terça-feira, fevereiro 19, 2008



Imagem: Danaë, 1636 (The Hermitage, St. Petersburg, Russia) do pintor e gravurista barroco holandês Rembrandt van Rijn (1606-1669)

O VERMELHO DA AMORA

Luiz Alberto Machado

"(...) da quimera ordinária de costas faz que se esvaia a ilusão banal de dorso desmaiar a miragem banal em decúbito..." (Mallarmé)

Privado fui, então, de todos os amores. Sabia desde já que tanto Pomona, quanto Lucrécia, quanto Safo, Aijuna e até Nachásh eram transformações de Perséfone, as suas muitas caras e heteronomias.
Pomona ficara na proibição de ver Lucrécia, vendo-me na pele de Piramo e Tisbe. Lucrécia fora expulsa escandalosamente por minha mãe que flagrara nossas libidinagens soltas. Eu já convivia embaixo de sua saia, cheirando seus mijados, viçando em sua vida e minha mãe desconfiava e me perseguia insone. Até que fizera um boi-de-fogo imenso e provocara meu pai a desterrá-la do nosso convívio. Ela foi-se e levou-me a alma, ficando meu corpo depenado.
Certa tarde Ezined, a Nizinha, uma estreita amiga de Lucrécia, trouxe-me uma missiva sua. Tão longínquas foram as suas palavras quanto a nossa distância cislunar, mas tocara fundo, parecia que proibido nosso amor mais aumentava.
Nizinha era a nossa fenda na muralha da proibição e nisso combinávamos encontros nos arredores da cidade. Desencontros nos privaram de saciar a sede que nos molestava e quando conseguimos ver-nos, ela me dissera que quando morresse queria ser enterrada neste local do encontro, como se fosse o túmulo de Nino, onde nasceria uma belíssima amora. Beijamo-nos ardentemente, mas a urgência da separação era imperativa, ela se envolvera com outro sisudo macho que não lhe permitia mais escapulidas. Fora o preço de seu refúgio e do escândalo da minha mãe. Não poderia mais retornar nem me ver, estava aprisionada para poder sobreviver.
Uma lágrima escorreu-lhe, fiz menção de sugá-la, não deixou. Tinha de ser assim e nem adeus dissera. Sofri a partir dali.
Muitas e muitas vezes pressionei Nizinha para que me desse seu paradeiro.
- Esqueça, ela agora pertence a outra seara.
E dizendo isso, deitava minha cabeça ao seu ombro, acariciando meus cabelos, alisando minhas faces. Confesso, eu chorava torrencialmente e Nizinha fazia de tudo para me alentar. E todas as tardes Nizinha arrumava um meio de me acalentar daquela difícil situação. Eu já até me acostumara de sua companhia e delatava as confidências das estripulias amorosas com Lucrécia me remoendo por dentro na sina desafortunada. Eu nem notava que ela se excitava com a minha sofreguidão, sempre prestativa, solidária com a minha dor. Até chorava com meus queixumes. Dissera-lhe que Lucrécia era a Pomona que eu não conseguira segurar, satisfazia minhas necessidades de não ter conseguido ficar com Pomona como eu queria, substituía até a minha mãe fria e malamada que nunca me fora terna ou maternal.
Nizinha esforçava-se por me agradar, me deitava na relva, deixando a minha cabeça no seu colo, contando-me histórias de mulheres que amaram e não foram correspondidas, aliviando-me do mormaço e tentando fazer rebrotar em mim o viço que perdera. Ela mesma me dizia que amava e não era correspondida, contando-me da dor do Cyrano de Bengérac. Tocou a minha sensibilidade, foi a minha vez de demonstrar ternura quanto aos seus sentimentos. Tornamo-nos, então, cúmplices de uma mesma dor. E, todas as tardes, um sacudia o outro, retirando-nos do marasmo, da misantropia que nos tolhia, da soturnidade que nos abalava.
Passara a ver-lhe com outros olhos: o de uma amizade sem confins. Mas ela mais mergulhava no dissabor e tive de me desdobrar para aflorar-lhe um riso qualquer e vê-la deslumbrante como sempre fora: alegre, jovial e bela ao jeito dela, uma beleza singular e dissonante.
Um baque. Um estalo me revirou por dentro. Ela chupava diligente um pirulito, mostrando-me seus grossos lábios róseos, sua boca enorme e seu jeito sedutor de felar. Estremeci e desentoquei o calor na minha virilha. Ampliei minha visão e conferi seu tronco, os seios arfantes, o umbigo delicado, o ventre arrochado pelo shortezinho curto, as coxas volumosas, as pernas bem desenhadas, os pés descansados.
Retornei toda a geografia até chegar nos seus olhos, ela vira os meus esbugalhados checando todo o seu trajeto corporal. Tomei outro choque, ela semi-sorriu enquanto desabotoava um botão da blusa, deixando à mostra a fresta entre as duas maçãs sedutoras. Fiquei imóvel e boquiaberto. Nunca me dera conta daquela suculência. Ela com seus olhos agarrados no meu. Fiquei perdido, meu Aconcágua dilatava crescendo por dentro da bermuda. E me agoniava. Ela engolia o pirulito inchando a bochecha de um lado para o outro inflando a boca como se pudesse abarcar toda dimensão de polegadas que se insinuassem da minha espada. Aquilo acelerava a batida do meu coração. A brisa da beira do rio não amainara o meu suadeiro provocado pelo desabotoar de mais um botão da blusa, escancarando mais o volume dos seios que se insinuavam prisioneiros dela. Eu estava imóvel, paralisado como por um novo feitiço de Nachásh. Ela largou o pirulito longe, passando uma de suas mãos na minha face e a outra alisando o meu pescoço. Timidamente minhas mãos se encaminharam aos seus seios, abrindo-lhe por completo a blusa e constatando os lindos seios de Eva Kryll para que eu chupasse tal bezerro desmamado. Beijei-lhe e aqueles lábios faziam bem ao meu paladar. Com alvoroço desnudei-lhe, deitando-a na terra da beira do rio. Depois de nua fiquei fitando o seu corpo, ela revirou-se, ficando de quatro e vendo-me, de cabeça para baixo, entre as pernas. Era uma cheba de cuscuz, tufada, e um cuzinho cor de rosa, lindos, à altura do meu rosto. Lambí-lhe os lábios da vagina e o orifício anal. Ela ronronou. Um arco-íris se fizera entre nós dois, trazendo uma música de sonhos e um cenário de céu para os nossos corpos. Que lorto, que virgo! Tudo exposto para o meu envoltório, tudo lentescente para o frege, que turgescência! Eu estava no rouço, arrancando-lhe o cabaço para a nossa checha, apalpando seus aclives e declividades. A poça de sangue da sua virgindade aguou o terreno e nosso sexo arrebentava o tempo, sobrepujava espaços, ultrapassando dias, usurpando calendários, maculando datas comemorativas e enovelando nossos corpos.
- Queria presentear a mim e a você, aceita? -, disse-me ela com a cara mais safadinha que se possa imaginar.
- Claro! O que é que você quer? -, respondi-lhe lambendo os beiços.
- Quero uma coisa que eu sei que você está louquinho e eu tô doidinha.
- Sim, se você acha isso, vamos lá, seja o que for!
Nem podia adivinhar o que era. Ela ficou de quatro, cuspiu no dedo e esfregou no ânus, deixando o orifício róseo salivado.
- Venha, é dessa forma que eu gozo de verdade!
Era o cúmulo do hedonismo! Fiz o meu remígio com adefagia e empurrei no seu sesso. Ejaculei com os nossos rounds e pude ver-lhe o sorriso faceiro de felizarda possuída.
Agora Nachásh era o meu pênis e Perséfone se misturava com o oxigênio que me dava cada vez mais a vida.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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