sexta-feira, agosto 29, 2008

CRÔNICA DE AMOR POR ELA




Imagem: arte de Rafaela Creczynski Pasa

VOCÊ

Luiz Alberto Machado

Por ser raiz seu amor é a vida que sou nessa longeva finitude rara de volúpia plena

e seu corpo é a concha de água mais doce da sede que assola minha boca querente de amar

não sei mais, só meu sangue cravando meus versos obscenos na sua carne de macio teor que guardo com mimo extremado na fantasia do meu velar verdadeiro

não saberia jamais viver sem você porque já errei de tudo, sonhos desastrados, quereres interditos, valores de nada que sou exangue afinal no momento de êxtase e iniciação

eu já nem sou a depender obcecado e rendido de sua emanação viva de ser a mais real feliz maravilha de mulher

eu já nem sou sem você, porque serei sempre o total de você em mim.


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quinta-feira, agosto 28, 2008

JOYCE



Imagem: Nato Canto

DA COR BRASILEIRA

Joyce/Ana Terra

De quem falo me acha direita
Se casa comigo, se rola e se deita
Me namora quando não devia
E quando eu queria me deixa na mesa
De quem falo me fala macio
E finge que entende o que nem escutou
Me adora e me quer tão somente
Enquanto que mente é o que acreditou
Esse homem que passa na rua
Que encontro na festa e me vira a cabeça
É aquele que me quer só sua
E ao mesmo tempo que eu seja mais uma
De quem falo ele é feio e bonito
Mais velho e menino, meu melhor amigo
É o homem da cor brasileira
a loucura e a besteira que dorme comigo.

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quarta-feira, agosto 27, 2008

GINOFAGIA




Imagem/arte: Derinha Rocha

TERRINA

Luiz Alberto Machado

Quando essa menina chega do grotão, toda sem noção, toda cabotina, aí se mostra então a mais fogosa bailarina - flor agreste no Raso da Catirina. Ela nem imagina e faz que não. Solta o seu bordão de dissimulada catilina - ah, quanta possessão! Quanta divina tesão! É a mais trelosa das traquinas no raio da silibrina!

Quando essa menina chega no porão, o seu clarão de estrela cristalina reluz no salão e me fascina com seus olhos de esverdeada turmalina. Que bão! É a mais revigorante vitamina! Tudo me ilumina em plena escuridão - o seu choque de luz na retina me enche de emoção.

Quando essa menina vem de sopetão: pele fina, lábios de antemão. Carne cajuína prenhe de paixão. Logo azucrina, perde a compleição. Logo me abomina e me passa um carão. E faz jogatina, quer passar gamão. Enrola a cocaína, doura o canjirão. Dá um carreirão de bater em Santa Catarina. Quando volta dobra a esquina, finge mangação. Como arisca vem guenza canina, quer que eu cante uma canção. De preferência, Carolina – ou a com K debaixo da lamparina. Vira Zezulina toda manhosa e me faz alisar a sua rosa, acionar sua buzina pra me fazer prosa e sua ave de rapina toda ouriçada que ela alada se enrosca, entroncha e se entranha mais que feminina, com a sua candura franzina, feita meu pirão.

É quando essa menina abre o coração, a terrina, ela é bela verde quente Teresina na minha desolação. É quando ela vai sestrosa se derretendo frochosa, toda feita cremosa margarina pra minha saboreação. É quando ela revira o chão e se amunta granfina, fica atrepada na minha caeselpina com toda gula de heroína da mais louca raça nordestina que manda ver no rojão, viva São João! E esquenta a bobina, vira o caminhão, sobe e desce repentina até grunhir feito um cão. Não findou não. Como ela não pára não, vira logo Catarina, depois vira Severina, quando apruma a direção. Ela se ajeita arguta. Toda ferina, ela me chupa, me exulta, sou a predileta tangerina que ela sorve com sofreguidão. Depois toma o meu coração, tudo refina: minha alma e minha vida, tudo ajeitado com a resina que escoa da sua mão para ser no vão da sua cabina o universo de sua taça servida.

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terça-feira, agosto 26, 2008

DELICIAS DO DESEJO



Imagem: Pin up, do ilustrador peruviano/americano Alberto Vargas (1896-1982).

INCÊNDIO DAS PAIXÕES

Luiz Alberto Machado

Ela deu-me o seu corpo em brasa para incendiar os meus desejos indômitos. Ela deu-me a sua alma em chamas para incinerar minhas loucuras concupiscentes. Ela assim me veio como quem entrega a sua vida ao carrasco. E pronta para ser usada, seviciada, ultrajada, vilipendiada, até ver-se exaurida de todas as satisfações, ainda deu-me a boca sedenta de todas as sedes seculares. E ainda deu-me o ventre faminto de todo o cio acumulado. E ainda deu-me o gozo de todas as vontades satisfeitas. E assim viramos um do outro em si para sempre acasalados no incêndio das paixões.

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segunda-feira, agosto 25, 2008

GREGORY CORSO



Imagem: Allegory of the Peace, of the Comfort and of the Arts, 1602, do pintor do Maneirismo alemão, Hans von Aachen (1552-1615)

A LADY VESTAL DE GREGORY CORSO

ENCONTRO INTRÉPIDO

No vento de minhas palavras fiz um cavalo
Com orações que não me pertenciam
E o deus de outrem
Respondeu com minha morte.

Ela veio na forma de boca
Que beijou a minha num suspiro,
Suspiro de paixão, hálito gelado,
Tomando meu corpo como a neve fria.

Diante de mim flutuava sorrindo
E tão logo o sol nasceu,
Fui derretido/
E a boca ajoelhou-se para sorver meu horroroso fluxo.

O CRIME

No animal ainda quente seu crime
Foi gracejo da secreta ação amarga humana
Suficiente para o riso da jovem
Com o sangue se esvaindo surdamente

Juntos comeram a rosa
E juntos enxugaram as línguas
Ante as brasas e os recortes de pele

Eles se amaram tanto
Até os olhos caírem por dentro
E as faces se despregarem.

NA ULTIMA ESTAÇÃO

Você veio e fez docinhos de chocolate com seus dedos
Eu roubei e comi você
E meus pés amassaram seus grampos em milhares de ruas
Você me deu dor-de-dentes
E espinhas na cara
Você nunca foi uma coisa muito saudável
Nunca foi muita vitamina
Com suas mãos sujas
E sendo tão pegajosa quanto cola
Nunca deu pra te lavar
Você deixou uma mancha horrososa.

NAS PAREDES DE UMA SALA SEM REQUINTES DE ARRUMAÇÃO

Penduro antigas fotos de namoradas da infância – com o coração partido, sento, cotovelos na mesa, o que queixo na mão, estudando
Os olhos altivos de Helen,
A boca fina de Jane,
Os dourados cabelos de Susan.

COMO VEM A MIM A POESIA

Ela se aproxima, vou contar a vocês como ela vem, imensa com estopas de gasolina e pedaços de fios e pregos velhos tortos, por um arrivista obscuro, de uma obscura correnteza interior.

GREGORY CORSO – o poeta norte-americano Gregory Nunzio Corso (1930-2001) integrou a geração beat. Ele nasceu em Nova York, filho de pais pobres, passando a infância em orfanatos e reformatórios, sendo adotado mais tarde por várias famílias alternadamente. Publicou seu primeiro livro em 1955, o Lady Vestal.

FONTE:
CORSO, Gregory. Gasolina e Lady Vestal. Porto Alegre: L&PM, 1985.

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sexta-feira, agosto 22, 2008

CRÔNICA DE AMOR POR ELA



Imagem: Sin, 1893, do pinto e escultor do Simbolismo/Expressionismo alemão, Franz von Stuck (1863-1928)

MINHA

Luiz Alberto Machado

Enquanto o sol irradia na claridade da manhã, mais te quero minha, minha diva do meu amor desmedido.

E mesmo que esteja nublado ou chuvoso, meu coração se aninha cada vez mais ávido para esquentar tua sanha e ver-te em flor radiante e minha sempre minha adoravelmente minha.

Eu te sonho sempre minha e inteira no meio da minha solidão exaltada que sonha provar com meu apetite contumaz da sedução do teu olhar carente e me deixa fascinado com teu jeito manhoso de te entregar.

E vou me entregar à tua boca indecorosamente sedenta com teus lábios sugadores implacáveis e entreabertos para a volúpia de todo meu ser enquanto sou provocado pela lambida obscena de tua língua que acaricia meu polegar nos arrepios de nossas almas.

És minha e vou embarcar na sinuosidade do teu corpo de beldade devoradora como quem é contemplado por doses generosas do teu prazer, desfrutando da excitante viagem que faz bonito na apoteótica cena strip-tease de tua dança depravada que vem exalando sensualidade por todos os teus poros na pose do meu ensaio privado, na febre que me atormenta pela gula de tua majestosa expressão de deusa no panteão do sexo extremo.

Ah! Sou teu escravo e tu és minha e almejo me agarrar no traçado do desejo pela lindeza extrema de tua exuberante geografia que é pura devassidão desde o decote escandaloso até a compleição mais altaneira de tuas pernas coxas e sexo enchendo minha boca de saliva pro doce mais gostoso.

Eu vou me fartar de tua suculenta emanação que rivaliza com toda a beleza do mundo e te deixar ensandecida pin-up ousadíssima stripper pervertida rainha sodomita de toda minha perversão sexual.

Eu vou contracenar com o teu corpo lindo e magistral protagonizando o mais audacioso furacão de desejo do meu grosso calibre que te penetrará em cima do lance, bem devagar, tímido e possesso numa ousadíssima intervenção do meu querer enlouquecido preso pelo tronco por tuas pernas na cara do gol enquanto eu na banheira de tua grande área fazendo estripulias para teu prazer.

És minha, deusa-mulher, e eu te venero a cada estocada que derrama o meu gozo para que o teu gozo seja pleno e real.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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quinta-feira, agosto 21, 2008

FÁTIMA GUEDES



Imagem: A Naiad, 1893, do pintor do Pré-Rafaelismo inglês, John William Waterhouse (1849-1917)

CONDENADOS

Fátima Guedes

Ah, meu amor, estamos condenados
Nós já podemos dizer que somos um
Nós somos um
E nessa fase do amor em que se é um
É que perdemos a metade cada um
Ah, meu amor, estamos mais safados
Hoje tiramos mais proveito do prazer
E somos um
Quando dormimos juntos, sonhos separados
Que nós não vamos confessar de modo algum
Ah, meu amor, ah, meu amor
Quantas pequenas traições
Pobres mentiras diplomáticas de puras intenções
Estamos condenados
Ah, meu amor, de discretos pecados
Formamos esse ser tão uno divisível
Parece incrível
Que nós tentemos que ele dure eternamente
Nessas metades incompletas

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quarta-feira, agosto 20, 2008

GINOFAGIA



Imagem: Derinha Rocha

MINHA

Luiz Alberto Machado

Eu vou a vau
E se me deres
Serei nau ou lobo mau
Ou o que quiseres
Com todos os talheres
Pro seu apetite.
E me acredite: vou à deriva!
E se tiver viva me salve e seja boazinha
Seja até mais que madrinha:
Pro que der e vier.
Seja então a mulher, nua rainha
Com todos os seus encantos
Com todos os seus espantos
De fadinha que é só minha....

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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terça-feira, agosto 19, 2008

MAURA DE SENNA PEREIRA



Imagem: Diana and her Bather , 1715-16, do pintor do Rococó francês Jean Antoine Watteau (1684-1721).

A MISTERIOSA CISTERNA

Maura de Senna Pereira

Desde que me falaste naquela misteriosa cisterna, meu coração não sossegou mais. Vive nutrindo a idéia e o desejo de ir até lá, como um peregrino quase morto de sede, para beber na cisterna misteriosa a água iluminada da verdade.
Mas tenho tanto medo de ir só!
Vamos nós dois, de mãos dadas, como duas crianças curiosas, vencendo caminhos impérvios ou ladeando canteiros cheirosos de resedás, até a cisterna misteriosa que entesoura a água iluminada da verdade?
Meu coração já conhecia as crucificações deliciosas da beleza, mas a revelação da tua palavra adorada – nem imaginas, meu príncipe e meu pastor, nem imaginas – fê-lo desejar ainda esse outro estremecimento.
Mas tenho tanto medo de ir só!
Vamos nós dois, de mãos dadas, como duas crianças curiosas, vencendo caminhos impérvios ou ladeando canteiros cheirosos de resedás, até a misteriosa cisterna que entesoura a água iluminada da verdade, e beber, beber, beber?

FONTE;
PEREIRA, Maura de Senna. Poesia reunida e outros textos. Florianópolis: Academia Catarinense de Letras, 2004.

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segunda-feira, agosto 18, 2008

ASCENSO FERREIRA



Imagem: ilustração Maria Carmen.

A POÉTICA ERÓTICA DE ASCENSO FERREIRA

MULATA SARARÁ

O cajueiro te deu a flor para cabelo;
Deu-te o maracajá o agateado dos olhos
- teus olhos cujo olhar faz a gente dodói!

No Brasil, quem te nega está fazendo fita,
Pois tu és, na verdade, uma coisa bonita:

- Madeira que o cupim não rói!
- Madeira que o cupim não rói!

Paris – que dá modas,
Costumes e gostos,
Pinturas pros rostos,
Carvão e carmim....

Paris – dente de ouro!
- Boca de tubarão!
- Goela de sucuri!
Que engole odaliscas
Rajás e sultanas,
As gueixas, muamês,
Os beis e os paxás...

- E engoliu até a negra Josefina Baker!
Paris, contigo, topou foi osso!

Foi rocha esquisita que nada destrói!

Nosso Senhor abençoe teus avós de Lisboa....

- Madeira que cupim não rói!
- Madeiras que cupim não rói!

PREDESTINAÇÃO

- Entra pra dentro, Chiquinha!
Entra pra dentro, Chiquinha!
No caminho que você vai
Você acaba prostituta!!!

E ela:
- Deus te ouça, minha mãe...
Deus te ouça...

PERFUME

Veio de ti
Cheio destas forças misteriosas
Ante as quais toda a razão se esmaga
Para ficarem somente loucuras...
Ânsias...
Inquietações...

Veio de ti, cheio destas coisas profundamente estranhas
Que só tu guardas no mundo!
Estes teus êxtases!
Este teu langor...
- desespero dos meus sentidos,
causa das minhas melancolias,
das minhas revoltas, das minhas paixões!

Veio de ti, porém te trouxe apenas como sombra
Que meus dedos tentam segurar em vão.
No entanto, lá fora, tudo sorri
E as estrelas se multiplicam,
Ensinando que a vida pertence aos vivos
E nasce do amor.

TRANSFIGURAÇÃO

Oh! A delicia nunca sentida
De tua mão toda carinhos e agrados,
Mergulhando sutil nos meus cabelos desordenados
Num gesto mudo de consolação!

E a delicia destes teus olhos miraculosos,
Sossegados como um remanso,
Incentivando para o descanso
O meu pobre ser cansado...

Susta-se a vida das coisas
Como uma sincope dos corações.

ÊXTASE

Emana do teu ser uma tão grande calma,
Um langor tão suave, expressivo, profundo,
Que tenho a sensação virgem de que minha´alma,
Desgarrada de mim, anda solta no mundo.

SALOMÉ

Quando pus os meus olhos nos seus olhos
Eu senti n´alma como que deslumbramentos...
Senti a sensação de todas as belezas
E a beleza de todos os sentimentos...
E minha´alma clareou-se em todos os seus refolhos
Iluminada por estranhos lumes:
- Luzes de vagalumes,
- Luzes de estrelas multicores nunca vistas,
somente percebíveis aos olhos
dos artistas...
e ela era bela como um Pássaro Encantado;
e ela era bela como a Estrela da Manhã;
bela como a Salomé de Yocanaan;
bela como dos cisnes o noivado...
e eu senti sua beleza
sua beleza que tem paroxismos
sua beleza que tem abismos
sua beleza que possui algo de cataclismos,
como as belezas dos infernos oriundas
porém, que é calma como as Águas Profundas
em represa.
E o seu corpo ondulava lentamente
Como um corpo de serpente.
E nos seus olhos cujo olhar feria como um açoite,
Nos seus olhos maiúsculos
Havia sombras misteriosas de noite
E tons arroxeados de crepúsculos...
E entre nuvens e gaze, suavemente
Surgindo, sua láctea espádua nua
Lembrava a face macilenta da lua
Semi-oculta nas dobras do nascente...
Porem sua boa
Cheia de volúpia louca
A sua boca sanguinolenta,
Como que de estranhas sensações sedentas
A sua boca infernal
A sua boa anormal
A sua boca cujo traço eu não n´o traço
A sua boca de palhaço
A sua boca que nem sei com que parece
Parecia rezar alucinada prece
Um vago padre-nosso terno e brando...
Uma oração estranha e nunca vista:
- A oração de Salomé rezando
pela alma delicada de Batista...
e dizer que vendo-a assim,
como que a rezar oração pagã,
essa reza sem fé,
pensei: quem dera eu fosse o seu Yocanaan
e que rezasses por mim
Salomé.... Salomé...

ASCENSO FERREIRA – O poeta pernambucano Ascenso Ferreira (1895-1965), foi um dos proeminentes nome do Modernismo brasileiro, tomando rumos novos e achou um caminho que o conduziria a uma situação de relevo nas letras pernambucanas e nacionais. Voltou-se para os temas regionais de sua terra que foram reunidos em seus livros "Catimbó" (1927), "Cana caiana" (1939), "Poemas 1922-1951" (1951), "Poemas 1922-1953" (1953), "Catimbó e outros poemas" (1963), "Poemas" (1981) e "Eu voltarei ao sol da primavera" (1985). Foram publicados postumamente, em 1986, "O Maracatu", "Presépios e Pastoris" e "O Bumba-Meu-Boi: Ensaios Folclóricos".Distingue-se não pela quantidade, mas pela qualidade, atingindo não raro efeitos novos, originais, imprevistos, em matéria de humorismo e sátira.

FONTE:
FERREIRA, Ascenso. Poemas. Recife: Nordestal, 1981.

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sexta-feira, agosto 15, 2008

CRÔNICA DE AMOR POR ELA



Imagem: The Beautiful Rosine, 1847,do pintor belga Antoine Wiertz (1806-1865)

PUTA

Luiz Alberto Machado

Não sei tua cor,
Minha sacerdotisa egípcia,
No transe hipnótico da dança do vente
Não sei o teu nome,
Minha cúmplice da noite,
Em todos os alcoices, bordéis e lupanares de hoje
Pra quê saber disso,
Minha ilha ninfa,
Já que me vanglorio por ter estado em teu corpo por mais de milhões de vezes?
Os homens nominam tudo,
Minha encantada Aspásia,
Não sabem o prazer do inominável
Pra mim tudo teu,
Minha Semíramis do trono da babilônia,
Cantada apaixonadamente por Valery,
É para mim importante
És minha índole fenícia
Em especial atenção por moças bem feitas de corpo
És minha Nefertiti,
Deusa mulher de longa cauda a me deixar absorto
És minha Messalina
Da língua que me envolve todo
Minha Cleópatra
Dos desejos desenfreados
Minha Jesabel, Prostituta de Tiro
Minha mucama das ancas voluptuosas
Minha pajem da boceta gostosa
Minha gueixa trepadora
Minha meretriz devassa
Minha freira sedutora
Minha rameira de pernas abertas
Minha puta, puta minha
Sou teu rio a desaguar
E o teu cinto de Afrodite a me entorpecer
Sou teu Baal és minha Anat,
Concubina minha,
E me sacias ao te jogar na noite
Vou usurpar o teu cofre com a chave exata
Enquanto um de teus olhos me desnuda
E um outro me abre fendas
Uma de tuas pernas me agarra
Uma outra me chuta de lado
E quando te saciar, serei teu Sansão
Serás minha Dalila, a mulher do vale de Soreque
E mesmo que me envolvas os sete tendões frescos ainda secos, esporrarei nas tuas entranhas com o que há de melhor em mim
E mesmo que me aprisiones com as cordas novas que não há de ter feito obra alguma, te esfolarei por trás, égua minha, até os grunhidos máximos da dor e do prazer
E mesmo que teças as sete tranças da minha cabeça com urdidura da teia e firmá-las com pino de tear, empurrarei na tua boca o meu sêmen para engolir tudo que for meu até nada sobrar
E mesmo que me raspes as tranças
E mesmo que me subjugues
E me vaze os olhos
E me prenda com duas cadeias de bronze
E mesmo que eu vire um moinho no cárcere
E te sirva de diversão
Mesmo assim lamberei e chuparei teu tesouro imaculado até que desfaleças inteira ao meu lado
E meu cabelo novamente crescerá e apalparei tuas colunas
E te derrubarei
Te emprenharei na sepultura entre Zorá e Estaol
No sepulcro do meu Pai Manoá
E serás eternamente minha mulher
Puta minha
Mulher

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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segunda-feira, agosto 11, 2008

JODELLE



Imagem: Danaë, 1636, do pintor e gravurista do Barroco holandês, Rembrandt van Rijn (1606-1669)

A POESIA ERÓTICA DE ETIENNE JODELLE (1532-1573).

SONETO DA PRIAPRÉIA

Doce lanceta cuja cor vermelha
Dardeja às vezes cheia de vigor;
Teu toque põe nas veias um calor
Que acorda a vida e ao fogo se assemelha.

Tu saboreias, com tua parelha,
O doce gosto de um doce licor,
Com o qual se arrefece o ígneo rigor
Do sangue a ferver de ardor sem parelha.

Afaga-me um pouco a fibra dormente,
Andando para trás e para frente
No estreitamento da minha pousada.

Eu te darei idêntico prazer
Enquanto espero a luta redobrada
Que irá desejo mais forte empreender.

TOUCHE DE MAIN MIGNONNE

A sua mão acende
a fertilidade sobre o instrumento do doce amor
quando a boa caça
celebra o prazer.
E tudo é abrasador
Quando agilmente a sua voz
Leva o dia, a vida, o sonho no balé
Do amor para o gozo do prazer.
É o pleno desejo que nos resta na vida
O tempo da vida que o amor me dá.

NOSTRA DAMUS CUM FALSA DAMUS

Glorificam e se alegram
no mel da doçura
aqueles que buscam fazer uso
do prêmio de Cupido;
às ordens de Vênus de Chipre
glorifiquemos e alegremo-nos
por sermos iguais de Páris. Ah!

ETIENNE JODELLE (1532-1573). O poeta e dramaturgo francês Étienne Jodelle, participou da Plêiade de Ronsard, praticando as modalidades de poesia lírica em voga no século XVI, tais como sonetos, odes, epistolas, elegias, dentre outras. Mas o que lhe tornou o nome conhecido foram as suas tragédias e comedias em verso, que assinalam o surgimento do teatro clássico francês. Na poesia erótica, além de ter deixado inconcluso um longo poema sobre a sodomia, escreveu um ciclo de sonetos priápicos.

FONTE:
PAES, José Paulo. Poesia erótica. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

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sexta-feira, agosto 08, 2008

CRÔNICA DE AMOR POR ELA



Imagem: Nude, 1936, do fotógrafo norte-americano Edward Weston (1886-1958).

PROFANAÇÃO
(Ou: o gosto perene da primeira vez)

Luiz Alberto Machado

Prólogo: descortinando os mistérios – a revelação.
(Qualquer coisa a haver com o paraíso, Mílton Nascimento & Flávio Venturini, Ângelus).

À hora do Ângelus, ela espera. Ungida e provocante no trâmite das horas. Emborcada de Mandel: a nudez do corpo esguio à meia luz (Isso: lenço na cabeça, terço entre os lábios, crucifixo nas mãos). A espera na noite: uma alma desnuda no oratório.

Apenas duas velas num castiçal e uma esperança fincada alumiando a pele acetinada que aguça o meu desejo de ontens. (Formoso perfil de Vasti – lindeza de Leonor Watling na cena de Almodóvar. Fervorosa fé de Rute, orações exaltadas de Ester: o olhar na crença e mãos sobre a Bíblia). Resignadas orações: escapulário e hozanas imaculadas lavando culpas, dores e passado.

Não se dá conta na réstia da obscenidade do meu beijo ateu: a profanação de véspera, partícipe do ritual. Ela contrita, resignada; eu, danação. Atração de opostos, conflitos redundam. Mas convergem, porque de mim: bem-aventurado o que goza porque dele é o reino parais(s)o.

Estribilho: a hóstia & comunhão – a carne do sal da terra.
(Um anjo, Egberto Gismoti, Zig Zag)

Flagro o instante e a pele acetinada aguça o desejo de ontens: tudo candura dela e perversidade de mim (seu sangue, meu vinho). E o meu olhar insolente na aura destrancada: um anjo caído.

Meu corpo e a salvação pro que é, foi e será: um feito deus sem criação, sem éden, sem nada. Misérias de ser encanto de mulher.

Pela angelical candura sou atraído até me perder nas linhas da palma de sua mão (um convite ao turbilhão atávico de suas reencarnações).

Nela, juro que me perco a bel prazer. E numa tentação advena alcançando seus dedos, um carinho na graça manual.

Tomo seu pulso e logo seus braços, seios, ombros, faces, tudo é magia pura como irrevelável segredo desvelado.

E vou me perder mais ao roçar-lhe a boca com o anular: respiração e espasmos. Rezas, suspiros e pálpebras cerradas. (Revirando os olhos, mordendo os lábios, lambendo meu dedo).

E mais me perdendo me encontro com sua voz sussurrada a tomar meu nome ofegante de rei adorado. Manhosa de sangue quente no bico da chaleira fervendo. Dengosa revel aos caprichos das minhas investidas certeiras.

E faz de conta que alheia num truque sagaz quando cheiro seus cabelos em desalinho nos olhos – grandes olhos inocentes e fugazes - até o pescoço num beijo que lambe o ombro e dá na mandíbula pra expirar devagar por trás das orelhas, até sentir-lhe a pele eriçada no seu corpo clareira e eu ébrio com o aroma exalado.

E se contorce serpente irresistível e desfalece se esfregando ao meu toque. E se submete e subjugo: nossa liturgia profana.

E envolvo a cintura até os seios de mil ternuras e cravo-lhe os dentes na carne, encosto o meu membro ativo ao que rebola com ar de menina dengosa, ah, minha doce pessoínha exalando uma aura de zis infâncias da adulteza alada.

Fica minha e inteira e toda e de suas costas imantadas emerge de bruços toda eletricidade atrativa do convite irrecusável: o cálice do paraíso no gozo da carne, a glória da vida eterna que equivale a se afogar no redemoinho de nossas mais indecentes poses íntimas.

Refrão: a marca aguda na memória da pele
(Naávu Javassarê, Edson Natale & Carmina Juarez, Lavoro).

Ah, ela nua é linda, um anjo destamaínho: no meu tope. A pele e o desejo.

Iluminou-se de mim agarrada às cortinas do templo irreal.

Sabia: meu café da manhã, almoço e janta. Era ela. (A cruz entre os dentes na vulva. A saliva reluz meu cetro como hóstia dessacralizada).

Ah, minha estóica de peitinhos miúdos, franzina e sedutora, safada e minha, me aproprio de seu corpo louvando todas as suas maravilhas: não existem asas nos flancos, só o hálito de sangue, sexo e prazer. (A beleza que vem de dentro).

E eis que suspira esfolada com voz rouca safada, se derretendo inebriante sob o seu garanhão puro-sangue - a pressão do meu membro contra a sua pele translúcida de válvula aberta, fantasias delirantes no delta inexplorado. (O lenço à boca para sufocar suspiros maiores às alturas de um forno que não há como escapar).

Apóio-me em seu dorso para salpicar sua fonte de areia movediça. E se acende o gozo que se faz luz no meu prazer. Só noite e gemidos – o bramir das ondas da tesão.

Epílogo: a glória altissonante na satisfação do amor
(Romance de Minervina, romance nordestino procedente do séc. XIX, recriado por Antonio José Madureira para Orquestra Armorial, Do Romance ao Galope Nordestino)

Descalça e nua, faz de mim seu refúgio: carinha de anjo e olhos nas estrelas, aquele molho de prazer.

Ri como quem habita o céu depois do batismo, crisma e beatificação – riso de sol no mar -, depois dos gemidos e salmos. Depois do gozo na noite interminável.

Resta espremida exausta quase encolhida nos meus braços: apascentada fera que cavalgou delícias franziu semblante e se esgoelou inteira a se deleitar com as minhas investidas pelos terraços, salas e oitões.

E pendendo sobre mim no impulso do afeto, vou retesado arrimo e aprumo. Nada dito: só o flagra do triunfo. E exulta meu nome cantando louvores. E eu feliz e grato, retomo o repasto. Um gozo renovado.

Revolvidas entranhas e trevas da noite, chega a se aninhar até dormir em mim com todas as bênçãos e misericórdias para todos os sacrifícios. (Para a felicidade, todo prazer é doloroso). E, de mão beijada, se espalha toda sob o bombardeio das carícias a dar conta de tudo que é vida entre nós. E em paz deita como num repouso seguro, agora e para sempre dentro de mim, amem.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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segunda-feira, agosto 04, 2008

RONSARD



Imagem: Venus and Vulcan , 1610, do pintor do Maneirismo Flamengo Bartholomeus Spranger (1546-1611)

OS POEMAS AMOROSOS DE PIERRE DE RONSARD (1524-1585)

BRANCURA

Brancura que me satisfaz de tua reluzência e que me tumultua nas quatro noites
e me torna na vida muito satisfeito quando me embrenho galante por teus rebeldes dotes de tua beleza nua para me adorar.

ODE

Quando ao templo juntos nós iremos devotos pelo caminho de Deus,
Dormiremos os segredos litúrgicos para que possamos ter-nos na cama,
Entrelaçados.
Iremos lascivos com os disfarces do prazer,
Amando livremente pelo doce dos nossos corpos.
Queremos e tenho a chave certa beijando os lábios da amada
E escorrendo pelos belos seios que me guardam pro seu ventre delicioso.
Vivo a sua boca linda nos desejos que nos dividimos, onde sou seu e será toda minha porque vivo seu rosto pronto de prazeres.

SONETO

Eu te saudo, fenda de portentos,
A luzir entre dois flancos macios;
Saúdo-te, buraco de amavios,
Que dás ao meu viver contentamento.
Enfim me libertaste dos tormentos
Do alado arqueiro e dos meus desvarios;
Só quatro noites eu te possuí e o
Poder do arqueiro fez-se em mim mais lento.
Pequeno furo, furo arteiro,furo
Tão bem guardado em matagal obscuro,
Que ao mais rebelde domas com presteza:
Todo vero galã, para te honrar,
Devia de joelhos te adorar,
Firme empunhando a sua vela acesa!

PIERRE DE RONSARD (1524-1585) poeta francês conhecido como o principe dos poetas, primeiro fez carreira militar e diplomática, depois que voltou-se para a literatura. Pelo apuro formal e pela vividez das imagens, que celebram o gosto da liberdade, a alegria de viver e os prazeres do amor, Ronsard se consagrou como o principal poeta da França do séc. XVI.

FONTE:
PAES, José Paulo. Poesia erótica. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

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sexta-feira, agosto 01, 2008

CRÔNICA DE AMOR POR ELA



Imagem: Venus of Urbino, 1538, do pintor da Alta Renascença Tiziano (Titian, ca.1488-1576)

CAPTURA

Luiz Alberto Machado

Fugida do mundo ela vem nua e linda à caça de refém.

Sempre agitada, santa criatura, expõe a danada toda fervura.

Tangida e afoita toda buliçosa ela vem meneando toda sestrosa.

Coração aos pulos, indomável, que não capitulo nem sou sopitável, faço cerco e teimo agarrá-la, lança pronta em riste a fim de fisgá-la para o meu quinhão, onde ela vadia me faz tentação.

E eu vou firme, decidido e tiro certeiro aplacar sua errância e seu paradeiro, tê-la presa acossada no meu terreiro e acerto a estreita passagem bem no meínho onde o seu remoinho de cheiro doce deixa ela toda frouxa e subjugada pro pouso de afeição.

Agora amansada com desgoverno no corpo, promete estorvo só pra me tentar.

Adianta mais nada, ela verga ao meneio, maior trepada em recreio a rolar com furor.

É quando ela explode, tesão arfante e molhada de suor, pede clemência, renova essência toda moqueada enquanto eu cuido da alada e zelo pela rosa do tesouro em paga de amor.

© Luiz Alberto Machado.

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