quarta-feira, dezembro 30, 2009

VERS&PROSA PARA A MENINA AZUL



Imagem: foto de Derinha Rocha.

ULTIMA CANÇÃO À FLOR DO ADEUS

O amor quando acontece a gente logo esquece que sofreu um dia...” (O amor quando acontece, de João Bosco & Abel Silva)

"[...] e o que é o amor, para mim que estou jurado a morrer de amor". (Meu bem-querer, Djavan)

"[...] amar é um deserto e seus temores [...] Vem me fazer feliz porque eu te amo..." (Oceano, Djavan)


Luiz Alberto Machado


O amor é como a lua: duas faces que se imantam no imprevisível.
Quando ela é visível, é vibrante em toda sua plenitude.
Quando ela é nova como o primeiro beijo, é inteira como os desejos mais intensos.
Quando ela é cheia, dá-se inteira como quem vai às cegas para as circunstâncias.
Quando ela é crescente, é metade promissora que dói fingir que nada sente.
Quando ela é minguante, é como um pedaço que se esvai jogado ao nada.

Do outro lado, é escura que oculta o que há de mais belo quando não se cobre de noite para nunca mais. E ela jamais ponderou do meu amor, jamais sacou as juras mais arraigadas que de mim entoava em canção de flor ignorada.

Assim é o amor: como um rio excitante na nascente e que me banha caudaloso nas profundas correntes, integral indecente na entrega do mar.
E é como o vento que leva solto o ar da vida pela brisa de todos os modos de embalar.
É como o dia que nasce brando e espetacular para espantar meus olhos que crescem fortes, iluminando tudo no meio do meio dia e que cede enfim para se render na escuridão.
É como o fanatismo de quem professa o credo mais ardente.
É como a embriaguês do vinho, total, desmedida e despudoradamente.
E leva a palpitações infindas quando vem com o caos da emergência, com o teor da premência, com a sede da urgência.

É no amor que se aquece a aura e se padece de sofreguidão. Principalmente quando a paciência é pouca, a compreensão inexiste, ou quando não quer o que a gente quer dar. E eu me dei, corpo, alma, promessas verdadeiras de amor.

E eu dei até o que não tinha e pude dar porque era tudo dela como a vida é pro vivo.

Fica a decepção do insuficiente quando tudo já era totalmente incontido. Nada, mero olvidar na janela do ouvido. É isso. Mesmo eu gritando e me esboroando que era dela como a sede pra bebida, como o olho é pro olhar, como uma fera que se quer devorar, como cada um é pra somar e a tudo se duplicar milhões de vezes mais e maior que a própria necessidade.

E nela eu fui com toda a gula do faminto, porque ela era o paraíso de Shangri-lá, onde aprendi o bê-a-bá e toda ela tive como o direito que é justo se pleitear, como a fonte que é pra jorrar, como o gol do jogador, com todo fôlego dos náufragos por todos os seus degraus.

Dei pra ela minha vida com toda a especialidade do exclusivo e nela fiz meu rincão, meu regaço de veneração, meu poço de arrebatamento.

Ela se fez meu cordão de isolamento, meu refugio, minha possessão. E se fez o meu plano de vôo e minha aterrissagem. Minha embarcação, minha atracagem. Meu caminho e condução.

Ela se fez minha diáspora, meu exílio, a maior cantiga do meu idílio e me embalou por todos os redemoinhos da paixão quando eu tinha todas as bandeiras da exploração, todas as estratégias de guerra, todas as crenças de veneração.

E com todos os mergulhos do acasalamento, todas as maneiras de copular, eu invadi seu corpo e sua alma por todas as minas inexploradas, todas as veredas intransitáveis.

Todas as distâncias siderais, todas as condições inaceitáveis.

Todas as profundezas inacessíveis, todos os flagrantes indefensáveis.

Todas as querências inauditas, todos os limites inalcançáveis.

Todas as divisas indivisíveis, todos os segredos irreveláveis.

Todas as reentrâncias inatingíveis, todas as fontes inesgotáveis.

Todas as poses irresistíveis, todas as juras inventáveis.

Todos os devaneios comestíveis, todas as funduras insondáveis.

Todos os gestos imperceptíveis, todas as graças inenarráveis.

Todos os fervores inconsumíveis, todos os pecados irresponsáveis.

Todos os abraços intraduzíveis, todos os afetos incontroláveis.

Todas as fraquezas possíveis, todas as entregas intermináveis.

Todos os agarramentos impossíveis, todas as cobiças inadiáveis.

Todos os êxtases irredutíveis, todas as volúpias insaciáveis.

Todas as trelas possíveis, todos os gozos incansáveis.

De mim, de nós dois, sobrou mais nada. Ficou a indiferença, a intolerância, a incompreensão, a impaciência que fez virar o amor dela em ódio, o que é muito lamentável, uma decepção. Perdemos todas as batalhas e dela só o gesto da navalha no ar. É só e mais nada. O pior é não ter pra onde ir. E o melhor é não poder deixar na carne nua dela um beijo de adeus e de feliz ano novo.

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segunda-feira, dezembro 21, 2009

MAX WEBER



Imagem: Venus at her Mirror, 1613-15 do pintor do Barroco Flamengo, Peter Paul Rubens (1577-1640).

A ESFERA ERÓTICA DE MAX WEBER


A ética fraternal da religião de salvação está em tensão profunda com a maior força irracional da vida: o amor sexual. Quanto mais sublimada é a sexualidade, e quanto mais baseada em principio, e coerente, é a ética de salvação da fraternidade, tanto mais aguda a tensão entre o sexo e a religião.

Originalmente, a relação entre o sexo e a religião foi muito íntima. As relações sexuais faziam, frequentemente, parte do orgiasticismo mágico ou eram resultado não-intencional da excitação orgiástica. A base da seita dos skoptsy (castradores) na Rússia, evoluiu de uma tentativa de eliminar o resultado sexual da dança orgiástica (radjeny) do Chlyst, considerada como pecaminosa. A prostituição sagrada nada tinha que ver com uma suposta promiscuidade primitiva; foi, habitualmente, a sobrevivência do orgiasticismo mágico no qual todo êxtase era considerado sagrado. E a prostituição profana heterossexual, bem como homossexual, é muito antiga e, com freqüência, bastante sofisticada. (O treinamento das tríabes ocorre entre os chamados aborígenes).

A transição dessa prostituição para o matrimonio legalmente constituído está cheia de todos os tipos de formas intermediarias. Concepções do matrimonio como uma disposição econômica para garantir a segurança da esposa e a herança legal para o filho; como uma instituição importante (devido aos sacrifícios mortais dos descendentes) na vida no além; e tão importantes para a procriação – essas concepções do casamento são pré-proféticas e universais. Nada tem, portanto, com o ascetismo em si. E a vida sexual, per se, teve seus fantasmas e seus deuses como qualquer outra função.

Uma certa tensão entre a religião e o sexo só se destacou com o culto temporário da castidade dos sacerdotes. Essa castidade bastante antiga nem pode ter sido determinada pelo fato de que, do ponto de vista do ritual vigorosamente padronizado do culto da comunidade, a sexualidade era facilmente considerada como especificamente dominada pelos demônios. Além disso, não era por acaso que subsequentemente as religiões proféticas, bem como as ordens de vida controladas pelos sacerdotes, regulamentavam, quase sem exceção importante, as relações sexuais em favor do matrimonio. O contraste de toda regulamentação racional da vida com o orgiasticismo mágico e todos os tipos de frenesis irracionais se expressa nesse fato.

A tensão entre religião e sexo foi aumentada pelos fatores evolucionários, de ambos os lados. No lado da sexualidade, a tensão levou da sublimação ao erotismo, e com isso a uma esfera cultivada conscientemente e, portanto, não rotinizada. O sexo foi não-rotinizado não só, ou necessariamente, no sentido de ser estranho às convenções, pois o erotismo contrasta com o naturalismo sóbrio do camponês. E foi precisamente o erotismo que as convenções da Cavalaria habitualmente tomavam como objeto de sua regulamentação. Essas convenções, porém, regulamentaram caracteristicamente o erotismo, disfarçando as bases naturais e orgânicas da sexualidade.

A qualidade extraordinária do erotismo consistiu precisamente num afastamento gradual do naturalismo ingênuo do sexo. A razão e significação dessa evolução, porem, envolvem a racionalização universal e a intelectualização da cultura. Desejamos, delinear, brevemente, as fases dessa evolução. Partiremos de exemplos do Ocidente.

O ser total do homem está, agora, alienado do ciclo orgânico da vida camponesa; a vida se tem enriquecido cada vez mais em seu conteúdo cultural, seja esse conteúdo avaliado intelectualmente, ou de forma supra-individual. Tudo isso se operou, através do estrangulamento do valor da vida, em relação ao que é simplesmente dado, no sentido de um maior fortalecimento da posição especial do erotismo. Este foi elevado à esfera do gozo consciente (no sentido mais sublime da expressão). Não obstante, e na verdade devido a essa elevação, ele parecia uma abertura para a essencia mais irracional, e portanto mais real, da vida, em comparação com os mecanismos da racionalização. O grau e a forma pela qual uma ênfase de valor é colocada no erotismo, como tal, variaram enormemente por toda história.

Para os sentimentos incontidos dos guerreiros, a posse das mulheres e a luta por elas tiveram o mesmo valor que a luta pelos tesouros e conquista do poder. Na época do helenismo pré-classico, no período do romance cavalheiresco, uma decepção erótica podia ser considerada por Arquíloco como uma experiência significativa, de relevância duradoura, e a captura de uma mulher podia ser considerada como um incidente incomparável numa guerra heróica.

Os tragediógrafos conheciam o amor sexual como um poder autentico do destino, e seu repertório incluía ecos duradouros dos mitos. Uma mulher, porem – Safo -, não foi igualada pelo homem na capacidade de sentimento erótico. O período helênico clássico, o período do exercito dos hoplitas, concebia as questões eróticas de uma forma relativa e excepcionalmente sóbria. Como o provam todas as suas confissões, esses homens foram ainda mais sóbrios do que a camada educada dos chineses. Não obstante, não é exato que esse período não conhecesse a ansiedade mortal do amor sexual. O amor helênico caracterizou-se exatamente pelo oposto. Devemos lembrar-nos – apesar de Aspásia – do discurso de Péricles e finalmente da conhecida oração de Demostenes.

Para o caráter exclusivamente masculino dessa época de democracia, o tratamento da experiência erótica com mulheres como destino da vida – para usar nosso vocabulário – teria parecido quase que ingênuo e sentimental. O camarada, o rapaz, era o objeto exigido com toda a cerimônia do amor, e este fato ocupava precisamente o centro da cultura helênica. Assim, com toda a sua magnificência, o Eros de Platão é, não obstante, um sentimento muito controlado. A beleza da paixão baquica não era um componente oficial dessa relação.

A possibilidade de problemas e de tragédia tendo por base um principio surgiu na esfera erótica, a principio, através de algumas exigências de responsabilidade que, no Ocidente, nascem do cristianismo. A conotação de valor da sensação erótica, como tal, evoluiu porem primordialmente e antes de tudo o mais sob o condicionamento cultural das noções feudais de honra. Isto aconteceu pela transferência dos símbolos da vassalagem cavalheiresca na relação sexual eroticamente sublimada. O erotismo recebeu uma conotação de valor mais frequentemente quando, durante a fusão da vassalagem e das relações eróticas, ocorreu uma combinação com a religiosidade cripto-erótica, ou diretamente com o ascetismo como durante a Idade Média. O Amro dos trovadores da Idade Media cristã foi um serviço erótico dos vassalos. Não se dirigia às moças, mas exclusivamente às mulheres dos outros homens; envolvia (teoricamente!) noites de amor abstemias e um código de deveres casuísta. Com isso começou a provação do homem, não perante seus pares, mas frente ao interesse erótico da dama.

A concepção de dama foi constituída exclusiva e precisamente em virtude da sua função de julgar. A masculinidade do helenismo contrasta claramente com essa relação entre o vassalo e a dama.

O caráter especificamente sensacional do erotismo desenvolveu-se ainda mais com a transição das convenções da Renascença para o intelectualismo crescentemente nã0-militar da cultura dos salões. Apesar das grandes diferenças entre as convenções da Antiguidade e da Renascença, estas últimas eram essencialmente masculinas e de luta; sob esse aspecto, aproximavam-se muito da Antiguidade. Isso se deve ao fato de que, à época de Cartegiano e de Shakespeare, as convenções renascentistas haviam acabado com a castidade dos cavaleiros cristãos.

A cultura dos salões baseia-se na convicção de que a conversação intersexual é importante como força criadora. A sensação erótica, clara ou latente, e a comprovação do cavalheiro frente aos olhos da dama, tornaram-se meio indispensável de estimular essa conversação. Desde as Lettres Portugaises, os problemas amorosos das mulheres tornaram-se um valor de mercado intelectual e especifico, e a correspondência amorosa feminina tornou-se literatura.

A ultima intensificação da esfera erótica ocorreu, em termo das culturas intelectualistas, quando essa esfera colidiu com o traço inevitavelmente ascetico do homem especialista vocacional. Sob esta tensão entre a esfera erótica e a vida cotidiana racional, a vida sexual especificamente extraconjugal, que havia sido afastada das coisas cotidianas, pode surgir como o único laço que ainda ligava o homem à fonte natural de toda vida. O homem emancipara-se totalmente do ciclo da velha existência simples e orgânica do camponês.

Uma tremenda ênfase de valor sobre a sensação especifica de uma avaliação interior em relação à racionalização foi o resultado disso. Uma alegre vitoria sobre a racionalidade correspondeu, em seu radicalismo, à rejeição inevitável, igualmente radical, de uma ética de qualquer tipo de salvação no outro mundo, ou supramundana. Para essa ética, a vitoria do espírito sobre o corpo deveria encontrar seu clímax precisamente aqui, e a vida sexual poderia até mesmo adquirir o caráter de ligação única e necessária com a animalidade. Mas essa tensão entre uma salvação da racionalidade que se voltava para o mundo interior e a que se voltava para o mundo exterior será mais aguda e mais inevitável precisamente onde a esfera sexual é sistematicamente preparada para uma sensação erótica muito valorizada. Essa sensação reinterpreta e glorifica toda a animalidade pura da relação, ao passo que a religião salvadora adquire o caráter de uma religião do amor, fraternidade e amor pelo próximo.

Nessas condições, a relação erótica parece oferecer o auge insuperável da realização do desejo de amor na fusão direta das almas entre si. Nessa entrega sem limite é tão radical quanto possível em sua oposição a toda funcionalidade, racionalidade e generalidade. É citada aqui como o significado singular que uma criatura, sem sua irracionalidade, tem para outra, e somente para essa outra especifica. Do ponto de vista do erotismo, porem, esse significado, e com ele o conteúdo de valor da própria relação, baseia-se na possibilidade de uma comunhão, experimentada como uma unificação completa, como um desaparecimento do tu. É tão esmagadora que pode ser interpretada simbolicamente: como um sacramento. O amante considera-se preso à essência da verdadeira vida, que é eternamente inacessível a qualquer empresa racional. Sabe-se livre das frias mãos ósseas das ordens racionais, tão completamente quanto da banalidade da rotina cotidiana. Essa consciência do amante baseia-se na indelebilidade e inexauribilidade de sua própria experiência, que não é comunicável e, sob esse aspecto, equivale à posse do místico. Isso ocorre não apenas devida à intensidade da experiência do amante, mas à dedicação da realidade possuída. Sabendo que a própria vida está nele, o amante coloca-se em posição ao que, para ele, é a experiência sem objetivo do místico, como se enfrentasse a luz mortiça de uma esfera irreal.

Assim como o amor consciente do homem maduro está para o entusiasmo apaixonado do jovem, assim a ansiedade mortal desse erotismo do intelectualismo está para o amor cavaleiresco. Em contraste com esse ultimo amor maduro do intelectualismo reafirma a qualidade natural da esfera sexual, mas o faz de modo consciente, como uma força criadora materializada.

A ética da fraternidade religiosa opõe-se, radical e antagonicamente, a tudo isso, do ponto de vista de tal ética, essa sensação interior e terrena da salvação pelo amor maduro compete, da forma mais aguda possível, com a devoção a um deus supramundano, com a devoção a uma ordem de deus eticamente racional, ou com a dedicação de um anseio místico de individuação, que só parece genuíno à ética da fraternidade.

Certas inter-relações psicológicas das duas esferas aumenta a tensão entre religião e sexo. O erotismo mais elevado coloca-se psicológica e fisiologicamente numa relação mutuamente substitutiva com determinadas formas sublimadas da piedade heróica. Em oposição, ao ascetismo racional, ativo, que rejeita o sexo como irracional, e que é considerado pelo erotismo como um inimigo poderoso e mortal, essa relação sucedânea é orientada especialmente para a união mística com Deus. Dela segue-se a constante ameaça de uma revanche mortalmente requintada da animalidade, ou de um deslizar inexorável do reino místico de Deus para o reino do Demasiado-Humano. Essa afinidade psicológica aumenta naturalmente o antagonismo dos significados interiores entre o erotismo e a religião.

Do ponto de vista de qualquer ética religiosa da fraternidade, a relação erótica deve manter-se ligada, de forma mais ou menos requintada, à brutalidade. Quanto mais sublimada for, tanto mais brutal. Inevitavelmente, esta relação é considera como de conflito. Tal conflito não é exclusivamente, nem mesmo predominantemente, o ciúme e a vontade de possessão, excluindo terceiros. É muito mais do que a coação mais intima da alma do companheiro menos brutal. Essa coação existe porque jamais é percebida pelos próprios participantes. Pretendendo ser uma dedicação extremamente humana, ela constitui o gozo sofisticado de si mesmo no outro. Nenhuma comunhão erótica consumida sabe-se baseada em qualquer outra coisa que não uma destinação misteriosa de um para o outro: o destino, neste sentido mais elevado da palavra. Com isso, ela se sabe legitimada (num sentido inteiramente amoral).

Mas para a religião da salvação, esse destino é apenas o incendio puramente fortuito da paixão. A obsessão patológica, assim criada, a indiossincrasia e as variações de perspectivas e de toda justiça objetiva podem parecer, à religião, como a mais completa negativa de todo amor fraternal e toda servidão de Deus. A euforia do amante feliz é considerada como boa; tem a necessidade cordial de poetizar todo o mundo com características felizes, ou encantar todo o mundo num entusiasmo ingênuo para a difusão da felicidade. E encontra sempre a zombaria fria da ética radical, e de base verdadeiramente religiosa, da fraternidade. Os trechos psicologicamente mais completos das obras de Tolstoi podem ser citados, quando a isso. Aos olhos dessa ética, o mais sublime erotismo é pólo oposto de toda fraternidade, orientada religiosamente nestes aspectos: deve, necessariamente, ser exclusiva em sua essência interior; deve ser subjetiva no mais alto sentido imaginável; deve ser absolutamente incomunicável.

Tudo isso está, decerto, longe do fato de que o caráter apaixonado do erotismo, como tal, parece à religião da fraternidade como uma perda indigna do auto-controle e da orientação no sentido da racionalidade e sabedoria das normas desejadas por Deus ou da posse mística da santidade. Para o erotismo, porém, a paixão autentica, per se, constitui o tipo de beleza, e sua rejeição é blasfêmia.

Por motivos psicológicos e de acordo com seu sentido, o delírio erótico só está em uníssono com a forma orgiastica e carismática de religiosidade, que, porém, num sentido especial, é interiorizada. A aceitação do ato do matrimonio, da copula carnalis, como sacramento da Igreja Catolica, é uma concessão a esse sentimento. O erotismo entra facilmente numa relação inconsciente e instável de substituição ou fusão com o misticismo exterior e extraordinário. Isso ocorre com a tensa interior muito forte entre erotismo e misticismo. Ocorre porque são psicologicamente substitutivos. Fora dessa fusão, o colapso no orgiasticismo ocorre muito rapidamente.

O ascetismo voltado para o mundo interior e racional (ascetismo vocacional) só pode aceitar o matrimonio racionalmente regulamentado. Esse tipo de matrimonio é aceito como uma das ordenações divinas dadas ao homem, como uma criatura inevitavelmente amaldiçoada em virtude de sua concupiscência. Dentro dessa ordem divina, é dado ao homem viver de acordo com as finalidades racionais que ela impõe e somente de acordo com elas: procriar e educar os filhos, e estimular-se mutuamente ao estado de graça. Esse ascetismo racional interior deve rejeitar a sofisticação do sexo transformado em erotismo, como uma idolatria do pior gênero. Por sua vez, esse ascetismo reúne a sexualidade primaria, naturalista e não-sublimada do camponês, transformando-a numa ordem racional do homem como criatura. Todos os elementos da paixão, porém, são então considerados como resíduos da queda. Segundo Lutero, Deus, para impedir o pior, é tolerante para com esses elementos da paixão. O ascetismo racional voltado para o mundo exterior (ascetismo ativo do monge) também rejeita os elementos apaixonados, e com eles toda a sexualidade, como um poder diabólico que põe em risco a salvação. A ética dos quacres (tal como se evidencia nas cartas de Willaim Penn à sua mulher) bem pode ter conseguido uma interpretação autenticamente humana dos valores interiores e religiosos do casamento. Sob tal aspecto, a ética quacre foi alem da interpretação luterana, um tanto grosseira, do significado do matrimonio.

De um ponto de vista exclusivamente interior, somente a ligação no matrimonio com o pensamento da responsabilidade ética de um pelo outro – daí uma categoria heterogênea à esfera exclusivamente erótica – pode encerrar o sentimento de que alguma coisa única e suprema poderia estar encerrada no matrimonio; que ele poderia ser a transformação do sentimento de um amor consciente da responsabilidade, através de todas as nuanças do processo vital orgânico, até o pianíssimo da velhice, e uma garantia mutua e uma duvida mutua (no sentido de Goethe). Raramente a vida oferece um valor em forma pura. Aquele a quem é dado, pode falar da graça e fortuna do destino – e não do seu próprio mérito.


MAX WEBER (1864-1920). O jurista, economista e sociologo alemão Maximillian Carl Emil Weber foi um intelectual alemão, jurista e considerado um dos fundadores da Sociologia. Ele também foi filósofo, professor universitário, jornalista influente e historiador. A obra de Weber, complexa e profunda, “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, constitui um momento da compreensão dos fenômenos históricos e sociais e, ao mesmo tempo, da reflexão sobre o método das ciências histórico-sociais. Weber trata dos problemas metodológicos com a consciência das dificuldades que emergem do trabalho efetivo do historiador e do sociólogo, sobretudo com a competência do historiador, do sociólogo, e do economista. Crítico da "escola historicista" da economia, Weber reivindica contra ela, a autonomia lógica e teórica da ciência, que não pode se submeter a entidades metafísicas como o "espírito do povo" que Savigny, nas pegadas de Hegel, concebia como criador do direito, dos sistemas econômicos, da linguagem e assim por diante. Para Weber, o "espírito do povo" é produto de inumeráveis variáveis culturais e não o fundamento real de todos os fenômenos culturais de um povo. Por outro lado, o pensamento de Weber caracteriza-se pela crítica ao materialismo histórico, que dogmatiza e petrifica as relações entre as formas de produção e de trabalho (a chamada "estrutura") e as outras manifestações culturais da sociedade (a chamada "superestrutura"), quando na verdade se trata de uma relação que, a cada vez, deve ser esclarecida segundo a sua efetiva configuração. E, para Weber, isso significa que o cientista social deve estar pronto para o reconhecimento da influência que as formas culturais, como a religião, por exemplo, podem ter sobre a própria estrutura econômica. Para Weber, a Sociologia é uma ciência que procura compreender a ação social. Por isso, considerava o indivíduo e suas ações como ponto chave da investigação evidenciando o que para ele era o ponto de partida para a Sociologia, a compreensão e a percepção do sentido que a pessoa atribui à sua conduta. O principal objetivo de Weber é compreender o sentido que cada pessoa dá a sua conduta e perceber assim a sua estrutura inteligível e não a análise das instituições sociais. Com este pensamento, não possuía a idéia de negar a existência ou a importância dos fenômenos sociais, dando importância à necessidade de entender as intenções e motivações dos indivíduos que vivenciam essas situações sociais. Ou seja, a sua idéia é que no domínio dos fenômenos naturais só se podem aprender as regularidades observadas por meio de proposições de forma e natureza matemática. É preciso explicar os fenômenos por meio de proposições confirmadas pela experiência, para poder ter o sentimento e compreendê-las. Weber também se preocupou muito com a criação de certos instrumentos metodológicos que possibilitassem ao cientista uma investigação dos fenômenos particulares sem que ele se perca na infinidade disforme dos seus aspectos concretos, sendo que o principal instrumento é o tipo ideal, o qual cumpriria duas funções principais: primeiro a de selecionar explicitamente a dimensão do objeto que virá a ser analisado e, posteriormente, apresentar essa dimensão de uma maneira pura, sem suas sutilezas concretas. Para Weber, a ciência positiva e racional pertence ao processo histórico de racionalização, sendo composta por duas características que comandam o significado e a veracidade científica. Em que estas duas características são o não-acabamento essencial e a objetividade, em que esta, é definida pela validade da ciência para os que procuram este tipo de verdade, e pela não aceitação dos juízos de valor. Para Weber também há uma separação entre política e ciência, pois a esfera da política é irracional, influenciada pela paixão e a esfera da ciência é racional, imparcial e neutra. O homem político apaixona-se, luta, tem um princípio de responsabilidade, de pensar as conseqüências dos atos. O político entende por direção do Estado, correlação de força, capacidade de impor sua vontade a demais pessoas e grupos políticos. É luta pelo poder dentro do Estado. Já o cientista deve ser neutro, amante da verdade e do conhecimento científicos, não deve emitir opiniões e sim pensar segundo os padrões científicos, deve fazer ciência por vocação. Se o cientista apaixonar-se pelo objeto de sua investigação não será nem imparcial nem objetivo. Para Durkheim política é a relação entre governantes e governados. A sociologia de Max Weber se inspira em uma filosofia existencialista que propõe uma dupla negação. Nega Durkheim quando afirma que nenhuma ciência poderá dizer ao homem como deve viver, ou ensinar às sociedades como se devem organizar. Mas também nega Marx quando diz que nenhuma ciência poderá indicar à humanidade qual é o seu futuro. A ciência weberiana se define como um esforço destinado a compreender e a explicar os valores aos quais os homens aderiram, e as obras que construíram. Ele considera a Sociologia como uma ciência da conduta humana, na medida em que essa conduta é social. Weber fundamenta sua definição de valores na filosofia neokantiana, que propõe a distinção radical entre fatos e valores. Os valores não são do plano sensível nem do transcendente, são criados pelas desilusões humanas e se diferem dos atos pelos quais o indivíduo percebe o real e a verdade. Para Weber, há uma diferença fundamental entre ciência e valor: valor é o produto das intenções, diferentemente de Durkheim que acreditava encontrar na sociedade o objeto e o sujeito criador de valores. Weber o contesta dizendo que as sociedades são meios onde os valores são criados, mas ela não é concreta. Se a sociedade nos impõe valores, isso não prova que ela seja melhor que as outras. Sobre o Estado, o conceito científico atribuído por Weber constitui sempre uma síntese realizada para determinados fins do conhecimento. Mas por outro lado obtemo-lo por abstração das sínteses e encontramos na mente dos homens históricos. Apesar de tudo, o conteúdo concreto que a noção histórica de Estado adota poderá ser apreendido com clareza mediante uma orientação segundo os conceitos do tipo ideal. O Estado é um instrumento de dominação do homem pelo homem, para ele só o Estado pode fazer uso da força da violência, e essa violência é legítima, pois se apóia num conjunto de normas (constituição). A religião também foi um tema que esteve presente nos trabalhos de Weber. "A ética protestante e o espírito do capitalismo" foi a sua grande obra sobre esse assunto. Nesse seu trabalho ele tinha a intenção de examinar as implicações das orientações religiosas na conduta econômica dos homens, procurando avaliar a contribuição da ética protestante, em especial o calvinismo, na promoção do moderno sistema econômico. Weber concebia que o desenvolvimento do capitalismo devia-se em grande parte à acumulação de capital a partir da Idade Média. Mas os pioneiros desse capitalismo pertenciam a seitas puritanas e em função disso levavam a vida pessoal e familiar com bastante rigidez. As convicções religiosas desses puritanos os levavam a crer que o êxito econômico era como uma benção de Deus. Aquele definia o capitalismo pela existência de empresas cujo objetivo é produzir o maior lucro possível, e cujo meio é a organização racional do trabalho e da produção. É a união do desejo do lucro e da disciplina racional que constitui historicamente o capitalismo.

Bibliografia
WEBER, Max. Rejeições religiosas do mundo. São Paulo: Abril, 1980
_____. Sociologia. São Paulo: Atlas, 1979.
_____. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Martin Claret, 2003.
_____. A ética protestante e o espírito capitalista. São Paulo: Martin Claret, 2003.

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quinta-feira, novembro 19, 2009

JOHN KEATS



Imagem: The Tub, 1886, do pintor e escultor do Realismo/Impressionismo Frances Edgar Degas (1834-1917)

POEMAS DE JOHN KEATS


LA BELLE DAME SANS MERCI

IV

Uma dama nos prados encontrei,
Todo-formosa, filha de uma fada:
A cabeleireira longa, os pés ligeiros,
A vista descuidada.

V

Tomei-a em meu corcel de passo lento
E o dia inteiro nada mais vi, não;
Pois pendida de lado ela cantava
De fada uma canção.

VI

Fiz-lhe uma grinalda para a fronte,
E pulseiras e um cinto redolente;
Ela me olhou com ar de quem amasse,
Gemendo suavemente.

VII

Procurou para mim raízes doces,
Orvalho de maná e mel do mato;
E numa linha estranha murmurou:
“Eu amo-te de fato”.

VIII

Levou-me para a sua gruta mágica,
E com suspiros fundos me fitou;
Fechei-lhe os olhos tristes, descuidados,
- Meu beijo a acalentou.

IX

Na gruta, sobre o musgo, nós dormimos,
E ali sonhei – que triste a minha sina! –
O último sonho que haja eu sonhado
No frio da colina.

X

Guerreiros, e reis pálidos, e príncipes,
Todos, de morte pálidos, eu vi
E me diziam: “Pôs-te em cativeiro
La belle Dame sans merci”.

ODE SOBRE UMA URNA GREGA

II

(…)
Ela não pode se fazer: se não alcanças teu prazer,
Para sempre a amarás e ela será formosa!

III

Felizes, ah! Felizes ramos! Não podeis perder
As vossas folhas, nem dizer adeus à primavera;
Melodista feliz, infatigável,
Para sempre a modular cantigas para sempre novas.
Oh mais feliz amor! Oh mais feliz, feliz amor!
Ardendo para sempre e sempre a ser fruído,
Arfando para sempre e para sempre jovem!
Amor acima da paixão dos homens que respiram,
Essa que deixa o coração desconsolado e farto
A testa em fogo e ressequida a língua.

ASTRO FULGENTE

Fosse eu imóvel como tu, astro fulgente@
Não suspenso da noite com uma luz deserta,
A contemplar, com a pálpebra imortal aberta,
- Monge da natureza, insone e paciente –
As águas moveis na missão sacerdotal
De abluir, rodeando a terra, o humano litoral,
Ou vendo a nova máscara – calda leve
Sobre as montanhas, sobre os pântanos – da neve,
Não! Mas firme e imutável sempre, a desncasar
No seio que amadura de meu belo amor
Para sentir, e sempre, o seu tranqüilo arfar,
Desperto, e sempre, numa inquietação- dulçor,
Para seu meigo respirar ouvir em sorte,
E sempre assim viver, ou desmaiar na morte.

ODE SOBRE A MELANCOLIA

Não, não, não vás ao leste, nem o acônito,
De raízes firmes torças para obter seu vinho venenoso;
Nem sof5ras que te beije a fronte pálida
A beladona, a rubra uva de Prosérpina;
Não faças teu rosário com os globulos do teixo
Nem falena-da-morte nem escaravelho sejam
Tua Psiquê lutuosa, nem partilhe o mocho penujento
Dos mistérios da tua nostalgia;
Pois sonolenta a sombra à sombra chegará,
Afogando a aflição desperta de tua alma.

Mas quando o acesso da melancolia
De súbito cair do céu, como se fosse a nuvem lacrimosa
Que alenta as flores todas de inclinada fronte
E em mortalha de abril oculta o verde outeiro:
Sacia então tua triteza em rosa matunal,
Ou no arco-iris de salgada onda sobre a areia,
Ou na opulência das peônias globulares;
Ou se a amada mostrar cólera rica,
Toma-lhe a mão suave, e deixa-a delirar
E bebe fundo, a fundo, nos seus olhos sem iguais.

Ela mora com a beleza – com a beleza que perecerá;
Com a alegria de mão aos lábios sempre erguida
Para dizer adeus; e junto do prazer dorido
Que se faz veneno enquanto a boca suha, pura abelha;
Sim, no próprio templo do deleite
É que a melancolia tem, velada, o seu supremo santuário,
Embora só a veja aquele cuja língua estrênua
Rebente a uva da alegria contra o céu da boca;
A alma deste provará a tristeza que é o seu poder,
E em meio aos seus troféus nublados ficará suspensa.

PARTIU O DIA

Partiu o dia, e tudo, nele, o que é doçura!
Doces lábios e voz, mão e seio macio,
Morno alento, enlevado, encantador cicio,
Talhe perfeito, olhar de luz, langue cintura!
Ada flor e seus botões as graças não diviso;
A visão da beleza ao meu olhar perdida
A forma da beleza de meus braços ida
Indas voz e calor, a alvura e o paraíso...
Tudo se esvaneceu ao fim do entardecer
Quando o fusco dia santo, ou antes noite santa
Do amor de olente cortinado a trama adianta
Da escuridão, para ocultar todo prazer:
Mas li o missal do amor e dormirei portanto
Que vê o amor como jejuo e rezo tanto.

ODE SOBRE A INDOLENCIA

III

Te4rceira vez passaram perto, e enquanto isso
Voltaram um momento o rosto para mim:
Depois esvaeceram e, para segui-las,
Ardi e ansiei por asas, pois reconheci-as;
A primeira, formosa virgem, era o amor;
A segunda, a ambição, de palidez nas faces
E sempre atenta com seus olhos fatigados;
Na última, que quanto mais censuram tanto
Mais eu amo, donzela extremamente indócil,
Reconheci o meu demônio, a Poesia.

SE TENHO MEDO

Se tenho medo de meus dias terminar
Antes de a pena me aliviar o espírito, antes
De muito livro, em alta pilha, me encerrar
Os grãos maduros como em silos transbordates;
Se vejo nas feições da noite constelar,
Enormes símbolos nublados de um romance,
E penso que não viverei para copiar
As suas sombras com a mão maga de um relance;
Quando sinto que nunca mais hei de te ver,
Formosa criatura de um momento ideal!
Nem hei de saborear o mítico poder
De amor irrefletido! – então no litoral
Do vasto mundo eu fico só, a mediar,
Até ir fama e amor no nada naufragar.

JOHN KEATS - John Keats (1795-1821) foi um poeta Inglês do periodo Romântico. Durante sua curta vida, Keats produziu uma profunda e impressiva coleção de trabalhos. Entre seus mais refinados trabalhos encontram-se 65 sonetos, tais como Ode a Uma Urna Grega. O trabalho de Keats raramente foi bem recebido pelo público e pela crítica. Indiferente a isso, ele escreveu com abundância e qualidade, por toda a sua curta vida. Entre 1818 e 1819, concentrou-se em dois poemas importantes: Hyperion (inacabado), em versos brancos, sob a influência de John Milton, e La Belle Dame Sans Merci. Dedicava todo tempo livre à leitura. No ano em que se publica Endymion, Keats encontrou Fanny Brawne, a grande paixão de sua vida. Teve que separar-se dela em 1820, devido à tuberculose que ele havia contraído. Foi para a Itália, onde morreu poucos meses depois. Sobre seu túmulo, no cemitério protestante de Roma, foi esculpida a inscrição que ele mesmo redigira: Here lies one whose name was writ in water (Aqui descansa um homem cujo nome está escrito sobre a água). Os poemas selecionados são do livro “Poemas de John Ketas”, traduzido por Pericles Erugenio da Silva Ramos.

Fonte:
KEATS, Jogn. Poemas. São Paulo: Art, 1985.

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quarta-feira, novembro 18, 2009

PAPA HIGHIRTE



Imagem: foto da atriz Eliza Dushku (Revista Allure)

DE UMA CENA DE PAPA HIGHIRTE, DE ODUVALDO VIANA FILHO

(...)
Papa Highirte – É. Você tem bom gosto menina...

Graziela –Que é isso, Papa, eu não...

Papa Highirte – Tenho vinte séculos, menina, completos em março, não pense que me engana... É justo. Eu preciso de ajuda mesmo para amar você.

(Senta-se. Bate nas pernas. Graziela senta-se no colo dele).

Papa Highirte – Agora beijos.

(Graziela sorri. Encosta-se nele. Beija-o).

Papa Highirte – Por que não veio ontem?

Graziela – Assim... não vim... fiquei assim...

Papa Highirte – Boa explicação, menina, boa explicação....

(Riem. Ficam abraçados. Muda a luz. Papa continua com Graziela no colo)

(....)

Papa Highirte – Tem belas coxas a Graziela... é a putinha mais bem conservada que conheço, a putinha... um seio pequeno, a putinha tem um seio pequeno de donzela... hein? Você não acha bonita a coxa de Graziela?... Hein, Mariz?..... hum.... o rapaz tem seus orgulhos....

(...)

Mariz - Falou do seu peito, da sua coxa, da sua anca, anca de égua de Grande Prêmio.... me contou como beija seu peito, peito de menina debutante, que ele beija seu peito até ficar roxo o bico do seio...

(Graziela ri).

Graziela - ... sabe? E ele senta numa cadeira e pede pra mim andar, primeiro vestida, assim toda coberta, eu fico andando, aí ele pede pra tirar o soutien, fico só de vestido o seio balançando, acho que andei um dia a tarde toda, parecia uma exaustão, ele fica olhando, fuma, bebe pulque, sabe o que ele mais gosta que eu faça? Vou andando assim de costas, a blusa fechada, aí eu pego chego bem de longe e assim de repente viro assim com a blusa aberta, fico um instante, zapt, ai viro de novo, ai ele pede pra mim dançar como eu danço na boite....

PAPA HIGHIRTE – peça teatral do autor e ator Oduvaldo Viana Filho (1936-1974), participante ativo do Teatro de Arena, fundador do Centro Popular de Cultura e do Grupo Opinião. Teve sua trajetória personificada pela luta contra o imperialismo cultural. Sua dramaturgia coloca em cena a realidade brasileira através do homem simples e trabalhador, sendo unanimemente considerada a mais profícua de sua geração, com textos como Chapetuba Futebol Clube, Papa Highirte e Rasga Coração. Papa Highirte foi escrita em 1968, relata ocaso de um ditador latino-americano, no exílio, amargando suas obsessões e seus fantasmas do passado. Por mais que ele se veja como um bom homem, sua ação ou omissão causou um injusto aglomerado de vítimas. O texto se tece e constrói em torno desse ajuste de contas fatal, quando o personagem cogita o regresso ao seu País. Esse texto, assim como Rasga Coração, foram duas obras-primas de Vianinha, ambas premiadas em concursos promovidos na época, pelo Serviço Nacional de Teatro.

FONTE:
VIANA FILHO, Oduvaldo. O melhor teatro Oduvaldo Viana Filho. São Paulo: Global, 1984.

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domingo, novembro 15, 2009

ANTÍGONA DE SÓFOCLES



Imagem: Desenho de Jack Bice


ANTÍGONA DE SÓFOCLES – O CORO


“Amor, invencível Amor, tu que subjugas os mais poderosos; que repousas nas faces mimosas das virgens; tu que reinas, tanto na vastidão dos mares, como na humilde cabana do pastor; nem os deuses imortais, nem os homens de vida transitória, podem fugir a teus golpes; e, quem for por ti ferido, perde o uso da razão!

Tu arrastas, muita vez, o justo à pratica da injustiça, e o virtuoso ao crime; tu semeias a discórdia entre as famílias...

Tudo cede à sedução do olhar de uma mulher formosa, de uma noiva ansiosamente desejada; tu, Amor, te equiparas, no poder, às leis supremas do universo, porque Vênus zomba de nós!”


ANTÍGONA DE SÓFOCLES – Antígona é uma das grandes tragédias escritas há mais de 2 mil e 500 anos pelo dramaturgo grego Sófocles, colocando o confronto entre a coragem da princesa Antígona e a tirania do rei déspota Creonte. A tragédia trata dos filhos de Édipo, os irmãos Polinices e Etéocles, que se atraiçoam e reciprocamente se matam pelo poder, restando apenas da linhagem edipiana as duas filhas Antígona e Ismenia. Com a morte dos irmãos, assume Creonte o poder, uma vez cunhado de Édipo e tio de seus filhos, indignado com Polinices e honrando a memória de Etéocles. Por isso, lança édito condenando Polinices ao relento sem sepultamento, o que leva Antígona a se indignar e descumprir suas ordens. Indignado com Antígona Creonte planeja uma morte dolorosa e lenta, determinando que fosse levada a sua última morada, para se juntar com o que ela venerava: os mortos. Após esse desfecho, Creonte ouve do adivinho Tirésias o que poderia acontecer se concretizasse todo o seu ódio em relação à filha de Édipo.Com receio que suas premonições se realizassem Creonte vai ao local onde mandou aprisionar Antígona, chegando à tumba encontra ao lado do corpo dela o de seu filho, que num ato de revolta volta-se contra seu pai e não conseguindo aplacá-lo, suicida-se. Não bastando à morte do filho sua esposa ao tomar conhecimento do fato também suicida. (Tradução de J. B. Mello e Souza).

FONTE:
SÓFOCLES. Antígona. São Paulo: W. M. Jacnson Inc, 1969.

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sexta-feira, novembro 06, 2009

VERS&PROSA PARA A MENINA AZUL



Foto: Derinha Rocha

BEM NA HORA


Luiz Alberto Machado


O meio-dia era ela.

E eu com insolação para morrer afogado no seu mar.

Era quando, bem na hora, meio dia em ponto, ela me afagava entre os seus domínios.

E eu menino peralta me valia de suas correntes oceânicas para viver além de suas profundidades.

Era o seu corpo de mar e as suas marés me embalando vida adentro com todos os brinquedos de seus tesouros.

Até que me fizesse lua e ficasse orbitando ao ser redor, walkaround, virando comensal jubarte caçando seus cardumes de beijos, suas formas totais de encantos e carinhos que me davam a sua baía para minha invasão, surfando por suas ondas na minha satisfação frenética de recolher todos as suas mínimas expressões, a ponto de vasculhar sua lama e me relar no seu lodo e curtir sua imundície e saborear a sua deletéria emanação num banquete ginofágico que se fazia a terra onde vivo e sou predador, se fazia o planeta que me abriga, a nave que me leva inimputável, o porto de todos os meus abrigos.

E dentro dela sou barco errante e teimoso a navegar num cruzeiro hedonista a brincar de luas e marés, marés de lua quando crescente eu estou rijo no cio para escalpelá-la com minhas sandices voluptuosas.

E na lua cheia ela é madura no ponto para meu regozijo pleno.

E na lua nova ela goza para me fazer o maior entre os mortais.

E na minguante ela me recolhe letárgico no seio de todas as revigorantes paixões avassaladoras.

E ela maré alta, eu rio Amazonas, o gozo em pororoca.


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sexta-feira, outubro 30, 2009

VERS&PROSA PARA A MENINA AZUL



Imagem: foto de Derinha Rocha

A REFÉM


Luiz Alberto Machado


No meio da tarde, a plenitude do dia.

É quando ela, heroína minha, se faz repleta de gozo, vencedora de todos os desafios da carne e da alma.

Aí ela se revela em suas orações e súplicas quando então se ajoelha e contrita no meu sexo bebe do meu gozo e faz seu rosário como quem jamais se farta e terá sempre em abundancia.

E haverá de sempre comer e beber em mim a sua vida e colher os lírios do campo.

E à sua vida mais lhe acrescento e ela glorifica porque derramo sobre seu corpo toda a glória da vida: porque sou o mar que invade a terra e ela a ilha que se deixa inundar pela minha voraz vontade de tê-la integral e totalmente minha.

Porque na nossa contenda eu sou a orca e ela o leão marinho.

Porque sou o urubu-rei cravando a minha marca para sempre sobre o seu domínio.

Porque sou eu a torcida do Flamengo fanatizada por seu jeito, feito o Abaporu cada vez mais forte, viril e supremo por haver sugado e me abastecido de toda sua vitalidade.

Porque sou seu ídolo de adoração e ela a deusa da minha veneração.

E sobre sua majestade e submissão eu ergo a taça da nossa mútua vitória.

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sexta-feira, outubro 23, 2009

VERS&PROSA PARA A MENINA AZUL



Foto: Derinha Rocha

FESTA NO CÉU


Luiz Alberto Machado


Enquanto rodopiava pelos devaneios solfejando a canção dos seus idílios, ela sonhava comigo: um quase príncipe encantado na sua predileção que chegasse gentil e sedento com o fervor apaixonado de um Dom Quixote buscando nela a Dulcinéia desejada.

Enquanto ela encantadoramente azul passeava sobre as nuvens oníricas dos meus desejos, eu coaxava sonhando com uma rã-pintada nua e maravilhosa na fonte das águas amorantes.

Ela dava conta de mim nos seus sonhos de princesa.

Eu ansiava a sua vida nas minhas alucinações de anuro desolado da beira do rio.

Quanto mais cantarolava, mais transluzia infinitamente iridescente na vida. E eu cada vez mais apegado à imagem anfíbia de sua expressão mágica.

Certo dia a princesa veio se bronzear no campo.

Foi quando correu o boato de que haveria uma festa no céu.

Essa eu não poderia jamais perder. Porém, para meu desapontamento, fui excluído pelos promotores do evento por ter a boca grande.

Uma desfeita.

Mas, cá pra nós, uma provocação para minhas astúcias. E fui: aproveitei a ocasião e me acomodei cuidadosamente dentro da calcinha da princesa e ali fiquei escondido.

Ah, um verdadeiro porto seguro, a maloca mais aconchegante e segura que já tinha saboreado desde a maternal fase da concepção.

Era o reino da vida e da paixão.

Parecia até que ela gostava da minha presença ali. E, por isso, fiquei todo ancho, maior que o meu próprio tamanho.

Lá para as tantas, eu fui surpreendido.

É que a princesa deu por minha existência.

Assustou-se, permitindo que eu caísse em queda livre.

Nessa hora pude cantar aos gritos de socorro: “Béu, béu, béu! Se desta eu não escapar, nunca mais festa no céu!”.

Tei bei.

Lasquei-me!

Estava eu ali desfeito em zis pedaços pelo chão.

Ao ouvir minha cantiga a princesa azul lembrou dos conselhos de uma cigana despachada que lhe adivinhara as palpitações ocultas na alma, recomendando que desenhasse a efígie do amor dos seus sonhos para sacudi-lo na boca do primeiro sapo que encontrasse e que, ao encontrá-lo, deveria depositá-lo embaixo da sua cama, cuidando para que fosse a sua existência regada à base de ouro, dinheiro e metais.

Com isso e só com isso seus desejos se realizariam.

Foi aí que ela se encheu de ternura e compaixão, caindo de cócoras cantarolando a juntar pacientemente os meus pedaços.

Ao juntá-los passou a cerzir cuidadosamente até me deixar inteiramente coaxando enamorado e todo remendado na beira dos seus sonhos.

Ah, a emenda foi melhor que o soneto.

É que ela passou a me embalar com canções de sua predileção a me tratar com carinhos até me deitar confortavelmente numa aveludada tipóia embaixo da cama e no escuro do seu quarto.

Eu, aos pinotes, queria voltar pro meu habitat, enquanto ela me cercava por todas as direções, cuidando para eu não fugir.

Numa dessas tentativas de fuga, fui agarrado e no pedestal de uma de suas mãos espalmadas, ela me fitou os olhos: leu-me a alma e o amor.

Não sei, acho que se apaixonou por mim. E beijou-me.

Crás!

Desencantei.

Não era o príncipe que ela esperava, mas nem deu tempo para que nomes ou feições valessem nessa hora.

Passamos a nos confundir aos beijos um no outro. E rodopiamos juntos o idílio dos nossos sonhos. E desnudados cavalgamos os dias e as noites, lambendo um ao outro para nos purificar de amor e nos entregarmos no meio da chuva que explodiu dos nossos mais selvagens desejos no reino da paixão.

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sexta-feira, outubro 16, 2009

VERS&PROSA PARA MENINA AZUL



Imagem: foto de Derinha Rocha

USO & ABUSO

Luiz Alberto Machado


O olhar.

E eu vejo o meu verso indeciso nas suas entremanhãs. Nas suas manhas vãs. E sou mais que herói na sua retina. A ponto de afinar as necessidades e ela com vaidade me segura com toda travessura pr´eu não ir embora.

Agora? Não, nunca, só ela que adunca acha que posso ir embora.

É canção.

E ouço. Função por todo meu osso. De dor e prazer eu canto. Rigor e lazer, seu manto.

E ela me ouve mortal criatura como se eu tivesse a candura de enfeitiçá-la.

Quando na sala ela está nua para que eu a possua até o final dos tempos.

Toco seu corpo, sua pele macia.

É puro conforto quando vasculho sua alvenaria.

É perfume no ar.

É o seu cheiro a me fazer levitar no seu ventre com seu grito ancestral entre os dentes e a vida caindo na sua face sorrindo o atlântico sol.

É quando ela se desmancha na minha boca ancha com o seu gosto singular: o meu verso incisivo a poetar na sua carne cunhã que usufruo com afã seu sabor de caju, maracujá, de abacaxi, de cajá.

É quando ela foca e com a ponta da língua ela toca todos os meus poros, eu só revigoro e me rendo de paixão com ela estirada inteirinha na palma da minha mão.

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quinta-feira, outubro 15, 2009

MILENE POSSAS SARQUISSIANO



Imagem: foto sem título de André Brito

A SEDUÇÃO DOS VERSOS DE MILENE POSSAS SARQUISSIANO

TUA...

Quero entrar na tua vida
E preencher com meu sorriso
A tristeza que habita tua alma.

Permita que no teu deserto
Eu seja formosa flor
Miragem do amor possível...

Deixa-me ser a estrada
Que te levará mundo afora
Orientando teus passos...

E quando meus cabelos
Se fizerem travesseiro
E neles adormeceres...

...Embalado pela batida
Dos nossos corações
Terei certeza..
Sou...TUA!

AMOR INDECENTE

A minha prenda tá diferente
Quer um amor tipo indecente
Me quer insano, despudorado
Fazendo cara de homem tarado!

Nas mãos, colocar algemas,
No corpo, chuva de alfazemas.
Venda nos olhos...ai! que perigo!
Beber champanhe dentro do umbigo.

E num ato típico de teatro
Sem dó, te botar de quatro
No meu pampa te fazer potranca
Cavalgando em tuas belas ancas.

Selar o feito com um belo grito
Sentir-se herói pela desenvoltura
Rir-se sozinho, de tão contente
Agradecendo à prenda o amor diferente.

MASTURBAÇÃO


Arrepia, Arregaça, Arrebenta...
Estica, Explode, Excita...
Alarga, Alonga, Alastra...
Engata, Engole, Engasga...
Degusta, Deglute, Devora...
Serve, Sorve, Sente...
Sua, Seca, Soca...
Tara, Treme, Tesão...
Porre, Porra, Punheta...
Gosto, Gosma, Gozo...
...Solidão!!

PROSTITUTA!


Tantos homens passaram pela minha cama
Tantos outros ainda passarão...
Alguns, deixaram o melhor de si
Outros, levaram o melhor de mim
Uns, me fizeram mulher...
Outros, foram mais mulher que eu!
O cheiro de alguns, me inebria
O cheiro de outros, me enoja!
Com uns, paguei meus pecados
Outros, fiz ajoelhar e rezar!
Pra alguns, fui meiga donzela
Pra outros, safada e cadela
Alguns, marcaram meu lençol com sêmem
Outros, deixaram marcas(filhos)em mim
Os filhos não vingaram...
Por pura vingança!
Sabiam que uns, seríam filhos da mãe...
Mas todos, seríam filhos da puta!

QUERES DANÇAR COMIGO?


Queres mesmo dançar comigo?
Mas não será uma dança qualquer
Nessa dança serás conduzido
Pelos desejos de uma mulher

Quero que me pegues de jeito
E te abraçes à minha cintura
Com os seios vou roçar teu peito
E ler teu corpo, feito partitura

Feche os olhos, se deixe seduzir
Na insanidade dos meus movimentos
Que o melhor da dança está por vir

É quando o juízo faz strip-tease
E me invades, sem constrangimentos
Pra que em teu corpo eu me realize

INVASÃO

Ah, amor...
Sonho contigo todas as noites
Quando me invades, sem pedir licença
Deixando meu corpo inconsciente
Só de imaginar-te, sob os lençóis...

Encachaçada por tua ausência
Trago-te à minha inebriante cama
Onde descabido, te esparramas
Fazendo do meu corpo...
...Usucapião!

A carne se faz quente e sangrenta
Os olhos latejam...
...Turvos de desejo!
O seio arde em intensa chama
Queimando o bico, de tanto prazer...

E num atropelar quase suicida
Saboreias o meu gosto de mato
Nos pêlos em que tua língua tropeça...

Minha umidade se faz rio
Pra te receber...
Acordo!
Inundada de solidão...

SEDE


Baila tua língua na minha
Num beijo sabor veludo
Arrepiando a minha saliva
Me deixando à deriva...
Estupra a minha razão
Pra que eu perca a noção
Do que é certo e errado...
E que temperada de ousadia
Eu me deite à tua mesa
Sendo prato principal e sobremesa...
Toma os meus fartos seios
Na carne flácida dos teus lábios
Inebriando-te no meu perolado leite
E mata a tua sede de mim...

PRISÃO PERPÉTUA


Eu quero um amor bandido
Que me faça correr riscos
Que ponha minhas mãos pro alto
E faça em meu corpo, assalto
Vasculhando o meu bem precioso
Revirando-me pelo avesso
Num delito de intimidades
Que me deixe na miséria
E leve de mim, o que quiser

E que depois, seja o mocinho
E eu, o temido bandido
Que me encoste contra a parede
Com as pernas bem afastadas
E me passe em revista
Apalpando-me minusciosamente
Numa tortura quase hedionda
Me fazendo ré confessa
Algemada e prisioneira

E que, quando necessário
Nomeie-se meu advogado
Com totais e plenos poderes
Me defenda incondicionalmente
Garantindo-me o habeas corpus

E que eu, posta em liberdade
Faça mau uso do juízo
Pra me tornar reincidente
E voltar para o teu cárcere
Inafiançável, e agora, perpétuo

MILENE POSSAS SARQUISSIANO – A jornalista e poeta gaucha Milene Possas Sarquissiano edita o blog Cio & Cia e publica seus trabalhos no Planeta Literatura.

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sexta-feira, outubro 09, 2009

VERS&PROSA PARA MENINA AZUL



Imagem: foto de Derinha Rocha

ENGATINHANDO NA NOITE AZUL


Luiz Alberto Machado


De repente tudo fica deliciosamente excedente entre nós.

A dimensão dela deixa tudo com ar de fantasia cosmogônica num idílio para lá de transcendental. E isso era mais que um sonho real.

Toda a via-láctea ali, ao nosso dispor. E ei-la linda mameluca com sua angélica brancura na noite azul, com sua franzinice primaveril e uma gula gigantesca no seu olhar Sinéad O´Conoor, com as querências inauditas dos seus desejos mais secretos.

Tímida com o querer maior que o mundo.

Parceira de ir além da última curva do universo.

Por um lapso de tempo nos espreitamos atraídos pelo mútuo ardor das carnes incendiadas de paixão.

Quase não ser possível manter-me distante da sua provocação corpórea nua, com seus peitinhos de goiaba-boa que me enche a boca d´água e deságua no meu sexo como lança pronta para desferir o golpe certeiro.

Impossível desgrudar daquele corpo que é um verdadeiro aconchego de gozo.

Para minha grata surpresa, ela arqueia e sai engatinhando na minha direção: língua lambendo os beiços, olhos imantados no meu sexo.

Ousei uma artimanha: recuei dificultando sua chegada. Mas ela engatinhou e sorriu safada como quem se dispunha a bordejar genuflexa entre as estrelas oníricas do nosso cenário jubiloso.

Perseguiu firme ela por todos os cantos da cama, perseverou com desassossego até que com seu jeito Cristina Kirchner, fermento do meu desejo a me envolver e se apoderar da minha emanação total, levando-me pelos limites do prazer.

É quando ela jura todo o seu amor eterno e perjurando das suas para batizar-se nas minhas crenças, a se entregar por inteiro como quem vai pro carrasco no cadafalso da sua última hora.

Ah, como tudo é tão bom! Bom demais. Muito demais.

É quando todas as delícias degustadas, exauridas e satisfeitas, ela tão Marina Lima sela o nosso amor com um beijo de paixão.

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terça-feira, setembro 29, 2009

IARAMEL



Imagem: Sente a luz que te beija a pele, foto de Daniel Pedrogam

OS VERSOS SEDUTORES DE IARA MEL


DEVORA-ME

Devora-me
Faça-me tua presa
Enlace teu corpo junto ao meu
Explora-me pacientemente
Feito serpente...
Cola tua boca na minha
Sugue de meus lábios úmidos
Este desejo alvoroçado
Faz-me profanar em teus atos
Entrelace perfeito...
Ouça meu gemido
Feito um pedido
Possua-me
No instante que nos enlaça
No realce dos corpos nus
No limiar que reluz
E estampam as paredes do quarto...
Gotas de suor de um gozo anunciado
Pelo tremor que antecede
Sussurros que nos despem dos pudores
Entregamos-nos aos ruídos ilícitos
Para nós
Puros cantos líricos!

VEM ME SEDUZIR

Vem me seduzir
No silêncio da noite
Prazer e deleite
Possuir-me por inteira
Sob a claridade
Deste fogo que incendeia
Nossos corpos grudados
No ar o cheiro exalado
De um amor ousado
Sem fingir
Somente sentir
O gosto do “pecado”
Deste fato consumado
Marcado
Suado
Amado...

ENTREGA

Sinto teu corpo suado, cansado, molhado/Quero ao teu lado me deitar /Como sentindo meu olhar, abraça-me para mais uma vez me amar/E como em sonho, sinto tuas mãos quentes, suavemente me acariciar /Teus lábios sedentos, em minha nuca, me fazem suspirar... Vem , me faz sentir o pulsar de teu corpo sobre o meu , de teus lábios a me percorrer, me faz novamente viver /Entrelaça teu corpo no meu , como animal no cio,e como louca me esguio, para aos poucos me entregar.../Seja seu o meu corpo, seja você meu prazer... Olha-me como louco, beija-me como poucos, geme, aperta... Estremece... Aperta-me com teu corpo , me beija mais um pouco e me faz delirar/Aumentam-se os movimentos, que ao mais belo momento,
gemidos me deixa escapar.../No auge do nosso instante, gemidos são mais constantes e há prazer em nossos olhares.../Minha boca na sua geme, nossos corpos se estremecem, e atingem o prazer./Abraçados adormecemos, sentindo o cheiro de amor no ar. /Descansamos os corpos suados, para mais tarde acordar!

ABRAÇA-ME

Abraça-me assim, com ardor, abraço de desejo, com excitação, respirando as ondas de calor que nos aquece, aguçando ainda mais um corpo ao outro!

Abraça-me, entrelaça os corpos, moldando-os, e de amor se entregando e neste amor a intimidade se desnuda, possui...

Seu desejo com o meu se envolvendo, como que dançando ao som de uma suave musica, palavras sussurradas, ao longo desta dança inebriante de prazer.

Seus olhos fitando-me sensualmente, teu corpo agarrado ao meu, e me possui lentamente.

E, extasiados na ânsia do prazer, cerramos os olhos e apenas sentimos o amor saciado entre dois corpos cansados!

QUERO-TE... VEM?

Teu olhar doce invade e arde
Faz minha pele queimar em chamas
Meus sentidos não obedecem
É meu corpo que cede
Tento por varias formas esquecê-lo
Impossível tentativa de renovar o dia que amanhece
Na ânsia louca sentir tuas mãos
Explorando, desvendando meus segredos
E me entrego novamente a devaneios
Sinto o pulsar de teu peito de encontro ao meu
Exalando o perfume que entontece
De seus lábios, palavras que me enlouquecem
Perturbando sentimentos que adormecem
Bebo de tua boca, o sabor do mel
Misturado ao gosto do amargo do fel
Invadindo minha alma
Neste escuro breu
È quando te devoro com meu pensar
Fazendo tua sua sede em meu corpo saciar
Numa vontade inconseqüente
Do teu jeito moleque
Amando-me docemente...
Devoras-me com teu doce olhar
Enquanto entrego-me sem pensar
Esqueço cada instante
Quero-te insistente
Sem nada temer
Quero ontem, hoje e sempre
Sentir junto a ti
Um delicioso estremecer
De prazer

SIMPLESMENTE TUA

Também em meu peito
O amor somente não me satisfaz
Quero-te mais e mais
Sentir que se enroscar em mim
Fazendo um nó, e tornando-nos um ser somente
Queimando num desejo ardente
Que nos surpreende tamanha intensidade
Pura , insanidade!
E vou provocar-te com meus beijos
Adocicados pelo gosto de tua boca
beijar-te a nuca
Ouvir baixinho teus gemidos
Depois...
Ah, depois...
Quero aninhar-me em teu peito
Sentir o cheiro do teu corpo
Exalado nos momentos
Que me fez tua
me puseste nua
Saciando meu desejo
Com sua maneira "animal"
Pra mim, tão natural
Sem igual
Assim quero-te amor meu
Desta forma meu homem "animal"
Meu mundo desigual.

VOCÊ EM MIM!
Meus lábios te percorrem
Excitante
O prazer aumenta
Tua boca docemente me atormenta
Sinto teu corpo vibrante...
Em ondas de delírios incessantes
Exalando o cheiro de teu corpo
De encontro ao meu
Num delírio louco
Num aguçar de sentidos
Levando-me da sã realidade
À loucura extrema
Sou tua, por inteira
Teu olhar revela
O instante anunciado
Num ritmo alucinado
O prazer refreado
Sem nada dizer
Aperta-me de encontro a ti
Fazendo das siluetas esboçadas
Um só “croqui”
Nesta hora
Arrepios nos atacam ferozmente
Em ondas, e simultaneamente
Aos movimentos acelerados
Marcando este gozo já anunciado!

IARA MEL – a poeta, escritora e auxiliar de enfermagem paulista, Iara A. Máximo Melchor, que se assina Iara Mel, mora em Guarulhos – SP. Tem seus trabalhos publicados no Recanto das Letras, no Portal CEN e no Poetas Del Mundo.

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