal até a euforia de sua cauda magistral inclinada, gemendo, duplicada. Eu na picada, mordendo sua cútis fina, sua fonte felina e toda espessura estendida, estatura rendida feliz trepadeira mendigando a mamadeira com seus olhos amendoados. Eu me dou aos bocados e a gazela se esgoelando pitoresca voando nefelibata, carne fresca, face grata, louca mais insensata, me dando viva pra que a minha saliva me faça verdugo e senhor, o conduto e o condutor quando se ajoelha estirando a língua rolando golpes e ela aos trotes, sua cabeça a premio, eu abstêmio mandão que ela suplica, ela se duplica e diz que ama quando me vela na cama com açoites erradios e o corpo escorregadio entrega em profusão: ela é minha, sou dela. E nela só satisfação.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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terça-feira, fevereiro 12, 2008



Imagem: Fellatio, Isis/Osíris.

A CHUPÓLOGA PAPA-JERIMUM

Luiz Alberto Machado

A noite e a solidão me vinham duma só vez. Enquanto descia a calçada da praia com o vento incendiando o irrevelável no sopro dos cabelos aureolados, também juntas vinham todas as imagens mais inimagináveis e desconexas, soltas e desconcertantes no juízo, se alojando desde o mindinho do pé ao topo da cabeça.
Fui, então, me arvorando a passear solfejando à toa pela paisagem convidativa. De repente, quando, ao longe, com o barulho das águas do mar luzidio e os reflexos da lua em noite cheia, e a minha noite solitária seguia o olhar palpitante daquela que se parecia ao longe uma coisa que se vê quando vai e não volta nunca mais, tomando da lua a luz das estrelas e a emoção alvoroçada que saculejava minhas veias adentro, até sentir-lhe de longe o mormaço etéreo do seu ser sobre a minha cobiça desenfreada.
Ah, que a noite era mais longínqua que a sensação de tê-la bem pertinho e provar do seu oxigênio restaurando minha vitalidade de quase morto perdido nas sequelas e adversidades calejadas de quem sabe o mundo ao alcance da mão e lá léguas muitas depois.
Ah, como ela era bela com a sua face de lua impune e sedutora, uma princesinha chocha que enamorava a minha afeição para quem a vida alentava e salvava do escanteio compulsório de sempre na esgoelada e lúbrica arranhada da voz sob o tormento que me açodava a possibilidade de apertar-lhe as mãos doces monóicas pela força de poder no jeito de agasalhar a minha hora de fragilidade, temperamentalmente fêmea e reluzente, decididamente determinada a alcançar o seu querer, enquanto eu timidamente apenas acendia o meu querer-lhe a qualquer custo.
Ah, como ela era terminantemente do tamanho que toda minha querência podia ser premiada enquanto ela, do outro lado da rua, não largava o meu olhar, nem eu ao dela, sabia, conhecíamo-nos naquela hora, aliás, nem nos conhecíamos, ainda, apenas descobríamos o momento que flagrávamos ali na captura e nenhum gesto fora necessário para que ela atravessasse com firmeza de caçadora sagaz a rua que distava entre o meu desejo e o dela, quando se acercava da minha inércia, divisando-me rente ao seu cheiro de terra florida a dar-me paz no meu desconserto intranquilo, de perceber o nosso tremor de desejo na carne adente.
Ah, como seu lábio rubro e pronunciado com todos os tentáculos feminis de absorver minha sanha louca e de abarcar minha sede num beijo transcendente com o gosto da paçoca do pilão de Pirangi do Norte, da tapioca com ginga na Redinha, da guaiamunzada na Barra do Rio, do grude de Extremóz. E voávamos sobre as dunas de Genipabu enquanto a rua repleta de frinfras & garbosos & petulantes & de nada & de mentirinha de ontem e de hoje & testemunhavam nossa loucura obscena e radiante rasgando nossas vestes & carcaças & intimidades descobertas naquela iniciação, com as minhas mãos buliçosas manuseando suas margens, seus contornos, seu território, sua reentrância, sua curvilínea geografia.



Imagem: Kama Sutra, Chumbitaka.

Ah, era bom demais de íntimo para ser público na calçada da praia, eu levado, ela conduzindo meu faro de cão sedento e desvalido, até a alcova dos sonhos que eu não sabia existir jamais para que minhas mãos pudesse tocá-la mais na areia fininha da clarividente água do seu corpo, e eu pudesse beijar suas coxas em brasa e sentir-me a volúpia de sua alma e seu agridoce ventre e o incenso de sua carne ardendo suas chamas que carbonizavam o meu querer, a seguir-lhe as pegadas, tonto, cego, entregue e sorvendo a totalidade do seu ser desnudado na rota do sol e eu me enfiando pelo seu Morro do Careca de Pontanegra, servindo-me do seu circo de Búzios, dominando seu jeito de golfinho de Pipa, degustando da suntuosidade de seu Cotovelo, mergulhando na profundidade de sua ilha de Galinhos, até saber-me impregnado por seu olhar maravilhoso de por do sol do Potengi com sua balsa na Igapó lá no fundo levando toda a minha consciência para nada mais saber de nada de nada de nada & nada.
Fui usurpando a sua barreira do inferno que é o céu e o purgatório e todas as celestiais camadas da eternidade mais finita das infinitudes que estonteiam a cosmogonia de semi-deuses, pseudo-deus feito eu, até provar do orgasmo no cajueiro de Pirangi do Norte.
Ah, eu me deleitava e não mais sabia de nada, a vida era ela, meu sopro vital e mais nada e mais nada me interessaria a esta altura, quando tudo era lindo e celestial no ápice da minha crença oculta.



Ah! E onde estávamos não sabíamos, nem seu nome nem de mim nem da nossa comunhão de tudo e nada, eu jogado como um navio errante de Rocas e ela a água imensa do Atlântico levando-me pelo oceano adentro até Pacíficos & Índicos & mais até onde nem mais sabia além de céu e mar, apenas, enquanto eu me sentia submerso em seu segredo porque ela roçou-me com sua língua reptante os meus músculos toráxicos, o umbigo e o declive das intimidades sondadas com seu faro e seu toque palatar no encontro da coxa e do ventre acercando-se do meu cordão sacralizado e lambendo-me a superfície da minha pontiaguda efervescência e abarcando-me a glande e engulindo rijo na felação de sua caverna até a abóbada palatina mais estrelada com o cometa da língua solta a lambuzar-me de seu sobejo mágico babando abundantemente até acender-me a vida. E tudo era tão mágico quanto exótico de prazer ao chupar-me levando de mim todas as posses que reconditamente ainda poderia possuir todas as latências, toda existência e apropriando-se da totalidade de mim que a partir de agora era levado pelo seu ansioso poderio de mulher insaciável.



Imagem da artista plástica argentina Sandra La Porta.

Ah, como fizera de mim reduzido a ser apenas o macho que transferia toda sua vitalidade para a sua vampiresca necessidade de se apoderar de toda conformação de menino homem feito que nunca ficou adulto de envelhecer como uma criança que não sabe o tempo que passou e que passará e já nem se dará conta que o sisifismo se faz imanente até o labirinto do átimo paradoxal.
Ah, era ao mesmo tempo a minha fortaleza restituída, a minha inutilidade restaurada para algo maior que minhas próprias proporções, do que me levava e exauria, resultando a minha segunda pele hercúlea, poderosa, remoçada e viril duplamente satisfeito nas mais íntimas necessidades.
Era o espetáculo da entrega onde a posse era despossuída e a servidão era a completa interação entre a deificação da carne e a dessacralização da alma.

©Luiz Alberto Machado. Direitos reservados do autor.

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segunda-feira, fevereiro 11, 2008



Arte de Derinha Rocha.

A POÉTICA ERÓTICA DE ETHEL FELDMANN

Eu gosto dessa minha língua que rola e rebola quando falo que se estica quando se inventa no amor da dama, da namorada, da mulhar amada. Eu gosto dessa minha língua sem nome, tão colorida que se esquece da cor. Eu gosto dessa minha língua onde o preto também é negro aquela gente de cor a constratar com a minha que não é nenhuma. eu gosto dessa minha língua que no outro lado do mundo escreve pessoamigalinda Eu gosto dessa minha língua rebelde que inventa a palavra em cada instante Eu gosto dessa minha língua que se revolta e joga fora o sutiã Eu gosto dessa minha língua que fura o cinto de castidade inventado na gramática Eu amo essa língua tão minha que se espalha sem dono em cada esquina Eu gosto dessa minha língua que importa a língua dos outros tão linda a língua de quem fala com amor essa língua que se estica

-*-

Quero minha cabeça em seus braços, paro o relógio deixo que o tempo se ausente. Se me for dado somente um minuto, não lamento. Penso nele devagar quando me beija a boca, a coxa entreaberta, a púbis. Quando me beija por dentro. Sou a puta da esquina, sou a virgem Maria. Se o seu tempo for só de um segundo será nele que inventarei a eternidade. É assim que o amo. Não me importa se no minuto seguinte já não está comigo. Ele é o homem que amo. Se o seu tempo for de um compasso, que ele seja de pausa, porque urge o silêncio. Se for um desenho que ele seja branco – tão intenso o que sinto. Eterno é o momento quando ele me beija por dentro.

-*-

Nos meus lábios sinto o presente O semen invade o céu – da minha boca Se esgueira pela garganta Me alaga por dentro Fruto da terra que se diz amada

-*-

Nos retratos dos outros daqueles que não os meus sonhos. Com o suor do teu corpo alagado em mim no relaxo descuidado do teu braço anunciando a partida em cada paragem. Sonho com esse amor que se esfrega enquanto promete o fim.
Nos retratos dos outros invento o começo e o fim.


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sexta-feira, fevereiro 01, 2008



Arte: Derinha Rocha.

Gentamiga,
Vamos cair na frevança da Folia Tataritaritatá!!!

Duas advertências:

Se dirigir, não beba; se for beber, me convide que a gente toma uma de lavar a terra.

Outra:



Beijabrações & até dia 11 de fevereiro!!!!

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Imagem: do escultor francês Auguste Rodin (1840-1917).

A LÍNGUA NO ÁTRIO DAS DELÍCIAS

Luiz Alberto Machado

De repente eu me vejo boca cheia com a minha língua beija-flor friccionando a ignição do eflúvio mais que saboroso do teu isósceles invertido que goteja tesão no encontro das coxas de tua nudez de janelas abertas e portas escancaradas.

Não me furto, nem posso; nem pestanejo, muito menos. E vou avançando sobre a cachoeira dos prazeres de tua orquídea apetitosa para a libação exploradora do ventre até o âmago deslumbrante de fruta boa madura, bainha do néctar de toda flora possível, fruteira das maravilhas, roseiral de todos os perfumes.

Vou determinado com garra, ímpeto e loucura pelo depósito de luxúria com meus ósculos de paixão e ela doida varrida, beijando, lambendo, chupando a drupa deiscente na dilatação da vulva aflorada.

E pela baga suculenta vou perquirindo as entranhas de cheiro bom e provocante da tua terra, perscrutando teus segredos mais recônditos e mais crescendo com meus arrojos pelas estalactites do gozo, pelas estalagmites do cio, além da cratera de um vulcão em perene erupção de volúpia.

Revolvo tudo me lambuzando nesse repasto opíparo, na fartura do mel das tuas entranhas como quem garimpa delícia no esconderijo da tua alma de gazela atilada, enquanto faço-me glutão, dono absoluto, no átrio das delícias, para guardar os teus sabores e cheiros na saliva da carne.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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