sexta-feira, maio 29, 2009

VERS&PROSA PARA A MENINA AZUL



Imagem: Derinha Rocha

O SABOR DA PRINCESA QUE SE FAZ SERVA NA MANHÃ

Luiz Alberto Machado


A manhã esquentou no dia do aniversário dela. Vejo, logo, cobiço.

Lá fora o sol estonteante incendeia o mundo enquanto ela imune e esguia me provocava relâmpagos de temporal. Era. Ela faceira e linda ocupada na pia manipulando a comida.

No corredor da cozinha, eu, de esguelha, segurava o copo de cerveja com mirabolantes fantasias no quengo lambendo os beiços para devorá-la naquela sedução. Fiquei inquieto, dali pra sala e voltando a fitá-la sedutora em seus trajes sumários.

Foi quando ela diligentemente focada no preparo em temperar legumes, verduras e carnes, roubei-lhe a vida tascando um beijo sedento na nuca dela arrepiar-se toda.

Ao meu contato ela arqueou e se debruçou sobre a bandeja de pratos, insinuando a bundinha, ajeitando as coxas com um Cupido entre as pernas, uma rendição atraente porque o corpo estava mais palpitoso, os seios insinuantes, o jeito provocante e a vida não era mais a mesma naquela hora.

Estava ela cônscia que era a minha caça. E eu faminto levantando a sua saia que, obedientemente santa, quer ser rasgada.

E ela fêmea selvagem quer que a loucura salte fora, mande ver.

É por isso que remexe para cima, para baixo, de lado, trota, u-lalá!

Espreguiça, estremece, o corpo vibra rosnando à porta da cozinha, os cabelos desalinhados com seu contorcionismo e eu fazendo uma devassa no meio dos seus suspiros exclamativos na promessa do gozo interminável.

Ela mais rendida se faz mais solícita e estendida de bruços sobre a pia, se esfregando manhosa, dengo à flor da pele para que eu alise sua cintura, garanhando seu sexo com meus dedos firmes e ela manhando mais, sussurrando baixinho, gemendo de acordar o mundo.

Era a comida e a fome. A captura.

E ela indomável fazendo uma boquinha ofegante, dificultando um pouco enquanto eu achava a melhor maneira de abatê-la.

E mantinha os olhos fechados, xameguenta, enquanto eu vasculhava seus sótãos e porões, seguindo a pista com meu faro obsceno, farejando suas reentrâncias.

Deixa? Deixa, vai.

Caçada desconcertante, ela em apuros, destronada de seu reino, eu implacável: o jogo que os dois podem jogar, o xeque-mate aprazível.

Mas ela blefa, faz que não quer, enquanto se esparrama no tabuleiro do meu desejo reduzida a nada com seus segredos suicidas.

Via-me obrigado a cercá-la, domá-la, arremessando meu beijo sobre seus olhos, voz, gesto e corpo.

Ela mais depravada pra minha montada numa tigresa que eu não queria apear nem tão cedo porque estava suspensa no meu sexo e mais se ajeitava procurando melhor penetração e virando meu tapete mágico, meu trenó.

E adorava o estupro porque eu enterrava minha clava com bola e tudo pro gol que ela deslizava acolhedora, perversa, condenada e pronta pro meu fuzilamento, com o sexo em brasa, o coração agitado, a boca entreaberta, um sorriso de sol. Uma princesa que virou serva e saiu do faz-de-conta e arreou nua no meu sexo enquanto eu o mocinho, à força, gemendo poemas na sua carne, esfregando minha loucura na sua queixa que mais quer e querendo mais se gaba, tira e bota para que eu recolha sua oferenda divina, a sua oferta dadivosa, batendo o punho malvado, esmurrando a parede, sonsa e aboletada sobre a pia enquanto eu vou retalhando sua carne em postas, a comida fatiada no meu paladar e sem escapar da minha captura que ela mais puxa e preme, e sacoleja numa dança em câmara lenta, o lombo, saliências, o dia de seus anos... meus dedos e ela lambendo, chupando, Cupido entre as penas e os seus seios na minha mão e ela descalça arregalando os olhos como quem quer mais com seus pés suspensos para ser melhor penetrada, devorando o tempo na loucura efêmera e gritando: Sou sua. Sou sua! Sou suaaaa!

Ah, princesa serva. Era aniversário dela. E eu com um buquê de flores nos beijos, com todo carinho do universo nos braços, toda uma guerra de gozos para explodir sua alma.

Foi quando ela deitou os olhos sobre o meu braço, deliciada e desfalecida de amor.





Veja mais:
VERS&PROSA PARA A MENIZA AZUL

quinta-feira, maio 28, 2009

ELIZABETH BARRET BROWNING



Imagem: Nu, do pintor inglês da era Vitoriana, William Etty (1787 - 1849)

OS AMOROSOS POEMAS DE ELIZABETH BARRET BROWNING

AMO-TE (23)

Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minh'alma alcança quando, transportada,
Sente, alongando os olhos deste mundo
Os fins do Ser, a Graça entressonhada.
Amo-te em cada dia, hora e segundo:
A luz do sol, na noite sossegada
E é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não pedem nada.
Amo-te com o doer das velhas penas;
Com sorrisos, com lágrimas de prece,
E a fé da minha infância, ingênua e forte
Amo-te até nas coisas mais pequenas.
Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse
Ainda mais te amarei depois da morte.
(Tradução de Manuel Bandeira).

DE QUANTAS FORMAS EU TE AMO? DEIXA-ME CONTÁ-LAS

De quantas formas eu te amo? Deixa-me contá-las.
Amo-te profunda e largamente, e tão alto quanto
Alcança a minha alma, quando perco de vista
Os propósitos do Ser e os ideais da Graça.
Amo-te tanto quanto as menores necessidades
Do dia-a-dia, seja à luz do sol ou à luz de velas.
Amo-te livremente, como os homens lutam pelo Direito;
Amo-te puramente, como rejeitam o Elogio.
Amo-te com a paixão que tenho pelas
Minhas tristezas mais antigas, e com minha fé infantil.
Amo-te com um amor que pensei ter perdido
Com os santos que perdi …Amo-te com o alento,
Sorrisos e lágrimas de toda a minha vida! …e, se Deus quiser,
Irei amá-lo ainda mais depois que eu morrer.
(Tradução de Thereza Christina Rocque da Motta)

SONETO

As minhas cartas! Tôdas elas frio,
Mudo e morto papel! No entanto agora
Lendo-as, entre as mãos trêmulas o fio
Da vida eis que retorno hora por hora.
Nesta queria ver-me - era estilo -
Como amiga a seu lado... Nesta implora
Vir e as mãos me tomar... Tão simples! Li-o
E chorei. Nesta diz quanto me adora.

Nesta confiou: sou teu, e empalidece
A tinta no papel, tanto o apertara
o meu peito, que todo inda estremece!
Mas uma... Ó meu amor, o que me disse
não digo. Que bem mal me aproveitara,
Se o que então me disseste eu repetisse...
(Trad. de Manuel Bandeira)

SONETO

Parte: não te separas? Que jamais
Sairei de tua sombra. Por distante
Que te vás, em meu peito, a cada instante,
Juntos dois corações batem iguais.
Não ficarei mais só. Nem nunca mais
Dona de mim, a mão, quando a levante,
Deixará de sentir o toque amante
Da tua, - ao que fugi. Parte: Não sais!
Como o vinho, que às uvas donde flui
Deve saber, é quanto faço e quanto
Sonho, que assim também todo te inclui.
A ti, amor! minha outra vida, pois
Quando oro a Deus, teu nome êle ouve
e o pranto Em meus olhos são lágrimas de dois.
(Trad. de Manuel Bandeira)

CATARINA A CAMÕES

I
P'ra a porta onde não surges nem me vês
Há muito tempo que olho já em vão.
A esperança retira o seu talvez;
Aproxima-se a morte, mas tu não.
Amor, vem
Fechar bem
Estes olhos de que dissestes ao vê-los:
O lindo ser dos vossos olhos belos.

II
Quando te ouvi cantar esse bordão
Nos meus de primavera alegres dias;
Todo alheio louvar tendo por vão
Só dava ouvidos ao que tu dizias
– Dentro em mim
Dizendo assim:
"Ditosos olhos de que disse ao vê-los:
O lindo ser dos vossos olhos belos."

III
Mas tudo muda. Nesta tarde fria
O sol bate na porta sem calor.
Se estivesse aí murmuraria
Como dantes tua voz – "amo-te, amor";
A morte chega
E já cega
Os olhos que ontem eram teus desvelo
O lindo ser dos vossos olhos belos.

IV
Sim. Creio que se a vê-los te encontrasses
Agora, ao pé do leito em que me fino,
Ainda que a beleza lhes negasses,
Só pelo amor que neles eu defino
Com verdade
E ansiedade
Repetirias, meu amor, ao vê-los:
O lindo ser dos vossos olhos belos.

V
E se neles pusesse teu olhar
E eles pusessem seu olhar no teu,
Toda a luz que começa a lhes faltar
Voltaria de pronto ao lugar seu.
Com verdade
E ansiedade
Dir-se-ia como tu disseste ao vê-los:
O lindo ser dos vossos olhos belos.

VI
Mas – ai de mim! – tu não me vês senão
Nos pensamentos teus de amante ausente,
E sorrindo talvez, sonhando em vão,
Trás o abanar do leque levemente;
E, sem pensar,
Em teu sonhar
Iras talvez dizendo sempre ao vê-los:
O lindo ser dos vossos olhos belos,

VII
Enquanto o meu espírito se debruça
Do meu pálido corpo sucumbido,
Ansioso de saber que falas usa
Teu amor p'ra meu espírito ferido,
Poeta, vem
Mostrar bem
Que amor trazem aos olhos teus desvelos
– O lindo ser dos vossos olhos belos.

VIII
Ó meu poeta, ó meu profeta, quando
Destes olhos louvaste o lindo ser,
Pensaste acaso, enquanto ias cantando,
Que isso já estava prestes de morrer?
Seus olhares
Deram-te ares
De que breve podias não mais vê-los,
O lindo ser dos vossos olhos belos.

IX
Ninguém responde. Só suave, defronte,
No pátio a fonte canta em solidão,
E como água no mármore da fonte,
Do amor p'ra a morte cai meu coração.
E é da sorte
Que seja a morte
E não o amor, que ganhe os teus desvelos
– O lindo ser dos vossos olhos belos!

X
E tu nunca virás? Quando eu me for
Onde as doçuras estão escondidas,
E onde a tua voz, ó meu amor,
Não me abrirá as pálpebras descidas,
Dize, amo meu,
"O amor, morreu!"
Sob o cipreste chora os teus desvelos
– O lindo ser dos vossos olhos belos.

XI
Quando o angelus toca à oração,
Não passarás ao pé deste convento,
Lembrando-te, a chorar, do cantochão
Que anjos nos traziam do firmamento?
No ardor meu
Eu via o céu
E tu: "O mundo é vil, ó meus desvelos,
Ao lindo ser dos vossos olhos belos?"

XII
Devagar quando, do palácio ao pé,
Cavalgares, como antes, suave e rente,
E ali vires um rosto que não é
O que vias ali antigamente,
Dirás talvez
"Tanta vez
Me esperaste aqui, ó meus desvelos
Ó lindo ser dos vossos olhos belos!"

XIII
Quando as damas da corte, arfando os peitos,
Te disserem, olhando o gesto teu,
"Canta-nos, poeta, aqueles versos feitos
Àquela linda dama que morreu",
Tremerás?
Calar-te-ás?
Ou cantarás, chorando, os teus desvelos
– O lindo ser dos vossos olhos belos?

XIV
"Lindo ser de olhos belos!" Suaves frases
E deliciosas quando eu as repito!
Cem poesias outras que cantasses,
Sempre nesta a melhor terias dito.
Sinto-a calma
Entre a minha alma
E os rumores da terra ? pesadelos:
– O lindo ser dos vossos olhos belos.

XV
Mas reza o padre junto à minha face,
E o coro está de joelhos todo em prece,
E é forçoso que a alma minha passe
Entre cantos de dor, e não como esse.
Miserere
P'los que fere
O mundo, e p'ra Natércia, os teus desvelos
– O lindo ser dos vossos olhos belos.

XVI
Guarda esta fita que te mando
(Tirei-a dos cabelos para ti).
Sentir-te-ás, quando o teu choro arda,
Acompanhado na tua dor por mi;
Pois com pura
Alma imperjura
Sempre do céu te olharão teus desvelos
– O lindo ser dos vossos olhos belos.

XVII
Mas agora, esta terra inda os prendendo,
Desses olhos o brilho é inda alado...
Amor, tu poderás encher, querendo,
Teu futuro de todo o meu passado,
E tornar
A cantar
A outra dama ideal dos teus desvelos:
O lindo ser dos vossos olhos belos.

XVIII
Mas que fazeis, meus olhos, ó perjuros!
Perjuros ao louvor que ele vos deu,
Se esta hora mesmo vos não mostrais puros
De lágrima que acaso vos encheu?
Será forte
Choro ou morte
Se indignos os tornar de teus desvelos
– O lindo ser dos vossos olhos belos.

XIX
Seu futuro encherá meu 'spírito alado
No céu, e abençoá-lo-ei dos céus.
Se ele vier a ser enamorado
De olhos mais belos do que os olhos meus,
O céu os proteja,
Suave lhes seja
E possa ele dizer, sincero, ao vê-los:
(Tradução de Fernando Pessoa).

ELIZABETH BARRET BROWNING - (1806-1861) – a poeta inglesa da época vitoriana, Elizabeth Barrett Browning é autora de uma série de poemas e sonetos romanticos envolvendo a história de amor vivida por ela e o poeta Robert Browning.



Veja mais:
GUIA DE POESIA
NITOLINO & O MEIO AMBIENTE
ARTIGOS DE PESQUISA

segunda-feira, maio 25, 2009

ROGEL SAMUEL



Imagem: Actaea, the Nymph of the Shore , c.1868, do pintor e escultor ingles do Romantismo Victoriano, Lord Frederic Leighton (1830-1896).

DOS 120 POEMAS & OUTROS VERSOS SENSUAIS DE ROGEL SAMUEL

NÃO ME QUEIRAS
que careço
demais para isso
Te quero
Bolero

GERALMENTE
me tens ao céu posto
caindo sobre a nave
do teu seio

EU TE PASSO
e passo
livremente
de cantar

A TUA NUDEZ TEM CURVAS
SUAVES
teus pelos, loura primavera
Não te conheço teu instante simples
mas vejo-te passar pela caçada
Te olho indiscreto e talvez
até me vejas o olhar
Não ouso assustar teus passos
que existe tal como te criei
Amo-te mais que te imagino
pois a felicidade é forma genuína
do que sou
Rei

ORIUNDA ONDA
onde queres
me levar?

O QUE ME ENCANTA É O BRINCO
de tuas conchas
a precisão de teus pelos
aneladas voltas
composto corpo
no salto alto do teclado claro

AS DOBRAS DO VESTIDO SE
ENGOLFARAM
e ouço passar águas profundas
passam passos
A voz procura, acionando em
torno grandes flores de vento
Assim não se sentirá o não
que se aproxima

SER É PAGAR
para amor
Ser é aval
Aliado
Pelo ser
amar amado

POR ISSO UM MINUTO APENAS
para o carinho leviano
teus apressados olhos estudantes
batendo instantes em que te
vejo rápido

MEU AMOR
tua loura magreza não me toca
que afagarei teus pelos
com o beijo primordial
Seguro a mão que tu seguras
daquele que me encontro fonte
fantasma lavado e céu.
Ó meu amor que se mistura
à carnadura do estro
às cores coxas do sensível
Ó meu portátil amor
que se oferece
na aparente umidescência
da paragem suburbana.

DEITARAM-SE NUAS

deitaram-se nuas
no meio da noite
as meninas virgens
deitaram-se nuas
as doces meninas
e ainda eram virgens
e os seus esposos
acenaram logo
com as mãos erguidas
e logo chegaram
no meio da noite
como que perdidos
deitaram-se nuas
todas as meninas
escondendo as graças
e os seus consortes logo as sucederam
e imprimiram o selo
estavam tão nuas
e eram mais puras
que longínqua estrela
e na amena noite
só fugiu o tempo
envolto num lenço
e depois de amor
daquele conúbio
choveram diamantes
o fecundo hino
daquelas meninas
musas citadinas
naquela noite toda
caem as flores finas
deusas fesceninas
e os seus amigos
inventaram lira
e os seus caprichos

NÃO POSSO RETER OS TEUS BRAÇOS

Não posso reter os teus traços
Nem as notas de teu tema
Pois tua música se desvanece
Como as vozes do poema
Da paixão, que mais um traço
Foi do azul de minha pena,
E quando eu te vir já será garço
O repique da tua cena
e o afastado abraço...
(oriunda onda a que cerca de aço
me levarão tuas algemas?)

BALADA PARA TODO AMOR

todo amor é assim, plágio
cópia de cópia de si, no mesmo
sim na sua visibilidade
no seu sexo. Porque todo amor
é aquela alegre repetição
doença de sonho e de tensão
acontecimento que tanto faz
se desfaz. De que não posso
dizer o que quero, ou o que vale
nem mesmo vale a pena
[O amor, seu troco.]
O caro, o espaço, o caroço
o que sobra o que falta e o falho.
Todo amor falece. Não cresce.
Não é o que se espera.
Dele nada sobra. Além do gozo.
Da calma, da cama, do colo
da palavra: só as notas altas
o cantam. As baladas mais.
A exultação mais plena.
Pois todo amor é outra vez
o mesmo amor. É sempre. É pouco.
E só se estabelece quando
impossivelmente fala a falta
do tolo amor, que já é lembrança
excessiva. Que todo amor costura
um tédio. E tem a surpresa da morte.
Somos suas presas em suas levezas.
Corre o fundo tempo por seus lodos
mostra a sua sede à noite morta.
Quem me crê sabe o que digo:
o amor já vem perdido, pois perder-se
é o destino amante. Dele vem logo
o mote o trote o corte a espada
que o amor tem em seus dentes
pois sua loucura é o nada.

ROGEL SAMUEL - Poeta, escritor, webjornalista, colunista de BLOCOS ONLINE, de ENTRE-TEXTOS, doutor em letras, professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Autor de: Crítica da Escrita, 1979; Manual de Teoria Literária, Editora Vozes, 14 edições; Literatura Básica, Editora Vozes, em 3 volumes, 1985; O que é Teolit? Editora Marco Zero, 1986; 120 Poemas, 1991; Novo manual de teoria literária, Editora Vozes, 4ª. Edição, 2007; o romance "O amante das amazonas", Editora Itatiaia 2a edição, 2005. Autor de centenas de artigos em revistas, jornais, vários romances publicados on-line. Veja a entrevista dele no Guia de Poeisa.

Veja mais:
VIII SEMANA DE HISTÓRIA DA UFAL
NITOLINO & O MEIO AMBIENTE
ARTIGOS DE PESQUISA

sexta-feira, maio 22, 2009

VERS&PROSA PARA A MENINA AZUL



Imagem: foto de Derinha Rocha


SHAKESPEREANA

X

(RAPIDINHA)


Luiz Alberto Machado


Toda sexta-feira, meio-dia em ponto, ela chega do trampo toda avexadinha.

Logo desalinha a me soltar corda na vontade que engorda com sua boca cangula.

E me abocanha com gula, me agarra e me beija, começando a peleja no maior pega-pega.

Ela esfola e se esfrega enquanto se despe.

E eu com a peste a romper seus atalhos, me apegando ao seu talho, a maior sopa quente.

Tudo bem rente na sua carne guisada pras minhas dentadas e pro meu repasto.

Eu vou de arrasto arrancando a calcinha, o sutiã e a blusinha, tudo jogado.

E começo o impado enchendo a pança com folia e festança de cabo a rabo.

Não há menoscabo, inteira tigela.

Ela que se escalpela aos grandes bocados.

Eu viro ajegado quando o beijo debréia, eu pulo na boléia da sua caçarola.

Ela cai de gabola e me faz seu cambão, acende a ignição a toda voltagem.

Pego bigu na viagem e engato a primeira, ela enverga a traseira e me deixa tantã.

E vou tal bambambam botando a segunda no rego corcunda do seu cardam.

E arreia no divã toda fagueira, eu sacudo a terceira a lhe dar o que falta.

E mais se engata, balança a rabeira e de forma matreira sacudo na quarta.

Pra ela não basta, acelero pra quinta, ela quer mais a pinta e eu mais atolado.

Bem mais que socado no seu labirinto, ela quer mais meu pinto, quer toda bilôla.

Porque não é tola ela fica sapeca na minha munheca e o mundo pega fogo.

Isso vai só no rodo da maior safadeza.

E com toda esperteza atrepo o seu capô com cheirinho de fulô no fundo do prato.

Como desiderato tomo a dianteira, ela vira farofeira, se lambuza demais.

E não se satisfaz, de ré me atenta, quando se arrebenta, toda disminliguida.

E como é sabida me dá seu roçado que ancho e tão pabo eu mato a pau.

Já me faz seu mingau e seu acostamento, a reta é o firmamento, odisséia sem fim.

Provo o seu bocadim pelo escape aprumando o tacape pelos catabis.

Atravesso o menir quando ela odalisca se vira e se arrisca e chora na rampa.

Eu atiro às pampas sem protocolo e a trago pro meu colo amolegando seu seios.

Eu desço sem freio ladeira abaixo, seu chassi eu encaixo no maior xambrego.

E nesse brinquedo está emboscada, até sentir a varada no bocal da quartinha.

E mais quero mais minha e arregaço o tareco dentro do caneco aos golpes fustigantes.

É mais minha amante, fêmea vezes mil, minha puta servil, linda meretriz.

Não faz o que diz se entregando inteira, maior quenga rameira cheia dos ardis.

E goza o que quis com a carinha mais lisa onde o olhar só reprisa a gente numa conchinha feliz.



Veja mais.
VERS&PROSA PARA A MENINA AZUL
NITOLINO & O MEIO AMBIENTE
VIII SEMANA DE HISTÓRIA DA UFAL
ARTIGOS DE PESQUISA

quinta-feira, maio 21, 2009

LULI COUTINHO



Imagem: Uhhh.... Madame Fru Fru a retournée!!!, do fotógrafo Tuta.

A FEMININA EXPRESSÃO DOS VERSOS DE LULI COUTINHO

SOU TUA! USAS-ME!

Acaricio meu corpo no calor da noite
Imagens formam em minha mente
Como se minhas mãos fossem as tuas
Percebo-as delicadas, lentas, nuas!

A sutileza dos meus pêlos a se assanhar
Faz-me chegar à loucura
Passas-me a língua no rosto
Tomas minha boca, sugas-me.

Deixo-me levar! Sou tua! Usas-me!

Usas, e eu deixo! Gosto que me usas!
Exploro-te, abuso-te para meu prazer.
Conduzo-te ao meu gozo
Num forte e demorado torpor.
Bebes meu corpo, sacias tua sede!
Invade-me as entranhas, tens meus segredos.
E quando confundo teu corpo com o meu
Sinto teu leite e me aqueço em puro deleite.

Gozamos o gozo dos deuses
No amor que faz desfalecer
Aconchego-me ao meu travesseiro
Sinto teu corpo gostoso, teu cheiro.
Doce clímax de ter-lo tido por inteiro.

SENTIDOS DA LINGUA

Saúdo-a em boca entreaberta!
Mostrando-se esperta e lépida,
Sentindo os sabores da espécie.
Degustas o suor da pele tensa
De um corpo em torpor.

Desperta-me o sentido do desejo,
Quando lambes minhas pétalas,
Doce rosa escondida,
Que te anseia sem pudor.

Caminha! Neste corpo de malícias,
Proclamando-o em delícias,
Moldurando-o em volúpias,
Disfarçando a rubra cor.
Penetra-me!
Sinta o gosto do pecado
Sejas lenta e delicada! Neste céu, luzes, estrelas!
Faze delas a orgia,
Desabroche minha flor!

SEDUÇÃO E FETICHE

Chegas de mansinho ao meu mundo
Com toques de mago, roça-me inteira.
Minha pele delicada de um marfim profundo
Cobre-se faceira em tons amendoeira.
O cheiro escandaloso do teu corpo em brasa
Toma-me com gosto em delícias e enfeitiçada
Entrego-me solta aos teus beijos com ardor
Profana e indecente lambuzada de gozo e torpor.

Escrava do império dos prazeres teus,
Que hoje são nossos, vícios insanos!
Trago-os no corpo nu, marcas do prazer
Do glamouroso fetiche e tesão meus.

NOSSOS CORPOS

No pequeno ponto deste corpo
Rompem-se nuvens de emoção, tensão,
Morre-se de prazer ao doce coito
No silêncio do amor, orgasmo solto.

A paz dos anjos se transforma em canto
Lágrimas de gozo alimentam o pranto
A rosa rosada incha-se, florindo o campo,
Meu corpo se delia ao teu navegando manto.

Nos espasmos do sêmen morremos aos poucos
Agasalhos de luz, segmentos perenes mentes,
Pólen florescente revive o corpo lentamente
Línguas ardentes em nossos corpos, puro deleite.

LUXÚRIA

Deitou-me com suavidade de deusa
Teus lábios encontrando os meus
Provamos o doce e mágico licor do mago
Embriagados, entramos na dança do amor.
Dança de sanha, de manha!
Provocas-me devagar
Na ansiedade do prazer maior
Insinuo-me com meu corpo, deixo-o louco!

Uma dança quente! Um jogo de sedução!
Um imenso tesão!

Alucinada, vejo-me às luxúrias do prazer
Teu corpo! Tua boca! Tuas mãos!
Desfaleço! Entrego-me a explosão do gozo
Eternizando-o em meus poros, num só corpo.

QUERO-O MEU

Entrego-me doce!
penetrando em teus poros
o mel do meu corpo...

POR TE AMAR

Desejei te desejar
Voar em teu corpo
Bordar o teu rosto
Teu coração tatuar

Desejei ser a estrela
Brilhar os caminhos
Iluminar teu ninho
Se fosse a eu levar

Desejo teus beijos
Saciar meus desejos
Trançados os braços
Em silencio calar

Um desejo imenso
É lançado no ar!
Voando, voando
Até a ti chegar.

BORDADOS NO CORPO

Bordas meu corpo com teus beijos
Transformando-o em violetas
Sinto-o renascido a cada manhã.

Confundindo-o com o crepúsculo
Nos tons lilases que não tardam
Mesclas de arco-íris minhas mãos.

Enches minha vida de prazer
Quando desejo-te e vens
Se desvendando no querer.

Este suor nos meus poros
Anunciando anjos de emoção
É quando sinto que estás em mim.

Estes momentos a não esquecer
Flores bordadas em meu bem querer,
Eternizo-os, persigo-os, pertences-me!

Ah, sonhos! Não os deixo fenecer!

VIESTE

Trouxe-me amor nas rosas
A rendilha sutil dos beijos
Mostrou-me tua alma clara
Como a branca pétala rara

Trouxe-me rimas de paixão
Asas leves nutrindo ilusão
A brancura alva de um lago
Os encantos febris de mago

Acariciou-me com pétalas
Ousou mansas tuas mãos
Em sonhos tornando razão
Ao vôo mudo dantes vão

Entre versos a mim vieste
Todo amor de mim levaste
Hoje a dor não mais existe
Brilha a noite outrora triste

SEDUZIDA

Seduz, seduz-me e assim seduzida,
Busco o amor em teu corpo de luz
Conduzindo em magia a minha vida
Ao alimento que nutre e me conduz

Meu silêncio invadido em gorjeios
Coração palpita, excita amor aos seios,
Águas cintilam minhas doces fontes
O amor atravessa felizes horizontes

Teu corpo se faz milagroso em mim
Sinto-o fazendo parte do gozo carmim
Percorro caminhos de sons e magias
Na tela que bordas beijos os meus dias

Seduz-me inteira e vivo eterno torpor
Necessário em mim num misto de dor
Minha sina o eleito de luz que fascina
O perfume que exala da pele e alucina.

LULI COUTINHO – A poeta e decoradora paulista, Luli Coutinho, é uma pisciana encantadora, romântica e extrovertida. Participa de diversos grupos e comunidades da rede e publica seus trabalhos no seu site pessoal Luli Coutinho e no Recanto das Letras. Sobre si própria ela diz: “Sem tabus nem racionalizações, confesso o imenso prazer em ser mulher, mãe, avó e incorporar meus versos no que chamo de "Poesia do Cotidiano". Simples ao ponto de ser compreendida por qualquer pessoa tocada à beleza e ao encantamento. Embora tendo incursões aos poemas de amor, gosto de escrever também sobre outros temas. Com características e jeito especial para escrever, hoje na maturidade é que me realizei no mundo dos sonhos e fantasias. Costumo dizer que tenho uma imaginação fértil e assim desnudo minh'alma conjugada à minha criatividade”.



VEJA MAIS:
GUIA DE POESIA
NITOLINO & O MEIO AMBIENTE
A TERRA: UMA PALESTRA SOBRE A CIDADANIA E O MEIO AMBIENTE
CANTARAU TATARITARITATÁ

quarta-feira, maio 20, 2009

VANDERLI MEDEIROS


Imagem: Oriental tales I, de Angélica.

OS SEDUTORES VERSOS DE VANDERLI MEDEIROS

TARA

Como gata tarada
por ti espreito,
arfante de delírios, safada...
Suores percorrendo o peito...
Atraído pelo cio
tu entras em desvario...
Nem percebes quando se perde
a procurar-me pela casa,
pelos cantos, pela sala...
A tara e o amor distante
convertem-se em uma dor lacerante,
gritante, cortante, alucinante...
Dois amantes, em corpos distantes
Num querer sempre constante
Que sintonizam nossas mentes
a buscarmos-nos cada dia mais
por meios irracionais, virtuais...
A fazer da poesia
mensageira dos reflexos sentidos,
por esse amor em sintonia.
Provocando no peito e n'alma
ecos e gemidos doridos, sem calma...
Sentimentos, que somente terão outra conotação,
quando finalmente tivermos
a carnal conjunção!

SAFADA E FELIZ

Agarro-te,
enlaço meu corpo ao teu,
esqueço-me da postura pura, meiga e santa...
Na alcova,
sou tua,
tua
e crua...
Safada,
tarada,
imperatriz;
rolando na cama em brasas...
Por ti gata safada...
Entrego-me
a teus desejos loucos,
inconfessáveis e roucos...
Sou tua deusa Isis,
na cama,
tua meretriz;
no dia-a-dia,
tua amante
e amada,
feliz!
Fazendo de ti,
o homem
que sempre quis.
Entregando-me
a teus desejos despudorados,
nunca antes,
confessados...
E que a ti
deposito aos pés,
uma amante tarada...
Tua fiel meretriz,
safada e feliz!

MINHAS CALCINHAS

Minhas calcinhas
bem as dispensaria
pois, quando as tenho
estou em calmaria
Melhor mesmo
é não tê-las
Seja com redás
ou sem
Na minha vaidade e luxúria
quero que meu homem
das rendas e transparências
fizesse tirinhas
Rasgando-as entre dentes
e urros
numa plena demência
Ao invés de goles de cerveja
prefiro que seus lábios tenham
gosto de cerejas
E que minhas calcinhas
sejam sempre
motivos de muita folia

DISPA-ME

Essa noite quero ser tua fêmea.
Ser despida com teus dentes.
Lambida abundantemente
por teus lábios molhados...
Quero ser explorada
com a ponta da língua,
cada pedaço,
num pleno amasso,
descompasso...
Senti-lo em meu regaço
com volúpia e paixão.
Quero que me banhes de champanhe...
Matarei tua sede na taça do umbigo...
Mergulhar-me-ei em teus desejos...
Quero ouvir teus gemidos em meus ouvidos,
entrecortados de beijos.
Essa noite,
quero ser amada por ti
com a mesma sede e volúpia
com que se amam as amantes!

69 VEZES

69 vezes
no delírio
do desejo
boqüilíngua
em uníssono
Fusão
de seres
em comunhão
na loucura
da paixão
69 vezes
o gosto
do pecado
sorvido
e
afago
em
afago
69 vezes
Enclausurados
na fome
do outro
Saciados
69 vezes
entre
beijos
e
afagos
69 vezes
Devorando
sendo devorada
no amor entre quatro paredes
enclausurados...

CLÍMAX

O primeiro clímax?!
Que coisa louca...
tantos beijos na boca,
e outros tantos
n'onde antes fora coberto pela roupa...
Profusão de mãos,
de dedos, pelo corpo a bailar,
a percorrer as curvas e retas
como o ritmo das ondas do mar,
em um vai-e-vem,
um sobe-e-desce,
entontece... aquece... enlouquece...
A timidez habitual perdeu a vez
No calor de tanta paixão
a consumir-nos em brasas.
levando a imaginação a ganhar asas...
Foram tantas emoções,
um bater louco de corações,
rufando como tambor,
beijos ardentes de perder a cor.
Aquela voz amada,
que no telefone me deixava extasiada
e, agora, gemendo ao meu ouvido
numa ânsia louca;
ora sussurrando seu amor...
Noutras, palavras proibidas...
Que tesão!
Deixou-me ensandecida,
numa sanha inconseqüente e louca,
mistura de mulher, amante,
gata manhosa, safada, rouca...
Entrega sem medo e sem reservas;
Na hora "H", a mulher transformada em fêmea,
unindo-se à alma gêmea,
como côncavo e convexo,
num encaixe perfeito,
a explodirem, no leito, o ápice do amor...
Na alcova,
sobre os lençóis amarfanhados,
descanso, plena e realizada,
no peito de meu amado,
por, agora, conhecer a diferença
entre gozo e clímax de amor.

CANSEI DE SER CERTINHA

Cansei de ser boa moça
Hoje quero ser
uma mulher fatal
vestir meu pretinho básico
pintar os lábios de carmim
e fazer beiçim
Quero te seduzir
Que me importa os vizinhos
quero ser uma dama louca
ousada
e atrevida
Beijar sua boca
gemer no seu ouvido
dançar contigo
umbigo a umbigo
Chega de dormir sozinha
tomar ducha de água fria
sonhar acompanhada
e acordar suada
Hoje serei outra mulher
e se você não me quiser
encontrarei outro
que seja mais ousado
que me olhe apaixonado
e me faça mulher!

AMOR INSACIÁVEL

Insaciável me fez,
por devorar-me aos poucos,
devagarzinho me consome,
de mansinho se faz meu homem;
Ora como cão no cio
vai levando-me ao desvario;
noutras, menino e homem meigo
a quebrar resistências
levando-me a demência,
cheio de manha,
repleto de sedução,
cheio de inovação...
Viciaste-me em ti,
no sabor de teu corpo
que devoro sôfrega;
nos beijos noturnos e matinais...
Nos teus carinhos sem iguais...
Nas tuas surpresas ousadas,
taradas, safadas...
És gatuno
agarrando-me pelas ancas,
devora-me pelas retrancas,
na cama, na mesa,
na sala, na cozinha...
Fogo que nos consome,
sede que não aplaca,
fome sem saciedade
que nos tortura,
que nos mata de ansiedade...
Quero mais é ser
em todos os minutos,
do dia e noite,
tua amada e amante.
Ser devorada
como jamais o fui antes.

EU, MULHER...

Eu...
Mulher...
Que ama,
ensina,
que aprende
e
ora se rende
Que cai,
chora...
Depois
levanta,
sorri,
e luta,
e não se entrega,
a derrota,
a tirania,
a covardia,
a injustiça,
a discriminação...
Eu...
Mulher...
Que ama,
encanta,
seduz,
fascina,
peregrina,
ora desatina
Que ora sou
Menina
doce,
carente...
Ora
Mulher
firme,
determinada,
independente...
Eu...
Mulher...
No mundo.
E um mundo,
em mim!

VANDERLI MEDEIROS – A poeta e escritora goiana hoje radicada em Barra do Garças - MT, Vanderli Medeiros, é professora formada em História pela FESB - Faculdade de Estudos Sociais de Barra do Garças, pesquisadora, Membro do Sindicato dos Escritores do Distrito Federal e Webmaster. E membro da Academia Virtual Brasileira de Letras e da Academia Literária onde ocupa a cadeira 298. Defensora dos direitos de propriedade intelectual e incentivadora de novos talentos na literatura, ela também é integrante do Portal do CEN, tendo participado em vários livros e Antologias.


Veja mais:
GUIA DE POESIA

terça-feira, maio 19, 2009

TOMAS DE IRIARTE


Imagem: Female Nude and Pianist , c.1799-1800, do pintor do Rococó francês, Jean Honoré Fragonard (1732-1806)

OS POEMAS ERÓTICOS DE TOMÁS DE IRIARTE (1750-1791)

SONETO

Senhor D. João, quietinho, que me enfado:
Beijar a mão é muito atrevimento;
Abraçar-me.... isso não, que me apoquento.
Cosquinhas.... ai Joãozinho.... e o pecado?
Como são maus os homens... mas cudiado
Que me parece ouvir passos lá dentro....
Não é ninguém.... apressa o teu momento.
Ai que prazer... tão doce e regalado!
Jesus, sou uma louca, quem diria
Que com um homem eu... sendo cristã
Mas... que... de puro gozo... ai! Vida minha!
Quanta vergonha... vai-te... queres mais?
O que tiveste não te satisfaz?
Oh meu Joãozinho, voltas amanhã?

A UMA DAMA

Enquanto, suave, a primavera passa,
teu decote é zeloso, na abertura,
mas ao verão ardente, sem censura,
ele entremostra toda a tua graça!
Depois o outono chega e tudo embaça...
Então, vai se fechando, te enclausura,
e ao vir o duro inverno, com usura
ciumento, ao teu pescoço ele se enlaça.
Renego este tempinho madrilenho
de longo inverno e de tão longos xales...
(Sou ilhéu! meu protesto não contenho!)
Mas socorrer-me esta em tua mão:
mesmo em novembro, espero, me regales
com o presente de um dia de verão!

EPIGRAMA

A la abeja semejante,
para que cause placer,
el epigrama há de
ser/ pequeño, dulce y punzante

TOMAS DE IRIARTE – Tomás de Iriarte (1750-1791) nasceu em Orotava, Tenerife (a maior das ilhas Canárias) e morreu em Madri. Afeiçoado ao classicismo, exerceu muita influência nos meios literários madrilenos. Escreveu, em 1782, as engenhosas "Fábulas Literárias". Introduziu o "melodrama" na Espanha, com "Guzmán eI Bueno". Também compôs sinfonias e, em 1779, um grande "poema musical", a que deu o nome de "La Música". Sonetista de mavioso lirismo.

FONTES:
IRIARTE, Tomás de. Fábulas Literarias. Madrid: Cátedra, 1992.
PAES, José Paulo. Poesia erótica. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.



VEJA MAIS:
GUIA DE POESIA

sexta-feira, maio 15, 2009

VERS&PROSA PARA A MENINA AZUL


Imagem: Derinha Rocha.


SHAKESPEREANA

IX

(SONSA)


Toda sexta-feira, meio-dia em ponto, ela agarra no tronco e me diz: toda sua.

E se esfrega já nua, anjo e demônio.

Maior pandemônio, maior ventania.

Faço pontaria nela oferecida a me dá por guarida suas cercanias.

Vou pra montaria e nela me atrepar e sem blá, blá, blá, no seu alvo alado.

Apruma o rebolado com manha de sonsa, a me dá por responsa seus segredos guardados.

E todo malcriado e perito artesão, predador e pagão, batizo os pecados.

Nesse campo minado me faz candelabro esfregando o escalavro do seu poço imenso.

E já me convenço de sua alma mundana que a safada sacana deixa descoberta.

E mais inquieta me dá suas minas que queima a retina e cobiça o capacho.

Se atreve o meu cacho, minha flecha na maçã, nem até amanhã não apaga o meu facho.

O céu vai abaixo e não há nada igual.

Nesse manancial o prazer não tem preço.

Ela vira do avesso, o dedo na tomada, que atrevida e aprumada sobe todas as alturas.

E cai na fundura me faz seu arrimo, me cobrindo de mimo e toda afogueada.

Mais afeiçoada no nosso escambo, ela geme ao meu mando, toda ruidosa.

E mais que gulosa arreia atiçada, toda engatilhada dos desejos maiores.

E com garras piores, e doido varrido vou impor-lhe o castigo das ousadas vontades.

E vou com alarde e com toda ganância vasculhar as instâncias ignotas do corpo.

E vou com escopo na entrega gostosa a roubar seu cheiro de rosa e toda a sua essência.

Vai fazer diferença pegá-la escrava, como enxada que cava seu lombo e costado.

Eu puxo e puxado, arranco ferrolho, e descasco o repolho, do seu dorso o penhor.

Eu me faço senhor a fincar as bandeiras nas entradas fagueiras do seu território.

Sou dono meritório dessa graça opulenta, mais de oito ou oitenta, sou explorador.

E ela só: sim, senhor!

Rendida fremindo com tudo tinindo, maior saculejo.

E me enche de beijo a quedar minguada, lambida e chupada até o último gole.

E seu jeito me bole como bem a merece, me faz sua prece, seu altar e pastor.

E do seu alcandor no fogo da paixão, me aperta um tempão a suspirar de amor.

terça-feira, maio 12, 2009

CLEVANE PESSOA DE ARAUJO LOPES


Imagem: P&B, de Luiz Fernando Rodrigues Leite

OS POEMAS SENSUAIS DE CLEVANE PESSOA DE ARAUJO LOPES

THEORGASMIA

Desnuda parte do corpo, parte a alma
e oferece a Marte,o espelho de Vênus,
onde observa a arte dos seios plenos
bela,curiosa, intimorata e calma...
Em breve, dois deuses nus,
deu-se o fato, o olfato se aprofunda,
a vulva, a pélvis, a bunda.
o falo, o talo,a flor profunda.
Deus goza ,enquanto ,voyeur
de tempos imemoriais,
interpreta todos os sinais.
E o esperma divino banha o casal,
agora incapaz de distinguiir o Bem do Mal...

SUADA

A crochetar uma renda,
oferecer-me de prenda,
seda barroca bem trabalhada:
vestida de pêlo, de pele,nua,
acordo sozinha a uivar
no silêncio,o que insinua
esse olhar voraz de desejo
insistente que em mim sua,
- enquanto o espírito estua,
ao vento levanta o pó,
ardente, ardendo e só.

HOJE

E pela manhã,
o apelo da maçã,suas formas, bochechas
ancas e nágegas...
O jasmim- de- poeta´
que atrai, botão fechado,
pelo aroma imprevisto.
Depois,se abre estrelado,
para se desafazer no ciclo vital,
aos teus dedos,
o cheiro já mofificado:
pêssego, sândalo, patichuli,
o gosto já misturado:
cravo, rosa,almíscar e ambrosia.
Nem mais importa,
depois de aberta a porta,
se é gosto ou odor,
rubrica de um vinho precioso;
é apenas o resultado da mistura,,
da amorosidade que se fez embate
com as armas da paixão e da ternura...

ENCOSTA-TE A MIM

Venho de tempos idos e viajo para tempos novos.
Desço a encosta do desejo,
baqueada de sol quente, mas
inebriada pela luz de mel.
Suada,
exalo o cheiro aéreo das borboletas
que visitaram cravos.
Ah, voejei até mesmo em densas florestas
além do nosso jardim
-enquanto, guerreiro do cetro mágico,
guerreavas numa peleja
inútil e convencional, sem mim.
Eu,que agora vou ao teu encontro, para amparar-te,
sarar tuas feridas com minha seiva mágica.
Feiticeira, banhei-me
em pétalas de lírios, cravos e rosas
e minha pele inteira
tornou-se a tua cura.

Encosta-te a mim,
serei o totem onde os signais e os signos
revelarão as fórmulas da doce embriaguez amoROSA.
Mulher, ofereço-te meu graal.
Dentro de mim, alastra-se um fogo eternal,
no alabastro do corpo,mas a pele é morna.
Se tens fome,oferço-te a Poesia
de minha alma em pomar,
que alimenta
com maná e ambrosia.
Se tens sede,dar-te-ei meu leite.
minha saliva,meus humores.
Degusta-me.
Se queres dormir, transformarei
meus braços em rede.
Cantarei uma berceuse
inventada na hora da neblina.

Encosto-me a ti, quando te encostas a mim.
e juntos, seremos uma estela pela PAZ,
uma estrela a mais,
um círio na janela ,
chama votiva a tentar iluminar a harmonia
e simbolizar a quase impossível, mas real
perenidade dessa paixão
que não se acaba, que não desaba,
porque estamos um ao outro encostados
na encosta do desejo, apoiados
pelas costas um do outro.

Degusta-me e te ensinarei
a eternidade dos deuses...

ENCONTRO

A vinha, a vindima,o vinho
a gavinha
a garra...
Você vinha
com beijos de vinho,
boca de tinta
de vinho tinto.
Levinho, vinha,
conforme convinha
-dentro de meu coração cansado,
azinhavre.
Acre ácido
a corroer a emoção, o desejo guardado.
O colo fremente, mas não de paixão.
A camisola, levinha,
a uva,o vinho, a vinha,
o sonho, a sanha.
A gavinha partida.
A ida.
Des/encontros de verão.

UM DIA A MONTANHA FOI MAR

Os dedos do poeta que escreveram versos
em corpos marcados de poeira e amoras,
compensados pelo cheiro impossível dos impedimentos.
Molharam-se na maresia das praias desertas e jamais dantes
percorridas pelos os róseos pés aquecidos ao sol intenso...
Criaram ,com as suaves unhas, hieróglofos em forma de cunhas
para que quando as asas do tempo trouxessem viajantes do futuro,
e então aquele amor estranho e intenso de amantes
fornecesse matéria abstrata para o código abstrato,
os estudiosos se perguntassem se era plausível, possível,concebível,
que se amasse tanto assim, através dos dedos da alma,dos dedos das mãos
já antigas quando tudo começou e deixou signos e signais...
Mar, não existe nehum mar agora,e apenas atrevidas, erguem-se as montanhas,
as montanhas fartas ,verdes e sensuais das Minas Gerais,
que escondem nos seios e nas ancas , nos ventres misteriosos e grávidos,
tais segredos ancestrais...
E eu, que ao ler os versos do poeta, passo os lábios e encomprido os olhos sensuais,
quero ouvir sua voz, e pensar que foram escritos para mim, esses poemas embalsamados:
juro que têm gosto de sal e de algas, de sol e de estrelas -do -mar,
gostos de praias e peixes , os mesmos cheiros e sabores que ,por atavismo ,teimosos,
guardam-se na concha resguardada entre minhas pernas bambas,
a aguardar, séculos após, que desenhes novas letras e rimas no meu corpo
e que com tua língua antiga e sábia, o sal e o calor lambas,
em busca da pérola nacarada que resgatarás da leve espuma
para o prazer sutil e absoluto,para a riqueza acumulada em tempo de espera...
Na montanha , houve mar,em priscas eras, onde amaste outras mulheres
mas quem se guardou inteira para o equinócio da primavera
e preservou rosas esverdeadas e cheias de ondas, salgadas e perfumadas
fui eu, para teu gozo, musa de teu sonho, de tua luxúria, de tua im/paciência...
Por isso, leio tua Poesia magistral e catártica,plena de códigos
para mulheres de outrora
e acredito, entre ingênua e buliçosa,
que escreveste ,mesmo sem saber, todos os códigos da rosa,
para que eu a lesse e entendesse, decodificasse e repondesse, um dia...

EROTIQUINHA

Quando gozogozo,
bêbada do uso-ozo
com gosto de anis,
rito,arfo,fremente.
De mim mesma,corro.
Por um triz,não morro.
Eu,pequena bacia d'água.
Você,chafariz

MOMENTO (De Erotikinha,X)

No estômago, mil asas frementes
de beija-flores antecipam o néctar.
No útero, o lento que-fazer do pólen,
celera-se.
Ascendem ao coração as salamandras,
elementais do fogo.
Tudo teve início
com um olhar,que sinalizou um beijo.
E quando se acendeu a fogueira,na aquiescência,
os tecidos túmidos, os poros úmidos,
invadiu-nos a luminescência
que fez qualquer escuridão
se dissolver na luz.
E os murmúrios soprados ao pé da orelha rosada
ah, a sedução pelos ouvidos,
que escorrega qual líquido inflamável
e cai diretamente no coração,
a provocar um fogaréu...
E os gemidos,
o som contínuo e natural
que brota da garganta aberta em flor madura...
Movimentos contínuos,coleantes :
os corpos serpenteiam e se enroscam,
num milenar ritual.
Os suores, os aromas, a suculência...
A obnubilação para tudo mais que em torno exista:
somente o que é percepptível,é o tálamo
o sim,a entrega,a troca, a soma no soma,
invadir/ser invadido
com permissão.
A premissa
é o desejo,unicamente.
Pudores se esgarçam quais musselinas inúteis.
Todos os panos são barreiras que é preciso afastar.
E as mãos atrevidas,e os olhares,ora cerrados,
ora bem abertos, ora entrefechados.
O que quer, o que toma, o que cede.
Moto continuum,
as sucedências escorregam nas dobras do tempo.
O orgasmo.A petit-mort.
Enlanguescer,relaxar,suspirar,descansar.
Sob a Terra molhada
por chuva milagrosa,
as sementes crescem,incham,
forçam e brotarão em breve...
No silêncio agora absoluto,
enquanto as pessoas dormitam,
os anjos meneiam suavemente as asas,
para que descansem...

ACTO

Olhar desfocado
Lábio intercalado
(boca em completude
suores em açude,
saliva em fio/riacho escorre)
Peito infla
Coração rufla
Mamilo cresce
Adaga intumesce
Você, garfo, eu colher.
Gemo/arfo
Homem /mulher
Fusão
Con/fusão
Fuso horário
Da petit- mort:
Orgasmo
O gamo
A gazela
O hierogamus...
Os órgãos,
os grãos ocultos,
A produção
Dos micro organismos
Potencializados
Dizem Amém...

APAIXONADA/MENTE

Abraso-me,ardo e afogo-me em fogo liquefeito...
Onde andará o incendiário?
Será que usou a chama do meu ou do seu imaginário?
Arfo,sou-me fora de mim, fora de ti,
tição inutil sem lenha...
Chamo-te,
para que teu coração venha,
archote
acho-te,
a acender-me a pira
dedilhar-me a lira,
a buscar a agulha de pinheiro
que proteja
e não o espinho de roseira,
que fira...
Apaga-me!
Somente para depois reacender-me,
tornar-me luminária,
estacionária
essa paixão
perene...

NÚPCIAS CIGANAS

Um punhal ardente,argênteo pela claridade dos castiçais de latão,
ergue-se e agita-se, sonâmbulo, talvez, mas em busca
de caminho certo...Freme, pássaro, algo de beija flor e de cisne,
cegamente lança-se à umidade morna que o atrai,sem medo...
Num casamento cigano, consumado após as danças, o vinho,
as palmas, a espera dos demais,para que a mostra de sangue
seja a prova de uma virgindade exigida pelos costumes ancestrais...
Mas ...não sangra a noiva, ainda assim , até então,virgo inviolata, desiderata,
-ardendo de desejo, mas pura e ele o sabe... ...
O punhal de carne recolhe-se, grato pelos ricos sumos
e pela oferenda da estreita senda...descansa...
então, o homem,jovem apaixonado
e convicto da castidade de sua mulher
que o olha assustada com a falta do carmim
no branco lençol de linho ,levanta-se,corajoso, trêmulo ainda,
após o gozo,e toma de seu punhal de prata, finamente lavrado...
A jovem se assusta, mas não grita, deixa que caiam as lágrimas:
aceita o seu destino, o coração se confrange, depois galopa
no peito de pomba...fecha os olhos e espera...a morte,
pela falta de sorte...
Ontem, sua avó jogara cartas, a Buena Dicha:vida longa,vida feliz,
mas por certo se enganara, pensa desesperada...
O marido então,dá um corte no dedo anular, onde
a aliança brilha à luz das velas...e mancha os níveos panos:
a camisola, o lençol, a fralda de sua camisa...segura
o queixo da esposa-menina, e quando ela abre os olhos,
mostra-lhe o sangue a pingar, e deitado sobre os linhos, e lhe sorri...
Ela devolve, encantada ,o sorriso, sem falar nada
e ele murmura roucamente:"Confio em ti"...
Então beijam-se ardentemente e ele vai à porta da tenda,
a mostrar, belo, viril, mas secretamnte generoso.
a prova da "primeira vez"...Nunca mais falaram nisso,
mas também, jamais um marido teve uma esposa
tão amorosa e dedicada....

CALCINHAS

Depois de passar um bom tempo
escolhendo , com apaixonado olhar
a prever delírios, calcinhas rendadas,
vermelhas cavadas,
sensuais e sedosas,
depois perfumadas
com água de rosas,
percebo que parecem
uma bela borboleta
para cobrir a rosa
da espécie
"Príncipe Negro"
onde o vermelho
é muito escuro
e seu botão bem rosado...
Essa cobertura leve e ousada
vestida apenas para ser tirada
é uma estratégia feminina
para a guerra de "uns" e de " ais"
que acontece entre lençóis,
no tálamo...

PRIMEIRA VEZ

Na colheita de primícias,
a amora esmagada tinge
o níveo lençol de linho...
Um mundo, então de delícias,
todos sentidos atinge
através de um forte espinho...
Um aroma preenche o ar em torno
Os beijos, ora em pianíssimo,
ora vendavais a ser,
gosto de pêssego morno,
sumarento, gostosíssimo...
Então a dor vira prazer...

CLEVANE PESSOA DE ARAUJO LOPES é poeta, escritora, psicóloga, ilustradora, conferencista e consultora nordestina radicada em Minas Gerais, premiada em concursos nacionais e do do exterior. Trabalhou ativamente na imprensa de Juiz de Fora-MG, foi editora de Literatura e Arte do tablóide de vanguarda Urgente, dentre outros. Atualmente, é psicóloga, ilustradora e oficineira de Poesia e Conto. Tem quatro livros de poesias publicados, é consultora de teatro, revisora de textos e roteirista de peças teatrais. É Cônsul Zona Central de Belo Horizonte, da entidade Internacional “Poetas del Mundo”, integrante a REBRA - Rede Brasileira de Escritoras, é patrono da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores, pertence à Academia Virtual Brasileira de Letras. Ela reúne seus trabalhos no sitio Clevane Pessoa e no blog Erotíssima.

VEJA MAIS:
GUIA DE POESIA

sexta-feira, maio 08, 2009

VERS&PROSA

Imagem: Derinha Rocha

SHAKESPEREANA

VIII
(APRONTAÇÃO)

Luiz Alberto Machado


Toda sexta-feira, meio dia em ponto, ela vem com assombro pro meu bem-me-quer.

E me faz de chofer toda gostosinha tirando a calcinha pra me provocar.

E: - qualé, que é que há? -, grita intrigada com manha cismada, querendo aprontar.

Eu fico de cá, só no encalço, apertando seu laço, seu sal se pisando.

Continua bancando maior enredeira, toda presepeira no flerte enrolado.

Jeito caçoado se achega mansinha, fingindo que é minha e que também não.

Eu que sou enrolão sei desse expediente, de fingir que se sente e que sente demais.

Deu passo pra trás, se faz desleixada com a cheba minada, apertando entre as pernas.

É trapaça eterna que faz toda pilha, ela emborca a vasilha toda mandona.

E com cara pidona, prometo a munheca e o ferro na boneca no maior caqueado.

Chamo no cabo, arreia a catimba, chupa minha bimba na maior diversão.

Que degustação!

E não tem apelo, eu seguro os cabelos e tome pencó.

Bateu no gogó, ela me devorando toda se babando, esborra o chamegado.

Aprumo ajeitado, ela quer que eu suste, eu boto sem cuspe até o talo.

Engole o gargalo e mais se atrepa, em mim se estrepa e voa aprumado.

E com avoado vem toda esbelta feito asa delta cavalgar de montão.

Me faz corrimão, sua mala e bocado, mastro desfraldado, consolo e redenção.

Me faz seu pirão, o seu de-comer, a razão de viver e doce predileto.

Juro que eu não presto, sou profanação, seu bicho de estimação, sua terrina e rito de passagem.

Sou sua pilhagem, sua refeição, sua extrema-unção, seu viveiro, seu claustro.

Sou seu repasto, medonha agonia, até a luz do dia me fez coroado.

Sou deus destronado, sua gota e quebranto, sou até o seu santo caído e safado.

Sou enfim seu reinado, espinho na roseira, alma maloqueira que lhe faz só mulher.

E nesse trupé, ela goza devassa, em estado de graça e seja o que deus quiser.

quinta-feira, maio 07, 2009

GRACIELA DA CUNHA


Imagem: Desenho à vista, de Antonio Cabral.

OS SABOROSOS E SEDUTORES VERSOS DE GRACIELA DA CUNHA

NUDEZ
Vamos dar asas
aos nossos desejos.
Explorar o amor!
Mergulhar no
nosso oceano,
deixar que ele
nos leve
para qualquer lugar.
Onde vamos encontrar,
a nudez completa
do nosso ser.

AMOR
Você me seduziu.
Envolveu-me em fantasias.
Invadiu meu destino.
Desnudando-me por inteira
deixando-me em desatino.
Aguçando todos os meus sentidos.
Enlaçando-me com teu corpo
em rodopios suaves,
e me acariciando feito música,
nossas almas se encontraram.
Ah! Este amor que ainda
arde em meu corpo.

SONHEI
Sonhei..
Com intensa emoção
ser tua magia...
ser sua musa na poesia.
Sonhei...
Ser envolvida
em teus braços
com teu toque
arrepiava-me...
Delirava de paixão.
Sonhei...
Com você me amando,
nossos corpos
encontravam-se
e nos entregávamos
sem limites.
Onde tudo era permitido...
Meu amor...
Acalma meu coração,
vem transformar esse
sonho em realidade.

SEDUÇÃO
Noite de lua cheia!
Apenas nossos corpos
estendidos na relva.
Jura de eterno amor!
Nossos corações batem
em ritmo acelerado
Nossas bocas se perdem.
Nossos olhos se encontraram
nesta sedução
fui tua dona e tua refém.

AMOR
Sentada
a beira mar
tu chegas de mansinho
para beijar-me num afago doce
um abraço amoroso.
Mar sereno e nós dois
Um todo só...
Nada mais importa somente o nosso amor.

ÂNSIA

Você brinca de amar
Meu coração acelera forte
Perdendo-me em seus desejos
Sem poder raciocinar
Entregando-me a ti
Sinto tuas mãos trêmulas
Despindo-me e acariciando
Seduzindo a minha razão
Arrepia a pele e incendeia o corpo
Nos lençóis de cetim branco
Viram cúmplices da paixão
Ápice de tanto desejo incontido
Invadindo minha mente
Enlouquecendo-me de prazer
Os corpos estremecem e explodem
A cada toque que deixamos brotar
Esta ânsia de perder totalmente a razão.

AMANTE

Hoje quero ser tua amante
E não sua namorada ajuizada
Chega de caso sério quero te descobrir
Conhecer teus mistérios e despertar teu libido
E se algum dia o sentimento for verdadeiro
Daí a gente conversa sério
Hoje carrego uma paixão intensa
Que está longe de ser amor
É apenas o início de um interesse
Caso de dois adolescentes apaixonados
Que para "transformar-se" em amor
Ainda vai depender de muitos
Erros, acertos, defeitos flagrados
E que aos poucos vão se tornar
O gostar, o conhecer e o amar
Hoje quero que arrepie minha nuca
Com o ar de tua boca
E o resto a gente vê depois como fica.

BEIJAR
Desejo beijar seus lábios,
mas a distância nos separa.
Somente me resta sonhar de quando nos encontrarmos.
Como será este caminho, se nunca provei,
terá sabor de mel e um aroma sem igual ou vou ficar na ilusão,
somente fazendo poesia.

BEM ME QUER....MAL ME QUER....
Bem que te vi na tela desta tv.
aqui te olhei e nunca lamentei a flor que plantei em meu coração...
Bem que te amo me faz bem nunca te tocar, porque a frase já é feita
sem medo de te magoar...
Bem que teu rosto é brilhoso e um pouquinho belo-charmoso,
faz de mim um ser alegre...
sem dores, sem qualquer solidão...
Bem são teus poemas
tem muita luz e também muita glória.,
na estrada das dores
da mente você é uma fortificação.
Bem faz você, amiga dos amores escondidos,
onde navegam tantos barcos sem rumo...
tantos barcos sem braços, somente os corpos se deixam levar
para o mundo do prazer de te sempre amar.

NOSSO JARDIM
Não quero flor sem perfume.
Quero nossos corações batendo.
Nosso jardim do amor vou cuidar para as flores não murcharem.
Vem deitar junto a mim e investigar minha alma.
Nosso amor é inato.

TER UM BEIJO
Em cada rabisco, nasce uma confissão
de ter um beijo molhado e despudorado
com gosto de cereja vermelha.
Minha alma quer ser dominada pelo teu querer.
Paixão e desejo com sabor da fruta da tentação.

AMANDO-TE
Vivemos os sonhos dos deuses
onde a ilusão não era permitida.
Eramos um vulcão em erupção,
com desejos ardentes.
Abraçados como laço de fita.
Juntos com nossos sussurros.
Desejos incontidos...
Fomos amantes do acaso,
mas permanecendo o amor.
Você é meu raio de sol, é minha luz!
Aquecendo e me conduzindo,
amando-me a cada dia.
Eu amando-te cada segundo.

AMOR PERFEITO
Quando meus lábios tocaram aos teus,
foi como se o sangue que corresse nas minhas veias se transformasse em labaredas,
um fogo que ardia pelo meu corpo...
A paixão explodiu, envolvendo-nos,
e levando-nos até as nuvens,
onde existia somente nós dois.
Beijo selvagem e frenético,
os lábios moviam-se sensualmente,
e meu corpo tremia e quis fugir daquela emoção incontrolável,
mas era impossível.
Nossos corpos se moviam em perfeita harmonia,
nos conduzindo para mais perto do último e do maior de todos os mistérios.
Foi um ato de amor perfeito!

SONHOS COLORIDOS
Nosso amor é como sonhos coloridos.
Você me faz voar me levando ao céu sem ter asas em nosso ninho repleto de amor.
Em meu coração nascem flores de amor para você.
Embriagamo-nos com nosso amor e juntos ficamos um do lado do outro,
trocando palavras de carinho...
Sentindo o toque de suas mãos em meu corpo.
Na entrega total do nosso desejo descomunal.

GRACIELA DA CUNHA – a poeta e advogada gaucha Graciela Leães Alvares da Cunha ocupa a cadeira 764 como membro efetivo da Academia Virtual Brasileira de Letras – AVBL e dos Poetas Del Mundo. É autora de diversas publicações como “Os Efeitos Jurídicos da União Homossexual” em 1999, entre outras publicações com sua participação em antologias e coleções. Edita os blogs Meus riscos, Meu sonho e Arte Canto, reunindo parcela considerável do seu trabalho literário no Recanto das Letras.

VEJA MAIS:
GUIA DE POESIA

terça-feira, maio 05, 2009

LEDO IVO

Imagem: Sinteco, de Luiz Fernando Rodrigues Leite.


AS IMAGINAÇÕES ERÓTICAS DE LEDO IVO

“(...)
- teu corpo impuro até aos vis corrompe
E só nos puros ele se abastece” (SONETO DE DORMITÓRIO)

“(...) nos trechos escuros de tua nudez
Eu capinava matos onde o amor se iniciava” (A MORTA)

BALADA DE ADEUS OU O AMOR EM MONTPARNASSE

Eu dormirei contigo em Montparnasse
Sob um céu belo, intacto e surpreendido:
Contigo dormirei embora passe
Este desejo de te amar demais
Que, de repente, sob o céu ferido,
Me vem preciso, louco, vão, fugaz.
Nosso encontro campestre, na distancia,
Não dispensa boninas, madrigais,
Para desgraça minha, o amor audaz
Faz com que me conquiste doce ânsia
E teu corpo estrangeiro se desfaça
Em musicas de abismos dissolventes.
Uma aragem marítima perpassa
Nos contrapontos de teus seios quentes.
Em Montparnasse, que faremos nós?
Teus adeuses não são mais de neblina
E não repousas mais no ultimo andar
Do edifício sem sombra de pudor.
Jamais, porem, nos ficaremos sós
Pois teu corpo escaldante de menino
Novos jogos de amor há de inventar
Em que o desejo se misture à dor.
Teus dedos matam pássaros que ficam
Depois mais vivos e então te dedicam
Intermináveis bailes sempre alados.
Ó rosa branca, ó flor sem virgindade,
Tremes ao vento sem peste no obscuro
Lugar de mil amores desprezados.
A claridade é treva, e esconde o escuro
Seios, cabelos, pernas, coxas, sexos
Dos que se possuírem sem amizade
E tiveram do amor tristes reflexos.
Corpo desnudo, como te ofereces!
És como um sino cujo toque fosse
Um convite de amor, um triste e doce
Convite à posse do que bem mereces.
Em Montparnasse, eu te farei amar
Como se fosse ao próprio amor que amasse
A tua carne viva em Montparnasse.
Em Montparnasse, eu te farei gritar”

FAZENDA DO AMOR CAMPESTRE

Deixaste a marca de teus pés na terra
Despertando os grãos
Que se esqueceram de germinar.
A unidade perdida dos campos
Te sepultava, te naufragava.
Ias para a fazenda
Porem caminhavas pela floresta.
O ar que respiravas era
Um oxigênio sem resistência ou pudor.
Confiavas a ti mesma
E caminhavas orgulhosa levando o campo.
Em teu corpo havia muitos países de amor
Alguns que só poderiam ser atingidos via nunca mais
Outros que a mão ruralmente alcançaria.
Foi quando – tu o esperavas, moça! –
Fui ao teu encontro e te derrubei
No mato que cheirava a paz e a morte.

SONETO DO POETA BRASILEITO

Não sou viril somente nas poesias.
Quero dormir contigo, pois teus pés
Amassavam pitangas e trazias
No corpo inteiro a marca das marés.
Disseste que comigo casarias
- amor na cama, beijos, cafunés.
Entre-sombras de carne oferecias
Tão navegáveis como os igarapés.
Minha morena até dizer que não,
O nosso amor demais me recordava
Duas lagoas onde me banhei.
Sou macho e brasileiro, coração:
Em teu olhar eu nu e forte estava
E foi assim, morena, que te amei.

PRAIA DO SOBRAL

Esperava que ela afastasse de mim os seios puros
E passeava com ela pela praia e a beijava
E enfeitava seus cabelos com uma flor.
Permanecia tranqüilo mesmo junto de sua carne
Pois no litoral Doralice era a flor esquiva
Que restaurava em mim o obscuro desequilíbrio.
Misteriosamente claros seus seios tentavam
Minha mão direita que a louvaria em verso
E minha mão esquerda frágil e inconsistente
Inútil quando não a acariciava.
Praia debruçada sobre o seu corpo,
O amor era a gratidão marítima
E as ondas obedeciam ao fremir de suas coxas.
Doralice era a utilidade que sob o sol
Ou sob a lua me afastava do céu.
Era o crepúsculo invasor de alguma manhã.
Sonhos caminhando, tardes naufragas, noites grandes,
Doralice era como a lagoa da terra em que nasci:
Me perturbava e me acendia.
Era a areia quente
Onde o sol de minha infância se nutria.
A noite vinha do sexo de Doralice
Para o litoral que era
Como um colchão onde se amava.
Depois Doralice vomitou a infância
E eu fiquei, menino, na praia sonhando.

A DAMA

Sempre te vejo, Dama Esportiva,
Inclinada para o espaço como uma torre
No gesto de uma partida de tênis.
Acompanhada de duzentas figurantes de opereta
Reconstituir o crime de um sono nostálgico
E a náusea das residências do noroeste.
Telegrafas para a eternidade
Com a fúria de tuas coxas.
Sempre te vejo e confesso
Que teu corpo de bailarina me aniquila
Teus braços me aprisionam
E tua boca me sorve.
És uma mistura de carne e de opera
Imóvel na tarde com os teus espelhos,
Tua geografia e teu porta-seios.
Flor que sempre viaja incógnita
Ou rosa verde que provoca suicídios em massa e desfalques
És uma calamidade pública.

ESMERALDA

O internato em que estavas
Voava contigo nas manhãs sem nuvens
Ficavas acima do farol
Azul e branco e saia de sino
Dominavas um azul que não existirá
E estudavas química.
Esmeralda, tormento e magia
Naquele tempo teu corpo germinava como um campo
E tua carne inventava novas formas
Que desfiguravam a ausência.
Eu desenhava na praia a curva de teu seio.
E continuavas voando, entre o farol e o mar,
Ballet de minha adolescência.

CANTIGA PARA A AMIGA FUTIL

Venho cantar tua pronuncia inglesa, digna de Oxford.
Teus múltiplos passeios.
Teu complexo de Elextra.
E venho te convidar para partir comigo
Na corveta de Euterpe,
Para o país sem nome e sem dia.
Andaremos de velocípedes nas nuvens
Faremos filhos por via aérea
E navegaremos na lagoa escaldante do mistério.
Venho te convidar ó perpetua senhora
Para a contemplação no espelho da Sala do Fim do Mundo.
Teus seios, outrora lunares, teu secreto charme,
Teu corpo mais eterno do que realmente é,
Teu exímio processo de amar.
Venho te convidar para o amor
No jardim-terraço da corveta Euterpe.
Com o teu corpo de fragata ou tua paixão, vem.
Sou menor que tudo.

ADRIANA E A POESIA

Adriana estava dormindo e um sonho se levantava de seu corpo
Neste momento faltou inspiração aos poetas porque todas as inspirações estavam em Adriana
As sereias tentaram em vão roubar os seus cabelos
Porem um anjo guardião não permitiu que ela fosse destituída de sua beleza durante o sono
Seus seios arfavam docemente como as rosas ao vento – todos vós sabeis que os seios de Adriana não morrem
Uma sonata celebre fugiu de um concerto com um suspiro de Adriana
Desembargadores tiraram o chapéu porque pensaram em Adriana dormindo
Ela repousava e então caixas de música enlouqueceram inexplicavelmente
E as amadas dos poetas se cobriram misteriosamente de neblina
Temporais desapareceram e naus antigas fugiram de velhos livros de historias infantis e acordaram nos portos sonhados
Um trapezista julgou ver Adriana com os braços abertos tentando-o no ar e precipitou-se irreparavelmente no vazio
Incontáveis elegias descobriram-na dormindo
O Presidente da Republica decretou feriado porque Adriana estava dormindo
Sendo revogadas as disposições em contrário
Berceuses partiram em maravilhosos crepúsculos
Países em guerra concordaram em tréguas indeterminadas
Para que as batalhas não perturbasse o sono de Adriana
Que algum tempo depois despertou docemente e descobriu não estar como antes do descanso
Pois Cristo havia desapropriado sua grande poesia
Para que ela pertencesse a todos os homens e a todos os mágicos.

LEDO IVO – O poeta, jornalista, escritor e ensaísta alagoano Ledo Ivo, foi e leito em 13 de novembro de 1986 para a Cadeira n. 10, sucedendo a Orígenes Lessa, foi recebido em 7 de abril de 1987, pelo acadêmico Dom Marcos Barbosa. Ele estreou na literatura em 1944, com o livro de poesias As imaginações. No ano seguinte, publicou Ode e elegia, distinguido com o Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, o primeiro de uma série de prêmios que Lêdo Ivo irá obter, nos anos subseqüentes, com a publicação de obras de poesia, romance, conto, crônica e ensaio. Lêdo Ivo é uma das figuras de maior destaque na moderna literatura brasileira, notadamente na poesia. Seu romance Ninho de cobras (1973) foi traduzido para o inglês, sob o título Snakes’ Nest, e em dinamarquês, sob o título Slangeboet. Obras: As imaginações, poesia (1944); Ode e elegia, poesia (1945); As alianças, romance (1947); Acontecimento do soneto, poesia (1948); O caminho sem aventura, romance (1948); Ode ao crepúsculo, poesia (1948); Cântico, poesia (1949); Linguagem, poesia (1951); Lição de Mário de Andrade, ensaio (1951); Ode equatorial, poesia (1951); Um brasileiro em Paris e O rei da Europa, poesia (1955); O preto no branco, ensaio (1955): A cidade e os dias, crônicas (1957); Magias (contendo: Os amantes sonoros), poesia (1960); O girassol às avessas, ensaio (1960); Use a passagem subterrânea, contos (1961); Paraísos de papel, ensaio (1961); Uma lira dos vinte anos, reunião de obras poéticas anteriores (1962); Ladrão de flor, ensaio (1963); O universo poético de Raul Pompéia, ensaio (1963); O sobrinho do general, romance (1964); Estação central, poesia (1964); Poesia observada, ensaios (1967); Finisterra, poesia (1972); Modernismo e modernidade, ensaio (1972); Ninho de cobras, romance (1973); O sinal semafórico, reunião de sua obra poética, desde As imaginações até Estação central (1974); Teoria e celebração, ensaio (1976); Alagoas, ensaio (1976); Confissões de um poeta, autobiografia (1979); O soldado raso, poesia (1980); A ética da aventura, ensaio (1982) A noite misteriosa, poesia (1982); A morte do Brasil, romance (1984); Calabar, poesia (1985); Mar oceano, poesia (1987); Crepúsculo civil, poesia (1990); O aluno relapso, autobiografia (1991); A república das desilusões, ensaios (1995); Curral de peixe, poesia (1995).

FONTES:
IVO, Ledo. As imaginações. Rio de Janeiro: Pongetti, 1944.
____. Poesia completa (1940-2004).Rio de Janeiro: Topbooks, 2004.

VEJA MAIS:

segunda-feira, maio 04, 2009

JURACY RIBEIRO


Imagem: Nu com borboletas, do pintor e tapeceiro baiano de Genaro de Carvalho (1926-1971).

OS MARAVILHOSOS VERSOS DE JURACY RIBEIRO


CONVITE

entardeço
entristecida,
entediada
entre filme e cama
entrelaçada
em fios de telefone
vozes entrecortadas
tantos entretantos
estranhos nas entrelinhas
entrave nas entranhas
nenhuma entrega
porta entreaberta
digo, enternecida
entre

EFÊMERA

preparo chá. aceita?
sem vela pra clarear, querido
açucena aos molhos
põe fogo na lareira
entra na ciranda
vem me aquecer
açucena pra perfumar
senta aqui bem junto
num murmurinho
vamos amar?
amarílis

BANDEJA

posso beijar
teu rosto
tantas vezes
quantas desejo
me entrego
de mão beijada


MÁSCARAS

você reluz
qualquer dia desses dou à luz
sou sua, sou sua
minhas mãos numa cruz
nas minhas chácaras
muitas máscarase suas xícaras
entornadas
me chocam
ninguém me seduz
champanhes e chás
entornados
em meus seios
me checam

FUTURA

colhe tua colheita
sina
agora assina

CRISÁLIDA

os lábios dele
eram folhas de amoreira
frescas e úmidas
eu me alimentava
do muito que ali havia
hábil, ele sabia tecer uma seda
digna de uma imperatriz
distante ainda o casulo
houvesse um estalo
e eu mariposa

CARTA INCENDIÁRIA

nem crucifixo
pra livrar
corpo
de fogaréu
que água benta alguma apaga
fogo é fogo

MORANGOTANGO
você, cereja
melaço
me enlaço
eu, morangos
em chantili
orangotango
tolo, vulgar
nadando no seu marasquino

E FORAM FELIZES AGORA

me estreita
nos braços
auras
e expande
feliz como nunca
para sempre

REFLEXO

você segue assim
tonto assim
nem se dando conta
de que flutua
em rios, lagos, mares
buscando cascatas
ribeirões, cataratas
você flutuando num oceano
e eu sigo assim
tonta assim
navegando em tantas águas menores
em jangadas, as mais singelas
e conversando com as plantas
ribeirinhas pobrezinhas
vendo a minha face refletida
nessas águas de leito plano
e no reflexo o sonho
de nadar e me afogar
no seu oceano

BEIJO

me estimula
desperta
poesia
adormecida
talvez
após cem anos
volte a ser
mais fera

geada
homens dormindo na calçada
dentro das casas
homens frios

só eu me entrego
peço água
só não jogo a toalha
na lona já estou
há tempos

pare
serei adesivo
na tua pele
verei tua força
aonde vai
sou eu
a meia hora
que te empurra
a um cigarro de menos
para vida de mais
minhas mãos
acariciam
meus seios
enquanto você não vem
minhas mãos
em vez das suas
me aliciam
por outros meios

NINHO

tomo em minhas mãos
pássaro com voz humana
soprando em meus ouvidos
estranhos poderes mágicos
senão vejamos
entender como é feita
pétala da rosa
me conceder dom
de colher fios de ouro
dos raios de so
ltecer uma rede para capturá-lo
trazê-lo no bico
ao seio

LENÇOL FLORIDO

leoa dilacerando a caça
colocando com a boca
em sua boca
libélula
levitando
com a libido
transparente
de suas asas

IGNEA

me faça magma
esculpe de vez
essa estátua sem sal
plasme-a
lambe-a
não se preocupe
não se desculpe
não olho pra trás

NAS NUVENS NO CHÃO

nunca tive chão
estou sempre voando
no entanto
estávamos ali
o chão falando mais alto
nunca o chão
foi tão macio

MENSAGEM AO MAR

mar
preciso encontrar
ponto g
de sua ira
te ver golfar
furiosamente
pacifico
no gozar gostoso
sentir teu corpo lânguido
sobre areia
quente

JURACY RIBEIRO – a poeta, arte-educadora, contadora de história, professora e terapeuta holística paranaense radicada no estado de São Paulo, Juracy Ribeiro, é autora do livro de poemas “Vidros e vidraças”, publicado em 1986. Ela tem participado de diversas antologias literárias, com seus poemas, contos e infantis, além de desenvolver um excelente trabalho que está reunido no seu blog Jura em Cy Bemol. Imperdível!!!

VEJA MAIS:
GUIA DE POESIA
O TRABALHO
A TERRA: UMA PALESTRA SOBRE A CIDADANIA E O MEIO AMBIENTE
CANTARAU