terça-feira, julho 27, 2010

A SERPENTE DE NELSON RODRIGUES




Imagem: The Family, 1917, do pintor do Expressionismo austríaco Egon Schiele (1890-1918)

A SERPENTE DE NELSON RODRIGUES


[...]

Décio – Não me provoque, Ligia!

Lígia – Acho gozadíssima sua insolência. Não se esqueça que nós estamos casados há um ano e que você.

Décio – Pára!

Ligia – Me procurou só três vezes. Ou não é?

Décio – Continua e espera o resto.

Ligia – Tres vezes você tentou o ato, o famoso ato. Sem consegui, ou minto?

(Décio avança para a mulher. Segura Ligia pelo pulso)

Décio – Cala essa boca.

Ligia (com esgar de choro) – Não, não!

Décio – Você não me conhece! Quietinha! Você me viu chorando a minha impotência. Mas eu sou também o homem que mata. Queres morrer? Agora?

(Décio esbofeteia)

Ligia (com voz estrangulada) – Não!

Décio – Olha pra mim, anda, olha!

(Pausa. Ligia olha)

Décio – Diz agora que és puta. Diz, que eu quero ouvir.

Ligia (lenta) – Sou uma prostituta.

Décio (trincando as palavras) – Eu não disse prostituta. Eu quero puta.

Ligia (soluçando) – Vou dizer. Sou uma puta.

(Décio solta)

Décio – Agora olha para mim e presta atenção. Se você fizer um comentário sobre a nossa intimidade sexual, seja com quem for. Teu pai, essa cretina da Guida, uma amiga, ou coisa que o valha, venho aqui e te dou seis tiros. E quando estiveres no chão, morta, ainda te piso a cara e ninguém reconhecerá a cara que eu pisei.

(Décio a esbofeteia. Ligia cai de joelhos com um fundo soluço. Décio apanha a mala).

Décio (num gesto largo) – Vai-te pra puta que te pariu!

(Décio sai).

FONTE:
RODRIGUES, Nelson. A serpente. In: Teatro completo de Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.

NELSON RODRIGUES: TEATRO COMPLETO – TRAGÉDIAS CARIOCAS II – Volume reunindo a obra de Nelson Rodrigues com diversos textos, entre eles, Toda nudez será castigada, A serpente, Otto Lara Resende ou Bonitinha mas ordinárias, O beijo no asfalto, Por que Otto Lara Resende, A cirandinha de Nelson por Ziembinski, Concepção geral do espetáculo de José Antonio Teodoro, Peça de Nelson no TBC de Décio de Almeida Prado, Toda Nudez será castigada de José Lino Grunewald, Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária de Hélio Pellegrini, O adeus de Nelson de Francisco Pedro de Coutto, Nelson nunca foi um intelectual de Paulo Francis, O coração imenso de um individualista de Oswaldo Peralva, Nelson de Carlos Heitor Cony, Caminhos e descaminhos de Tristão de Athayde, Toda Nudez será castigada de Adriano Garib, Sobre a Tragédia de Antonio Guedes, A serpente de Antonio Abujamra, O beijo no asfalto de Giano Ratto, A obra e o beijo no asfalto de Helio Pellegrino e O beijo no asfalto de Walmir Ayala.

NELSON RODRIGUES – O dramaturgo, jornalista e escritor Nelson Falcão Rodrigues nasceu em Recife (1912-1980) e escreveu dezessete peças teatrais. Sua edição completa abrange quatro volumes, divididos segundo critérios do crítico Sábato Magaldi, que agrupou as obras de acordo com suas características, dividindo-as em três grupos: Peças psicológicas, Peças míticas e Tragédias cariocas.

Confira mais:
a prévia de lançamento do DVD de Nitolino no Reino Encantado de todas as coisas
a encheção das eleições vindouras
TODO DIA É DIA DA MULHER
CRENÇA: PELO DIREITO DE VIVER E DEIXAR VIVER
MANUAL TCC/MONOGRAFIA
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: CANÇÕES DE AMOR POR ELA
AGENDA


Visit TATARITARITATÁ

segunda-feira, julho 26, 2010

HELEIETH I. B. SAFFIOTI: O PODER DO MACHO




Imagem: Venus, Mars and Cupid , 1633, do pintor do Barro Italiano Guercino (Giovanni Francesco Barbieri - 1591-1666).

HELEIETH I. B. SAFFIOTI: O PODER DO MACHO

“Presume-se que, originalmente, o homem tenha dominado a mulher pela força física. [...] Rigorosamente, portanto, a menor força física da mulher em relação ao homem não deveria ser motivo de discriminação. [...] A força desta ideologia da inferioridade da mulher é tão grande que até as mulheres que trabalham na enxada, apresentando maior produtividade que os homens, admitem sua fraqueza. Estão de tal maneira imbuídas desta idéia de sua inferioridade, que se assumem como seres inferiores aos homens”.

“Do ponto de vista biológico, o organismo feminino é muito mais diferenciado que o masculino, estando já provada sua maior resistência. Tanto assim é que as mulheres, estatisticamente falando, vivem mais que os homens”.

“Do exposto pode-se facilmente concluir que a inferioridade feminina é exclusivamente social”.

“[...] Ter na companheira uma serviçal, sempre disposta a preparar-lhe as refeições, a lavar-lhe e passar-lhe as roupas, a buscar-lhe os chinelos, impede a troca, a reciprocidade. E é exatamente no dar e receber simultâneos que reside o prazer. As relações homem-mulher, na medida em que estão permeadas pelo poder do macho, negam enfaticamente o prazer. Esta negação do prazer, embora atinja mais profundamente a mulher, não deixa de afetar o homem. É necessário atentar para este fenômeno se, de fato, se deseja mudar a sociedade em uma direção que inclua melhores condições de realização tanto de homens quanto de mulheres”.

“[...] A mulher encarna ou a figura da dona-de-casa, fazendo publicidade de produtos de limpeza, alimentos, adornos, ou a figura da mulher objeto sexual, anunciando perfumes, roupas e jóias destinados a excitar os homens. Em qualquer dos casos – o da dona-de-casa e o da mulher objeto sexual – a mulher está obedecendo aos padrões estabelecidos pela sociedade brasileira. Ela pode ser a esposa legal, a namorada oficial, ou pode ser a outra, aquela que proporciona prazer ao homem, mas a quem é negado o direito de ser a mãe dos filhos deste homem [...] a mulher é sempre escolhida, não escolhe”.

“[...] a mulher é, muito mais que o homem, socializada para encarnar o papel de vítima. Este componente masoquista da educação feminina castra, pela base, as possibilidade de a mulher sentir prazer”

“Quando a maioria dos homens, que sofrem a dominação da minoria poderosa, descobrir que seus privilégios significam também limitações, constrangimentos, falta de liberdade, estará pronta a perceber como sociais os processos que lhe pareciam naturais. Tendo compreendido o processo social de construção da mulher e do negro enquanto categorias sociais discriminadas, a pessoa estará apta a desmistificar, a desmascarar a naturalização da inferioridade daqueles contingentes humanos. Se as discriminações são construções sociais, não fazem parte intrínseca da mulher e do negro. Se foram socialmente construídas, podem ser, também, socialmente destruídas, com vistas à instauração da verdadeira democracia. E esta constitui uma tarefa sobretudo de jovens, ainda que os mais velhos possam colaborar”.

FONTE:
SAFFIOTI, Heleieth. O poder do macho. São Paulo: Moderna, 1987.

HELEIETH SAFFIOTI – A professora, pesquisadora, Heleieth Saffioti é formada em Ciencias Sociais e Direito. É professora aposentada da UNESP e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP. Foi das primeiras feministas brasileiras a publicar livros e artigos sobre a condição das mulheres e seu nome é em si uma referência para a história do feminismo brasileiro.

Confira mais:
a prévia de lançamento do DVD de Nitolino no Reino Encantado de todas as coisas
a encheção das eleições vindouras
TODO DIA É DIA DA MULHER
CRENÇA: PELO DIREITO DE VIVER E DEIXAR VIVER
MANUAL TCC/MONOGRAFIA
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: CANÇÕES DE AMOR POR ELA
AGENDA


Visit TATARITARITATÁ

sábado, julho 24, 2010

MULHERES: O GÊNERO NOS UNE, A CLASSE NOS DIVIDE




Imagem: The Little Fur (Helen Fourment), c.1638, do pintor do Barroco Flamengo Peter Paul Rubens (1577-1640)

MULHERES: O GÊNERO NOS UNE, A CLASSE NOS DIVIDE

Cecilia Toledo

“[...] A mulher nasce e é educada para ser oprimida, para saber o seu lugar no mundo, que é sempre, em qualquer âmbito, um lugar subalterno. É configurada para aceitar essa condição como se fosse algo natural e, ainda por cima, com um sorriso nos lábios, contido, claro. Essa idéia, que a imensa maioria das mulheres introjeta sem qualquer tipo de questionamento, assenta-se na função maternal da mulher para justificar uma desigualdade entre os sexos e uma posição degradante que elas vêm suportando, com maior ou menor intensidade, desde o surgimento de formas mais ou menos estruturais de explorações entre os seres humanos. Desde os pensadores clássicos até as concepções vigentes hoje, é praticamente unanime a concepção de que a natureza das mulheres (sua suposta emotividade e falta de racionalismo; sua suposta dependência biológica da maternidade; sua suposta fragilidade) as torna imprestáveis para a vida pública. Por isso a história da mulher é uma histórica de aprisionamento na esfera domestica e tudo o que se relaciona a ela está praticamente excluído dos conceitos e categorias políticas gerais. Cada uma à sua maneira, todas as instituições sociais reproduzem essa idéia. A escola, a religião, o Estado, a maioria dos partidos políticos e, sobretudo, a mídia. Mesmo quando tratam de convencer de que isso são águas passadas, de que hoje as mulheres estão emancipadas, contribuem para difundir a ideologia dominante”.

“[...] conforme o capitalismo avança, a condição da mulher se agrava, e aquelas que conseguem vencer são cada vez em número mais reduzido diante das milhares e milhares que vivem uma situação degradante, marginalizadas do processo produtivo da sociedade, oprimidas pelo medo, pela miséria e pela violência, sobretudo nos países pobres da Ásia, da África, da America Latina e nos países islâmico”

“[...] As grandes lutas femininas não alcançaram seu objetivo. Conquistaram apenas reformas, que tampouco são perenes. Essa é uma verdade dura, mas temos de encará-la. A situação da mulher não vem dando mostras de melhorias, mas de agravamento em ritmo acelerado, apesar de toda a modernidade e das altas tecnologias”.

“A origem da opressão da mulher está, portanto, ligada às transformações ocorridas nas relações humanas desde as primeiras sociedades que se conhece. As descobertas antropológicas permitem afirmar que a mulher não nasceu oprimida, mas passou a sê-lo devido a inúmeros fatores, dentre os quais os decisivos foram as relações econômicas, que depois determinaram toda a supreestrutura ideológica de sustentação dessa opressão: as crenças, os valores, os costumes, a cultura em gral. Em especial, a opressão da mulher está vinculada à existência da propriedade privada dos meios de produção e apenas poderá ser superada com uma mudança total na infra-estrutura das sociedades assentadas nesse tipo de relação”.

FONTE:
TOLEDO, Cecília. Mulheres: o gênero nos une, a classe nos divide. São Paulo: Sundermann, 2008.

CECILIA TOLEDO é jornalista e membro da Secretaria Nacional de Mulheres do PSTU (Brasil). Escreve para a revista Marxismo Vivo e há anos dedica-se a estudar e a militar sobre as causas das mulheres, sempre a partir de uma ótica socialista.

Confira mais:
a prévia de lançamento do DVD de Nitolino no Reino Encantado de todas as coisas
a encheção das eleições vindouras
TODO DIA É DIA DA MULHER
CRENÇA: PELO DIREITO DE VIVER E DEIXAR VIVER
MANUAL TCC/MONOGRAFIA
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: CANÇÕES DE AMOR POR ELA
AGENDA


Visit TATARITARITATÁ

sexta-feira, julho 23, 2010

ENGELS




Imagem: Study of Leda and the Swan , 1504, do pintor, escultor e arquiteto da Alta Renascença italiana, Leonardo da Vinci (1452-1519).


A MULHER DE ENGELS

“[...] O que é para mulher um crime com graves conseqüências legais e sociais, é considerado pelo homem como uma honra, ou, ainda pior, como uma leve mácula moral que se carrega com prazer”.

“[...] A reversão do direito materno foi a grande derrota histórica do sexo feminino. O homem passou a governar também na casa, a mulher foi degradada, escravizada, tornou-se escrava do prazer do homem, e um simples instrumento de reprodução. Essa condição humilhante para a mulher, tal qual como aparece, notadamente, entre os gregos dos tempos heróicos, e mais ainda dos tempos clássicos, foi gradualmente camuflada e dissimulada, e também, em certos lugares, revestida de formas mais amenas, mas não foi absolutamente suprimida”.

“[...] nos tempos heróicos, encontramos a mulher já humilhada pela predominância do homem e pela concorrência dos escravos”.

“[...] O heterismo é uma instituição social como outra qualquer; mantém a antiga liberdade sexual com lucro para os homens. Não apenas tolerado como fato, mas praticado comumente, sobretudo pelas classes dirigentes, é condenado por palavras. Mas, na realidade, essa condenação não atinge de nenhuma maneira os homens que nela tomam parte, mas apenas as mulheres: a estas, despreza-se e repudia-se para proclamar assim uma vez mais, como lei fundamental da sociedade, a supremacia absoluta do homem sobre o sexo feminino”.

(Friedrich Engels)

FONTE:
ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 1995.

Confira mais:
a prévia de lançamento do DVD de Nitolino no Reino Encantado de todas as coisas
a encheção das eleições vindouras
TODO DIA É DIA DA MULHER
CRENÇA: PELO DIREITO DE VIVER E DEIXAR VIVER
MANUAL TCC/MONOGRAFIA
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: CANÇÕES DE AMOR POR ELA
AGENDA


Visit TATARITARITATÁ

terça-feira, julho 20, 2010

SALETE MARIA



O CASO 'ELIZA SAMUDIO E O MACHISMO TOTAL


Salete Maria


O caso Eliza Samudio
Que tem chocado o Brasil
Emerge como prelúdio
De um grande desafio:
Exortar nossa Justiça
Pra deixar de ser omissa
Ante o machismo tão vil!

Trata-se de um momento
De grande reflexão
Pois não basta só lamento
Ou alguma oração
É hora de provocar
Propondo um outro olhar
Sobre processo e ação

Saiu na televisão
Rádio, internet e jornal
Notícia em primeira mão
Toda manchete é igual:
Ex-amante de goleiro
(Aquele cheio de dinheiro!)
Sumiu sem deixar sinal

Muita especulação
- discurso de autoridade-
Uns dizem que é armação
Outros dizem que é verdade
Polícia e delegacia
Justiça e promotoria:
Fogueira de vaidades!

Mei-mundo de advogados
Investigação global
Cada um no seu quadrado
Falando em todo canal
Subjacente a tudo
Um peixe muito graúdo:
Androcentrismo total!

A mídia fala em Bruno
Eliza e gravidez
Flamengo, orgia e fumo
-esta é a bola da vez!-
Tem muito 'especialista'
Em busca de alguma pista
Pra ser o herói do mês

E a história se repetindo
Mudando apenas o nome
Outra mulher sucumbindo
Sob ameaça dum homem
Uma vida abreviada
Cuja morte anunciada
A estatística consome

Assim é a violência
Lançada sobre a mulher
Ela pede providência
E cara faz o que quer
Mas a Justiça, que é lerda,
Machista, 'fazendo merda'
Vem com papo de Mané

E oito meses depois
Da 'denúncia' inicial
Que é o feijão com arroz
Do distinto tribunal
Nadica de nada existe
Mas autoridade insiste
Que isto, sim, é normal:

“A culpa é do Instituto
Que não mandou o exame”
- isto soa como insulto
e daqueles mais infame-
Não era caso de urgência?
-tenha santa paciência!-
Para que serve um ditame?

A moça buscou amparo
Na Justiça do país
Agiu correto, é claro
E esperou do juiz
O tal reconhecimento
Sobre o pai do seu rebento
Tendo a vida por um triz

Também fez comunicado
Ao campo policial
Dizendo que o namorado
Praticou crimes e tal
Buscou as vias legais
Enfrentou feras reais
Terá sido este o seu mal?

Mesmo com a delegacia
Dita especializada
E com toda a apologia
De uma Lei avançada
Faltou ter a ruptura
Com aquela velha cultura
De que a mulher é culpada

E o cumprimento legal
No caso, muito importante
Seria mais um arsenal
Para enfrentar o gigante
Mudar a mentalidade
De nossas autoridades
É fator preponderante

E para que isto ocorra
Entre outra alternativa
Antes que mais uma morra
E o caso fique à deriva
É preciso compreender
Que Justiça é pra fazer
Enquanto a mulher tá viva!

Sei que nada justifica
Que haja tanta demora
E enquanto o caso complica
A vítima 'já foi embora'
Sem medida protetiva!
Sequer prisão preventiva!
Quanta inoperância aflora!

Se o exame era necessário
À elucidação do crime
O Estado-perdulário
Neste campo fez regime
Ficando no empurra empurra
No velho: ''mulher é burra,
e joga no outro time”

Todo crime tem problemas
De toda diversidade
Assim como há esquemas
Também há dificuldades
Mas pra mim é evidente
Que o machismo presente
Premia a impunidade

Machismo compartilhado
Por gente de toda cor
Do goleiro ao empregado
Do primo ao executor
Autoridades também
Implicitamente têm
Um machismo inspirador

Cada 'doutor' se expressa
Centrado no garanhão
É o mote da conversa:
Fama, grana e traição
Ao se referir a ela
Falam da menina bela
Que fez filme de tesão

Falta a compreensão
Da questão relacional
Gênero, classe, profissão
Cor e status social
O processo é narrativa
Que emerge da saliva
Falocêntrica-legal

E ainda que alguns digam
“Oh, Eliza, coitadinha”
E suas doutrinas sigam
Desvendando pegadinhas
A escola dogmática
Do direito-matemática
Perpetua ladainhas

Processo judicial
Só serve para punir?
Havia tanto sinal...
Não dava pra prevenir?
E a tal ação civil?
Alimentos deferiu?
Para o bebê consumir?

É um momento de dor
Para a família dos dois
O caso é multifator
Não basta dar nome aos bois
A lógica policial
Cartesiana e formal
Festeja tudo depois

Por isso se faz urgente
Conjugar gênero e direito
Pois um trabalho decente
Que surta algum efeito
Não se limita a julgar
Mas também a estudar
O cerne do preconceito

Homens que matam mulheres
Em relações de poder
Isto tem se dado em série
Mas é preciso entender
Que subjaz ao evento
Um histórico comportamento
Que vai construindo o ser

A nossa sociedade
Apesar da evolução
Reproduz iniqüidade
E também muita opressão
Homem que bate em mulher
- E “ninguém mete a colher” –
Sempre foi uma 'lição'

Aprendida por goleiros
Delegados, professores
Motoristas, marceneiros
Pedreiros e promotores
Garçons e malabaristas
Médicos e taxistas
Juízes e adestradores

Por isto em nossos dias
De conquistas sociais
De novas filosofias
Direitos especiais
Não podemos aceitar
Justiça só pra apurar
Crimes tão excepcionais

Que a Justiça também
Sirva para (se) educar
Chega deste nhém-nhém-nhém
Deste eterno blá-blá-blá
A Lei Maria da Penha
Existe pra que não tenha
Tanta morte a lamentar!!!

SALETE MARIA – A cordelista, professora e advogada Salete Maria, reside entre Juazeiro do Norte-Ceará e Salvador-Bahia (Brasil). Atualmente, segundo ela própria, encontra-se em lugar incerto e não sabido, realizando pesquisas culturais e acadêmicas. Sua poesia é emancipatória e contra preconceitos. É membro-fundadora da Sociedade dos Cordelistas Mauditos(sic). É apologista do pluralismo cultural. Tem cordéis premiados pela Fundação Cultural do Estado da Bahia-FUNCEB, recitados pela poetisa Deth Haak, musicados pela cantora Socorro Lira, citados pelo jornalista Arnaldo Jabor, inspirados pelo cineasta Vagner Almeida e referenciados por diversos pesquisadores e amantes da literatura popular e da cultura oral, deste e de outros países. Seu trabalho é utilizado em cursos, palestras, debates. Suas temáticas são múltiplas, com destaque para as questões marginais e periféricas. Sua ênfase é nos direitos humanos, sobretudo de mulheres e homossexuais. Transita entre diversas linguagens, opera com signos variados e apresenta uma rima inventiva, irônica, dramático-cômica e, sobretudo, política e intertextual. Salete Maria é, principalmente, cordelírica total. E edita o extraordinário blog Cordelirando.

Confira mais:
a prévia de lançamento do DVD de Nitolino no Reino Encantado de todas as coisas
TODO DIA É DIA DA MULHER
CRENÇA: PELO DIREITO DE VIVER E DEIXAR VIVER
MANUAL TCC/MONOGRAFIA
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: CANÇÕES DE AMOR POR ELA
AGENDA


Visit TATARITARITATÁ

sexta-feira, julho 09, 2010

O QUE É VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER



O QUE É VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Maria Amélia de Almeida Teles & Mônica de Melo

A falta de políticas públicas e de vontade política das autoridades e poderes constituídos para impulsionar e destinar recursos para a promoção da mulher e da equidade de gênero impede o desenvolvimento de respostas globais às demandas das mulheres.

A negligência e o descaso são responsáveis por ceifar vidas de mulheres e torná-las mutiladas física e moralmente.

É preciso criar políticas de incentivo para o desenvolvimento de estratégias de reconhecimento da natureza complexa da violência contra a mulher, imbricada com as questões sociais e étnicas/raciais, para alcançar uma abordagem integral do fenômeno na aplicação de medidas resolutivas.

O poder público não pode separar medidas de atenção das medidas de prevenção sob pena de tornar mais onerosos e menos eficientes os serviços públicos.

É preciso reconhecer as diferenças individuais de comportamento e as necessidades particulares de todas as pessoas envolvidas nas relações de violência. Devem-se garantir ações diferenciadas.

As intervenções nas situações de violência de gênero devem ser efetivas para deter o mais rápido possível a agressão e reduzir ao máximo a exposição das pessoas afetadas a novas situações violentas.

Há necessidade de adoção de medidas de discriminação positiva ou ações afirmativas para promover condições e oportunidades de igualdade para as mulheres, considerando a diversidade econômica, cultural, social, ética/racial, etária e de orientação sexual.

Cabe ao Estado e à sociedade exigir que os agressores assumam a responsabilidade de suas ações e não permitam a transferência da culpa para outras pessoas, inclusive a agredida, nem a continuidade do emprego da violência.

O Estado deve ser obrigado a adotar uma ação direta contra os agressores, vitimas e demais envolvidos, e garantir capacitação permanente dos profissionais que lidam com a atenção às vitimas e aos agressores. Caso contrário, o desgaste emocional e profissional dessas pessoas compromete o acolhimento, o atendimento e todo trabalho de reparação dos danos morais e materiais e de proteção, banalizando as iniciativas políticas e a própria violência de gênero.

Por fim, é preciso reverter a perversa incoerência de gastos com a prevenção, punição e a erradicação da violência contra a mulher, que se encontram muito abaixo do que representa para o PIB nacional, que é da ordem 10% de seu total, requer que sejam repensadas urgentemente, as previsões de gastos para o seu combate e erradicação.

Não cabe justificar a ausência de políticas e serviços públicos com a rotineira expressão de falta de verbas.

De qualquer forma, direta ou indiretamente, a violência de gênero onera a economia do pais e empobrece a mulher.

É necessária e urgente a mobilização dos diferentes setores da sociedade e de todo o aparato do Estado para deter, prevenir e erradicar a violência de gênero por meio de ações e medidas articuladas e coordenadas, de maneira que somem e multipliquem os esforços de todas as iniciativas
”.

FONTE:
TELES, Maria Amelia de Almeida; MELO, Monica. O que é violência contra a mulher. São Paulo: Brasiliense, 2001.

MARIA AMELIA DE ALMEIDA TELES – Foi presa política em São Paulo de 1972-73, é militante feminista desde 1975, trabalhou no jornal Brasil Mulher e na coordenação dos três congressos paulistas de mulher. Desde 1981 atua na entidade feminista União de Mulheres de São Paulo. É autora do livro Breve História do Feminismo no Brasil.

MÔNICA MELO – É procuradora do estado de São Paulo, professora mestre de Direito Constitucional da PUC/SP e diretora do Instituto Brasileiro de Advocacia Pública. É autora do livro Mecanismos Constitucionais de Participação Popular: Plebiscito, Referendo e Iniciativa Popular.



Confira mais:
Nitolino no Reino Encantado de Todas as Coisas
a prévia de lançamento do DVD de Nitolino no Reino Encantado de todas as coisas
TODO DIA É DIA DA MULHER
CRENÇA: PELO DIREITO DE VIVER E DEIXAR VIVER
MANUAL TCC/MONOGRAFIA
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: CANÇÕES DE AMOR POR ELA
AGENDA


Visit TATARITARITATÁ