quinta-feira, novembro 19, 2009

JOHN KEATS



Imagem: The Tub, 1886, do pintor e escultor do Realismo/Impressionismo Frances Edgar Degas (1834-1917)

POEMAS DE JOHN KEATS


LA BELLE DAME SANS MERCI

IV

Uma dama nos prados encontrei,
Todo-formosa, filha de uma fada:
A cabeleireira longa, os pés ligeiros,
A vista descuidada.

V

Tomei-a em meu corcel de passo lento
E o dia inteiro nada mais vi, não;
Pois pendida de lado ela cantava
De fada uma canção.

VI

Fiz-lhe uma grinalda para a fronte,
E pulseiras e um cinto redolente;
Ela me olhou com ar de quem amasse,
Gemendo suavemente.

VII

Procurou para mim raízes doces,
Orvalho de maná e mel do mato;
E numa linha estranha murmurou:
“Eu amo-te de fato”.

VIII

Levou-me para a sua gruta mágica,
E com suspiros fundos me fitou;
Fechei-lhe os olhos tristes, descuidados,
- Meu beijo a acalentou.

IX

Na gruta, sobre o musgo, nós dormimos,
E ali sonhei – que triste a minha sina! –
O último sonho que haja eu sonhado
No frio da colina.

X

Guerreiros, e reis pálidos, e príncipes,
Todos, de morte pálidos, eu vi
E me diziam: “Pôs-te em cativeiro
La belle Dame sans merci”.

ODE SOBRE UMA URNA GREGA

II

(…)
Ela não pode se fazer: se não alcanças teu prazer,
Para sempre a amarás e ela será formosa!

III

Felizes, ah! Felizes ramos! Não podeis perder
As vossas folhas, nem dizer adeus à primavera;
Melodista feliz, infatigável,
Para sempre a modular cantigas para sempre novas.
Oh mais feliz amor! Oh mais feliz, feliz amor!
Ardendo para sempre e sempre a ser fruído,
Arfando para sempre e para sempre jovem!
Amor acima da paixão dos homens que respiram,
Essa que deixa o coração desconsolado e farto
A testa em fogo e ressequida a língua.

ASTRO FULGENTE

Fosse eu imóvel como tu, astro fulgente@
Não suspenso da noite com uma luz deserta,
A contemplar, com a pálpebra imortal aberta,
- Monge da natureza, insone e paciente –
As águas moveis na missão sacerdotal
De abluir, rodeando a terra, o humano litoral,
Ou vendo a nova máscara – calda leve
Sobre as montanhas, sobre os pântanos – da neve,
Não! Mas firme e imutável sempre, a desncasar
No seio que amadura de meu belo amor
Para sentir, e sempre, o seu tranqüilo arfar,
Desperto, e sempre, numa inquietação- dulçor,
Para seu meigo respirar ouvir em sorte,
E sempre assim viver, ou desmaiar na morte.

ODE SOBRE A MELANCOLIA

Não, não, não vás ao leste, nem o acônito,
De raízes firmes torças para obter seu vinho venenoso;
Nem sof5ras que te beije a fronte pálida
A beladona, a rubra uva de Prosérpina;
Não faças teu rosário com os globulos do teixo
Nem falena-da-morte nem escaravelho sejam
Tua Psiquê lutuosa, nem partilhe o mocho penujento
Dos mistérios da tua nostalgia;
Pois sonolenta a sombra à sombra chegará,
Afogando a aflição desperta de tua alma.

Mas quando o acesso da melancolia
De súbito cair do céu, como se fosse a nuvem lacrimosa
Que alenta as flores todas de inclinada fronte
E em mortalha de abril oculta o verde outeiro:
Sacia então tua triteza em rosa matunal,
Ou no arco-iris de salgada onda sobre a areia,
Ou na opulência das peônias globulares;
Ou se a amada mostrar cólera rica,
Toma-lhe a mão suave, e deixa-a delirar
E bebe fundo, a fundo, nos seus olhos sem iguais.

Ela mora com a beleza – com a beleza que perecerá;
Com a alegria de mão aos lábios sempre erguida
Para dizer adeus; e junto do prazer dorido
Que se faz veneno enquanto a boca suha, pura abelha;
Sim, no próprio templo do deleite
É que a melancolia tem, velada, o seu supremo santuário,
Embora só a veja aquele cuja língua estrênua
Rebente a uva da alegria contra o céu da boca;
A alma deste provará a tristeza que é o seu poder,
E em meio aos seus troféus nublados ficará suspensa.

PARTIU O DIA

Partiu o dia, e tudo, nele, o que é doçura!
Doces lábios e voz, mão e seio macio,
Morno alento, enlevado, encantador cicio,
Talhe perfeito, olhar de luz, langue cintura!
Ada flor e seus botões as graças não diviso;
A visão da beleza ao meu olhar perdida
A forma da beleza de meus braços ida
Indas voz e calor, a alvura e o paraíso...
Tudo se esvaneceu ao fim do entardecer
Quando o fusco dia santo, ou antes noite santa
Do amor de olente cortinado a trama adianta
Da escuridão, para ocultar todo prazer:
Mas li o missal do amor e dormirei portanto
Que vê o amor como jejuo e rezo tanto.

ODE SOBRE A INDOLENCIA

III

Te4rceira vez passaram perto, e enquanto isso
Voltaram um momento o rosto para mim:
Depois esvaeceram e, para segui-las,
Ardi e ansiei por asas, pois reconheci-as;
A primeira, formosa virgem, era o amor;
A segunda, a ambição, de palidez nas faces
E sempre atenta com seus olhos fatigados;
Na última, que quanto mais censuram tanto
Mais eu amo, donzela extremamente indócil,
Reconheci o meu demônio, a Poesia.

SE TENHO MEDO

Se tenho medo de meus dias terminar
Antes de a pena me aliviar o espírito, antes
De muito livro, em alta pilha, me encerrar
Os grãos maduros como em silos transbordates;
Se vejo nas feições da noite constelar,
Enormes símbolos nublados de um romance,
E penso que não viverei para copiar
As suas sombras com a mão maga de um relance;
Quando sinto que nunca mais hei de te ver,
Formosa criatura de um momento ideal!
Nem hei de saborear o mítico poder
De amor irrefletido! – então no litoral
Do vasto mundo eu fico só, a mediar,
Até ir fama e amor no nada naufragar.

JOHN KEATS - John Keats (1795-1821) foi um poeta Inglês do periodo Romântico. Durante sua curta vida, Keats produziu uma profunda e impressiva coleção de trabalhos. Entre seus mais refinados trabalhos encontram-se 65 sonetos, tais como Ode a Uma Urna Grega. O trabalho de Keats raramente foi bem recebido pelo público e pela crítica. Indiferente a isso, ele escreveu com abundância e qualidade, por toda a sua curta vida. Entre 1818 e 1819, concentrou-se em dois poemas importantes: Hyperion (inacabado), em versos brancos, sob a influência de John Milton, e La Belle Dame Sans Merci. Dedicava todo tempo livre à leitura. No ano em que se publica Endymion, Keats encontrou Fanny Brawne, a grande paixão de sua vida. Teve que separar-se dela em 1820, devido à tuberculose que ele havia contraído. Foi para a Itália, onde morreu poucos meses depois. Sobre seu túmulo, no cemitério protestante de Roma, foi esculpida a inscrição que ele mesmo redigira: Here lies one whose name was writ in water (Aqui descansa um homem cujo nome está escrito sobre a água). Os poemas selecionados são do livro “Poemas de John Ketas”, traduzido por Pericles Erugenio da Silva Ramos.

Fonte:
KEATS, Jogn. Poemas. São Paulo: Art, 1985.

Confira mais:
o Fecamepa à República e uma perguntinha que não quer calar: você ainda vai pra Caixa Economica Federal, vai?

E mais:
NITOLINO NO REINO ENCANTADO DE TODAS AS COISAS
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e
Luiz Alberto Machado no DOMINGÃO DO FAUSTÃO.
PS: já está disponível para download de todas as edições do Tataritaritatá na Rádio Difusora de Alagoas no seu computador

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quarta-feira, novembro 18, 2009

PAPA HIGHIRTE



Imagem: foto da atriz Eliza Dushku (Revista Allure)

DE UMA CENA DE PAPA HIGHIRTE, DE ODUVALDO VIANA FILHO

(...)
Papa Highirte – É. Você tem bom gosto menina...

Graziela –Que é isso, Papa, eu não...

Papa Highirte – Tenho vinte séculos, menina, completos em março, não pense que me engana... É justo. Eu preciso de ajuda mesmo para amar você.

(Senta-se. Bate nas pernas. Graziela senta-se no colo dele).

Papa Highirte – Agora beijos.

(Graziela sorri. Encosta-se nele. Beija-o).

Papa Highirte – Por que não veio ontem?

Graziela – Assim... não vim... fiquei assim...

Papa Highirte – Boa explicação, menina, boa explicação....

(Riem. Ficam abraçados. Muda a luz. Papa continua com Graziela no colo)

(....)

Papa Highirte – Tem belas coxas a Graziela... é a putinha mais bem conservada que conheço, a putinha... um seio pequeno, a putinha tem um seio pequeno de donzela... hein? Você não acha bonita a coxa de Graziela?... Hein, Mariz?..... hum.... o rapaz tem seus orgulhos....

(...)

Mariz - Falou do seu peito, da sua coxa, da sua anca, anca de égua de Grande Prêmio.... me contou como beija seu peito, peito de menina debutante, que ele beija seu peito até ficar roxo o bico do seio...

(Graziela ri).

Graziela - ... sabe? E ele senta numa cadeira e pede pra mim andar, primeiro vestida, assim toda coberta, eu fico andando, aí ele pede pra tirar o soutien, fico só de vestido o seio balançando, acho que andei um dia a tarde toda, parecia uma exaustão, ele fica olhando, fuma, bebe pulque, sabe o que ele mais gosta que eu faça? Vou andando assim de costas, a blusa fechada, aí eu pego chego bem de longe e assim de repente viro assim com a blusa aberta, fico um instante, zapt, ai viro de novo, ai ele pede pra mim dançar como eu danço na boite....

PAPA HIGHIRTE – peça teatral do autor e ator Oduvaldo Viana Filho (1936-1974), participante ativo do Teatro de Arena, fundador do Centro Popular de Cultura e do Grupo Opinião. Teve sua trajetória personificada pela luta contra o imperialismo cultural. Sua dramaturgia coloca em cena a realidade brasileira através do homem simples e trabalhador, sendo unanimemente considerada a mais profícua de sua geração, com textos como Chapetuba Futebol Clube, Papa Highirte e Rasga Coração. Papa Highirte foi escrita em 1968, relata ocaso de um ditador latino-americano, no exílio, amargando suas obsessões e seus fantasmas do passado. Por mais que ele se veja como um bom homem, sua ação ou omissão causou um injusto aglomerado de vítimas. O texto se tece e constrói em torno desse ajuste de contas fatal, quando o personagem cogita o regresso ao seu País. Esse texto, assim como Rasga Coração, foram duas obras-primas de Vianinha, ambas premiadas em concursos promovidos na época, pelo Serviço Nacional de Teatro.

FONTE:
VIANA FILHO, Oduvaldo. O melhor teatro Oduvaldo Viana Filho. São Paulo: Global, 1984.

Confira mais:
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domingo, novembro 15, 2009

ANTÍGONA DE SÓFOCLES



Imagem: Desenho de Jack Bice


ANTÍGONA DE SÓFOCLES – O CORO


“Amor, invencível Amor, tu que subjugas os mais poderosos; que repousas nas faces mimosas das virgens; tu que reinas, tanto na vastidão dos mares, como na humilde cabana do pastor; nem os deuses imortais, nem os homens de vida transitória, podem fugir a teus golpes; e, quem for por ti ferido, perde o uso da razão!

Tu arrastas, muita vez, o justo à pratica da injustiça, e o virtuoso ao crime; tu semeias a discórdia entre as famílias...

Tudo cede à sedução do olhar de uma mulher formosa, de uma noiva ansiosamente desejada; tu, Amor, te equiparas, no poder, às leis supremas do universo, porque Vênus zomba de nós!”


ANTÍGONA DE SÓFOCLES – Antígona é uma das grandes tragédias escritas há mais de 2 mil e 500 anos pelo dramaturgo grego Sófocles, colocando o confronto entre a coragem da princesa Antígona e a tirania do rei déspota Creonte. A tragédia trata dos filhos de Édipo, os irmãos Polinices e Etéocles, que se atraiçoam e reciprocamente se matam pelo poder, restando apenas da linhagem edipiana as duas filhas Antígona e Ismenia. Com a morte dos irmãos, assume Creonte o poder, uma vez cunhado de Édipo e tio de seus filhos, indignado com Polinices e honrando a memória de Etéocles. Por isso, lança édito condenando Polinices ao relento sem sepultamento, o que leva Antígona a se indignar e descumprir suas ordens. Indignado com Antígona Creonte planeja uma morte dolorosa e lenta, determinando que fosse levada a sua última morada, para se juntar com o que ela venerava: os mortos. Após esse desfecho, Creonte ouve do adivinho Tirésias o que poderia acontecer se concretizasse todo o seu ódio em relação à filha de Édipo.Com receio que suas premonições se realizassem Creonte vai ao local onde mandou aprisionar Antígona, chegando à tumba encontra ao lado do corpo dela o de seu filho, que num ato de revolta volta-se contra seu pai e não conseguindo aplacá-lo, suicida-se. Não bastando à morte do filho sua esposa ao tomar conhecimento do fato também suicida. (Tradução de J. B. Mello e Souza).

FONTE:
SÓFOCLES. Antígona. São Paulo: W. M. Jacnson Inc, 1969.

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sexta-feira, novembro 06, 2009

VERS&PROSA PARA A MENINA AZUL



Foto: Derinha Rocha

BEM NA HORA


Luiz Alberto Machado


O meio-dia era ela.

E eu com insolação para morrer afogado no seu mar.

Era quando, bem na hora, meio dia em ponto, ela me afagava entre os seus domínios.

E eu menino peralta me valia de suas correntes oceânicas para viver além de suas profundidades.

Era o seu corpo de mar e as suas marés me embalando vida adentro com todos os brinquedos de seus tesouros.

Até que me fizesse lua e ficasse orbitando ao ser redor, walkaround, virando comensal jubarte caçando seus cardumes de beijos, suas formas totais de encantos e carinhos que me davam a sua baía para minha invasão, surfando por suas ondas na minha satisfação frenética de recolher todos as suas mínimas expressões, a ponto de vasculhar sua lama e me relar no seu lodo e curtir sua imundície e saborear a sua deletéria emanação num banquete ginofágico que se fazia a terra onde vivo e sou predador, se fazia o planeta que me abriga, a nave que me leva inimputável, o porto de todos os meus abrigos.

E dentro dela sou barco errante e teimoso a navegar num cruzeiro hedonista a brincar de luas e marés, marés de lua quando crescente eu estou rijo no cio para escalpelá-la com minhas sandices voluptuosas.

E na lua cheia ela é madura no ponto para meu regozijo pleno.

E na lua nova ela goza para me fazer o maior entre os mortais.

E na minguante ela me recolhe letárgico no seio de todas as revigorantes paixões avassaladoras.

E ela maré alta, eu rio Amazonas, o gozo em pororoca.


Veja mais
VERS&PROSA PARA A MENINA AZUL , NITOLINO E O REINO ENCANTADO DE TODAS AS COISAS e toda programação do Nitolino e do Tataritaritatá no estande da Biblioteca Publica Estadual durante a IV Bienal Internacional do Livro de Alagoas

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