quarta-feira, outubro 31, 2007



Ginofagia (Poemiudinhos). In: Crônica de amor por ela. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Arte: Derinha Rocha.

“(...) a mão nos seus cabelos, ambos calados, alisava a nuca da menina que se ia arrepiando; brilhavam os olhos. (...) lá iam plagiando brutos amores de mato – a mão pesada do peão magoando a nuca da menina... (...) O impacto carnudo de um beijo estalou em cheio na face da moça. O silencio ondulou mansinho. Maria estonteada, reagindo, reagindo (...) Maria desarvorada, tremendo o corpo todo – cara pegando fogo – ficou ainda por ali, muito tempo, se refazendo, e, pela primeira vez, o raciocínio daquela inteligência adormecida crivou de conjeturas a sua cabeça criança e virgem. Perguntava-se, insistente, porquê queria aquele bruto. Por quê fazia o que jamais sonhara: ir atrás procurá-lo. O que nele a atraia? Ela que sempre sonhara com a beleza dos príncipes das histórias que os ciganos contavam. (...) mãos nas suas costas pressionando-a para ele – bafo quente lambendo-lhe a cara, varrendo duas lágrimas esperinhas que se atiravam face abaixo – chocou, violento, os beiços nos beiços da cigana. (...) Corpo vibrando, tentando – pouca força – apartar o peão de si, enquanto suas bocas unidas, bebendo, se deixavam penetrar pelos caudais das lágrimas que seus olhos soltavam. Bocas se machucando, sugando desajeitadas as almas sequiosas – mãos na nuca machucando-lhe a cabeleira curta – brusco...” (Léo Godoy Otero, O caminho das boiadas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958).

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terça-feira, outubro 30, 2007



Imagem: Lady Godiva, de John Collier (1850-1934), pintor pré-rafaelista inglês

O PULO DO AMANTE

"Teu corpo claro e perfeito - teu corpo de maravilha! Quero possuí-la no leito estreito da redondilha". (Manuel Bandeira)

Luiz Alberto Machado

Certa tarde em que o dia acende a vida, ela poderosa como sempre e reluzindo a sua saltitante vitalidade, se passara por Safo, fazendo-me seu Faonte. Pedira-me manhosamente com aquele tom de quem precisa ser atendida plenamente para que buscasse o fruto da goiabeira. Recolhi a escada e, de grau em grau, perguntava-lhe por qual.
- Essa?
- Não, aquela.
- Qual? Essa?
- Não, aquela lá em cima.
De lá via o seu dedo apontado para o meu abismo: o promontório de Leocádia e o mar.
Uma vertigem e despenquei, se não morresse, ficaria curado do amor. Não morri nem me curei.
Quando dei por mim, sabia sequer onde estava.
Sei que ali estavam ao meu redor as mulheres que usavam uma faixa larga com casca batida, com uma ponta que passava entre as pernas, caindo sobre o ventre, além de uma saia curta, enrolando-se numa capa de casca de árvore. Usavam os cabelos presos num coque comparada a uma barbatana de peixe. Pareciam-me poliândricas, algumas de ancas esgalgas, outras voluptuosas e recheadas de sedução.
Requestado por elas que se ofereciam a mim sem pudor nenhum, em troca exigiam a exposição de meu membro, pinicado ao leve toque de suas mãos aveludadas e entregava-me aos seus bulícios.
O ritmo era marcado pela dançarina que saltava sobre uma laje fina de pedra, que recobria uma fossa na qual estava colocada uma grande cabaça que servia de caixa de ressonância. Este era, com o búzio marinho, o único instrumento musical. E a dança consistia em movimentos graciosos e medidos. Luxúria pura. As moças mostravam-me as coxas roliças por causa da sua túnica curta, elas se exercitavam no corredor olímpico. E eu, naquele meio, parecia mais que era Zeus que descia do seu pedestal para se assemelhar estranhamente aos homens, como um alegre galanteador que não pode resistir a uma linda mulher, deusa ou mortal, pouco importando qual. Esse desfile de aventuras garante a minha descendência: a bela Métis, primeiro, a quem devotara meu juvenil arrazoado; depois Atena, deusa da razão, saída então toda armada da cabeça do seu pai, agraciando meus quereres. Posteriormente a tia, a respeitável Têmis, deusa da Justiça, e as três Mouras encarregadas de seguir atentamente o desenrolar da existência de cada um dos humanos: Cloto, fiando na sua roca o curso da vida; Laquésis distribuindo a cada um a sorte fixada pelo destino; finalmente Átropos, a implacável, cortando de uma vez o curso da vida, quando chegava o momento. Depois veio a sua irmã, Deméter, protetora das colheitas, particular do seu leito, loucamente lúbrica para meu desespero. Logo após Mnemósine, a Memória, que nunca se esquecera de mim; e, finalmente, a bela Afrodite que só podia gerar criaturas perfeitas com sua beleza estonteante.
Ah, como eu me empanzinara com deleites além da conta do meu merecimento. E elas, outras e semideusas, se reuniram à volta da taça de Deméter para os ritos da fertilidade das Tesmoforias, dos quais os homens são excluídos. Eu seria, portanto, a exceção.
Uma animação fora do comum dá então vida aos gineceus, ressoando risos abafados, gritos e corridas. E eu mais ainda explodindo de curiosidades. As mulheres prepararam-se durante muito tempo, eu que nem me dava conta. Quatro meses antes, soubera, elas enterraram os objetos sagrados: leitões, figurinhas de argila representando órgãos sexuais, para que a terra nutriente lhes comunicasse a sua fertilidade. E que nos dias anteriores elas se purificaram abstendo-se de se aproximarem dos homens.
É hoje! Descabeladas, correram para o jardim para desenterrar os símbolos que lhes vão assegurar fecundidade. Depois de um dia de jejum, elas acolheram as promessas de Deméter, flagelando com ramos verdes, roendo sementes de romã e ruminando, com os órgãos femininos de argila, em cenas íntimas acompanhadas de piadas obscenas que fariam corar qualquer cristão. Vieram as orações que as mulheres dirigiam à Deméter e sua filha Core, para que elas protegessem os grãos que germinariam a terra.
O corpo é o seu bem próprio e elas fazem a greve de amor para conseguir que os maridos assinem a paz, a exemplo das atenienses. Nossa! Soubera que desfaleciam só com a idéia de se privar dos prazeres do amor. Tudo menos isso. E eu entregue à sua liturgia. Somos homens que viramos cigarras por sermos cativados e embevecidos pelas musas. Por elas esquecemos de beber e comer, por venerarmos Terpsicores, Eratos, Calíopes, Urânias, Lisístratas, como no mito da cigarra de Fedro. E mesmo que escrevamos nosso diário de Kierkegaard, seremos vulneráveis e fustigados pelos golpes sexuais delas. Como nas explicações de Descartes: as paixões passam por nossos órgãos. Nós sofremos a atribulação da carne. Não diria que ela, a mulher, seria a causa ordinária do pecado: "como renegar quem me criou, quem me distinguiu dos animais da terra?", dissera Santo Agostinho. Nunca diria, ao contrário, saberia, com a minha simples inutilidade, entregar-lhe meu tributo: amando. Este sim, o significado do imoderado júbilo de sabê-la a fonte que jorra a vida eterna. E como conter a tentação? Digo: é melhor trepar que viver abrasado. Quem teria então o poder de controlar manifestação da espontaneidade biológica? Como ter aversão? Isto é pecaminoso, ou será a abstinência de um celibatário em sua vida monástica? Eu pelo menos nunca me faria assim. Então, como renunciar se Deus nos dissera? Como admitir total castidade como um casamento monógamo com a alma de Deus? Será que ele queria isso? a criatura pelo criador? Deus quereria o meu sacrifício? Mutilar a oferenda? O pai tribal? Qual seria o sexo santo? Ele que fique lá, eu quero a integridade do corpo e da mente e a mulher é a fonte. Ah! Ela é a maior das maravilhas que vai do menacme, iniciando sua maturidade sexual, principesca, a sua sedução, até o climatério, onde a senilidade já tenha provado quantas delícias. Nela quero nidificar, naquele corpo de boeing cáustico, uma entre as seis mil estrelas visíveis, potranca, centaura, da cintura delgada, da estatura iridescente, dotada de talhe soberbo e magnífico, fina pele; ela no primeiro plano de qualquer perspectiva, tornando-se, claro, a minha epífita.
Ah! O seu encanto, os seus seios arrebitados, os olhos de gazela, leoa no seu habitat, brilho de supernova na nebulosa de Andrômeda, que a gente caça como a uma garça-caranguejeira.
Ah! Os olhos manhosamente ocultados pelas pálpebras nos sonhos inquietantes, enquanto os ductos das mamas provocantes instigam minha saliva com seu ornamento exuberante, esculpida deliciosamente, impudente, elegante, esbelta, seus contornos, sua leve silhueta, a altiva expressão gravitando na minha direção, a magnetizar-me como estrela de primeira grandeza, como se fôssemos limalha de ferro atraído pela sua irradiação e a gente desprevenido sem isolante algum.
Ah! E quando toca pelo sentido cinestésico, o tato, descobrindo-me esconderijos.
Ah! Bebo a água do seu corpo, roço-lhe os pelos pubianos, a sua floresta amazônica, a sua carne com a pele da terra roxa, o seu Potosí inexplorado, a sua trilha de Piaburu, o seu monte de Vênus, os grandes lábios tumefeitos da sua vulva, as carpas atlânticas, o hímen, as gônadas, o clitóris, o seu atol, a sua caverna, o colo opulento, a fenda vulvar, o vestíbulo da vagina, a rima do pudendo, o prepúcio do clitóris, o seu gineceu, a sua cavidade pélvica, o seu pistilo, carúnculas himenais, carina uretral, situados ventrais, sífise púbica, pregas igüinais, com perfume de rosas búlgaras em suas profundezas insondáveis.
Ah! E em decúbito dorsal, a ver-lhe a coluna vertebral, a minha língua dúctil no tubérculo genital, sentindo a quentura do tecido epitelial do seu aparelho urinário, a seiva do seu efeito piezelétrico, pelo estreito de suas pernas, o seu estreito de Gibraltar, o seu estreito de Magalhães.
Ah! O falo e a minha bolsa escrotal, ela e o palato detonador friccionando-me até a minha ereção, a língua de camaleoa ateando-me fogo, a espoleta da bomba do prazer, faísca na minha nitroglicerina, a minha transpiração - eu sou um animal instintóide e o meu istmo unindo-me a ela por seu paladar.
Ah! A nossa carga pelo atrito dos nossos corpos, alcançando voltagem em nível crítico, expelindo faíscas pelos calores aquecidos, corrente fluindo acusada por um miliamperímetro, cem graus Celsius, trezentos e setenta e três graus Kelvin, numa paixão radioativa exalando letal 200 mil miliroentgen por hora, fissível em altíssimos elétrons-volts causando reação em cadeia por todos os poros, veias, artérias, e o meu cromossomo na sua gônada, a minha estrutura Wolf no seu tubo Muller.
Ah! O seu cio, a libido, o orgasmo, a nossa taquipnéia, nossa taquicardia, sacudindo minhas coronárias, eu ficando em danada ebulição no epicentro do nosso terremoto, as nossas ondas sísmicas, onidericionalmente no geóide de nossos corpos.
Ah! Eu gratificado pela doação dos seus atributos, atraído pelos seus mamilos, alisando-lhe o músculo sartório, a minha barba mal feita passando pelo seu esplênio e ela arrepiando-se, asfixiando-me pela imersão nas águas do seu corpo.
Ah! Belo rosto de Renée Zellweger, num cicio apaixonante, eu rijo, todo o viço célere, os seus passos de cigana, o corpo esguio, eu emocionado canastrão em seu ar pujante, que artesão maior? Que artífice genial? E ela viceja com a peçonha que me enlouquece na boca doce de meiguice, imolando-me com os seus olhos de tâmaras afetuosas, sublevando os meus sentidos o seu calor abrasivo debruçada sobre o meu corpo.
Ah! E como Adão dissera: "esta mulher tentou-me e eu comi a maçã!" Quem não se inquietaria. Mais, "não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea". Está na Gênesis 2,18. E ainda mais: "Sedes fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeite-a", Gênesis 1,28. E eu e o meu coração em hasta pública, penhorado em nome da ambição, arrematado para a escravaria da paixão. Enquanto isso eu canto a minha canção idônea como um ascritício, algumas vezes abstrusa, aliada aos litisconsortes da justiça. Eu sei, uns nascem para pensar em engolir espaços, territórios, acumular posses, pisar, desbravar lesivo, viagens siderais, cruzar os sete mares, esburacar a terra e por aí vai. Outros adoram coisas fora de si, invenções, superstições, dogmas, fiéis depositários de uma antropomorfia sacralizada, ortodoxias alienadas das necessidades e anseios humanos. Ora. Eu não, eu amo a mulher como a chuva que vai fertilizando a terra. A semente no solo. O céu, a terra, o universo. A cópula natural. E durante o inverno dorme a lagarta. Quando acorda, a borboleta anima a vida.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

Veja mais Rol da Paixão acessando:
AIJUNA, O MURAL DOS DESEJOS FLORESCIDOS
O NOVELO DA VOLÚPIA DO MENINO
A PROFESSORA
PRESENTE

segunda-feira, outubro 29, 2007



Imagem: Bathers on the Lawn, 1919, Ernst Ludwig Kirchner 1880-1938), pintor expressionista alemão.

No teu grande corpo branco depois eu fiquei. (...) E teus seios eram dunas desfeitas pelo vendaval que passara. Eu estremecia agonizando e procurava me erguer. Mas teu ventre era como areia movediça para os meus dedos...” (Vinicius de Morais, Agonia).

“(...) porque de repente senti o vento e vi que estava nu e ardente e porque era teu corpo dormindo que existia diante de meus olhos. (...) me aproximei da flor como um perdido e a tive desfolhada entre minhas mãos nervosas e senti escorrer de mim o sêmen da minha volúpia?” ( Vinicius de Morais, Alba).

Veja mais do meu livro inédito Rol da Paixão.

Veja mais do meu livro Crônica de amor por ela, a ser lançado em breve.

sexta-feira, outubro 26, 2007



Imagem: Nude Maja, 1797-1800, de Francisco de Goya (1746-1828), pintor e printmaker espanhol (Romantismo).

O CULTO DA ROSA
(canção à flor, mulher amada)

Luiz Alberto Machado

Era uma vez e o tempo presente nos prazeres tardios, ah minha alma da vida inventando horizontes, rainha das flores de Safo se desmanchando em doçura nua com seu buquê de açucena na pele quente que semeia a beleza e acode a minha alegria.
Era uma vez, duas vezes com todo encantamento da sua nudez que enche a maré de suspiros apertados e eu sentinela viro o inseto que leva o grão de pólen como o pombo com as águas de céu e inferno para ser o adepto mais fiel do seu coração beija-flor.
Era uma vez, duas, três vezes e ela nua bole e eu mexo o flagrante anímico de Deus, tiro o doce e deixo o leite na herbácea perene, deusa dos meus sonhos, perfume mais fino que possa existir no teor mais metafísico dessa imanência.
Ah e dela sinto o mais leve olor ao alcançar o gineceu de beleza incomparável, de variedade trepadora na instalação do etéreo emanar na manhã e divina de jardim perfumado de desejo.
É ela que me leva pelo aroma da de Sharom, a santificada por Salomão no Cântico dos Cânticos.
É ela que possui a realeza da de Hélios e a das sessenta pétalas dos jardins de Midas que figuraram nas armas dos heróis da guerra de Tróia.
É ela que vem de sobra e fartura no meu verso aprumado com as que desapareceram dos jardins suspensos da Babilônia, como a das águas que Vênus embalsamou o corpo de Aquiles, como a que coroou o soldado romano depois da queda de Cartago.
É ela nua que vaza e faz paga como quem deve com toda a essência da que é Príncipe Negro, o negro que é vermelho bem escuro.
É ela destinatária de tudo que vem se aninhar em mim com o cheiro da santa de Viterbo, como a que fora proibida pelo pai de dar esmolas aos pobres.
É ela nua radiante que me retém com o incenso da Chá, Sinensis, a mais antiga oriunda da China, como a Azimutal Sideral que auxiliou a navegar o Índico sob as estrelas de distâncias polares no rumo do horizonte.
É ela que me detém com jeito atrevida e nua como a seiva da dos gregos, nos rumos da Torre dos Ventos, chamada Rhodon, ou como a Rústica de Giulio Cesare Cortese; ou como a que o lapidário inspirado homenageia a Holanda ou Antuérpia pra encher os olhos do polidor de diamantes.
Ela que vem nua e linda como a Mística, como a santificada de Isabel, como a Santa-Maria, como a da chuva do Vaticano, como a das meninas recém-nascidas.
Ela que vem nua e linda com todas as honras de rainha para que eu, Tagore inflamado, saiba: "passando de folhas para flores porque começaram a amar..."
É ela nua e linda que vem se aninhar em mim com o orvalho da do Ouro do Papa Gregório II; como a da Rainha Josefina, como a das pedras no quintal, como a que o rodólogo, exímio amante, multiplica com sua dedicação.
É ela que nua e linda vara as noites no nosso proscênio de gestos fartos, com toda a sedução da Azul utópica, como a de Hildesheim, de mil anos, como a da guerra de York e Lancaster, como de Joaquim Fontes que está comigo.
É ela que vem no olho do furacão acontecendo nos meus dias como a Gallica, de propriedades medicinais; como a de Malherbe, como a dos tesouros da moura encantada que não desmente o que promete nem retoma o que dá.
É ela que me oferece toda safra de algodão dos seus mimos com a graciosidade da Malvácea Aurora em sua metamorfose durante todo o dia até sabê-la Amor-de-Homem.
É ela inquieta e nua que não cessa nem sacia a enchente do meu gozo com toda a maravilha da Brinco-de-Rainha, como a Malva, como a Super-Star, como a do monte dos Alpes, como a Altéia que me cura com seu amor e ainda me farta a fome, a Geléia Rosela, a Caruru Azedo.
É ela que acontece na peleja e me detém no truque de toda formosura da de Lima, a primeira santa nativa do continente americano, simples deidade peruana.
É ela com toda teimosia de carnaval na manhã clara que me enfeitiça como a de Bokor e a jovem princesa apaixonada pelo oficial japonês no extinto cinema cambojano.
É ela que me embriaga como a da cachaça com erva doce, canela em pau, cravo e calda grossa de açúcar: a do Sol.
É ela que me seduz como a dos ventos do lirismo erótico da poetisa uruguaia Juana Hernandez de Ibarbourou, a Juana de América.
É ela que me deixa ao deus-dará como a de Yeats, o homem que sonhava com o país das fadas e escrevia versos para quando ficar velho.
É ela que se enrosca roçando a minha pele como a acetinada de Engandi, nos versos que viraram estudo psicozoológicos do guatemalteco Arévalo Martinez.
É ela a de Cem Folhas do poeta galego Ramon Cabanillas, a da Cruz do poeta russo Blok, a de Luxemburg com o sonho abatido à bala.
É ela a do Povo de Drummond, a de Raoom, a rosa rosa, todas numa só que é uma só: a rosa é ela.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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quinta-feira, outubro 25, 2007



Imagem: Sitzender Akt auf Kissen, 1911, de August Macke
pintor alemão (Expressionismo).

UMA LINDAMIGA & UMA CANÇÃO

"Vejo-o, não o conheço, sinto-o, nem te toquei, mas, é como se você estivesse ao meu lado.Fosse minha sobre-pele, que me aquece, se estica e cola em mim. Quero você inteiro, lindo, pronto, ardendo. Quero sua mão, sua boca, sua voz e o violão... Quero e muito seu abraço, num compasso de espera e fervura, pra nele ficar e perpetuar, poder vibrar, esquentar, derreter, escorrer. Quero em você todos os verbos que me permitam viver.... Sonho você, sonho nós dois, traço metas diretrizes, como uma estrela a dispor de nossas vidas. E no limite do etéreo nos conduzo a visão maior de um paraíso..." (Roserlei Martins Alves, Pra você).

FONTE

Letra & música de Luiz Alberto Machado

Quero que você me venha de manhã
Plantar a luz do sol com sua fonte a minar e em mim se escorrer
E aguando esta ternura na gente venha vontade de nascer:
Beijar-lhe o ventre e ver a vida a rolar. Vai ser demais!
O tempo vai ruir pra nós, desexistir
Incendiar o corpo, a voz, a sede saciar na foz assim, sedenta
A diluir-se em flor pelos confins
Em você onde sou eu será promessa inteira do querer?
Amor, que vai ser de mim se um dia essa vontade de viver
Perder o amor de vista e esquecer angústia de não ter raiz?
O ar desvencilhar-se do nariz?
Será de mim, o que será do meu coração?
Será de mim...???!!!!!

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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quarta-feira, outubro 24, 2007



Ginofagia (Poemiudinhos). In: Crônica de amor por ela. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Arte: Derinha Rocha.

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terça-feira, outubro 23, 2007



Imagem: Le reveil, de Christian Coigny, fotógrafo francês.

PRESENTE

Luiz Alberto Machado

Foi numa tarde mormaçada de maio quando ela chegou lindamente exuberante. Já nos conhecíamos de longa data, pois havíamos estudado juntos por todo o ginasial. Esse um período em que ela era detentora da verdade sobre um caso ruidoso que me envolvera no colégio, mas que só ela sabia o que, de fato, houvera, e não me delatou. Por isso, fiquei impune e devendo essa.
Os anos se passaram e a gente sempre com uma piscadela denunciando intimidade recôndita nos olhares. Nenhuma aproximação, nem nunca havíamos tido a oportunidade de esclarecer o caso, muito menos pude agradecê-la miudamente por me safar da bronca. O que havia de verdade era uma cumplicidade, isso sim, uma cumplicidade mútua, tácita, desinteressada.
Eis que nos últimos dias ela andou precisando de um acompanhamento jurídico e, sem grandes pretensões, me ligou perguntando se eu sabia alguém que pudesse fazê-lo. Poderia, evidentemente, ter sido proposital seus telefonemas para mim, não sei, uma vez que eu teria todo cacife para acompanhá-la no que fosse possível vez que, além de ser do ramo, chegara a minha hora de retribuir.
Cobri-lhe, então, de atenções e gentilezas e me dispus à tarefa solicitada, atendendo gentil e cortesmente todos os seus telefonemas, esclarecendo todas as dúvidas e dando uma verdadeira assistência às solicitações.
Depois de várias ligações trocadas, tomei pé da situação. Realmente era um caso que requeria mais que simples aconselhamentos, por conseguinte, demonstrei minha satisfação em intervir, acompanhando tudo até o desfecho possível.
Ela não escondeu a satisfação mediante minha disponibilidade e já insinuava gratidão antecipada pela minha gentileza. Foi então que fiz ver que não esquecera da dívida para com a forma como conduziu todo alarde acontecido nos tempos do ginásio.
- Lembra? -, perguntou-me.
- Evidentemente que sim, não poderia esquecer jamais da sua conduta no caso. Devo-lhe essa e, como não tive oportunidade até hoje de adimplir com você, coloco-me inteiramente ao seu dispor para acompanhar e tentar resolver a sua pendência.
- Nossa, obrigado! Nem me lembrava mais disso, você é um cavalheiro adorável que além de me ajudar ainda diz que tem dívida comigo. -, expressou-se espalhafatosamente e aos risos.
Horas ao telefone, eis que, algum tempo depois, é chegada a hora do vamos ver como é que anda tudo e dela trazer a papelada para eu dar andamento na resolução. E foi, justamente, naquela tarde mormaçada de maio, que ela chegou com a exuberância da vida, batom rubro nos lábios, olhos penetrantes, vestido negro de alça curtinho e colado na assimetria deliciosa do seu corpo. Pisava firme com uma bota preta longa acima dos joelhos, deixando à mostra uma parte das coxas roliças na saia rente à mina de todos os seus tesouros encantados e uma cadência no passo levitando na minha admiração estupefata.
Quando abri a porta que flagrei sua presença, já estava embasbacado com aquilo tudo. Ela notou meus olhos arregalados e perguntou:
- Posso entrar?
Nem respondi, fiz um gesto desarrumado permitindo que adentrasse e assim ela encheu o ambiente com o seu perfume embriagador.
Ao entrar, rodopiou e rente a mim, fixou seu olhar a ponto de me permitir perder todas as atitudes do momento. Completamente atordoado com seu jeito de me fitar, me vi imantado com tudo bulindo dentro de mim diante daquele ser maravilhosamente voluptuoso que me instigava às mais enlouquecidas aventuras e, completamente fora de senso, me joguei em sua direção e beijei seus lábios, me lambuzei no seu batom, alisei seu corpo por cima do vestido, toquei-lhe a pele e lhe agarrei levando-a contra a parede. Um verdadeiro estupro, assim, sem mais nem menos.
Mergulhei fundo no beijo e ela correspondia a minha louca exacerbação resfolegando e concedendo que eu ousasse mais longe no meu brusco e insano contato.
Nem deu tempo de pensar em resolver uma bronca criando outra. Nem liguei e beijei seus olhos, as faces, os lábios, o pescoço, lambendo-a, chupando a carne do mais saboroso teor, quando ela, aos impados, conseguiu sussurrar...
- Hum... ah, peraí, antes tenho dois presentes para você.... peraí... -, disse-me dengosa, tomada pela minha iniciativa.
Não parei e fiquei curtindo sua pele acetinada e gostosa, enquanto aguardava as suas palavras.
Foi aí que ela empurrou-me delicadamente, exigindo que eu me afastasse um pouco para que ela pudesse respirar ao que atendi.
- O primeiro presente.... -, disse-me, levantando o vestidinho colado pelos lados das pernas lindas e removendo a calcinha preta até expô-la para mim: - tome, é sua!
Nossa, tomei a calcinha entre as mãos, cheirei, beijei e me deixei contagiar pelo aroma delicioso que penetrava minhas veias e acendia a vida inteira completamente em mim.
- Agora... -, voltou ela para mim, abrindo os braços o mais que pôde, dizendo: - Abra os braços para me guardar...
Nossa, que surpresa agradabilíssima! E nem deu tempo de dizer nada, ela avançou sobre mim como uma carniceira fera faminta, beijando-me os lábios com avidez, empurrando-me agora contra a parede, me apertando docemente, me apalpando e ronronando despudoradamente como quem se apossa da presa indefesa.
Não satisfeita, cravou-me as unhas, mordeu-me o beiço, esfregou-se inteira lambendo-me e beijando-me obscenamente, arrastando-me com força até conseguir que eu me rendesse no sofá, onde ela exímia se apoderou de mim e começou a passar a língua pelo meu rosto, pescoço, tórax, ventre. E me inquietava pronto para o seu domínio.
Ao se acercar do meu membro rijo, ajoelhou-se em contrição e, entre lágrimas, orações e afagos manuais, fez dele a vela sacrossanta e deificada da sua adoração, rezando de forma incompreensível e gutural enquanto alisava docemente toda extensão do meu pau, entre os dedos, entre o rego dos seios, as dobras do cotovelo, as axilas, prendendo-o ao pescoço, pelas faces, até esfregá-lo entre os lábios e se lambuzar com o líquido que eu expelia timidamente para, no apogeu de sua prece, exclamar pela necessidade da aquosa essência vital que lhe fortalecia o corpo e a alma.
- Quero esse elixir! -, gritou-me possessa. E entre esfregados e carícias labiais, começou a estirar sua língua no meu cajado como uma fera que se lambe demoradamente para saborear a integral delícia proclamada. Lambia, gemendo com gosto e afeto demasiado todo o meu pênis. Descia à base e contornava passeando por todo aclive até chegar ao topo onde mordiscava levemente como quem se preparava para abocanhar poderosamente, sugando disfarçadamente.
Eu me esvaía na sua língua. E cada lambida proporcionava uma viagem inenarrável ao reino integral do prazer. E salivava como quem se apetecia saborosamente, até que ardilosa fingia lamber, ora mordiscando timidamente, ora sugando com a ponta dos lábios, numa trapaça que me levava até os confins do gozo. E lépida, segurando firme com alisados na minha lança rija, roçou-lhe com o queixo, as faces e finalmente os lábios úmidos, até armar-se estufada a engoli-lo devagar enquanto a língua fazia alvoroço em todas as direções do meu prazer.
O mundo foi rodando e ela engolindo mansamente e, a cada volteio caprichado, mais chupava intensa e decididamente a fazer-me refém de sua gula, até chegar ao frenesi de abocanhar completamente garganta adentro, qual picolé chupado de forma voraz e arrancado para o último sabor da fruta, até deixar-me a ponto da ereção plena.
Ao perceber que me encontrava prestes a explodir, mais ela dedicava minuciosas arremetidas permitindo que eu gozasse extraordinariamente em sua deliciosa boca. Freneticamente se apossou com insistentes lambidas paradisíacas, chupadas homéricas e sugadas inenarráveis de tudo o que restava das últimas forças e vitalidade em mim. Gozei abundantemente. E ela mais feliz que nunca, continuava a felação ronronando como em prece, às lágrimas de felicidade, agradecendo, genuflexa, toda maravilha da vida proporcionada.
Quando ainda me agoniava com os últimos estertores do gozo, ela sussurrou beijando-me ardentemente: - Feliz aniversário!

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados do autor.

Veja mais Crônica de amor por ela.

segunda-feira, outubro 22, 2007



Imagem: Paixão, Guy Joseph.

“(...) Miriam é o nome dos nomes. Se eu pudesse moldar todas as mulheres e transformá-las no ideal perfeito, se pudesse dar a esse ideal todas as qualidades que procuro na mulher, seu nome seria Miriam. (...) envolvia-me como os braços maternos, aquecia-me como uma amante, realizava meus desejos como uma fada. (...) As mulheres são preparadas para resistir, para serem sitiadas; são reinadas para agir dessa maneira. Quando não encontram resistência, caem de cabeça na armadilha. (...) O homem levado à loucura e à ruína pela grandeza de seu coração, é irresistível para a mulher. Para a mulher que ama, é claro”. (Henry Miller, Sexus).

Veja mais Crônica de amor por ela.

sexta-feira, outubro 19, 2007



Imagem: Biblis, 1884, de William-Adolphe Bouguereau (1825-1905), Pintor Francês (Classicismo Academico).

ELA NUA NA MANHÃ

Luiz Alberto Machado

Quando me procuras alucinada com teus desejos incontroláveis e teu semblante de deusa manhosa no cio, eu já te espero insone desde sempre para redimir meu suplício de querer-te robusta tenda do meu viver.
Vem, meu amor, que eu te persigo enlouquecida e nua para te fazer protagonista do meu triunfo perante a nobreza do teu corpo febril e desarvorado.
Vem, meu amor, vem me fartar com tua ardência rara e latejante da tua carne trêmula para me refugiar em tuas sinuosidades na acolhida dos teus braços aconchegantes apertado ao teu seio de mamilos cheios a me recolher no teu jeito singelo de me agasalhar no teu útero entusiasmado.
Vem, meu amor, que quero me sentir alentado pelo roçar de tua superfície sedosa sobre meu membro teso, me deleitando com a seiva do teu monte de Vênus que se contrai e se expande às minhas investidas acrobatas como troco de nossa entrega.
Vem, meu amor, que me esfregarei no teu fogo enquanto te contorce a clamar pelo meu nome com sabor de calda de morango na tua boca estuosa que faz da manhã de setembro o mar das nossas reinações.
Vem, meu amor, que o dia faiscando na luz dos teus olhos revelam meu gozo prenhe de paixão.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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quinta-feira, outubro 18, 2007



Imagem: Nymph and Satyr, 1860, de Alexandre Cabanel (Pintor Francês, 1823-1889 - Classicismo Acadêmico).

LINDAMIGAS & UMA CANÇÃO

No seu coração quero ficar como: / -uma ventura, / -uma grande emoção, / -uma eterna fervura gerando felicidade. / No seu coração quero ficar: / -hoje e sempre agasalhada e agarrada, / -nunca mais ter solidão, / -e sempre manter a sensação. / E quando ficar plena a adoração, / Você não mais visão, ou ilusão, / confundir e fundir nosso destino, / Só ser feliz ,e nada mais”. (Roserlei Martins Alves)

Te seduzo como mulher, faceira, dengosa, fogosa, com olhar ardente e beijo gostoso... Te seduzo com gestos, na dança do corpo atraente e provocante. Te seduzo com meu cheiro hormonal, com apetite sexual que só tu sabes satisfazer. Na nossa intimidade, sou menina, sou amante, a maior sedutora que tu conheceste!” (Ilze Soares, Te seduzo).

Dormindo me achava, sorrindo, sonhava. Estavas aqui... Os olhos brilhantes, o peito pulsante. Estavas aqui... O corpo vibrando, desejo aumentando. Estavas aqui... Paixão num crescendo, suor escorrendo. Estavas aqui... A boca tremia enquanto gemia. Estavas aqui... Sussurros ouvia, teu gosto eu sentia. Estavas aqui... Fizeste-me tua no chão, sob a lua. Já não estou nua, VESTI-ME DE TI” (Tania Melo, Vestida de ti).

Existe em você... um sabor Que me enlouquece, Desgoverna todo o meu interior. Existe em você... Alguma fórmula mágica, Que me tira do sério e Me faz ter prazer. Existe em você... Um encanto, Que após tantos cantos, Me ensina a viver. Existe em você... Uma imensa ternura, Algo sem censura. Desvirginando o meu ser. Existe em você... O beijo mais doce, O abraço gostoso. Que me faz reviver... Existe em você... A vontade fecunda, A emoção mais profunda. Que eu gosto de ter..." (Izabel Silveira, Seu gôsto... )

UMA CANÇÃO: ESTIGMA
(Ozi dos Palmares & Luiz Alberto Machado)

Toda vez que penso em ti vejo ouro
pois tu és a minha jóia rara
céu de azul e furta-cor
promessa de flor, prisioneira da vida
dúvida do ser para amar
porque já se amou
pois já que tu és a promessa
de um sonho por se realizar
pra viver e ser feliz e jamais
será fuga de um beijo
ou desejo fugaz
enquanto não se chora uma dor
a gente poderá ser feliz muito mais.

© Música de Ozi dos Palmares. Letra de Luiz Alberto Machado. Direitos reservados dos autores.

Ouça Estigma ou baixe gratuitamente em mp3 na Trama.

quarta-feira, outubro 17, 2007




Ginofagia (Poemiudinhos). In: Crônica de amor por ela. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Arte: Derinha Rocha.

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terça-feira, outubro 16, 2007



Imagem: Evening Mood, 1882, de William-Adolphe Bouguereau (Pintor Francês, 1825-1905 - Classicismo Acadêmico).

“(...) Tirei-lhe a túnica; de tão tênue mal contava: ela lutou todavia por cobrir-se com a túnica, mas sem empenho de vencer: venceu-a, sem mágoa, a sua traição. Ficou em pé, sem roupa, ali diante dos meus olhos. Em seu corpo não havia um só defeito. Que ombros e que braços me dado ver, tocar! Os belos seios, que doce comprimi-los! Que ventre mais polido logo abaixo do peito! Que primor de ancas, que juvenil a coxa! Por que pormenorizar? Nada vi não louvável, e lhe estreitei a nudez contra o meu corpo. O resto, quem não sabe? Exaustos, repousamos. Que outros meios-dias me sejam tão prósperos!” (Ovídio - Publius Ovidius Naso (43 a.C. – 17 d.C), poeta latino. Os amores, V:1-2, 9-26 – tradução José Paulo Paes).

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segunda-feira, outubro 15, 2007



Imagem: Milo Manara, pintor, quadrinista e desenhista italiano..

A PROFESSORA

Luiz Alberto Machado

Preste atenção! Nunca havia deliciado de momento tão estonteantemente marcante quanto aquele que, numa certa ocasião, uma mulher escandalosamente sedutora apareceu devastando tudo em mim.
Na sala de aula tudo era de um marasmo capaz de entediar o mais aplicado estudante. Era um blábláblá sem graça, entrasse ou saísse um a um dos professores, a mesma chatice de sempre. Mas quando ela aparecia na porta, tudo se assanhava. Era um ouriço só pra checar o olhar, os lábios, a beleza de rosto, os seios, a cinturinha, as coxas roliças, as pernas torneadas, a elegância, a sedução, tudo nela era um espetáculo bom demais de se ver e apreciar.
Todo mundo ali ficava enlevado com todos os seus encantos. Não era para menos tanta fartura de boniteza juntas: inteligência e encanto. E isso provocava tanto momento paradisíaco que a gente só dava conta quando terminava a aula e tudo voltava ao pesadelo de sempre.
Certa feita estava eu ocupado em dedicar para esta musa uns versos fogosos, quando ela apontou de lá, vindo com a sua manifestação de gata lindíssima a me acertar com vendavais medonhos que insistiam em se avolumar dentro de mim. Eu, evidentemente, acompanhando passo a passo de sua cadência em minha direção. Certo estava que ela passaria direto para algum outro local na sala. Mas não, para meu espanto, senti seu perfume de perto, quando constatei debruçada para mim, sussurrando: - Em que você está entretido? -, perguntou-me enquanto eu me arrepiava e isso eletrocutava todas as células do meu corpo. – Hum -, disse-me, - é um poema, né? Deixa ver? -, pediu-me delicada e deliciosamente coibindo-me qualquer iniciativa a não ser permitir que flagrasse o meu desejo pronunciado, a minha loucura por admirá-la além de tudo.
Enquanto ela lia atentamente meus versos tarados, eu fitava a generosa e fantástica panorâmica espetacular que se projetavam do abissal decote com aquelas duas maiores graças do mundo: aquele par de seios mais palpitantes de encher minha boca d´água, lambendo os beiços e deprecando explorá-los com todos os buliçosos contatos de carinho que eu pudesse demonstrar por gratidão. Era sedução demais.
Quando ela percebeu a minha agonia, afastou-se flagrando o marujo de primeira viagem que era eu hipnotizado pela beleza de seu corpo.
Com um suspiro profundo, ela saiu de mansinho deixando o seu perfume nos meus sentidos, a sua gostosura bulindo por dentro de mim: quanta harmonia, beleza, luxúria e inquietação emanando assim à flor da pele. Não era uma mulher, era uma deusa, um milagre real.
Incontrolavelmente tudo dela permaneceu trepidando nas minhas idéias, querências e alucinação. Claro que não consegui terminar o poema porque nunca me dava por satisfeito. O poema era pouco, ela era demais e toda vez que ela passava reboladora impune com a sua candura de putinha malvada a descabelar a minha libido, eu me dizia: - Essa professora é muito gostosa!!! É gostosa demais!!!
Sabia que aquilo tudo era inacessível. Ela, com certeza, era inatingível para um recruta e sem atributo algum que a fizesse ter qualquer afeição por mim.
Não deixei de mão, fiquei ali alimentando o meu amor platônico. Quem sabe? A vida apronta coisas que a gente nem imagina.
Dias depois, quando tive que procurar pela supervisão da escola, o primeiro passo eu dei dentro da sala e meu olhar aguçado logo encontrou aquela que atormentava meus sonhos, desejos e senso. O maior alvoroço deu-se dentro de mim a ponto de não poder controlar minhas reações. Meu pênis endureceu e eu fiquei mais abobalhado que nunca. Inevitavelmente ela deu conta disso e mandou-me chegar mais perto. Fechei a porta num impulso inconsciente e me dirigi até ela completamente tomado por sua candura. Ela abriu um sorriso e levou sua mão até onde meu caralho enrijecido fazia volume na calça. – Hum... -, ronronou – está excitado, hem? -, perguntou-me enquanto eu não sabia nem o que dizer nem fazer, imóvel.
Foi aí que ela levantou-se e me empurrou até a parede, aproveitando para travar a porta enquanto desatacava minha calça e arreava o zíper, até ver o meu membro livre e inchado pronto para a sua manipulação exímia.
Nossa, eu sentia tudo revolucionando dentro de mim, perdidamente envolvido por aquela maravilha abundante a se acercar de mim.
Primeiro ela lambeu-me os lábios, o batom rubro tatuando minha cobiça, irradiando uma descarga elétrica que me fazia cada vez mais imóvel e pronto para ser servido por suas garras de fera selvagem. Eu sabia que ali, assim, estava sendo o seu repasto, marujo desse mar. E obediente deixei que ela me levasse pelos mistérios da sedução. Tomou-me em seus braços de sereia safada para a dança voluptuosa do sexo em ebulição. Permiti tudo sempre grato por aquele momento.
A sua língua percorreu minhas faces, meus ouvidos, pescoço, ombros, caixa torácica, umbigo, até alcançar minha pica latejante pronta para esporrar toda minha satisfação. Ela beijou, lambeu, sugou, chupou, friccionou demais, engoliu e se satisfez do meu caralho que não agüentou mais e gozou abundantemente com a felação. Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhh!!! Aquilo era bom demaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiis.
Ao término de explorar todo o meu prazer demoradamente, ela levantou-se, fitou-me e tascou um beijo apaixonante. Que lábios, que gostosura, que tesão! Com isso fiquei varando dias e noites nas nuvens, levitando e sem me dar conta de nada, não vendo ou ouvindo ou sentindo nada, somente a efígie daquela mulher povoando meus sonhos: a professora que era a fêmea tesuda e a puta mais gostosa. Tudo isso era demais para mim.
Quando, do nada, um dia lá, eis que me deparo novamente com aquela que me faz o sujeito mais afortunado do mundo, como uma nave sedutora me carregando ao orgasmo das acrobacias. Ela sabia que eu já andava com a cabeça no outro mundo: o mundo dela. Foi quando ela me pegou pelo braço, fez-me sentar na carteira, aboletou-se confortavelmente sobre o birô e com a mão sutilmente empurrava um livro que ali se encontrava até cair no chão. Levantei-me para apanhá-lo quando ela descruzou as pernas e pude ver a bocetinha linda embaixo da saia sem calcinha. Que maravilha! Fiquei como sempre fico com a boca cheia d´água e loucamente lambi como sempre fico lambendo os beiços numa circunstância dessa, a língua coçando e louco para chupá-la freneticamente.
Ela, propositalmente, mais se arreganhava e eu imantado por sua priquitinha linda, fui me aprontando, desenvolto e insaciável para vê-la revirar os olhos na cunilíngua. Que boceta gostosa demais!
Chupei, lambi, revirei seus céus e infernos, matei minha sede na sua fonte maravilhosa. Ela grunhia, gemia, ronronava, se agitava com o meu bulício todo enquanto gozava simultaneamente seus vários orgasmos, até cair desmaiada, de bruços, sobre a mesa.
Fanatizado com toda a sua beleza, fiquei beijando suas nádegas, que glúteo! Coisa mais linda de se ver. Ela, então, me pediu: - Bota essa gostosura na minha bundinha, vai! Bota essa gostosura toda na sua professora, por favor, vai! Quero ser sua todinha!
Enquanto dizia, meu pau estava mais duro que antes. Lambuzei todinho e fui bem devagar procurando me enfiar no seu ânus róseo. Não havia como ser de outra forma. Aí, limpei a área, apontei a gula e parti pro gol naquele colossal corpo de melhor aventura onde ecoava a vida, gorjeavam todos os pássaros, bramiam todos os mares, balançavam todos os ventos brandos, viravam todas as noites e dias, explodiam todas as erupções vulcânicas, incendiavam todos os sentimentos, eclodiam todos os redemoinhos de paixões agudas, todas as folias de carnaval, todas as querências do fogo, todas as águas movediças, todos os mistérios das florestas, todas as provocações de gozar mais e mais para todo o sempre, amém. Dei partida no motor concentrando-me no foco, no close, no enquadramento daquela arrebitada maravilha a me fazer senhor daquela potranca que me descabelava e me dava a oportunidade de ser feliz.
Enquanto isso, ela insistia: - Vai, bota logo, bota todinha que eu quero gozar! Vai, gostoso, come a bundinha da professora, vai! -, com isso eu me enfezava teso, deslizando meu prazer naquele cuzinho lindo e gostoso, ela rebolando, eu enfiando tudo, botando e tirando, ela agitada, eu me lavando em suor, empurrando, botando quente, fodendo, gozando além da conta e totalmente demais na maior festa de papel picado dentro de mim. Deitei-me sobre seu corpo e fiquei ali bastante tempo só a beijar aquela a quem eu, dono de tudo, me entregava refém de seus caprichos sexuais, guardando todos os prazeres da carne na minha alma até hoje atormentada.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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sexta-feira, outubro 12, 2007



Imagem: Reclining Nude, 1919. de Amedeo Modigliani (Pintor e Escultor Italiano, 1884-1920 – Expressionismo)

CONVITE

“(...) E se uma mulher despida é sempre um desejo mais aperfeiçoado do que todos os milagres...” (José Craveirinha, poeta moçambicano, Em quantas partes?)

“(...) Ela está recostada e deixando-se amar, do alto do seu divã, ela sorri sem medo, ao meu amor profundo e doce como o mar que procura alcançá-la assim como um rochedo. (...) Sua coxa e seus rins, seu braço e sua perna, óleo lustroso e cisne a ondular sua linha, passam por meu olhar de luz aguda e terna; ventre e seios do amor, cachos de minha vida...” (Charles Baudelaire - 1821-1867, As jóias).

Luiz Alberto Machado


Plena tarde e o céu inteiro na pradaria: um mar espalmado que se resume ao rumor da nudez inundando todas as súplicas dos meus quereres tostados de fogo ardente.
Á espreita vou requestado com toda luxúria de minha alma herege confiscar toda mansa fragrância do seu milagre fabuloso, da sua majestosa divindade nua, feita para amar, para apertar com jeito, para vibrar em mim danada do céu queimando a lenha do que se faz predador e presa entre nós.
Tudo é demasiado próximo no hálito quente da sua sedução a céu aberto e entregando todo o tesouro do coração, todas as posses, suplícios, encantos e eu possesso aos bocados, desesperado e faminto de emoções poderosas a morder com trela a tarde da primavera no ninho do seu corpo nu que me embriaga com o veneno da paixão.
Aceito o convite e ébrio dou fé do olhar ardente na insônia de quem ama devendo o beijo, o abraço e a garanhagem libertadora. E estendida sobre o meu desejo traz o colo e sua macia tepidez para a incursão de nossa refrega a transpor toda doçura e vício na vertigem de nossas entregas.
Esta a canção que afaga o dorso nu num duelo de dentes cerrados e se faz servidão na ponta dos seios duros e tomada pela pele acetinada que eterniza minha loucura em êxtase enquanto transgredimos de nós, das regras, da arena no êxodo do mundo, duelando com o passado de vigília e arrependimentos, duelando com a vida pelo que já foi e o que virá das venturas e destroços que se redimem no ardor do incenso de seu corpo que governa e que se faz tarde nas minhas mãos errantes.
E do seu corpo roubo a paz que se faz tisana alquímica no meu estertor, sorvo seu sexo dando vazão a minha agonia gulosa que faz abluções do charco empoçado de delícia nas entrepernas que se faz contenda tirânica na nossa luta corporal munida de armas das carícias até sermos derrotados, vencidos pela vida. Só o amor resiste aos escombros. E renascinzas, o amor assim é na entrega servil dos amantes.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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quinta-feira, outubro 11, 2007



Imagem: Nude on a Sofá (Blonde Odalisque), 1752, de François Boucher (Pintor Francês, 1703-1770 – Rococó)

FONTE

Letra & música de Luiz Alberto Machado

Quero que você me venha de manhã
Plantar a luz do sol com sua fonte a minar e em mim se escorrer
E aguando esta ternura na gente venha vontade de nascer:
Beijar-lhe o ventre e ver a vida a rolar. Vai ser demais!

O tempo vai ruir pra nós, desexistir

Incendiar o corpo, a voz, a sede saciar na foz assim, sedenta
A diluir-se em flor pelos confins

Em você onde sou eu será promessa inteira do querer?
Amor, que vai ser de mim se um dia essa vontade de viver
Perder o amor de vista e esquecer angústia de não ter raiz?
O ar desvencilhar-se do nariz?
Será de mim, o que será do meu coração?
Será de mim...???!!!!!

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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quarta-feira, outubro 10, 2007



GINOFAGIA

É nela, flor caeté, que o desejo é o trâmite da vida.

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terça-feira, outubro 09, 2007



Imagem: Heisler Mulano, ilustrador, designer, diretor de arte e freelancer mineiro.

O NOVELO DA VOLÚPIA DO MENINO

"Dos beijos ao banquete apaixonado em sonhos o amor levou-me um dia". (Ascenso Ferreira).

Luiz Alberto Machado

A prima chegara com alvoroço naquele veraneio. Todo mundo era só dente aberto a recepcionar-lhe. Eu mesmo me ria com os dentes no coarador. Menos minha mãe que não aprovara muito aquela chegada, dissimulando aos poucos por ser ela já adulta e podendo ajudar na casa e no cuidado comigo e minhas irmãs. Se bem que eu já estava bem taludo, onze para doze anos, bigodinho ralo e um vício na punhêta de não deixar um só segundo de ficar amolegando o pingulim.
Tirante minha mãe, já o meu pai, eu e minhas três irmãs estávamos exultantes, em clima de festa com a prima-tia. Eu, principalmente, que não tirava os olhos daquele decote dos bustos de Brigitte Bardot, daquelas feições ciganas, aquele bamboleio no meio da casa dançando o seu fanatismo por bolero, aquela Marilyn Monroe trigueira com o olhar de azeviche - parecia com uma daquelas mulheres que a gente vê em capa de revista ou nua nos calendários de oficina mecânica. Até um sinal numa das faces a danada possuía. Essa era Lucrécia Maria, minha prima-tia por parte de pai.
Mesmo que eu quisesse não desgrudava os olhos dos seus 65 de cintura, os seus 95 de busto, os 110 de quadril. Estava encurralado pela minha obsessão, chegando muitas vezes a ficar babando de queixo caído, conferindo-lhe a geografia bela e bem distribuída naquele corpo mais que altaneiro.
Eu já vivia de pau duro a vigiar-lhe os mínimos movimentos. Acompanhava toda a sua caminhada dentro de casa até a hora de dormir.
Lucrécia. Um nome apregado na minha cabeça, no meu exogênio, na minha querência adolescente.
Havia revezes e ela não escapara deles. Soube, muito mais tarde, que ela fora estuprada aos 11 anos por um desconhecido, perdendo os três vinténs numa noite e no caminho de volta para casa. E aos 15 tivera relações incestuosas com Alexandre, um irmão bastardo por parte de mãe que lhe iludira com juras amorosas. Aos 17 se casara com Afonso que fora estrangulado misteriosamente no trabalho. Enviuvara e não convolara novas núpcias até agora.
Ela atendera o convite do meu pai de morar com a gente evitando estardalhaço de sua viuvez. Exultei mesmo quando soube que ela dormiria no mesmo quarto que eu.
Minha genitora desconfiadíssima, reprovara logo a provocação que o ser natural dela já imprimia e, olho de esguelha para mim, - tido como capeta que desde os seis anos se deitava no chão só para descobrir as intimidades das amigas dela, virgem! Aquela resolução não traria benefícios para minha formação de adolescente.
Era verdade, eu derrubava todo tipo de coisa no chão, de propósito, só para descobrir os mistérios embaixo das saias. Fingia um calor medonho para ficar deitado no chão friínho só para ver a calcinha das visitas. Até a professora do primário fora vítima das minhas artimanhas, descobrindo-me possuidor de um espelhinho colado no sapato para saber-lhe a cor dos fundilhos. Assim ficou e assim foi.
Vi Lucrecia entusiasmada e cantarolando ao arrumar as coisas no meu guarda-roupa. Dividimos os espaços dele. E, depois disso, conversamos animadamente sobre como seria dali para adiante as nossas vidas. Prometi tudo, o que podia e não, tentando cativar-lhe a emoção. E ficávamos ali, ninguém nem nada a nos perturbar.
Desfizemos juntos suas malas até altas horas da noite: uma bandeira enorme do Flamengo, muitos discos de Djavan que ela era fã de carteirinha; muitas roupas; um livro de Vinicius de Morais, "Para viver um grande amor"; algumas revistas; e uma porção de brebotes femininos que nunca tinha nem visto.
Exaustos, pegamos no sono do jeito que estávamos: um atravessado por cima do outro.
Na primeira tarde seguinte, contara-me de seus sonhos: Yolanda Pereira ou Yeda Maria Vargas? Ou mesmo uma Lisa Gherardini para qualquer da Vinci anônimo. Ah, se pudesse, seria miss universo, já era do meu coração, ora. Era a apoteose do meu quarto. Quanta sustança, o seu cheiro de almíscar, a cor de canela, o corcovo do seu corpo, aquela tatuagem obscura nas costas, a saia justa, o decote excelso, vaidosa, cabotina, molestava a todos ininterruptamente. Estávamos como que confidentes. Eu, vulnerável, ela ria, mais se ria com os meus motejos.
Quando revirava para pegar alguma coisa, via-lhe pela brecha da blusa de mangas largas, aberta dos lados, mostrando-me os seios volumosos. Isso ocorria toda vez que ia pegar alguma coisa. Eu chegava ao cume, oh, que Vênus de Milo! Assim, o meu sangue tranfuso, a minha enfermidade, o efeito de cada toque despretensioso se tornava uma picada fulminante incendiando a minha glutonaria.
- Chegou a hora da ceia, vamos?
Era a minha mãe interrompendo o meu devaneio. Jantávamos. Eu me sentava ao seu lado, meu pai e minhas irmãs cheias de perguntas disso e daquilo, ao que ela respondia invariavelmente. Meio que irritado com as cobranças deles, recolhi-me ao quarto e fiquei bisbilhotando suas calcinhas, sutiãs, lingeries, cheirava revirando os olhos no meio de uma punheta. Assaltou-me no flagrante, um meio riso no rosto. Eu, lívido, sem saber o que dizer.
- Vamos dormir, já é tarde!
Era, perdi a noção do tempo. Tomou-me entre os braços e deitamo-nos, eu encangado nela. Meu membro viril dava sinal de vida, encostado na sua coxa esquerda. Ela remexeu-se, mas deixou como estava. Fiquei esfregando-me, deitando minha mão boba sobre sua barriguinha. A minha banana pacova desvencilhou-se do meu calção, ficando todo estirado e lambuzando as suas pernas.
Enquanto um de seus braços envolvia o meu pescoço, o outro, de repente, trouxe sua mão para o meu pênis, agora ajeitado e espremido entre as suas coxas. Arfei. Ela enrolou-me bem no cobertor, estreitando mais ainda o nosso contato: meu rosto entre os seus seios.
Aproveitando aquela festa íntima, fiquei lambendo o rego deles, enquanto dava umbigada nos seus membros inferiores.
- Eita! -, disse-me com espanto.
- O que foi? -, me fazendo de besta.
- Safadinho, você, hem? -, reprimiu minha ousadia.
E apertou-me mais ainda enquanto eu mesmo ruborizava perdido nas suas profundas águas.
Muitas e muitas noites infindas assim, onde, às vezes, me falava das segregações que fora vítima por ser a mulher que é, as repreensões coletivas, as suas apreensões íntimas. Eu ainda não sabia de deus, mas começava a saber do outro lado que a moeda não mostrava, dos outros lados ocultos da moeda além dos dois lados visíveis: a cara, a coroa, as não-caras, as não-coroas, as não-não.
- Da mesma maneira que existem microrganismos, invisíveis aos nossos sentidos, velejando por nossas entranhas, benignos ou malignos, sem darmos conta disso, pode ser que sejamos também microrganismos numa macrorganização cosmogônica, não perceptível por nossos sentidos. Talvez sejamos mais inúteis que imaginemos em nossa soberba. Talvez sejamos ínfimos quanto o desdém de sermos nada.
Dissera-me certa vez em que me encontrava com os olhos aguçados. E eu lia as suas tristezas que se misturavam com as suas alegrias, a sua vitalidade, as suas negações. Despertava-me por um caminho nunca antes trilhado: a iniciação nas coisas do corpo e da alma, a crise somática e a incredulidade metafísica. Falava-me de compreensão, uma palavra mágica capaz de tocar na mais profunda pele do coração. Esta sim, a secreta palavra perdida na semântica. A dos essênios, a dos mistérios irreveláveis. Xingava as convenções, as leis sectárias, as condutas ortodoxas, a miséria e a suntuosidade. Caldeirão enorme com todas as adversidades juntas, paradoxos, flatulências e comiserações. Eram reclamos sem nexo, ao meu entender. E no meio de suas vociferações, ela me abraçava ardentemente, beijava meus olhos, tocava minha a pele e me dava rotas transcendentais.
Certa vez virou-se pelo avesso e mostrou a bruxa velha que fora abandonada pelos filhos e por todos e que estendia a mão a qualquer um ser vivente para alentar as almas perdidas. Mal entendera e já metamorfoseava numa angélica menina de auréola e asas que falava ruindades das pessoas.
Passei as mãos aos olhos, era ela mesma com um riso comedido e com as mãos espalmadas.
- Venha!
E me ensinou a transcendência de amar.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Rol da Paixão.

Veja mais Crônica de Amor Por Ela.

segunda-feira, outubro 08, 2007



Imagem: The Birth of Venus, detail, c.1485, de Sandro Botticelli (Pintor Italiano, 1445-1510 - Primeira Renascença)

“(...) ajoelhou aos pés da noiva; tomou-lhe as mãos que ela não retirava; e modulou o seu canto de amor, essa ode sublime do coração que só as mulheres entendem, como somente as mães percebem o balbuciar do filho. A moça com o talhe languidamente recostado no espaldar da cadeira, a fronte reclinada, os olhos coalhados em uma ternura maviosa, escutava as falas de seu marido; toda ela se embebia dos eflúvios de amor, de que ele a repassava com a palavra ardente o olhar rendido, e o gesto apaixonado (...) Aqui estão as chaves de minha alma e de minha vida. Eu te pertenço; fiz-te meu senhor; e só te peço a felicidade de ser tua sempre!”. (José de Alencar, Senhora).

Veja mais Crônica de amor por ela.

sexta-feira, outubro 05, 2007



Imagem: Deux Oiseaux, de Paul-Émile Bécat (1885-1960), pintor, gravador e desenhista francês.

O TRÂMITE DO DESEJO

Luiz Alberto Machado

Há muito que meu coração espera no sisifismo louco dos dias e na contagem regressiva das horas.
O amor me deu e só o amor levará de mim
Porque já pelejei demais no meio da noite e deixei meu verso no escuro,
Porque todas as noites, como o mar que nunca dorme persigo insone pelo grande amor.
Eu não sei nada e só me eternizo quando a noite é íntima na minha solidão.
Eu velo pelo grande amor e é por ele que passo as noites em claro, ardendo aflito, na busca sedenta do teu corpo de mulher.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

Veja mais Crônica de amor por ela.

quinta-feira, outubro 04, 2007



Imagem: Reclining Nude, 1910 de Gustav Klimt (Pintor Austriaco, 1862-1918 - Simbolismo/Art Nouveau)

COBIÇA

Música de Mazinho & letra de Luiz Alberto Machado

Quando eu me perdi por entre as estrelas do céu da tua boca
sabia que era o amor que vinha pra ficar
era sideral
bem mais que visceral
maior que a cobiça do teu negro olhar
era o álibi da paixão
se apoderando do meu coração sem domicílio
envolvendo-me no idílio que supunha sonhar.

Maior que a tentação de se afogar nesse rio
era a sedução de querer-te noite a fio feito um talho
que nos custa pra sarar
a espera que não mede o aceno de quem vem
e por findar-se em sonho sendo presa e refém
do teu amor
do teu amor
do teu amor

Quando me perdi nas profundas águas do teu corpo
sabia que era o amor que ocupava o seu lugar
em ser-mos um até na dor
no mais das vezes
corações siameses
na glória infinita do amor.


© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992.

Veja o clipe de Cobiça.

quarta-feira, outubro 03, 2007



"(...) porque o coração, e ainda mais o da mulher que é toda ela, representa o caos do mundo moral". (José de Alencar, Senhora).

GINOFAGIA:
Eu te amo
Serenar
Frutos
Mergulho
Alegoria da loucura
Perfume de mulher
Armadilhas
Fonte

Veja mais Crônica de amor por ela.

Luiz Alberto Machado

terça-feira, outubro 02, 2007



Imagem: Druuna, do escritor e ilustrador italiano Paolo Eleuteri Serpieri.

AIJUNA, O MURAL DOS DESEJOS FLORESCIDOS

Luiz Alberto Machado

"A rosa: tua nudez feita graça. A fonte: Tua nudez feita água. A estrela: Tua nudez feita alma". (Juan Ramón Jiménez)

Aquela morena escorreita causava arrepios nos marmanjos quando passava sorrateira pela calçada do ambulatório rumo ao seu trabalho. Era nessa hora que ela exibia uma fatuidade rebolativa graciosamente exuberante, num shortinho que lhe delineava as dimensões apetitosas e com uma camiseta sensualíssima pregada no corpo, denunciando-lhe os contornos que apetecem a gregos e troianos, ou quem fosse privilegiado de tal desfile. Que cardan provocando sórdidas apostas entre os intrépidos paqueradores, amostrados conquistadores, exultando aquele, entre eles, pretenso que seria escolhido a ter, entre as suas posses, aquela magnífica figura inupta e cobiçada. Nego pintava o sete, dava cambalhota, cavalo-de-pau, rabissaca, plantava bananeira, se exaltava, deitava galanteios, tudo que pudesse chamar-lhe atenção. Era ela disputada nos palitinhos, nas cartas, nos dominós, nos baralhos, na porrinha, quem vencesse, cortejaria exclusivamente aquela beldade, sem adversário nem obstáculo. Restava saber se ela que se mostrara sempre receptiva acolheria o tal ganhador. Pelo que demonstrara, ela não estava nem aí. Impune, nem, nem. Eu mesmo que não me intrometeria em cima de tanta areia para minha pequena carroceria, sabia, mesmo podendo dar várias viagens para cumprir aquela grandiosa missão, assim mesmo, ficava na minha, tímido, cônscio de que não seria nunca, jamais para o meu bico. Os outros, não, mais audaciosos, adorariam ter aquele patrimônio corporal entre os seus quereres e posses.
Ah! Ela que falava manhosamente com uma acuidade no olhar de ler-me a alma, de desnudar-me por inteiro, causando-me furor nas entranhas, prospectando-me aos seus aposentos nas zonas remotas do prazer extremo, um recurso utilizado pela sua caça, provendo-se do seu faro amestrado ao preparo da vítima para a emboscada dos seus caprichos sexuais, mais parecendo ter total conhecimento da cinegética de Xenofante. Era, de caça entendia, vi-lhe muitas vezes apalpando um livro, um volume contendo uma grande variedade com tipos de caças, alçapões, armadilhas, tocaias, giraus, arapucas. Numa das páginas uma foto de uma gazela, outras, um safari; uma imagem de Santo Humberto; de um perdigueiro vigilante como um cão de corso que persegue corredores. Vi-lhe quando escapuliu de uma de suas mãos no chão e eu, gentil cavalheiro, devolvi-lhe daquele descuido.
- Brigada!
Agradeceu-me, como uma verdadeira onça domesticada e ferina, carniceira, maligna, acuada, mexendo com as minhas emoções, minha lucidez. Uma docilidade de potranca zen, uma finura de pele, um risinho sensual no canto dos lábios. Ainda embasbacado flagrei sua mira na minha azagaia. Um olhar hipnótico, imantado. Viu-me modesto caçador e com isso, todo intrometido e sem esperar, minha chuça deu sinal de vida, remexeu-se por dentro do calção, pejado, saliência ficando à mostra. Ela notou, que luxúria, concupiscência. Foi-se, assim sem menos. Bombardeou meus pensamentos acendendo a minha libido a ponto de, numa tarde, dias depois daquele envolvente encontro, procurar-lhe a presença onde quer que seja, perseguindo seus dotes, enlouquecido, até, depois de muitas andanças sedentas e invadir o salão a solicitar de seus serviços. Mandou-me sentar aguardando na fila de espera. Lá havia muitos: mulheres, meninos e eu, todos usando do corte de cabelos, manicura ou pedicura, uma podóloga que ainda ministrava cursos intensivos de estética cosmológica nos dias sem movimento. Ela era detentora de um conhecimento profundo, realizando tratamentos especiais em tuins, unheiras, extração de calos, das encravadas ao solado rachado, além de prescrever cremes específicos e técnicas da reflexologia podal.
Era bom demais estar ali, vê-la embelezando os outros, dando forma nas cabeleiras, escarnando unhas para torná-las vistosas, modelando rostos em maquiagens finas, tudo muito bem feito como ela mesma era, de muito bom gosto. Para evitar o olhar à sua presença, cada vez que ela via-me a conferir-lhe as formas, tirava a vista rapidamente percebendo na parede uma reprodução de Jane Avril Dansant de Toulouse-Lautrec. Ao lado uma foto reproduzindo a praia de Boa Viagem, do Recife, numa frevança solta. Outra de um boto branco da Amazônia. Mais abaixo uma televisão e um vídeo desligados, num rack que exibia um aparelho de som de onde se ouvia canções de Marina, de Adriana Calcanhoto, de Fátima Guedes, de Gal Costa, de Joyce, de Elis, de Maysa, de Maria Betania, distribuídas em long plays enfileirados.
Vez por outra suspendia o trabalho para dirigir-se a uma bombonierezinha vitral de onde recolhia um bombom de chocolate. Ah! Aquela pele de caju, da cor do pendúculo sumarento do fruto de cajueiro. Eu ficava excitado com a sua presença.
Havia oito ou dez pessoas na minha frente, esqueci de contar. O que mais me importava era a sua figura altaneira. Sabia que ela se estabelecera há anos ali, já lhe vira várias e muitas vezes no cooper manhãzinha cedo pelas ruas. Eu morava nas imediações. Imaginava sua solidão, ninguém a dividir sua vida. Trabalhadeira, o dia inteiro no salão. Não lembro de tê-la visto assídua a efemérides, exceto uma vez encontrei sua exuberante figura num baile no centro social, numa dessas festas dos anos setenta. Ou mesmo no carnaval, quando solta, marcava o passo certo no calçamento, com uma blusinha de seda fina e de alça, mostrando-se os peitinhos miudinhos soltos na frevança, uma saínha curtinha rodada de ver-se a calcinha estufando seus guardados e uma sombrinha miúda em verde, vermelho, azul e amarelo, numa das mãos, a gestos largos, mexendo dum lado pro outro em plena folia. Era só tocar Vassourinhas, a famosa levanta-defunto, hino inconteste do carnaval, ou mesmo a Evocação do Nélson, ou sucessos do Capiba, ou qualquer outro frevo de rua, de vê-se a menina a volteios, pulos, capoeiras, a dar tesourões, serrotes, rojões, ponta de pé e calcanhar, folha seca, faz-que-vai-mas-não-vai, carrossel, tapiando a emoção da gente naqueles passos exímios da liberdade. Ela se perdia nos três dias anteriores ao início da quaresma, emendando quinta e sexta do pré-carnaval, indo direto pela terça-feira gorda, atravessando a quarta-feira de cinzas, atirando contra os outros água e pós, maizena, esguichando líquidos de uma bexiga improvisada, confetes, serpentinas e lança-perfume. No bloco do bairro todo ano ela saía de porta-bandeira, seminua, com uma coreografia de endoidar cristão, num bailado de reavivar esquife, pulando o sincopado e frenético som do frevo, passista da minha atenção que jurava, um dia, abatê-la, ela e sua máscara púnica usada para enganar os bestas. Um dia saía desfilando na Nação do Maracatu de Baque Virado das Caqueiras, venerando calunga, cantando loas para seus eguns no meio do batuque de gonguês, taróis, caixa e zabumbas. Ou, então, quando era dia dos Caboclinhos do Rabeca ao som dos pífanos, surdos, maracás, reco-recos e ganzás, ela vinha toda enfeitada com um saiote, cocar na cabeça e ataca nos punhos e tornozelos, todos de pena de pavão, um colar de dente de animal no pescoço e uma cabaça presa na cintura, um bustiê ornado com lantejoulas, o rosto pintado todo de vermelho e com purpurinas, a exibir sua preaca de guerreira curumim como toré ataque de guerra de toda pajelança. Afora o carnaval e aquele baile, vivia recôndita, guardada em seus mistérios.
Outra que eu já tinha ciência a seu respeito era a litispendência mantida por pendenga com o ex-marido na justiça. Soubera que fora uma separação dolorosa e que vivia dos alimentos judiciais.
Os clientes presentes, um a um e todos eram atendidos pela sua competência de manicure notória, já noitinha, - a noite bole com a alma - eu lá, embevecido testemunhando sua habilidade.
Aijuna! Que nome! Desde o baile que este nome preenchia totalmente a minha cabeça. O nome e aquele rostinho de Maria Callas quase balzaqueana. Era mais velha que eu, uns seis ou oito anos. Mas eu não podia me adiantar prás bandas dela porque eu ainda era adolescente, perto dos meus quinze ou dezesseis anos. Primeiro que eu não dispunha de recursos suficientes para emplacá-la, apenas uns trocados furtados do cinzeiro do automóvel do meu pai, que eu juntava na ânsia de poder pagá-la, querência impotente de um púbere que ansiava virar adulto logo, com responsabilidade, dinheiro, vitalidade, carro e muita simpatia para cima das mulheres.
- Querem beber alguma coisa? tem ali cerveja na freezer; vermute, gin, uísque, rum, tudo ali naquele barzinho embaixo do rack da tv. Tem gêlo no congelador, é só pegar quem quiser. Fiquem à vontade.
Aproveitei da ocasião, eu que já me inveterava na bebida desde que o Brasil ganhara pelo placar apertado de um a zero para a Inglaterra, na copa do mundo de setenta, fui até o barzinho, passei a vista, escolhi um uísque qualquer, apanhei o copo, coloquei uma dose dupla e tasquei caubói goela adentro. Queimou minhas entranhas. Recolhi-me no assento e folheei algumas revistas do momento, meio que desencontrado. Ela, vez por outra, me investigava as intenções. Eu sabia. Era trabalhando e, de vez em quando, seu olhar repousava no meu. Ficava eletrocutado, fugindo daquele flagra. Parece que ela simpatizara comigo, uma aventura intuitiva que dera, ao que parece, certo. Risonha, fazia tudo para me agradar. Aliás, agradava a todos, simpaticíssima, cordial. Não havia nenhum mimo exclusivo para mim, mas que eu achava, achava. Podia estar enganado, entretanto eu seguia aquela pontinha longínqua de cumplicidade. Eu já possuía quase a certeza de que lhe caíra nas graças, dando-me um alvoroço de sortudo, razão pela qual não arredara dali antes.
A noite seguia, restavam, ainda, duas ou três pessoas, eu lá, já quase nove horas da noite, insistente. Ela ofereceu coxinhas, pastéis, bombons. Mastiguei uns já que a fome me atormentava, tapiando a barriga. Eu queria mesmo era estar ali com ela, mais nada. Tomei outra dose do uísque, as orelhas esquentaram, o juízo produziu milhões de idéias sem nexo na cabeça, estava perdido, desencontrado e com medo que adivinhassem minha insegurança.
Dez e tanta da noite o penúltimo cliente já estava sendo atendido, eu esperava, irredutível.
- Não quer vir amanhã? -, perguntou-me.
- Não, tudo bem, eu espero, preciso cortar o cabelo, já estão pegando no meu pé em casa. -, respondi atônito.
- Tudo bem, já, já eu termino e lhe atendo, tá? Tome um uísquezinho, tem coxinha, pastéis, são tudo de hoje e ainda estão bons.
- Ok!
Tomei mais uma talagada boa, tonteei, ingeri um pastel de queijo e voltei a aboletar-me na poltrona de espera.
Alguns livros estavam acomodados numa pequena estante e fui até lá vê-los de perto: Clarice Lispector, Nélida Piñon, Vinícius de Morais, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Ascenso Ferreira, Hermilo Borba Filho, Luiz Berto, outros poetas, alguns que nunca vira o nome; uma coleção de educação sexual, outra de Érico Veríssimo igualzinha a que meu pai possuía na sua biblioteca particular. Eu já andava achegado a livros, havia lido alguns deles nas noites compridas da minha solidão. Lia mais por curiosidade porque achava estranho meu pai debruçado sobre eles. Desde que aprendera a ler que eu estreitara o convívio com os livros, principalmente os mais picantes que meu pai escondia por trás das fileiras ou as coleções de artes plásticas que continham reproduções de mulheres nuas. Já tinha lido até Marquês de Sade, Casanova, o Kama Sutra, a lenda de Don Juan de Marco, quanto mais a coleção de Jorge Amado que meu pai detestava.
Nisso ela me chamara, exausta. Quase onze horas da noite, não havia mais um pé de gente na rua. Ela largou as sandálias sobre o tapete e descalça veio à minha direção.
- Como é que você quer?
- Só arrumar o cabelo, não tenho preferência.
- Tudo bem.
Saiu na pontinha do pé pesunhando o assoalho. Ingeriu um copo d'água, depois um gole do uísque que eu bebera, bufou, buscou forças e veio até mim, alisando meus cabelos, lavando-os depois, passando shampoo, remexendo minha juba. A cada toque seu eu levava um choque ativando meus nervos, dinamizando minhas células, esquentando-me a alma. O meu membro acordou-se com a supercondutividade que aquele contato de prazer me assistia. Ela parou, olhou-me intrigada, sabia que o termômetro denunciaria que eu estava febril além dos quarenta e dois graus centígrados, pegando fogo.
- Você está se sentido bem? -, inquiriu-me.
- Bem demais. -, respondi-lhe com voz trêmula.
- Estou achando você muito tenso!
- E você acha que é pra menos?
- Por que?
Enrubesci mais. O que dizer agora? Ela deu-me um xeque mate. A febre era a volúpia louca. Eu escondia-lhe o meu ventre com as duas mãos, se descoberto veria que já estava babando. Fiquei calado, olhos baixos, sério. Ela tocou-me o braço, não sei como não foi carbonizada com a minha alta voltagem. Levantei a vista e ela, cabeça pendendo para o lado, interrogativa, paralisada, fitava-me atenta para descobrir-me intenções. Assustei-me, baixei a vista, o sangue parecia que ia estourar todas as veias de tão fervente. A testa suada, as mãos trêmulas.
- Você está se sentindo bem?
- Estou.
- Não é o que parece!
- Você está muito exausta?
- Estou cansadíssima.
- Quer que eu deixe para amanhã?
- Você que sabe!
- Eu vou-me embora!
- Não, fique, eu termino logo. É melhor, nunca deixo para amanhã o que posso fazer hoje.
Ainda bem que ela pediu-me para ficar, eu não poderia me levantar naquele estado. Foi aí, meu deus, que ela jogou a cabeça para trás, respirou fundo e, novamente, colocou sua mão sobre o meu braço, fitando-me implacavelmente. A frigideira do meu corpo estalou de fervura. Uma corrente elétrica aos saltos quânticos dos eletróns, numa radiação além da freqüência possível, percorreu todas as minhas proporções, ativando meus nervos à exaustão. Estava a ponto de uma combustão. Ela notou que eu segurava à força meu pênis. Foi aí que se afastou até a porta, examinando lá fora a noite, encostando o postigo e, se dirigindo ao interruptor, apagando a luz. Tremi mais. Percebi-lhe a presença pela respiração perto da minha nuca, quase encostando o nariz. Era um estratagema. Que fazer, meu Deus? Girou a minha volta, perscrutou todos os meus sentidos, diligenciou-me louco cheio de fantasmas luxuriosos acercando-se da minha presença, mil loucuras na cabeça e um rol de giros imperceptíveis de coisas invisíveis a me atormentar naquele instante frenético. Sabia eu lá de nada, não conseguia pensar, sequer. Ela escorregou sua mão sedosa pelo meu braço até as mãos. Aquele toque mágico de inebriar estadia imutável. Apertou meus dedos e a mão dela nas minhas, com a pontinha de um de seus dedos friccionando o rego entre os meus dedos, a minha glande rija no contato, tremulando de emoção. Percebeu naquele movimento a rigidez oriunda do meu excessivo dilatar e depois colocou o polegar entre a palma da minha mão e meu bastão ululante. Respirei fundo enquanto ela encostava seus lábios nos meus, rente aos meus captando o eflúvio de sua pele, aquela pele de terra fértil. Era a empáfia de uma naja lúbrica se transformando em minha frente, descrevendo órbitas manuais de um cometa inatingível em meu sexo, carinho excêntrico na minha puberdade. Era a minha condecoração. Beijei-lhe timidamente. Era o vácuo, o precipício, o caos. Eu usurpava o tempo, rompia convenções, liberto no meio do abstrato dédalo sideral. Encorajado pelo fervor fui buscar na sua abóbada palatina as estrelas do querer ardente chantageando meus sentidos cauterizados pelo fogo abrasador do seu aflogístico.
No afã da captura deu sua investida pelo impulso, agora com as duas mãos segurando minha lança, a ponto de estrangulá-la. Eu desfalecia de volúpia. Lambeu devagar os meus lábios, percorreu meu pescoço, roçou-me o tronco torácico, o umbigo e com a ponta de sua língua assassina, rolou um bailado de cores inominadas na minha glande. Eu arfava. Ela, magistralmente sugava, lambia, abocanhava, estourando-me o frenesi. Devagarzinho e sob efeito cáustico, ela foi lambendo minha virilha, minhas coxas, meu ventre, meu tórax, minha jugular até encontrar meus lábios sedentos. Puxou-me lentamente da cadeira e levou-me até a alcatifa onde rolamos pelo apogeu desordenado de vales, abismos, ribanceiras, alfombra, baixelas, vazantes, redemoinhos pélvicos, a pirotecnia dos desejos estouvados, tostando os seres em dia em que os diabos se soltam, conduzindo o gozo, o êxtase. Deliberadamente apalpei-lhe os flancos dissolutos, arranquei-lhe as vestes, alcancei seu tesouro, me apoderei de sua presa, sua peçonha e investi diligente e insano sua gruta adentro, numa investida bruta. Senti-lhe as profundezas, suas latitudes, suas variações altimétricas, a sua fossa Mariana, a curva hipsográfica do seu corpo e a sua corrente de convecção no nosso abalo sísmico do prazer. E ela uivando esganiçada, possuída, exalando seu cheiro doce de incenso, ah! Flor de açafrão, que se contorcia mágica, flor do meu prazer, esporrando violentamente. Sôfrega, buscou todo oxigênio do ambiente para se refazer daquela entrega mágica. Resfolegava. Eu arriado sobre o seu tegumento. Que iniciação! Exauridos, adormecemos.
O raio de sol pela fresta da janela me trouxe de volta. Ela estava sentada no chão, encostada na parede com uma carinha n'água dum regozijo visível, lambendo os dedos, prolongando a delícia do derradeiro vestígio naquela aventura tresloucada. Não aliviava os olhos pidões me comendo, debochada, e eu alardeando vitória com o sabor na boca de calda doce de amora.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Rol da Paixão, um livro inédito.

Veja mais Crônica de amor por ela.

segunda-feira, outubro 01, 2007



"Eu bem que podia passar sem o teu rosto, sem teu pescoço, tuas pernas, tuas mãos, sem tuas nádegas, teus seios, tuas ancas, e, para não me fatigar enumerando, bem podia passar sem ti, Cloé, inteira" (Marcial, poeta epigramático latino Marcus Valerius Martialis, Livro III, epigrama 53, tradução de José Paulo Paes).

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