sexta-feira, setembro 28, 2012

PAIXÃO




Imagem: Venus e Adônis (c.1597), do pintor do Maneirismo Flamengo, Bartholomeus Spranger (1546-1611).

PAIXÃO 




Falar em química da paixão e do amor em nossos dias, confronta a dicotomia da racionalidade com a emotividade. Principalmente pela atitude experimentalista e pelo sucesso tecnológico que propiciaram um desigual conforto humano. Contudo, enquanto o conforto passa a ser a razão da saga humana hoje, engendrou-se o desconforto para o conhecimento, que impôs a si mesmo limites metodológicos e restrições de incidência, que o paralisaram em campos onde o experimento não pode operar. Nesses campos do amor e da paixão, a ciência cotidiana não entra e os considera o limbo da metafísica, o exagero da imaginação artística e a perfumaria opressora dos mitos superados. Dessa forma, falar de amor e de paixão em tempos de banalização e vulgarização das relações afetivas e sexuais, requer um exercício ético sem preconceitos.


Se no interior da própria ciência, a razão se autotematiza, no cotidiano, a opacidade continua. Há um mundo operatório que dá conta dos interesses e racionaliza as correlações de força vigentes, mantendo e justificando as disparidades, aquietando as consciências, criando virtualidades consoladoras e simulacros generosos, galvanizando as atenções e os esforços. Para um mundo limpo, tão limpo como as máquinas, cuja sujeira é permitida por não ter o odor e a organicidade dos seres vivos, uma razão limpa, sem as instabilidades do afeto e os riscos da paixão. Enquanto isso, uma corrente inglória e contumaz, insiste na afetividade em detrimento do mecanicismo desumano. Para que essa razão analítico-instrumental sobreviva, será sempre preciso separá-la do afeto. A inteligência mais alta é aquela que tem a eqüidistância dos eunucos e a limpidez da água destilada. Isto significa uma muralha construída entre a razão e a paixão, entre a cognição e a afetividade, a se tomar a terminologia piagetiana. O mundo do dado, como se insurgindo, não cansou, na história, de mostrar que onde a razão brilha, há uma coexistência com a paixão, onde ela desvela, ali está morando o afeto. Isso pode ser observado, tanto individual, quanto coletivamente.
A paixão, em Nietzsche, martela e fragmenta, atingindo a transmutação de todos os valores. Em Marx, subverte, denunciando a injustiça das estruturas econômicas e sociais. Em Freud, revela o inconsciente; e, no feminismo, desprivatiza o privado para denunciar a desigualdade entre os sexos. E isso quer dizer que não há Einstein sem a paixão pelo Universo, nem Mozart, sem a paixão pela Música, nem Marx, sem a paixão pelos desvalidos, nem Picasso, sem a paixão pela forma, cor e textura, nem movimentos sociais, sem a paixão pela transformação. Daí, conforme Gutiérrez (1998:80), "(...) paixão é criatividade: sem paixão não há poema, quadro, catedral, transformação social ou literatura. E é da paixão amorosa que trata a literatura, especialmente a romântica".
Em Goethe, com Werther, é a mais alta representação do amor impossível, do amor infinito e da morte. Onde a paixão é excesso, transgressão. E que as transgressoras, adúlteras, ou não, como as heroínas na história da ópera, sofrem sempre algum tipo de punição. A paixão sem qual o mundo é insípido, a paixão que alimenta e fecunda e sem a qual se perde a própria flor da vida, tendo as características do que, para Kant, é o sublime, pois em termos kantianos o sublime é noturno, tempestuoso, misterioso. Mas afastar a razão da paixão é útil para efetivar uma dominação sutil: a dominação que estimula a produção com a diminuição de angústias e tensões, a dominação dos controles mais fáceis, dada a previsibilidade dos seres com sentimentos pequenos e pouco intensos, a dominação da criação de necessidades para amortecer dúvidas e tecer existências lineares, que procuram se apropriar de mercadorias, em si, desnecessárias. Além disso, nessa teia de poderes estabeleceu-se uma outra dualidade: a do amor, de um lado, e o da paixão, de outro. Para o amor foram carreadas todas as qualidades superiores: o amor é construtivo, o amor é solidário, o amor é doação, o amor é o sentimento da união serena e estável.
À paixão foram reservados os estigmas do descontrole, da traição, da agressividade, da infelicidade, da imprevisão e da destruição. Assim, a paixão se tornou fonte de atos perigosos, como, no âmbito penal, o homicídio passional.
O amor-paixão que move o ser humano para pontos cruciais, que o lança para os abismos, ou que o abre para iluminações, é entrega plenificadora ou destruidora. Seu sentido plenificador ou destruidor está dependente do valor, está ligado aos projetos, está demarcado por trajetórias individuais, sociais ou culturais. Ele é demasiadamente humano. Por isso, é perigoso para a sociedade de controle. Somente humano. No entanto, é preciso entender que o amor e a paixão fazem parte da vida humana porque estão sempre presentes nos sentimentos humanos.


Para os poetas arrebatados a paixão não é, sente-se! E sente-se a cada momento, a cada beijo, a cada carinho, a cada sofrimento. Paixão é o que se cria fechados no mundo onde se balbucia palavras divinas que os beijos inocentemente interrompem! Paixão é a contemplação mística de olhar os olhos enobrecidos de prazer, de vida. Por isso e muito mais, a química do amor e da paixão é muito estudada hoje, pois o corpo produz substâncias que são como drogas que agem na pessoa quando está apaixonada.
Numa primeira tentativa conceitual empírica, a paixão pode ser entendida como um sentimento que desestrutura o indivíduo, pois ele deixa de lado o seu próprio eu para satisfazer as vontades e desejos do outro. Isso porque o apaixonado se anula, esquece de si mesmo para viver a vida do outro. Afasta-se dos amigos, da família e as vezes da própria sociedade. Ou seja, a paixão é a forma de amor que recusa o imediato e foge do próximo: aspira à distância e a inventa na medida de sua necessidade, para melhor se renovar e se exaltar. Esta definição está conforme com os preceitos do filosofo francês Denis de Rougemont, autor de "Os mitos do amor".
A paixão, por outro lado, é uma projeção narcisística: ama-se, no outro, a projeção de si mesmos, enquanto o casamento, por seu lado, elimina o aspecto nascisístico da relação (Bolsanello, 1979). O apaixonado projeta e enxerga no outro tudo que ele deseja ter ou ser. A paixão não dura a vida toda. Ela chega numa encruzilhada onde encontra dois caminhos a seguir: acabar ou transformar-se num grande amor.
Por outro lado, Jung (1980), observa que o encontro de duas personalidades é como o contato de duas substâncias químicas: se houver alguma reação, ambas serão transformadas. Por isso, entende-se que a paixão é aquela euforia, aquele tormento, as noites insones e os dias inquietos. Em êxtase ou tomados pela apreensão, sonhando acordados durante os afazeres, esquecendo as coisas, perdendo a noção do espaço, ficando sentados ao lado do telefone ou planejando o que vamos falar, obcecados, ansiando pelo próximo encontro com a pessoa amada. Sob esse entorpecimento, o riso deixa tonto, enfrenta-se riscos absurdos, diz-se tolices, ri-se demais, revela-se segredos bem guardados, conversa-se a noite inteira, anda-se pela madrugada e, o tempo todo, abraçam-se e beijam-se, esquecidos do mundo inteiro enquanto estão tomados pela febre e sem fôlego, plenos de êxtase (Fisher, 1995).
Numa outra visão, Freud considerou a paixão como um desejo sexual bloqueado ou postergado. Daí, muitos consideraram a paixão uma experiência mística, intangível, inexplicável e até sagrada, que desafia as leis da natureza e a investigação científica.
Há toda uma mística, desde Iansã, que é o orixá de um rio conhecido como Níger, cujo nome original em iorubá é Oyá. Deusa da espada do fogo, dona da paixão, Iansã é a rainha dos raios, dos ciclones, furacões, tufões, vendavais.  Orixá do fogo, guerreira e poderosa. Mãe dos eguns, guia dos espíritos desencarnados, senhora do cemitério. Orixá da provocação e do ciúme. Paixão violenta, que corrói, que cria sentimentos de loucura, que cria o desejo de possuir, o desejo sexual. É a volúpia, o clímax. Ela é o desejo incontido, o sentimento mais forte que a razão. A frase "estou apaixonado" tem a presença e a regência de Iansã, que é o orixá que faz com que os corações batam com mais força e cria nas mentes os sentimentos mais profundos, abusados, ousados e desesperados. É o ciúme doentio, a inveja suave, o fascínio enlouquecido. É a paixão propriamente dita. É a falta de medo das conseqüências de um ato impensado no campo amoroso. Iansã rege o amor forte, violento. Oyá é também a senhora dos espíritos dos mortos, dos eguns. É a deusa dos cemitérios. É ela que servirá de guia, ao lado de Obaluaiê, para aquele espírito que se desprendeu do corpo. É ela que indicará o caminho a ser percorrido por aquela alma. Comanda a falange dos Boiadeiros. Embora tenha sido esposa de Xangô, Iansã percorreu vários reinos. Foi paixão de Ogum, Oxaguian, Exu. Conviveu e seduziu Oxóssi, Logun-Edé e tentou, em vão, relacionar-se com Obaluaiê. Em Ifé, terra de Ogum, foi a grande paixão do guerreiro. Aprendeu com ele e ganhou o direito do manuseio da espada. Em Oxogbo, terra de Oxaguian, aprendeu e recebeu o direito de usar o escudo. Deparou-se com Exu nas estradas, com ele se relacionou e aprendeu os mistérios do fogo e da magia. No reino de Oxóssi, seduziu o deus da caça, aprendendo a caçar, tirar a pele do búfalo e se transformar naquele animal com a ajuda da magia aprendida com Exu. Seduziu o jovem Logun-Edé e com ele aprendeu a pescar. Iansã partiu, então, para o reino de Obaluaiê, pois queria descobrir seus mistérios e até mesmo conhecer seu rosto, mas nada conseguiu pela sedução. Porém, Obaluaiê resolveu ensinar-lhe a tratar dos mortos. De início, Iansã relutou, mas seu desejo de aprender foi mais forte aprendeu a conviver com os eguns e controlá-los. Partiu, então, para Oió, reino de Xangô, e lá acreditava que teria o mais vaidoso dos reis, e aprenderia a viver ricamente. Mas, ao chegar ao reino do deus do trovão, Iansã aprendeu muito mais. Aprendeu a amar verdadeiramente e com uma paixão violenta, pois Xangô dividiu com ela os poderes do raio e deu a ela o seu coração. O fogo é o elemento básico de Iansã. O fogo das paixões, da alegria, o fogo que queima. E aqueles que dão uma conotação de vulgaridade a essa belíssima e importantíssima divindade africana, são dignos de pena e mais dignos ainda, do perdão de Iansã.
Doroty Tennov, em 1960, identificou uma constelação de características comuns à condição de se estar apaixonado, um estado que ela chama de envolvimento, alguns psiquiatras chamam de atração e outros de paixão (Fisher, 1995).
O primeiro aspecto dramático dessa condição é seu início, o momento em que outra pessoa começa a assumir um significado especial. Depois, a paixão vai se desenvolvendo segundo um padrão característico, que começa com o pensamento invasivo. No começo, esses pensamentos invasivos ocorrem de maneira irregular. Mas se detém nos aspectos mais triviais da pessoa amada e a aumentar desproporcionalmente sua importância em um processo que Tennov denomina de cristalização (Fisher, 1995). A cristalização é distinta da idealização, pois a pessoa apaixonada na verdade percebe os pontos fracos da pessoa a quem idolatra.
As duas características mais importantes que aparecem nas divagações dos informantes apaixonados de Tennov são duas sensações esmagadoras: a esperança e a dúvida (Fisher, 1995). A timidez, o medo da rejeição, a ansiedade e o desejo de reciprocidade, são outras sensações importantes da paixão. Acima de tudo, há um sentimento de desamparo, uma sensação de que essa paixão é irracional, involuntária, não-planejada e incontrolável. Dessa forma, a paixão passa a ser um conjunto de intensas emoções que se desencadeiam sobre as pessoas e as inundam, deixando-as à mercê dos caprichos da outra pessoa, em detrimento de tudo o que os rodeia, incluindo o trabalho, a família e os amigos. E este mosaico de sensações involuntárias só está parcialmente relacionada ao sexo (Fisher, 1995).
A paixão, ainda, pode ser desencadeada, em parte, por um dos traços mais primitivos - o olfato. Cada pessoa tem um cheiro diferente. Todos têm um odor pessoal, tão característico como a voz, as mãos, o intelecto (Fisher, 1995). O corpo humano pode produzir os mais poderosos afrodisíacos olfativos. Tanto os homens quanto as mulheres têm glândulas apócrinas nas axilas, em volta dos mamilos e na virilha, que se tornam ativas na puberdade. A secreção dessas glândulas difere daquela das glândulas ecrinas, que se encontram na maior parte do corpo e produzem um líquido inodoro, porque seu exudato, junto com as bactérias existentes na pele, produz o cheiro acre e azedo da transpiração (Fisher, 1995). Os odores masculino ou feminino podem provocar fortes reações físicas e psicológicas. O cheiro de um homem ou de uma mulher podem trazer à tona muitas lembranças. Despertada a paixão, o cheiro da pessoa amada, torna-se um afrodisíaco, um estímulo contínuo ao relacionamento amoroso. Certo distanciamento é essencial para a paixão. Em geral, as pessoas não se apaixonam por alguém que conhece bem. O mistério é muito importante para o amor romântico. As dificuldades também parecem despertar essa loucura. É a caçada. Se uma pessoa é difícil de ser conquistada, isso desperta o interesse das outras. A ocasião também desempenha um papel importante na paixão. Via de regra, sente-se atraído por pessoas similares, tendendo a procurar pessoas semelhantes, o que os antropólogos chamam de união positiva entre iguais (Fisher, 1995). É a constelação de fatores que aparecem de uma vez, incluindo o momento oportuno, os obstáculos, o mistério, as semelhanças, um mapa amoroso coincidente, e até os cheiros certos,  que torna a pessoa suscetível a se apaixonar. Esse violento distúrbio emocional que se chama paixão ou atração pode começar com uma pequena molécula chamada feniletilamina, ou FEA. Conhecida como a amina da excitação. A FEA é uma substancia existente no cérebro que provoca as sensações de exaltação, alegria e euforia.
No aspecto biológico, os impulsos são os mesmos, com manifestações orgânicas concretas. A falta de controle desses impulsos faz a diferença, influenciando os aspectos psicológico e social, muito ligados.
Na raça humana centros cerebrais superiores dominam sobre os centros sexuais e o sexo reprodução muitas vezes se curva perante a complexidade do sexo prazer e o do sexo amor.
Os feromônios, certos odores nas fêmeas de animais, começam a ser estudados na espécie humana e já se conhece um pouco sobre uma detecção inconsciente dessas substâncias que estimulam a produção de outras substâncias cerebrais como a ocitocina, na hipófise, responsável pela produção de leite, contrações do parto e uma espécie de fome epidérmica: uma agradável sensação desencadeada pelas carícias em qualquer região do corpo.
A ocitocina facilita a ação dos feromônios durante o contato mãe-bebê logo após a parto estabelecendo a memória olfativa. Estas lembranças precoces ficam registradas de modo indelével na mente e vão influenciar todos os relacionamentos futuros, funcionamento na sociedade e capacidade de receber e dar carinho. Este argumento é reforçado pela psicologia da evolução.


Não há dúvidas que processos complexos como as fantasias e palácios são mais relevantes no estabelecimento dos encontros e, acima de tudo, o amor ágape é o grande amálgama divino indissolúvel pelo imperfeito homem, mas uma reflexão é para que os casais redescubram as agradáveis e inebriantes sensações proporcionadas pelos seus hormônios. O excesso de aromas oriundos dos banhos aromáticos, óleos, perfumes podem mascarar os feromônios. Portanto, não se deve subestimar ação hormonal: muitos casais enfrentam desgastes relacionais profundos durante a gestação ou menopausa por desconhecerem as alterações físicas provocadas pelos hormônios. Jovens maridos, que tinham um relacionamento prazeroso, muitas vezes, sentem-se desprezados durante a gestação pois as esposas já não parecem tão interessadas neles.  O casal se distancia e surgem mágoas. O problema é facilmente superado quando informamos que a gestante fica com o desejo sexual diminuído principalmente devido a elevação passageira da prolactina, um hormônio que estimula a lactação. A resposta sexual é normal desde que o marido continue a procurar a intimidade. Por isso, para o terapeuta familiar Robert Neuburger, a paixão altera a percepção da realidade por causa do o abandono da vigilância. Segundo ele, a paixão invade, pode fazer com que a pessoa negligencie os filhos, o trabalho, tudo. A paixão se organiza dentro da ansiedade e da urgência. O sentimento primordial é a necessidade absoluta do outro.  E esse estado precede o encontro com a pessoa que vai se transformar no objeto da paixão. Corresponde à necessidade de se sentir vivo. Geralmente, as pessoas se apaixonam quando estão se sentindo mal, insatisfeitas consigo mesmas e com os outros. Nessas situações, uma paixão faz a pessoa sentir que está vivendo intensamente. Claro que não se pode negligenciar a escolha da pessoa por quem se vai ficar apaixonado, mas o mecanismo passional vem antes. É acionado quando se começa a desejar algo que traga uma nova energia vital.
A paixão toca no que existe de mais profundo na existência de cada um. É uma autoterapia excelente e um antidepressivo muito eficaz, vez que ela está ligada à vida e à morte. Ter amado passionalmente permite aceitar a morte. Mas não se deve ultrapassar a dose. Há um aspecto mortífero na paixão. Os apaixonados tendem a ir além de suas forças, com uma percepção alterada da realidade. O resto do mundo não existe mais, e isso não pode durar para sempre. Depois, tudo vai depender da maneira como a pessoa aterrissa: devagarinho, com lembranças maravilhosas, ou com amargor e arrependimento. A menos que a paixão se transforme em amor duradouro.
O namoro, por exemplo, é um dos modos que o ser humano encontrou no decorrer de sua existência para descobrir-se como ser sensível, capaz de trocar emoções, sentimentos, carícias, em relação a si mesmo e ao outro. É um fenômeno conhecido por todos, podendo ser "rapidinho" descompromissado, como o "ficar", ou duradouro, envolvendo compromissos até de fidelidade. A adolescência materializa e demarca o seu aparecimento. E a morte, o seu fim. Com isso, diz-se que o ato de cativar, inspirar amor, atrair, namorar, só cessa com a finitude: a morte. Ocorre por infinitas razões: atração sexual, afinidades, paixão, curiosidades, carência afetiva, medo de ficar só entre tantos outros motivos, até buscando vivenciar essa forte emoção. O enamoramento é um estado de ser, que lança a uma experiência extraordinária, transgressora. Graças à transgressão desencadeada pela força de Eros, o deus do amor e do movimento para a mitologia grega, a libido para a psicanálise, encontra-se o fenômeno da mestiçagem entre os mais variados tipos étnicos. Nesses momentos de enamoramento, os envolvidos se percebem possuídos por uma emoção, uma força nascente, uma revelação diante do objeto de desejo, que os mobilizam a um renascimento, a uma redescoberta física, sexual, emocional e psíquica. É que a paixão tende a superar a diversidade existente entre as duas pessoa, razão de ser do próprio desejo. O interesse pelo outro está focado no que o apaixonado atribui ao outro de diferente. Assim, passa-se a atribuir ao eleito do desejo uma qualidade singular, o que é revelado pela intensidade e intimidade erótica que adquirem o seu gesto, seu toque, seu cheiro e suas carícias. Carícias erotizam para sempre o corpo. Nesses momentos, o desejo de estar no corpo do outro permite mergulhar no fantástico mundo da criatividade, liberar os horizontes do imaginário e, numa viagem sem fronteiras, possibilitar à pessoa amada o seu desvelar. Essa viagem de descoberta é vivida a dois, pois, ao permitir o desvelar-se da pessoa amada, desvelam-se também diante dela. Nessa fusão se completam e, por instantes, experimentam a eternidade. São momentos de beleza incontestável . O êxtase, a magia se presentificam.
Outro aspecto interessante do enamoramento é a percepção alterada da duração do tempo: as horas passam em minutos e os minutos estendem-se como se fossem horas. O encontro ocorre quando os dois conseguem operacionalizar o tempo. Há, portanto, uma preparação criativa, uma predisposição para viver o extraordinário, as festas, os espetáculos não ocorrem todos os dias. Nessa fantástica e instável caminhada existencial, Eros mostra-se sempre paradoxal: não oferece certezas e tampouco garantia de estabilidade, e continuidade. Ao se permitir viver o processo de enamoramento, portanto, estão-se expostos a serem invadidos por fortes ventos que, por certo, irão desestabilizar a fusão , e a tão sonhada completude , que se atribui ao outro o poder de possibilitar-se a viver. Afinal, sonhos são estados de ser dos mortais. Com certeza: um consolo, um prêmio pela nossa condição de mortais. A sedução é o ponto de partida para se atingir a paixão. O outro completa, atrai e, a partir daí inicia a paixão.
A palavra sedução é muitas vezes, utilizada com uma conotação negativa. No entanto, dentro de certos limites, a sedução é um processo normal e desejável nos relacionamentos humanos. A sedução é um jogo que tem como principal característica a formação de um sentimento diferente de todos os outros, que vai prendendo o seduzido sem que ele perceba. Existem, pois, diferentes maneiras de se praticar a sedução, como: fingir que não está percebendo a intenção do outro ou fingir preferências comuns. Na realidade o apaixonado não busca o outro, busca a si mesmo. O olhar sedutor transcende os limites do simples olhar, é um olhar colorido,  cheio de promessas. Todo ser humano de uma maneira ou de outra se sente incompleto e deseja buscar em outra pessoa o que lhe falta. A paixão, a sedução, não se liga a matemática, não tem idade. A intensidade da emoção sentida durante a fase da paixão, por si só justifica qualquer conseqüência negativa sofrida mais tarde. A paixão da qual nasce o ciúme é o desejo de posse. É fato estranho que a emoção mais sublime conhecida pelo homem, e, bem asism, pelo animais, é o amor. As maiores coisas realizadas pelo homem, são feitas devido aos impulsos do amor. Contudo, o própiro amor pode criar expressões de duas paixões muito opostas, a saber, a paixão de dar e partilhar aquilo que se ama, e a paixão de possuir e controlar a coisa amada.


O amor é uma experiência consumptiva. Mergulha-se euforicamente nesta deliciosa tortura onde freqüentemente é difícil manter a concentração.
Outros estudiosos identificaram algumas substâncias responsáveis pelo amor: dopamina, feniletilamina e ocitocina. Estes produtos químicos são todos relativamente comuns no corpo humano, mas são encontrados juntos apenas durante as fases iniciais do flerte. Ainda assim, com o tempo, o organismo vai se tornando resistente aos seus efeitos e toda a loucura da paixão desvanece gradualmente, quando a fase de atração não dura para sempre.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOLSANELLO, Aurélio. Enciclopédia pedagógica de educação sexual. Curitiba: Educacional Brasileira, 1979
BRITZMAN, D. P. O que é esta coisa chamada amor. Identidade homossexual, educação e currículo. In: Educação e Realidade. Vol 21 (1), jan/jul, 1996.
FISHER, Helen. Anatomia do amor: a história natural da monogamia, do adultério e do divórcio. Rio de janeiro: Eureka, 1995
GUTIÉRREZ, Rachel. O amor sublime e os perigos da paixão. In: Feminino & masculino no imaginário de diferentes épocas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998
JACOBINA, Eloá & Kühner, maria Helena. Feminino & masculino no imaginário de diferentes épocas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998
JAGOT, Paul-C. Psicologia do amor: o institinto, a sensibilidade e a imaginação. Rio de Janeiro: Pallas, 1977
MACHADO, M.D.C. Corpo e moralidade sexual em grupos religiosos. Revista Estudos Feministas, nº 1/95, Rio de Janeiro: Escola de Comunicação/UFRJ, 1995.
PARKER, R. e BARBOSA, R. (orgs.). Sexualidades Brasileiras. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1996.
THIRÉ, Fernando. A psicologia sem mistérios. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1979
WATTS, Alan. O homem, a mulher e a natureza. Rio de Janeiro: Record, 1958

Veja mais sobre o Amor e Literatura Erótica.



quinta-feira, setembro 27, 2012

AMOR




Imagem: Adão e Eva,do pintora art déco polaco Tamara de Lempicka (Maria Górska – 1898-1980)


AMOR




AMOR - Para falar do amor é preciso, antes de tudo, falar de Eros. Eros é o deus grego do amor, também conhecido como Cupido (Amor, em latim). Apesar de sua excepcional beleza ser altamente valorizada pelos gregos, seu culto tinha modesta importância. Na Beócia, um dos seus poucos locais de culto, ele era venerado na forma de uma pedra comum, indicando sua conexão com a origem do mundo. Depois, uma estátua esculpida por Praxiteles tomou o lugar desta pedra.


As primeiras representações artísticas de Eros o mostram como um belo jovem alado, com traços de menino, normalmente despido, e portando arco e flecha. Eventualmente ele aparece nos mitos como um simples garoto brincalhão, lançando suas flechas em deuses e humanos, enquanto gradualmente vai perdendo seu status entre os deuses.

Na Teogonia, de Hesíodo, Eros era uma das quatro divindades nomeadas como originais. As outras três eram o Caos, Gaia (a mãe-terra) e o Tártaro (o poço negro sob a terra). Hesíodo diz "Aquele que é o amor, o mais belo entre os imortais, que tira a força dos membros: aquele que, em todos os deuses, em todos os seres mortais, sobrepuja a inteligência em seus peitos e todo os seus planos retalhados". Hesíodo nada mais fala desse deus, e tampouco ele aparece em Homero.

Posteriormente, foi associado firmemente à Afrodite, como seu filho, tendo como pai o deus Ares, aparecendo em diversas alegorias mitológicas. Com o tempo ocorreu um favorecimento de sua representação na forma plural dos Erotes (Eros, Pothos e Himeros) em lugar da sua forma única, enquanto ele passava do ambiente mitológico para a esfera das artes. Entre os gregos Himeros era a personificação divina do desejo, enquanto Pothos representava a saudade. Como companheiros de Eros (o Amor), aparecem frequentemente no séquito de Afrodite.


Psique era a mais nova de três filhas de um rei de Mileto e era extremamente bela. Sua beleza era tanta que pessoas de várias regiões iam admirá-la, assombrados, rendendo-lhe homenagens que só eram devidas à própria Afrodite. E, de fato, os altares da deusa começavam a esvaziar-se pois o povo negligenciava seu culto para ir ver Psique. Profundamente ofendida e enciumada, Afrodite enviou seu filho, Eros, para fazê-la apaixonar-se pelo homem mais feio e vil de toda a terra. Porém, ao ver a beleza da jovem, Eros apaixonou-se profundamente por ela. As irmãs de Psique facilmente encontraram maridos, pois também eram belas, mas Psique permaneceu sozinha, pois apesar de ser admirada por todos, havia despertado a ira de Afrodite. Seu pai suspeitou que inadvertidamente havia ofendido os deuses, e resolveu consultar o oráculo de Apolo. Através desse oráculo, o próprio Eros ordenou ao rei que enviasse sua filha ao topo de uma solitária montanha, onde seria desposada por uma terrível serpente. A jovem aterrorizada foi levada ao pé do monte e abandonada por seus pesarosos parentes e amigos, sendo conduzida com os ritos de um funeral. Conformada com seu destino, Psique foi tomada por um profundo sono, e a brisa gentil de Zéfiro a conduziu através do ar a um lindo vale. Quando ela acordou, caminhou por entre as flores do vale e chegou até um castelo magnífico. Notou que aquele castelo deveria ser a morada de um deus, tal a perfeição que podia ver em cada um dos seus detalhes. Tomou coragem e entrou no deslumbrante palácio, onde todos os seus desejos eram satisfeitos por ajudantes invisíveis, dos quais só podia ouvir a voz. Quando chegou a escuridão, foi conduzida pelos criados a um quarto de dormir, e lá deitou-se, certa de que ali encontraria finalmente o seu terrível esposo. Começou a tremer quando sentiu que alguém entrara no quarto, mas uma voz maravilhosa a acalmou, e mãos humanas acariciaram seu corpo. Assim, a esse amante misterioso, ela se entregou. Quando acordou, já havia chegado o dia, e seu amante havia desaparecido. Porém essa mesma cena se repetiu por diversas noites. Enquanto isso, suas irmãs continuavam a sua procura, mas seu esposo misterioso a alertou para não responder aos seus chamados. Porém Psique sentia-se solitária em seu castelo-prisão, e continuamente implorava ao seu amante para deixá-la ver suas irmãs, e compartilhar com elas as maravilhas daquele castelo. Ele finalmente aceitou, mas impôs a condição que, não importando o que suas irmãs disessem, ela nunca tentaria conhecer sua verdadeira identidade. Quando suas irmãs entraram no castelo e viram aquela abundância de beleza e maravilhas, foram tomadas de inveja, e notando que o esposo de Psique nunca aparecia, perguntaram maliciosamente sobre sua identidade. Psique sempre respondia que ele estava atarefado, mas que era um jovem muito belo. Suas irmãs retornaram para casa, mas a dúvida e a curiosidade tomavam conta de seu ser, aguçadas pelos comentários de suas irmãs. Seu esposo alertou-a que suas irmãs estavam tentando fazer com que ela olhasse seu rosto, mas se assim ela fizesse, ela nunca mais o veria novamente. Além disso, ele contou-lhe que ela estava grávida, e se ela conseguisse manter o segredo ele seria divino, porém se ela falhasse, ele seria mortal. No entanto, concedeu a ela o direito de receber novamente suas irmãs. Em resposta a suas questões, Psique contou-lhes que estava grávida, e que sua criança seria de origem divina. Suas irmãs ficaram ainda mais enciumadas com a situação de Psique, pois além de todas aquelas riquezas, ela era a esposa de um lindo deus. Assim, trataram de convencer a jovem a olhar a identidade do esposo, pois se ele estava escondendo seu rosto era porque havia algo de errado com ele. Ele realmente deveria ser uma horrível serpente e não um deus maravilhoso. Psique ficou realmente assustada com o que suas irmãs disseram a ela, que quando suas irmãs partiram, ela escondeu uma faca e uma lâmpada próximo a sua cama, decidida a conhecer a identidade de seu marido, e se ele fosse realmente um monstro terrível, matá-lo. Ela havia esquecido dos avisos de seu amante, de não dar ouvidos a suas irmãs.

Quando Eros chegou naquela noite, ele fez amor com ela como normalmente fazia, e virou-se para descansar ao seu lado. Psique tomou coragem e aproximou a lâmpada do rosto de seu marido, esperando ver uma horrenda criatura. O que viu porém deixou-a maravilhada. Um jovem de extrema beleza estava repousando com tamanha quietude e doçura que ela pensou em tirar a própria vida por haver dele duvidado. Enfeitiçada por sua beleza, demorou-se admirando o deus alado. Não percebeu que havia inclinado de tal maneira a lâmpada que uma gota de óleo quente caiu sobre o ombro direito de Eros, acordando-o. Eros olhou-a assustado, e tentou voar através da janela do quarto. Psique inutilmente tentou agarrá-lo pelas pernas, mas ele escapou. Quando se recompôs, notou que o lindo castelo a sua volta desaparecera, e que se encontrava bem próxima da casa de seus pais. Psique ficou inconsolável. Tentou suicidar-se atirando-se em um rio próximo, mas suas águas a trouxeram gentilmente para sua margem. Foi então alertada por Pan para esquecer o que se passou e procurar novamente ganhar o amor de Eros. Quando suas irmãs souberam do acontecido, fingiram pesar, mas pensaram que talvez agora ele escolhesse uma delas como esposa. Partiram então para o topo da montanha na qual sua irmã havia sido deixada há muito tempo, e chamaram o vento Zéfiro, para que as sustentasse no ar e as levasse até Eros, pois era assim que sempre haviam alcançado o castelo de sua irmã. Zéfiro dessa vez não as ergueram no céu, e elas caíram no despenhadeiro, morrendo. Psique continuava sua busca por todos os lugares da terra, dia e noite, até que chegou a um templo no alto de uma montanha.

Com esperança de lá encontrar o amado, entrou no templo e viu uma grande bagunça de grãos de trigo e cevada, ancinhos e foices espalhados por todo o recinto. Convencida que não devia negligenciar o culto a nenhuma divindade, pôs-se a arrumar aquela desordem, colocando cada coisa em seu lugar. Deméter, para quem aquele templo era destinado, ficou profundamente grata por ver a jovem tão ocupada em ordenar seu santuário. Afrodite a recebeu em seu templo com a raiva estampada em sua fronte, e sabendo de como seu filho havia desobedecido suas ordens por causa daquela jovem, e ainda, que agora ele se encontrava em um leito, recuperando-se da ferida causada pelo óleo quente que fora derramado em seu ombro, recusou-se a perdoar Psique. A deusa impôs, então, sobre ela uma série de tarefas que deveria realizar, tarefas tão difíceis que poderiam causar sua morte. Primeiramente, deveria, antes do anoitecer, separar uma grande quantidade de grãos misturados de trigo, aveia, cevada, feijões e lentilhas. Psique ficou assustada diante de tanto trabalho, porém uma formiga que estava próxima a Psique ficou comovida com a tristeza da jovem e convocou seu exército a isolar cada uma das qualidades de grão. No dia seguinte, Afrodite ordenou que fosse até as margens de um rio onde ovelhas de lã dourada pastavam e trouxesse um pouco da lã de cada carneiro. Psique estava disposta a cruzar o rio quando ouviu um junco dizer que não atravessasse as águas do rio até que os carneiros se pusessem a descansar sob o sol quente, quando ela poderia aproveitar e cortar sua lã. De outro modo, seria atacada e morta pelos carneiros. Assim feito, Psique esperou até o sol ficar bem alto no horizonte, atravessou o rio e levou a Afrodite uma grande quantidade de lã dourada. Ainda não satisfeita, Afrodite ordenou que ela fosse ao topo de uma alta montanha e trouxesse uma jarra cheia com um pouco da água escura que jorrava de seu cume. Dentre os perigos que Psique enfrentou, estava um dragão que guardava a fonte. Ela foi ajudada nessa tarefa por uma grande águia, que voou baixo próximo a fonte e encheu a jarra com a negra água. Afrodite ficou muito irada com o sucesso da jovem, e planejou uma última, porém fatal, tarefa. Psique deveria descer ao mundo inferior, o Hades, e pedir a Perséfone, que lhe desse um pouco de sua própria beleza, que deveria guardar em uma caixa. Desesperada, subiu ao topo de uma elevada torre e quis atirar-se, para assim poder alcançar o Hades. A torre porém murmurou instruções de como entrar em uma particular caverna e através dela descer aos Ínfernos. Ensinou ainda como driblar os diversos perigos da jornada, como passar pelo cão Cérbero e recebeu uma moeda, para pagar a Caronte pela travessia do Estige. Seguindo essas palavras, conseguiu chegar até Perséfone, que estava sentada imponente em seu trono, e recebeu dela a caixa com o precioso tesouro. Tomada porém pela curiosidade em seu retorno, abriu a caixa para espiar, e ao invés de beleza havia apenas um sono terrível que dela se apossou. Eros, curado de sua ferida, voou ao socorro de Psique, e conseguiu colocar o sono novamente na caixa, assim salvando Psique. Lembrou novamente à jovem que sua curiosidade havia novamente sido sua grande falta, mas que agora podia apresentar-se à Afrodite e cumprir a tarefa. Enquanto isso, Eros foi ao encontro de Zeus, e implorou a ele que apaziguasse Afrodite e ratificasse o seu casamento com Psique. O grande deus ordenou que Hermes conduzisse a jovem à assembléia dos deuses, e a ela foi oferecida uma taça de ambrosia. Então com toda a cerimônia, Eros casou-se com Psique, e no devido tempo nasceu seu filho, chamado Voluptas (Prazer). Assim é contada a história de Eros, o amor.


Para os religiosos existem três tipo de amor: o amor do interesse material; o amor da amizade; e o amor espiritual. Dessa forma, o amor Eros, é o amor de intimidade do casal. Ele é tão importante no casamento, que Deus restaurou este amor na vida de Abraão e Sara, tendo ele 100 anos, e ela 90 anos. Isaque era fruto do amor, Eros na velhice.

O amor phileo, é amor da amizade, do companheirismo do casal, cujo melhor amigo da mulher após o casamento não é mais o pai, nem a sua mãe, e sim o seu esposo. O melhor amigo do homem após o casamento é a sua esposa. este tipo de amor deve ser desenvolvido dentro do casamento.

Já o amor ágape, é amor produzido pelo Espírito santo na vida do casal.

Então, para os religiosos o amor Eros pode falhar, o amor Phileo pode falhar, mas o amor Ágape nunca falha. Eros, Phileo e Ágape, para os religiosos, são o alicerce do casamento.


No Taoísmo, milenar sistema filosófico, esotérico e religiosa da China, amar é doação ativa, pois esse sentimento requer que se faça algo pela pessoa amada, ao invés de ficar esperando passivamente satisfações. Os taoístas manifestam espontaneamente o amor. Praticam o tzu, ou seja, a compaixão amorosa, que é a ausência de julgamentos sobre si próprios, mas também ,com relação ao ser amado. Segundo Cherman (1982:125), nos relacionamentos amorosos taoístas, não se concentram atenções nas diferenças, pois que tal conduta estimularia as críticas e os conflitos entre os cônjuges. Substituem a crítica pela compreensão e a tolerância passiva, vez que amor e sexo não se separam para os taoístas.

Para Fisher (1995) os ocidentais adoram o amor, que é simbolizado, estudado, cultuado, idealizado, aplaudido, temido, vivido e que, por ele, se morre. "(...) o amor significa muitas coisas para muitas pessoas. Mas se o amor é comum a todas as pessoas em toda parte e associado às minúsculas moléculas que residem nas terminações nervosas nos centros emocionais do cérebro, então o amor é também primitivo”. (Fisher, 1995:192). Com esse raciocínio, entende-se que esse sentimento de afeto é tão forte, tão fundamental para a natureza humana, que ocorrem em todas as pessoas - seja objeto do amor um membro do sexo oposto ou do mesmo sexo. Por exemplo, segundo Fisher (1995),  os cientistas sabem muito pouco sobre as causas da homossexualidade, seja ela o amor entre dois homens ou entre duas mulheres. Suspeita-se que tanto os hormônios quanto o ambiente têm efeitos importantes sobre as preferencias sexuais no gênero humano e em outros animais.

Considerando-se que os homens e as mulheres homossexuais se apaixonam, muitos formam casais com seus parceiros, muitos se separam e muitos se unem novamente. Para Fisher (1995:195), "Os homens e as mulheres homossexuais experimentam todas as mesmas sensações do amor romântico que os heterossexuais declaram, e lutam com todos os mesmos problemas deste sentimento romântico".

O amor e a arte, no tocante à sexualidade, constituem uma prática que o Ocidente está pouco habituado a exercitar. Pratica-se o espontâneo, o deixa ocorrer e até dá-se asas à imaginação e criatividade quando se está amando. Mas ainda estão distantes da associação entre amor e arte.

O Kama Sutra, por exemplo, trata da arte do amor, tal qual o taoísmo, vez que amor e sexo não se separam para os taoístas. O amor sem sexo retira a paz e a serenidade do espírito. O sexo sem amor é puramente um ato biológico. No Kama Sutra encontra-se que "A verdadeira alegria de amar é um êxtase de dois corpos e almas misturando-se e unindo-se em poesia. Ao encontrar a parceira ideal, o homem deve tentar e, na verdade, fazer amor com ela de maneira extasiante e poética". Isso levou Ryan & Ryan (1976:34), a considerar que "O amor procura libertar o outro, deixando-o viver e se desenvolver, ajudando-o a realizar o direito de se tornar plenamente uma pessoa". Isso quer dizer que se devemos aprender a amar uns aos outros como pessoas humanas, cumpre-nos, por conseguinte, procurar superar todos os tipos de estereótipos, bem como todos os modelos culturais e sociais que os inculcam, e esforçar-nos por considerar cada indivíduo como uma pessoa que é homem ou mulher.

Na Bíblia está: "Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele". (Genesis, 2,18). Disso, portanto, apreende-se que a sexualidade é,a força da natureza humana destinada a suscitar a necessidade e a urgência que impulsiona todo o ser a procurar se realizar na única direção capaz de satisfazê-lo: na união e comunhão com o próximo. (Ryuan & Ryan, 1976).

Para Christoper Mooney (apud Ryan & Ryan, 1976:66/7): "(...) o amor é a única força no mundo capaz de criar personalidade através de um processo totalizador. Constitui, portanto, o estádio mais alto daquela energia que Teilhard de Chardin denominava radial. Só ele une as criaturas humanas de forma a completá-las e realizá-las, pois só ele fá-las atingir o mar profundo de si mesmas”. Disso, cumpre reconhecer que todo amor é sexual, isto é, que amamos como pessoas sexuadas, como homem ou mulher, e que nosso amor se diferencia em cada uma das suas relações (Ryan & Ryan, 1976).

No Kama Sutra é encontrado as variedades do amor, onde homens versados em humanidades são de parecer que o amor é de quatro espécies, a saber: amor adquirido pelo hábito contínuo, os ligados às relações sexuais, à bebida, ao jogo; o amor decorrente da imaginação, que são aqueles que certos homens, mulheres e eunucos nutrem pela via oral, ou seja, a cópula bucal, ou, ainda, o que outros têm a coisas como abraços, beijos, etc; o amor resultante da convicção, é aquele reciproco, incontestavelmente verdadeiro, quando um olha para o outro como se mirasse a si próprio; e o amor originado pela percepção de objetos externos, que é bem evidente e conhecido, já que o prazer por ele causado é superior ao prazer dos outros tipos de amor, que só existem para seu complemento.


Já os cientistas conhecem a Feniletilamina, um dos mais simples neurotransmissores, há cerca de 100 anos, mas só recentemente começaram a associá-la ao sentimento de Amor. Ela é uma molécula natural semelhante à anfetamina e suspeita-se que sua produção no cérebro possa ser desencadeada por eventos tão simples como uma troca de olhares ou um aperto de mãos. O affair da feniletilamina com o amor teve início com uma teoria proposta pelos médicos Donald F. Klein e Michael Lebowitz, do Instituto Psiquiátrico Estadual de Nova Iorque. Eles sugeriram que o cérebro de uma pessoa apaixonada continha grandes quantidades de feniletilamina e que esta substância poderia responder, em grande parte, pelas sensações e modificações fisiológicas que experimentamos quando estamos apaixonados. A doutora Helen Fisher demonstrou que a inconstância, a exaltação, a euforia, e a falta de sono e de apetite associam-se a altos níveis de dopamina e norepinefrina, estimulantes naturais do cérebro. Alguns pesquisadores afirmam que exalamos continuamente, pelos bilhões de poros na pele e até mesmo pelo hálito, produtos químicos voláteis chamados Feromônios.

Atualmente, existem evidências intrigantes e controvertidas de que os seres humanos podem se comunicar com sinais bioquímicos inconscientes. Os que defendem a existência dos feromônios baseiam-se em evidências mostrando a presença e a utilização de feromônios por espécies tão diversas como borboletas, formigas, lobos, elefantes e pequenos símios. Os feromônios podem sinalizar interesses sexuais, situações de perigo e outros. Os defensores da Teoria dos Feromônios vão ainda mais longe: dizem que o "amor à primeira vista" é a maior prova da existência destas substâncias controvertidas. Os feromônios – atestam – produzem reações químicas que resultam em sensações prazerosas. À medida em que vamos nos tornando dependentes, a cada ausência mais prolongada nos dizemos "apaixonados" – a ansiedade da paixão, então, seria o sintoma mais pertinente da Síndrome de Abstinência de Feromônios. Com ou sem feromônios, é fato que a sensação de "amor à primeira vista" relaciona-se significativamente a grandes quantidades de feniletilamina, dopamina e norepinefrina no organismo.

Apesar de todas as pesquisas e descobertas, existe no ar uma sensação de que a evolução, por algum motivo, modificou nossos genes permitindo que o amor não-associado à procriação surgisse – calcula-se que isto se deu há aproximadamente 10.000 anos. Os homens passaram realmente a amar as mulheres, e algumas destas passaram a olhar os homens como algo mais além de máquinas de proteção.


A despeito de todos os tubos de ensaio de sofisticados laboratórios e reações químicas e moléculas citoplasmáticas, afinal, deve haver algo mais entre o céu e a terra. Assim, o sexo é elemento integrante do amor, mesmo antes de se falar de qualquer orientação incipiente ou atual para o amor conjugada ou para a união sexual física. Ele é responsável pela variedade de matizes, de calor e de urgência que especificam estas várias relações. Desempenha, por conseguinte, uma tarefa positiva em todos os tipos de afeto, embora não constitua o único conteúdo da relação afetiva.

O amor nasce com a afetividade que é a capacidade de sentir prazer ou desprazer. Ao executar atos que nos dão prazer, assim como ter sensações com o mesmo efeito, os circuitos nervosos envolvidos no processo incluem o centro do prazer. A afetividade é que compele o animal a satisfazer o instinto. Assim, o desejo sexual se manifesta por um impulso de integração. O impulso de integração age no sentido de suprimir as barreiras entre dois que se atraem sexualmente. O instinto sexual confere prazer aos atos correspondentes e torna desprazerosa a sua privação. O interesse sexual básico é passível de acentuação ou atenuação por conexões afetivas a experiência passadas. O desejo sexual associado à convivência, comunhão de interesses instintivos, intenção de continuidade, faz surgir o sentimento do amor mesmo antes de haver a posse. Disso entende-se, portanto, que o amor é uma constelação afetiva, tendo raízes em vários setores do instinto. O amor, como o desejo sexual, pode surgir entre qualquer homem normal e qualquer mulher normal. É o interesse amoroso básico. Como no caso do sexo, o amor pode surgir entre duas pessoas, quaisquer de sexo oposto, desde que não haja um padrão amoroso negativo ou outros fatores que impeçam uma de preencher as necessidades amorosas da outra.

Os padrões amorosos são os tipos característicos de pessoas que anteriormente inspiraram amor além ou aquém do interesse amoroso básico. Ocorre que no amor, como no sexo, experiências anteriores podem acentuar ou atenuar o interesse amoroso básico. Ante pessoa completamente estranha pode alguém sentir intenso amor, desde que ela tenha algo em comum, que lembre outra que já haja inspirado, antes, não forçosamente desejo sexual, mas amizade, simpatia e confiança. Assim se explicam os chamados amores à primeira vista. Na realidade, a pessoa amada desta forma não é a que despertou o sentimento, atual, mas aquela que anteriormente gerou o padrão amoroso.


O amor mais estável é o que surge naturalmente, de forma progressiva, a partir de um desejo sexual. A partir do desejo sexual vem a convivência, a confiança, o desejo de posse, de exclusividade, o amor não aceita parceria, como acontece com o sexo, a comunhão de interesses, a esperança de continuidade e duração, cultivando-se desta forma um sentimento realmente vinculado a quem o inspirou e não a uma lembrança do passado.

A felicidade é um extraordinário bem que, além de outros requisitos, se adquire com o equilíbrio do nosso sistema nervoso, o gozo da saúde, o controle de nossas emoções e a prática de boas ações. A felicidade consiste, sobretudo, na prática do amor na conquista da paz interior.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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