quinta-feira, janeiro 29, 2009

ANA CRISTINA POZZA



Imagem: 30 Le Petiti, foto de Seven.

OS LUXURIOSOS VERSOS FEMININOS DE ANA CRISTINA POZZA

GOSTO DE TIRAR A ROUPA

Gosto de tirar a roupa
E sentir o teu caralho duro
Enchendo de prazer a minha boca
Deixando-me louca de tesão
Enquanto vou sendo beijada com sofreguidão...
Gosto de tirar a roupa
Virar-me de costas
E oferecer-me por inteiro
Pedindo sorrateira
A tua entrada no meu traseiro.
Gosto de tirar a roupa
E me sentir lambuzada
Inteiramente desejada
Pronta para comer
E ser comida...
Gosto de tirar a roupa
Abrir as minhas pernas
E ficar te sacaneando
Oferecendo a minha vagina quente
Cheia de vontade de ficar molhada.
Gosto de tirar a roupa
E me sentir uma puta
Pronta para ser abusada
Penetrada, amada
Tonta de tesão e dor.
Gosto de tirar a roupa
E sentir as tuas mãos me envolvendo
O teu dedo no meu cuzinho
A tua língua na minha pombinha
E a minha boca no teu pau.
Gosto de tirar a roupa
E de gritar como uma maluca
Com o prazer doidivanas
Que tu provocas no meu corpo
Quando entra em mim ereto.
Gosto de tirar a roupa
E ser obscena
Ser a tua pequena
Ser a tua tarada
Sempre pronta para tirar a roupa...

SONETO DA MULHER

Ah! Eu ainda sou uma criança
Que ama e sonha e quer
E tem no peito a esperança
De se tornar uma grande mulher.
Uma mulher autêntica e forte
Que mergulha em si e acredita
No seu poder e não na sorte
Pois é o seu desejo que dita
O seu caminho, a sua história.
Mulher de razão e emoção
Guarda o passado na memória,
Não temendo cair no chão
Faz da vida a sua glória:
Viver é o seu lema, a sua canção.

PROFISSÃO: MULHER

Do lar?!
Só se for dinheiro
Recheando a minha carteira!
Eu sou mulher!
Mulher por inteiro.
Mulher inteira.
Prefiro ser
Louca,
Des-va-i-ra-da
A ser
Isaura,
Mulher escravizada!

A TARADA NUM CARRO

Eu não minto
Eu invento
E se tomo vinho tinto
Logo me esquento!
Quando sinto,
Eu tento.
Percorro o labirinto,
Busco o vento.
Arranco o teu cinto,
Deixo-te sedento
Aí vejo o teu pinto
E sento!

LUA ALTA

Lua alta
E por trás
De tantas nuvens
Brilham estrelas...
Aqui,
Por trás desta neblina,
Brilho também...
Sozinha
E acompanhada
De mim
E de mais ninguém...
Não direi mais nada
É o silêncio que mais convém...
Agradecida,
A Lua
Sussurra:
Amém...

ESPARRAMADA NO UNIVERSO

Esparramo-me
Num calafrio de
Sensações,
De um querer ardente,
Sorrindo à imaginação
Que me invade
Sem pedir permissão...
Num repente,
Meu corpo
Intensamente
Deseja,
Sonha,
Quer,
A tua presença
No meu corpo de mulher...
Eu te quero,
Te desejo,
Me esparramo
Cada vez mais...
Olhos, Boca, Pele,
Meu sexo em flor,
Os vales de amor,
Sonham com o teu calor...
É tanto carinho,
É tanta paixão
E eu me esparramando
Num ser cheio de saudade
Numa imensidão
De louca felicidade...
Em pensamento deixaste-me nua,
Desejando ser toda tua,
Esparramada no universo,
Querendo-te dizer num só verso
(Sem rima,
Pois está de tudo acima):
Meu amor,
Te amo...

À IMENSIDÃO AZUL

Num instante,
Como num passe de mágica,
Estamos frente à imensidão azul do mar,
Andando juntos,
De mãos atadas,
Com intervalos de beijos selados,
Nos lábios e no coração...!
Como na magia de um belo sonho,
Torno-me inteira como tu és
E ainda continuo sendo eu
Oferecendo-lhe o meu coração...
Tu confundes o teu corpo com o meu
Num entrelace de vida e de paixão...!
Há o mar,
a areia,
os morros,
o sol...
E há
nós
dois.
Cerramos os olhos
E a chuva cai...
Pingos incessantes que nos fazem
Ser Água,
ser Desejo,
ser Amor...
Nos amamos com sofreguidão
E somos um só
Na alma,
no corpo,
no coração...
Quando eu me perco
Me encontro no teu olhar
Para logo me perder no teu tocar...!
Olhos nos olhos,
Boca com boca,
Pele com pele
Corpo no corpo!
A água do mar,
Os pingos dançando
E nós dois apaixonados a nos amar...!

A TUA VOZ NO PAPEL

Os dias se vão
e eu espero notícias...
Quero apenas
a tua voz
no papel
Pois ainda permanece
dentro de mim
o teu olhar
E a saudade aperta
quando os dias se vão
e eu fico a esperar...

TRABALHO DE PARTO

Vejo no seu arrasta pé,
No seu rosto de cansaço,
Vejo que falta um brilho...
Ai, meu Deus!!
A Ana está morrendo...
A Ana que engole sapos,
A Ana que não se escuta,
A Ana que dá mais importância ao outro,
A Ana que não se ama,
A Ana que só se engana...
A Ana está morrendo!
Tragam macas, psicólogos
Médicos, enfermeiros,
Muitos colos,
Esparadrapo, mercúrio, bisturi!
Tragam rápido:
O coração ainda bate...
E tragam confetes e serpentinas,
Bandas de música,
O nascer do sol,
Tragam corações em brasa,
Olhos brilhando,
Tragam sorrisos no rosto
E amor na alma!
A Ana está morrendo,
Porque,
Finalmente,
A Ana está nascendo...

GOSTOSO

Gosto de pensar.
Gosto de pensar em ti.
Gosto do gosto de pensar.
Gosto do gosto de pensar em ti.
Gosto do gosto gostoso de ti.
Gosto gostoso de ti.
Gosto de ti, gostoso.

INEBRIANTES NA DANÇA DO AMOR

Minha mente é só desejo:
Minha boca clama pelo teu beijo,
Meu corpo pulsa pelo teu toque,
Meu ser estremece pelo teu olhar.
Eu sou,
inteiramente,
lua,
nua,
tua.
Desejo acima de desejo
Corpo sustentando corpo
Alma comportando alma.
Tu
infinitamente
no meu
íntimo...
Nós dois
Inebriantes
Na dança do amor
A tocar
A sentir
A gozar
Na explosão do depois...

FEZ, TÁ FEITO

Fez, tá feito
Sem essa de ficar se arrependendo
Como se houvesse tempo sobrando por aí,
Em qualquer banco de praça,
Nos galhos das árvores,
Nos braços translúcidos do Sol.
Fez, tá feito
E que tudo venha como proveito,
Como algo a mais a ser vivido,
A ser aprendido,
A ser sentido
E jamais, jamais,
A ser algo arrependido.
Fez, tá feito
E se o mundo parecer cair na cabeça,
As lágrimas tornarem-se rios,
A angústia dominar o peito,
Não tem jeito,
O negócio é encher a alma de coragem
E bola pra frente,
Pois a vida é pra ser vivida
E jamais para ser coisa arrependida.
Fez, tá feito
E que se abra os braços,
O peito,
A alma
O sorriso
Para a vida,
Para o Sol,
Para a Lua,
Para o que está para vir!
Fez, tá feito.
Ser feliz é se permitir...

TESÃO E SONETO

Enquanto segues em frente,
Deito-me maliciosa em teu leito,
Sentindo teu corpo quente:
Diante das tuas mãos, tudo aceito...
Roubas meus seios da minha roupa,
Acariciando-os com intensos beijos,
Deixando-me completamente louca,
Abrindo-se para ti a Flor dos meus Desejos...
Sou só desejo, sou toda tua...
Beijo-te inteiro com sofreguidão,
Enquanto deixas-me totalmente nua,
Provocando em meu corpo espasmos e gemidos,
Embalo com lambidas teu tesão
Até nos tornarmos um só em todos os sentidos...!

PALPITANDO ALUCINADO

Não bateu inspiração...
O que me move
É esta enlouquecida paixão
Que dispara o coração
A cada suspiro de saudade
Quando aumenta a vontade
De encontrar os doces lábios teus...
E todo o meu corpo,
Palpitando alucinado,
Volta-se a esta saudade
Espreguiçando-se num cansaço
Só pra ter o teu abraço
Enlaçando apertado
Todo o desejo meu...

ANA CRISTINA POZZA é poeta e psicóloga catarinense, edita o o blog Ana C. Pozza.

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terça-feira, janeiro 27, 2009

BOB MOTTA



Imagem: Aurora, escultura em bronze 165x54x48 do escultor, pintor, desenhista, gravurista e ceramista pernambucano Abelardo da Hora.

A APOLOGIA À MULHER DO POETA POTIGUAR BOB MOTTA

Se a mulher vem da costela,
e é gostosa como é;
tu já pensastes se ela,
fosse feita do filé ?...

CANTADA LÍRICA DE UM MATUTO...

Acordei de madrugada,
apóis sonhá cum você.
Essa é a razão e pruquê,
tô lhe iscrevendo, minha amada.
Lhe vi quage dirmaiada,
linda e nua, sem pudô.
Seu chêro imbriagadô,
me dexô maraviado,
dispôi de nóis tê travado,
uma batáia de amô.

Nêsse sonho tão gostôso,
isquecendo ôtos assunto,
nóis passemo a tarde junto,
prá mim, foi maraviôso.
Sastisfeito e orguiôso,
tezão prá lá de profundo,
uma vida in um sigundo,
cum nossos côipo suado,
fizemo, maraviado,
o maió amô do mundo.

Sem pressa, divagaríin,
no moté fui lhe dispindo,
você cunsintiu surrindo,
uis meus gesto de caríin.
Num improvisado níin,
eu lhe deitei cum coidado,
te oiando maraviado,
vi teu côipo me chamando,
quage qui me supricando,
p’ru mode sê ixplorado.

Naquêle isato momento,
a tarefa eu cumecei.
De riba abaixo bêjei,
o tão belo munumento.
De amô, faminto e sedento,
juro, me deliciei.
De emoção inté chorei,
vi tu, tôda arrupiada,
no início da caminhada,
a cada bêjo qui eu dei.

Te amei de tôda manêra,
qui se possa imaginá.
Lhe fiz gemê, fiz chorá,
de amô, uma tarde intêra.
Você, incríve parcêra,
tombém num se acumodô.
Pru pôco, quage matô,
seu poeta apaixonado,
qui ficô ixtinuado,
cum o qui você aprontô.

No verso, quero dizê,
cumo foi lindo, querida;
lhe vê tão disinibida,
se tremendo de prazê.
Inda sinto, pode crê,
ais suais côxa prendendo,
minha cabeça e eu sóivendo,
lá na cama do moté,
teu maraviôso mé,
de feliz, quage morrendo.

Meu amô, se você qué,
me vê feliz, de verdade,
vamo torná realidade,
êsse meu sonho, muié.
Se acauso você quisé,
só abasta uis seus caríin.
Faça o seu arrumadíin,
e adispôi, mande chamá,
o covêro prá interrá,
o qui sobrô do véíin...

MEUS POEMAS AMORÔSO
(Poema Matuto Erótico)

Meus poemas amorôso,
cum erotirmo e tezão,
iscrevo cum o coração,
e num acho iscandalôso.
Se parece maliciôso,
é pruquê o farso pudô,
jogo fora, meu amô.
E tu pode tê certêza,
prá êles, busco a belêza,
no teu côipo sedutô.

Num longo aperto de mão,
no fogo do teu oiá,
num surriso a insinuá,
a propíça ocasião.
Na duçura de um chupão,
nuis mil lugá mais gostôso.
Nuis bêjo maraviôso,
de tua bôca insaciáve,
in tua língua incansáve,
e in teus peito apititôso.

No ispaço entre uis dois, chêrôso,
e nuis teus mamilo armado,
nos teus pêlíin iriçado,
num abraço in preno gôzo.
Num afago carinhôso,
no ispaço prometedô,
do imbigo ao púbis, setô,
da fruita doce e gostosa,
da mais fóimosa dais rosa,
do jardim do teu amô.

Nais côxas grossa, ruliça,
no mais qui lindo quadril,
in tua bunda, nota mil,
qui o meu tezão cobiça.
Na beleza da priguiça,
que vem de tu, saciada.
In tua calcinha rendada,
in tu, surrindo prá mim,
sobre o lençó de citim,
languidamente istirada...

BÊJO SUA FRÔ DO DESEJO
INTÉ VOCÊ DIRMAIÁ

(Cordel erótico matuto)

Sô poeta sessentão,
mais tu pode fazê fé.
Qui o tá do bicho muié,
me anima e dá reinação.
Inda me resta tezão,
você pode acreditá.
Se eu mais tu me deitá,
pensando qui é um “vialêjo”,
BÊJO SUA FRÔ DO DESÊJO,
INTÉ VOCÊ DIRMAIÁ.

Eu quero você, muié!
Lhe peço, num se aburrêça.
Bêjo você, da cabeça,
inté seu dedão do pé.
Me lambuzo no seu mé,
mode me deliciá.
Juro qui se tu dêxá,
eu, qui nem rato no quêjo,
BÊJO SUA FRÔ DO DESÊJO,
INTÉ VOCÊ DIRMAIÁ.

Sô viajante do amô,
da istrada maraviosa,
dais cuiva mais pirigosa,
do teu côipo sedutô.
Sô carente do calô,
qui você tem prá me dá.
Mais, mode lhe apragatá,
e acumpanhá seu molêjo,
BÊJO SUA FRÔ DO DESÊJO,
INTÉ VOCÊ DIRMAIÁ.

Vô chegá divagaríin,
vô tirá seu sutian,
vô vê suais duais maçã,
carente do meu caríin.
C’uma lambida de finíin,
faço tu se arrupiá.
E lhe vendo suspirá,
dispudorado me vêjo,
BÊJO SUA FRÔ DO DESÊJO,
INTÉ VOCÊ DIRMAIÁ.

Quando do bãe tu saí,
me ispere qui eu tô chegando.
Vá logo se perparando,
de amô nóis vai sucumbi.
A doçura de um cáquí,
sei qui in você, vô achá.
Ali vô me lambuzá,
fico feliz num lampêjo,
BÊJO SUA FRÔ DO DESÊJO,
INTÉ VOCÊ DIRMAIÁ.

Bem fresquinha e prefumada,
vistindo um longo eu te acho.
Maginando qui pru baaixo,
tu num tá usando é nada.
Cum a frô da pele iriçada,
feliz, vô te dirnudá.
Te fazê munto gozá,
acordando o lugarêjo,
BÊJO SUA FRÔ DO DESÊJO,
INTÉ VOCÊ DIRMAIÁ.

Vô transfoimá um sigundo,
numa vida, minha amada.
Nóis vai dá uma trepada,
da qui cego vê o mundo.
No erotirmo, vamo fundo,
inté a gata miá.
Cum a língua eu vô vascuiá,
Você todinha, no insêjo,
BÊJO SUA FRÔ DO DESÊJO,
INTÉ VOCÊ DIRMAIÁ.

Se inrrolada na tuáia,
passá pru eu, eu lhe agarro.
Sem rôpa, nóis tira um sarro,
e o seu côipo me agasáia.
Vamo prá bêra da praia,
prumode mió trepá.
No quilaro do lua,
eu, poeta sertanejo,
BÊJO SUA FRÔ DO DESÊJO,
INTÉ VOCÊ DIRMAIÁ.

Se acauso você quizé,
ir mais eu lá prá fazenda,
vô aimá a nossa tenda,
detráis de casa, muié.
Assistindo o garnizé,
uma penosa traçá.
Nóis vai se intusiarmá,
no cenáro qui pranêjo,
BÊJO SUA FRÔ DO DESÊJO,
INTÉ VOCÊ DIRMAIÁ.

Se você quizé cumigo,
o qui eu quero cum você,
nunca mais vai s’isquecê,
do qui eu fizé cuntigo.
Sem medo, no iscuro eu sigo,
mode o seu côipo afagá.
Canto canção de niná,
dispôi, fazendo o qui aimêjo,
BÊJO SUA FRÔ DO DESÊJO,
INTÉ VOCÊ DIRMAIÁ.

Mêrmo tando eu cum sessenta,
cum muié eu me deleito.
Lhe dêxo daquele jeito,
quente cumo uma pimenta.
Só num sei se tu agüenta,
o qui eu quero lhe aprontá.
Porém, se você topá,
saciada lhe antevêjo,
BÊJO SUA FRÔ DO DESÊJO,
INTÉ VOCÊ DIRMAIÁ.

Éis minha fonte de tezão,
tombém; digo e num me acanho,
personage duis meus sonho,
oceano de inspiração.
Letra da minha canção,
mutivação prá eu cantá,
você pode acreditá,
qui a língua, in você calêjo,
BÊJO SUA FRÔ DO DESÊJO,
INTÉ VOCÊ DIRMAIÁ...

BOB MOTTA – o poeta potiguar Roberto Coutinho da Motta, artisticamente Bob Motta, é membro da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte, da União Brasileira de Trovadores – UBT-RN, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, União dos Cordelistas – UNICODERN, Associação dos Poetas Populares do Rio Grande do Norte e do Instituto Histórico e Geografico do Cariry – PB.

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domingo, janeiro 25, 2009

VERS&PROSA DE AMOR PARA A MENINA AZUL



Imagem: foto de Derinha Rocha.

TERCEIRO POEMA DE AMOR PARA A MENINA AZUL

Luiz Alberto Machado

O terceiro poema pra ela é como o terreiro aquarela, tudo dela que faz comigo: a cobiça, os castigos, as explorações do umbigo, tudo que nela vem pra mim. Assim: ela me tira o sono, me larga em abandono. Rouba meu sossego, se fecha em segredo. Me prega uma peça, me faz de trepeça. Me torra a paciência, me larga na demência do coração a pedir clemência e ela embromando, nem aí. Tai, ela me dá nos nervos, chega eu me atrevo a cobrar atenção. Ah, não! Ela me faz de desvalido, aquele que foi vencido, caso sem solução. Mas que azarão! Ah, ela come meu juízo no meio duma chuva de granizo d´eu me lascar de montão. Que desolação! Sou fritado na sua frigideira, todo meu afeto é só brincadeira na sua cavilação. E me lasco de antemão porque sou resto de comida, a data preterida, maior sujeito broco. Ela me passa por troco, me larga por descarte, nem sirvo pra estandarte porque sou mala sem alça. Não tem a menor graça ser mercadoria sem nota, feito a caçola da Maricota, ou cotoco no osso mucumbu. Que azedo angu, d´eu pular numa perna só, de num saber desatar esse nó, sem frenagem na banguela. Tô me acabando feito panela num mata-burro que me empaco, com a moleta no sovaco, a bosta do cavalo do bandido. Nessa eu tô mesmo fudido, sem valer sequer um taco, verdadeiro cara de tabaco, feito papagaio de pirata ou vassoura atrás da porta. Ela nem desentorta e me deixa chutando lata, dando a cara à tapa, ruim que só arroz de terceira. Mas que moedeira, sou pra ela farinha de Araripina, do lixo a fedentina, inda mais carne de pescoço, liso sem tostão no bolso, jogado quem nem lavagem na pia, no castigo da água fria na latrina dá descarga, que nem mesmo a mãe do guarda vem pra me salvar. É de lascar! Sou atleta de regra três, o mais otário freguês, um juiz em campo minado, um refém seqüestrado e com o ataque na banheira, com o vacilo da bobeira e a mão à palmatória. Isso é que é uma luta inglória, feito duplicata vencida, feito cata o chefe sem torcida, eita, trabalhão danado! Sou inquilino despejado sujeito mais sem noção de perder o camburão no pantim da malcriada. Pacutia incruada que no toitiço esfrega, é aí que o bicho pega, tiro logo nove horas, dou bafejo e tudo tora, ela fica então mansinha. Faz-se então toda tadinha, com a cara mais lisa, como a guerra fosse brisa, fiquei só no esculacho. Aí acendo o facho no pinguelo da priquita, dou um jeito que ela grita chega a baba a boca larga. Tomo logo a vanguarda e me aprumo na manzanza, no meio dessa bonança da menina dos seus olhos. É nela que eu me molho, quando o milagre opera, quando ela exaspera de pernas pro ar. Aí vou me arrumar, tirando ali todo proveito, de dar-se a todo respeito, nela até morrer de amar.

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sábado, janeiro 24, 2009

ALINE DREMIR



Imagem: Vicio de ti, foto de Ao luar.

O RITUAL DA PAIXÃO DE ALINE DREMIR

A MONTARIA

Tome-me como sua
Cavalgue meu corpo
Suba meu galope
Antes do alvorecer.
Descubra caminhos
Na minha nudez
Ache a fonte viva
E mate minha sede.
Deixe minha timidez
Exposta ao vento
Abra minhas asas
Caia minhas vestes
Liberte meu grito
Dentro do gemido.
Nesse cavalgar
De pulos e suor
Gangorra de prazer
Sedução e gritos
Entre meus murmúrios
Sopros no ouvido.
No meu corpo aberto
Mira meu sentido
Caça meu espaço Cavalga-me outra
Agora invertida.

HOJE SOU TUA PUTA

Hoje sou tua mulher
Vem meu macho do dia
Penetra-me com alegria
Como se fosse tua puta
Vem com tua força bruta
Faça de mim o que quiser
Hoje eu sou tua mulher.
Hoje sou tua piranha
Tenho amor pra nós dois
Não deixe para depois
Você já é meu eleito
É o dono do meu leito
Meu sexo você assanha
Hoje eu sou tua piranha
Hoje eu sou tua amante
Amo em qualquer lugar
Tenho loucuras pra dar
Pra você fico exposta
Faço o que você gosta
Qualquer coisa excitante
Hoje eu sou tua amante
Hoje eu sou tua vagabunda
Quero cair na farra
Ser presa da tua garra
Faz de mim gato e sapato
Consome-me nesse ato
Penetra-me bem profunda
Hoje sou tua vagabunda.

O SEXO EM MIM

Vem amor...
Beijar a minha boca
Morder meus lábios
Beber minha saliva.
Quero fazer sexo
Ser possuída por ti.
Quero teu suor salgado
Brotando dos teus poros
Molhando teus pêlos
Belas gotas de suor
encharcam nossas peles.
A noite é meu templo
Sou deusa enlouquecida
Fecho os olhos e sinto
Tua boca e tua língua
Banhando-me de tesão.
Desnuda meu pudor
Desvenda minha dor
Descobre meu calor
Você é como um menino
Brincando no meu corpo.
O vulcão dentro de mim
Explode na escuridão
Nesses breves segundo
Uma música sensual
Faz o meu amanhecer
Cheio de felicidade.

RITUAL DE PERDIÇÃO

Embaixo do céu da noite
Hipnotizando a lua
Aline à poderosa
Pantagruel Gargantua
No templo como vestal
Fazendo amor ritual
Sensualíssima e nua.
Erotismo que flutua
Feiticeira do prazer
Numa divina comédia
Mostrando todo poder
Vestida só de luar
Preparada para amar
Pra todos satisfazer.
Querendo prevalecer
No elogio da Loucura
Deitada e acariciada
Seu corpo de formosura
Por mil mãos na avidez
Todas elas duma vez
Dando prazer na fartura.
No falo que lhe perfura
Eneida maravilhosa
Às vezes dando ternura
Outras vezes perigosa
Entre dezenas de amantes
Seres Ébanos galantes
Abelhas na sua rosa. Como fada milagrosa
Nesse altar da perdição
Saúda os miseráveis
Com fogo do seu tesão
Um pingo do seu olhar
Faz qualquer um desmaiar
Ou morrer nessa paixão.
Volúpia e devassidão
Num ritual, primitiva
Odisséia de luxuria
Mantendo a chama viva
A multidão em espasmo
Num coletivo orgasmo
Ela era deusa e cativa.

No seu furor, possessiva
Entre gritos triunfais
Pratica a metamorfose
Nos prazeres colossais
Transforma-se em magia
Quando a noite vira dia
E o silêncio traz a paz.

A ÉGUA E O GARANHÃO

Quando a lama virou pedra
No tórrido do sertão
De repente me aparece
Um poeta garanhão
Vem com canto de nambu
A força do Funanchu
E potencia de avião.
Quando o verde dos meus zóio
Se espalhar na plantação
Quero ver mustang rápido
Com asas de gavião Abarcar-me atrevido
Penetrar o meu sentido
Cobrir-me com emoção.
No riacho do navio
Quando eu der de pinote
Quero um quarto de milha
Já pronto pra dá o bote
Se ele me pegar molhada
Rendo-me apaixonada
Deixe ele quebrar meu pote.
Só quando omandacaru
Na seca tá fulorando
Eu sinto todo arrepio
Como égua cavalgando
Nesse cheiro de potranca
Eu quero um peso na anca
Um puro sangue me amando.
Já fazem três noites
Que pro norte relampeia
Eu cavalgando no cio
Com cavalo que campeia
Um poeta campeão
Metido a garanhão
Que no meu corpo passeia.

RITUAIS DA PAIXÃO

O encontro aconteceu
O gosto do desejo explodiu
O esperado momento
Na paixão se rendeu.
Amantes se buscando
Amor, tesão e loucura,
Na porta do quarto
O amor se abrindo.
Roupas arrancadas
Tensão e anseios
Bocas se beijando
Línguas se buscando
Corações a mil.
Uma fusão de corpos
Se atraindo
Se acoplando
Se ajustando.
O jogo do amor desesperado
Tão esperado
Na busca do prazer intenso.
A batalha amorosa
Na volúpia escandalosa
Uma disputa de prazer.
O corpo cheirando a sexo
Impregnado de sensualidade
O sangue fervendo,
Mãos em toques sensuais
Línguas pelos corpos
O amor nos rituais.
A loucura não espera
O tempo certo para amar
Ama na porta, no chão,
Só os loucos amam assim!
E os amantes ocasionais.


ALINE DREMIR POR ALINE DREMIR: Sou uma mulher de trinta. Moro sozinha com dois filhos pequenos. Troquei a traição pela solidão. Trabalho muito, e ganho pouco. Gosto de amores curtos e passageiros. Já tive meu grande amor. Hoje amo sem compromisso. Não sou formada em nada, mas fiz a faculdade da vida. Moro aqui no fim do Brasil, onde o vento faz a curva. Escrevo só por escrever, pra passar o tempo e materializar meus sentimentos.

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segunda-feira, janeiro 19, 2009

VERS&PROSA DE AMOR PARA A MENINA AZUL



Imagem: Derinha Rocha

SEGUNDO POEMA DE AMOR PARA A MENINA AZUL

Luiz Alberto Machado

O segundo poema vem como emblema do amor por ela que trago na lapela e no meu coração. É como a canção que canto pra ela todos os dias e em todo momento.

É o segundo beijo renovando o desejo. O segundo sobejo de nossas carnes amadas e curtidas

Um segundo afeto de valor descoberto. É a segunda premência de nossas querências.

O segundo poema de amor por ela é uma parcela fragmentada de toda expressão da pessoa amada porque eu não sei quando a noite vem, porque seus olhos eternizam o riso do sol em mim.

É nela que eu vivo mesmo quando ela faz da gente um dramalhão de tv. Ou quando arenga engrossando o pirão e azedando o pavê. Ou quando embola o meio de campo empancando com tudo pra virar o meu mundo só no empate. Aí ela frisa o capricho revirando a lata do lixo a forçar disparate. Até que ela me tira do lance querendo que eu dance. Catimba na graça fazendo trapaça. E passa recibo mandando rebote. E me faz de inimigo, me dá baixa no estoque. Enfim, não me dá chance, tudo fora do alcance. E me passa calote fazendo pirraça: - Dessa não passa! E arma a desgraça e logo se intriga, piora a cantiga só de reprimenda. E não se emenda, não tem oferenda e revolve o passado, remove montanhas, me larga de lado sem lençol, nem fronha. E eu fico jogado, morto de vergonha.

Aí ela me dá a vida dela e exige que eu dê jeito. E me joga despeito na lata sua rispidez insensata. O balde ela chuta: - que filho da puta! E se desengraça quando tudo extravasa na beira do fim. Acabou-se o quindim, acabou-se a doçura. Vira uma pedra ruim na minha ternura.

Então já despejado, vou abatumado, coração consternado pra longe dali. Quando menos espero, ela vem me resgata daquela cena trágica. E meu ser arrebata em suas mãos mágicas. E me aquece com seu calor me fazendo a vassoura pro seu vôo. E me aperta tão bem a me fazer de refém de sua bruxaria. Maior ventania. E me abraça com o paraíso na boca quando eu percebo que de amor ela está louca.

E eu só sei que a vida passa quando ela cheia de graça vem se despedir eterna nos meus pensamentos como se daquele momento amanhã eu morresse. E dali procedesse nessa urgência no vôo pelo amor que celebra toda ventura da vida, pelo amor que me traz a razão de viver

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sábado, janeiro 17, 2009

GREGORIO DE MATOS GUERRA



Imagem: Purity, do pintor italiano de Giuseppe Dangelico Pino.

A POESIA ERÓTICA DE GREGÓRIO DE MATOS GUERRA

ÂNGELA

Anjo no nome, Angélica na cara.
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
em quem, senão em vós se uniformara?
Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.

NECESSIDADES FORÇOSAS DA NATUREZA HUMANA

Descarto-me da tronga, que me chupa,
Corro por um conchego todo o mapa,
O ar da feia me arrebata a capa,
O gadanho da limpa até a garupa.
Busco uma freira, que me desemtupa
A via, que o desuso às vezes tapa,
Topo-a, topando-a todo o bolo rapa,
Que as cartas lhe dão sempre com chalupa.
Que hei de fazer, se sou de boa cepa,
E na hora de ver repleta a tripa,
Darei por quem mo vase toda Europa?
Amigo, quem se alimpa da carepa,
Ou sofre uma muchacha, que o dissipa,
Ou faz da mão sua cachopa.

POESIA AMOROSA - A uma freira, que satirizando a delgada fisionomia do poeta lhe chamou “pica-flor”

Se pica-flor me chamais,
Pica-flor aceito ser,
Mas resta agora saber,
Se no nome, que me dais,
Meteis a flor, que guardais
No passarinho melhor!
Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
E o mais vosso, claro fica, que fico então Pica-flor.

SONETO

Rubi, concha de perlas peregrina,
Animado cristal, viva escarlata,
Duas safiras sobre lisa prata,
Ouro encrespado sobre prata fina.
Este o rostinho é de Caterina;
E porque docemente obriga, e mata,
Não livra o ser divina em ser ingrata,
E raio a raio os corações fumina.
Viu Fábio uma tarde transportado
Bebendo admirações, e galhardias,
A quem já tanto amor levantou aras:
Disse igualmente amante, e magoado:
Ah muchacha gentil, que tal serias,
Se sendo tão formosa não cagaras!

AOS VÍCIOS

Eu sou aquele que os passados anos
Cantei na minha lira maldizente
Torpezas do Brasil, vícios e enganos.
E bem que os descantei bastantemente,
Canto segunda vez na mesma lira
O mesmo assunto em pletro diferente.
De que pode servir calar quem cala?
Nunca se há de falar o que se sente?!
Sempre se há de sentir o que se fala.
Qual homem pode haver tão paciente,
Que, vendo o triste estado da Bahia,
Não chore, não suspire e não lamente?
Isto faz a discreta fantasia:
Discorre em um e outro desconcerto,
Condena o roubo, increpa a hipocrisia.
O néscio, o ignorante, o inexperto,
Que não elege o bom, nem mau reprova,
Por tudo passa deslumbrado e incerto.
E quando vê talvez na doce trova
Louvado o bem, e o mal vituperado,
A tudo faz focinho, e nada aprova.
Diz logo prudentaço e repousado:
- Fulano é um satírico, é um louco,
De língua má, de coração danado.
Néscio, se disso entendes nada ou pouco,
Como mofas com riso e algazarras
Musas, que estimo ter, quando as invoco?
Se souberas falar, também falaras,
Também satirizaras, se souberas,
E se foras poeta, poetizaras.
A ignorância dos homens destas eras
Sisudos faz ser uns, outros prudentes,
Que a mudez canoniza bestas feras.
Há bons, por não poder ser insolentes,
Outros há comedidos de medrosos,
Não mordem outros não - por não ter dentes.
Quantos há que os telhados têm vidrosos,
e deixam de atirar sua pedrada,
De sua mesma telha receosos?
Uma só natureza nos foi dada;
Não criou Deus os naturais diversos;
Um só Adão criou, e esse de nada.
Todos somos ruins, todos perversos,
Só os distingue o vício e a virtude,
De que uns são comensais, outros adversos.
Quem maior a tiver, do que eu ter pude,
Esse só me censure, esse me note,
Calem-se os mais, chitom, e haja saúde.

FINGE QUE DEFENDE A HONRA DA CIDADE E APONTO OS VICIOS DE SEUS MORADORES
Uma cidade tão nobre, uma gente tão honrada
veja-se um dia louvada
desde o mais rico ao mais pobre:
cada pessoa o seu cobre, mas se o diabo me atiça,
que indo a fazer-lhe justiça algum saia a justiçar,
não me poderão negar que por direito,
e por Lei esta é a justiça, que manda El-Rei.
O Fidalgo de solar se dá por envergonhado
de um tostão pedir prestado
para o ventre sustentar:
diz que antes o quer furtar por manter a negra honra,
que passar pela desonra de que lhe neguem talvez;
mas se o virdes nas galés com honras de Vice-Rei,
esta é a justiça, que manda El-Rei.
A Donzela embiocada mal trajada, e mal comida,
antes quer na sua vida ter saia, que ser honrada:
à pública amancebada por manter a negra honrinha,
e se lho sabe a vizinha e lho ouve a clerezia,
dão com ela na enxovia e paga a pena da lei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.
A Viúva autorizada, que não possui um vintém,
porque o Marido de bem deixou a casa empenhada:
ali vai a fradalhada, qual formiga em correição,
dizendo que à casa vão manter a honra da casa;
se a virdes arder em brasa, que ardeu a honra entendei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.
Se virdes um Dom Abade sobre o púlpito cioso,
não lhe chameis religioso,
chamai-lhe embora de frade:
e se o tal paternidade rouba as rendas do convento
para acudir ao sustento da puta, como da peita,
com que livra da suspeita do Geral, do Viso-Rei:
esta é a justiça, que manda El-Rei.

A UMA DAMA

Dama cruel, quem quer que vós sejais,
Que não quero por hora descobrir-vos,
Dai-me licença agora para argüir-vos,
Pois para amar-vos sempre ma negais:
Por que razão de ingrata vos prezais,
Não me pagando o zelo de servir-vos?
Sem dúvida deveis de persuadir-vos,
Que a ingratidão aformoseia mais.
Não há cousa mais feia na verdade:
Se a ingratidão aos nobres envilece,
Que beleza fará, o que é fealdade?
Depois, que sois ingrata me parece,
Que hoje é torpeza o que era então beldade,
Que é flor a ingratidão que em flor fenece.

DEFINIÇÃO DE AMOR (ROMANCE)

Nada disto é, nem se ignora,
Que o Amor é fogo, e bem era
Tivesse por berço as chamas
Se é raio nas aparências.
Este se chama Monarca,
Ou semideus se nomeia
Cujo céu são esperanças,
Cujo inferno são ausências.
Um Rei, que mares domina, um mundo que sopeia,
Sem mais tesouro que um arco,
Sem mais arma que uma seta,
O arco talvez de pipa,
A seta talvez de esteira,
Despido como um maroto, cego como uma topeira.
Arre lá com tal amor!
Isto é amor? É quimera,
Que faz de um homem prudente
Converter-se logo em besta.
Uma bofia, uma mentira,
Chamar-lhe ei mais depressa,
Fogo selvagem nas bolsas,
E uma sarna nas moedas.
É este, o que chupa, e tira
Vida, saúde e fazenda.
E se hemos falar a verdade
É hoje o Amor desta era
Tudo uma bebedice.
Que se acaba co dormir
E co dormir se começa.
O Amor é finalmente
Um embaraço de pernas,
Uma união de barrigas,
Um breve tremor de artérias,
Uma confusão de bocas,
Uma batalha de veias,
Um rebuliço de ancas,
Quem diz outra coisa é besta.

II

Ardor em firme coração nascido;
pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:
Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionados;
Quando cristal, em chamas derretido.

SONETO - A Certa Personagem Desvanecida

Um Soneto começo em vosso gabo:
Contemos esta regra por primeira,
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo.
Na quinta torce agora a porca o rabo;
A sexta vai também desta maneira;
Na sétima entro já com grã canseira,
E saio dos quartetihos mutio brabo.
Agora nos tercetos que direi?
Direi que vós, Senhor, a mim me honrais
Gabondo-vos a vós, eu fico um rei.
Nesta vida um soneto já ditei;
Se desta agora escapo, nunca mais:
Louvado seja Deus, que eu o acabei.

GREGORIO DE MATOS GUERRA - Gregório de Matos Guerra (1623-1696) é, para muitos, o verdadeiro iniciador da literatura brasileira. Como um dos primeiros poetas brasileiros, sua obra sobreviveu manuscrita sendo a confrontação das duas grandes contradições surpreendidas no lírico e no satírico, voltado para a critica e a agressão ferina, às vezes de autolamentação, aos costumes, hábitos e individualidades de sua época, compondo um retrato amplo de Salvador da segunda metade do séc. XVII, inclusive do Recôncavo Baiano, onde se desenvolvia a economia do açúcar. Também sua obra é vista como uma manifestação da época, objetiva e documental, exaltando o amor carnal e platônico, destacando-se na sua poesia a beleza das mulheres. Seu estilo variado, desde satírico, lírico, amoroso e religioso demonstra a tradição da poesia quinhentista portuguesa, de Camões, mais a influencia preponderante do Barroco espanhol com Lope de Veja e Quevedo. Sua sátira em versos cortantes atinge grandes e pequenos, e acaba sendo perseguido e destituído de suas funções de vigário-geral e tesoureiro-mor, nomeações que havia conseguido através de D. Gaspar Barata. Sua fama, inicialmente foi de caráter local, com a obra inédita ou espalhada por inúmeras publicações, inclusive alguns poemas sem assinatura. Segundo Assis Brasil, tido como canalha ou gênio, o Boca do Inferno é responsável pelo primeiro momento alto da poesia brasileira, praticamente na época de sua origem e formação. Um barroco por excelência, segundo os críticos, quer na poesia lírica ou religiosa, sendo a sua obra de temas pendulares, como o amor platônico e devasso, o pecado e a pureza, a boemia e o moralismo. Critico mordaz da sociedade, foi reconhecido pelo padre Antonio Vieira, que fez paralelo entre os seus Sermões e a Sátira de Gregório de Matos, como instrumentos de critica. Segundo Ronald de Carvalho, foi Gregório de Matos o primeiro jornal brasileiro, onde estão registrados os escândalos miúdos e graúdos da época, os roubos, os crimes, os adultérios e até as procissões, u aniversários e os nascimentos que ele tão jubilosamente celebrou nos seus versos.

BIBLIOGRAFIA
AMADO, James. Gregório de Matos. Obra Poética. Rio de Janeiro: Record, 1990.
AMORA, Antônio Soares. História da Literatura Brasileira: séculos XVI-XX. São Paulo: Saraiva, 1955.
AMOROSO LIMA, Alceu. Introdução à literatura brasileira. Rio de Janeiro: Agir, 1956.
ARAUJO, Ruy Magalhães de. Gregório de Matos à Luz da Filologia: Glossário das Poesias Maldizente e Fescenina. Dissertação de Mestrado de Filologia Românica. Departamento de Lingüística e Filologia dos Cursos da Pós-Graduação da Faculdade de Letras da UFRJ, 1988.
_______. Glossário Crítico-Etimológico das Poesias Atribuídas a Gregório de Matos e Guerra. Tese de Doutorado de Filologia Românica. Departamento de Lingüística e Filologia dos Cursos da Pós-Graduação da Faculdade de Letras da UFRJ, 1993.
ARARIPE JR., T. A. Gregório de Matos. Obra Crítica. Rio de Janeiro: MEC/Fundação Casa de Rui Barbosa, 1960.
ÁVILA, Affonso. O Lúdico e as Projeções do Mundo Barroco. São Paulo: Perspectiva, 1971.
BANDEIRA, Manuel. Noções de história das literaturas. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940.
______. Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Colonial. Rio de Janeiro: MEC/INL, 1951.
BARQUÍN, Maria del Carmen. Gregório de Matos. La época – el hombre – la obra. México: Antigua Libreria Robredo, 1946.
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1976.
BRASIL, Assis. Dicionário pratico de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1979.
______. Vocabulário técnico de literatura. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1979.
CALMON, Pedro. A Vida Espantosa de Gregório de Matos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983.
______. História da Literatura Baiana. Salvador: Câmara Municipal, 1949.
CÂMARA CASCUDO, Luís da. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: EDIOURO, 1972.
CAMPOS, Augusto de. Arte Final para Gregório. In: –––. Antiantologia da poesia baiana: Poesia invenção. Salvador: GMF-Propeg, 1974.
CARPEAUX, Otto. Pequena bibliografia critica da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1979.
CARVALHO, Ronald. Pequena história da literatura brasileira. Rio de Janeiro: F. Briguet, 1955.
COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
DIMAS, Antonio (Coord). Gregório de Matos. São Paulo: Abril, 1981.
ESPÍNOLA, Adriano. As Artes de Enganar. Um estudo das máscaras poéticas e biográficas de Gregório de Mattos. Rio de Janeiro: Topbooks, 2000.
FERREIRA, Pinto. Historia da literatura brasileira. Caruaru: Fadica, 1981.
GOMES, João Carlos Teixeira. Gregório de Matos, O Boca de Brasa. Um estudo de plágio e criação intertextual. Petrópolis: Vozes, 1985.
HANSEN, João Adolfo. A Sátira e o Engenho. Gregório de Matos e a Bahia do século XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
LIMA, Alceu Amoroso. Introdução à literatura brasileira. Rio de Janeiro:Agir, 1956.
LITRENTO, Oliveiros. Apresentação da literatura brasileira. RJ/Brasilia: Forense/Universitária/INL, 1978.
MARTINS, Wilson. A literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1967.
MIRANDA, Ana. Boca do inferno. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
ROMERO, Silvio. História da literatura brasileira. Brasília: INL, 1989.
SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976.
TELES, Gilberto Mendonça. Se souberas falar também falaras. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1989.
TOPA, Francisco. O Mapa do Labirinto. Inventário testemunhal da poesia atribuída a Gregório de Mattos. Dalvadorm (BA): Secretaria de Cultura e Turismo, 2001.
WISNIK, José Miguel. Poemas Escolhidos de Gregório de Matos. São Paulo: Cultrix, 1989.

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sexta-feira, janeiro 16, 2009

BRANCA TIROLLO



Imagem: sem título da artista plástica Ana Davidovic.

A SENSUALIDADE POÉTICA DE BRANCA TIROLLO

ÊXTASE SEXUAL

Esfera! Meu tablado amante e companheiro.
Viajo! A lua vaza entre frestas sorridente.
Traz-me tua boca nua, cruel e distante,
e próxima de uma sagacidade. Pura sugação
de o meu pensar, á ardejar nesta espera.
Além da imaginação textual, há excitação
com tifemia e tronejo, á ulcerar-me o peito,
enquanto procuro teus lábios que bamboleiam.
Vejo teus olhos triscados á sitiar-me,
lubrificando minha tricofagia como se fossem teus!
Os negros pelos que minha boca faz folia.
Alucina a temática! Teleguiada persiste.
Quase sem fé! Ajoelho-me ao tembé.
Á tunantear está! Teu corpo ao meu.
Adergando entres fios eletrizados.
Neste invento do alcochear dos dedos.
Cai um temporal no meu pensar insano.
Estou escalando montanhas em chamas.
Presa ao seu sexo, deleito o clamor dos lábios,
adormecendo no gozo da última cena.

DESEJOS PROIBIDOS

Beije-me! Toda uma eternidade, como amante.
Nesta doce magia que comporta
Nossos míseros instantes!
Beija-me como um tufão em fúria
Que atira sobre o chão, raios em cruzes.
Beija-me! Como o reflexo complexo
Destas negras e desiludidas luzes
Beija-me! Como onda inquieta
Que ronda o céu e serena beija areia
Como o cair da noite, no raiar do dia
Como sol ardente e lua fria
Apenas beija-me! Beija-me!
Neste mísero instante de magia.

FERA RACIONAL

Eis que febril queima o corpo meu,
num instante dócil, quando me toca o seu.
Estes teus braços, em laços, em plumas...
Teus encantos, espantos, espumam.
Teus olhos domados, em risos, em versos,
Teus pecados meigos, de afagos, de beijos.
Eis que a ti revelo meus sonhos, em gritos.
Num súbito instante, de amores, de dores.
Por teus insultos, deboches, rumores,
nestes negros olhos, de glória, delírios.
De pegadas duras, desvairadas loucuras,
deste pranto falso, de tortura, castigo.
Eis que tu tão farto, tão nítido, tão puro.
No tapete enrola, teu corpo, tua face,
nestas melodias, sussurros, desgastes.
Destas noites loucas, de pasmo contraste.
Tuas fantasias de sonhos malucos,
tua frente fria, de tristes desastres.
Eis que a mim volta, sereno, calado.
Num olhar carente, de
intrigas e abraços:
Destas peles rubras, de apertos, marcadas,
deste alivia fértil, que exala, espalha,
no meu corpo sadio, esgotado, espectro.
Eis que te descansa nu, sereno, e domado.

GATO DE MINAS

Gracioso és tu! Há fantasias eróticas
Transbordando em seu olhar
É pálida a sensação desgastante
Em teu corpo figurante
Teu corpo arde com sede
Teu desejo chama em chamas
O corpo da sua amante!

Não quero que seja meu deus
Nem meu demônio nem ateu.
Nem meu sonho nem meu eu.
Seja apenas, meu.

QUE AMOR É ESTE?

Que amor é este que se deseja antes de tomá-lo nos braços
E se envolve entre abraços ao partir?
Que amor é este que não deixa escolha profere e revoga,
açoitando o destino faz chorar e sorrir?
Que amor é este que com todos os defeitos se faz perfeito na dor,
extravasando no olhar leva além da vida, o perdão?
Que amor é este que dorme para esperar a morte
E não desfalece o seu esplendor?
Que amor é este, cuja essência não foge ao vento,
E faz tempestade no silêncio da noite?
Que amor é este que acalenta faz dormir e sonhar,
Invadindo o corpo, a alma e o pensar?
Que amor é este que ronda o infinito inquietando céus
E no coração vem sereno repousar?
Quero!
Entre suas ondas, de onda em onda mergulhar
Meu corpo, minha alma, meu grito
Minha calma, meu sonhar
Meus ventos, meus inventos
Em meu pensamento lento
Poder acompanhar
Tuas ondas, Mar.

Uma parte minha é anjo
Outra parte fera negra
m lado bate asa e voa

O outro a asa conduz
O veneno que do anjo
Necessariamente reluz

MOMENTOS ERÓTICOS

Momentos eróticos Quando minhas mãos tocam O transparente vinho branco Num desvio qualquer. Estranho minha face Debruçada em meu ser mulher. Os sonhos opacos e esquecidos Refletem no álcool envelhecido Estampando minha nítida nudez.

BRANCA TIROLLO – a atriz, roteirista e escritora paulista Branca Tirollo, é membro da Academia de Letras do Brasil e autora de várias peças teatrais, de diversos projetos engajados, artísticos e sociais, do documentário Mil vidas em meu pensar, de inúmeros livros de contos e poesias, além de ter participado de várias antologias.

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quinta-feira, janeiro 15, 2009

LÍVIA TUCCI



Imagem: Etendue - Óleo sobre linho, de Craig Srebnik

O ERÓTICO AVESSO DO CRISTAL DE LIVIA TUCCI

ENCARNADA

Que eu toda me desabroche em cólicas,
que eu me abra em vísceras, retóricas,
em pitangas menstruadas,
toda em cascatas para ti.
Que eu me torne corpo, culpa, cópula,
em orquídeas selvagens, que eu me forme,
em pétalas de meus seios, que eu me desforme,
quando a língua ameaça seu passeio.
Que sejas taça de morangos, num rebanho de coral,
que eu toda me inverta, no sentido absoluto da ousadia,
quando amar é decifrar o vício mais sangrento
em sobre-humana ferida que não estanca.

EVOLUÇÃO DOS HOMENS

Que me alises, felina, em pleno cio,
como os gatos se enroscam e
ronronam
horas a fio, horas a fio.
Yo no creo en las brujas
pero que las hay, hay.
E por que doem minhas vísceras de ruminante?
E pra quem armam tuas unhas fendidas,
a visão noturna, a fome de cães,
um império de animais?
Que me alises, linda, lírica,
em onírica malícia, verte
e baba a resina, a sina química
que solta dos pêlos, favos.
Que adormeça, messe, meça
outro cio que estiver por vir.
E se eu me hibernar
no teu olhar de lince?
E se eu derramar em ti,
meu líquido denso,
numa várzea de véus?
Que eu mereça tuas mandíbulas,
no alvo exclusivo, que eu pereça,
que eu feneça em nódulos,
em lendas pré-históricas, que eu me esqueça.
E assim sendo, serei o pêndulo
da tua espinha,
te guiarei das trilhas à tocaia.
Eu, descuidada, um antílope.
Nós, liquidados, presas submersas,
e nas pernas rígidas, o colapso,
no tronco, o último golpe.
Perigoso, perigoso, que te tornes,
no tempo do abate, que é ora findo,
quando as pontadas de fome
nadarem em derredor.
Deus, salva-nos do dilúvio.
Que a disputa não se finda,
que as lutas entre os machos prevaleçam,
o instinto, a onomatopéia, o instinto,
as espécies e as fêmeas.
Deus, a benção.
A ciência dos flamingos, clamo.
A fidelidade dos cisnes, clamo,
pelos animais em evolução.
Brisa nenhuma quebre a placidez dos ares,
o círculo das águas.
Que eu equilibre a natureza,
no instante letal do medo.
Animais em fuga, sejamos sempre,
em majestosa solidão.
Que nos habitem chacais do vale.
Que eu aprenda
a evitar, cada vez mais,
a tua mão de Homem.
A ciência dos flamingos, clamo.
A fidelidade dos cisnes, clamo,
pelos animais em evolução.
Brisa nenhuma quebre a placidez dos ares,
o círculo das águas.
Que eu equilibre a natureza,
no instante letal do medo.
Animais em fuga, sejamos sempre,
em majestosa solidão.
Que nos habitem chacais do vale.
Que eu aprenda
a evitar, cada vez mais,
a tua mão de Homem.

RETAGUARDA

Surram suas costas
e o sangue segue seu talhe,
escorre pela curva,
a que mais se acentua,
segue seu curso
e morre na marca,
onde tudo principia.
E ela deságua
quando os homens desabam
nas argamassas, nos orgasmos,
no terreno mais temido.
Os homens se embrenham, por instinto,
em tudo que é proibido.
E uma mulher obediente,
nessa hora, cede tudo:
seus músculos,
seu íntimo, seu absoluto.
E outra vez,
essa mulher se traça
humilde, num abraço
e ninguém vê
a vaga resignação
no seu olhar,
quando abre a porta
e murmura: “Entrai e comei.
A casa é tua.”

PÁSSARO MATERNAL

O que faz esse homem chegar
com os vendavais do seu inferno,
compondo o medo na sede do meu sangue,
quando emigro as aves roucas da garganta
e perfumo-lhe a noite com a flor do mangue?
O que dorme em tua veia,
quando te atreves a beber, incólume,
a sanguinária vertente do meu sonho?
O que faz esse homem chegar,
me suplicar como um menino,
se orientar na bússola uterina,
quando chega como animal na agonia,
que lentamente expira
e suga-me o seio maternal e viperino?
O que cospes em meu ventre:
uma matilha de sementes sórdidas?
Legiões de anjos com bocas mórbidas?
Onde sou melhor, se te invento a cada dia:
quando saio trêmula pelo vidro
ou quando te enxerto em fecunda poesia?

POR UM FIO

Arranha
esta aranha,
côncava de pêlos;
quem dera ser o fio
nesta teia
de novelos;
quem dera ter o ofício
de tecer
o que te enleia.
Aranha tecelã,
arguta trepadeira,
ah, meu amor,
ara em mim
as tramas,
com dedos
de fiandeira.

AFLUENTE

Rio caudaloso e brando,
lava-me alva e árida,
salva-me dos naufrágios,
se me navegas tanto
em travessias e correntezas.
Se em nós flutua o canto
de proas e lemes,
nas embarcações das incertezas.
Seca-me, paciente, alma à deriva,
com tua boca de rio,
lábios crespos de mar.
Rio sinuoso e vertente,
arrasta-me em enchentes de mel,
deságua-me, no corpo, em sal,
salva-me, mais uma vez,
do vicioso mal.
Se em festa, és meu rio afluente
nas águas desse (a)mar,
é onde quero navegar, barcos de sonhos,
é onde vão transbordar, influentes,
nas redes dos meus desejos.
Pássaros fluviais. Úmidos guerreiros.

HERMAFRODITA

Que eu me envolva,
que eu em vulva,
que eu me em verve.
Do corpo adormecido,
a saliva acorda-nos em tempestades,
lava-nos em cântaros, a cidade.
Do animal desordeiro,
as ancas trêmulas e góticas,
cavalga-nos o potro em soluços, os cheiros.
Que eu me envolva
na verve de tua vulva,
que eu me inflame
no fluido de teu falo,
que silente calo, calo, calo.
Da boca,
que a reparto em duas,
em desmedida e assexuada gula,
sugo de uma só vez, ambíguos lagos.

REFAZENDA

Me apresento,
nua e bela,
uma metamorfose
de animais.
Roubo seus instintos,seus pêlos e cheiros,
apores e sons,
o baque surdo
das patas
as ancas violentas,
num tremor infernal.
E me apresento,
sem distinção,
eqüina ou humana,
na dança dos quatro atos,
num jogo de entrega e fuga.
a tua pele, meus animais,
que inundam
campos, pradarias, os currais.
E corro,
voraz e bela,
por entre as cancelas
do teu coração.

STRIPTEASE

Anoiteço árida,
adormeço úmida,
no emergir dos pêlos,
no arrepio dos passos,
quando a noite tece em nós
a opala túrgida.
E no dia seguinte,
sangüínea e dilatada,
outra vez, anoiteço.
E atenta a essa festa, recomeço.
Mostro, cubro,
desnudo a curva casta,
minhas partes mais pudendas,
as mais brancas,
e o show must go on
ao som de um blue.
E entre véus
e a fina blusa, entreaberta,
o lado claro do cenário
é a luz de um abajur.
Enquanto tento despir estrelas,
te dar um amor imenso,
dentro de minha blusa, entreaberta,
constróis a Via Láctea em silêncio.

MARÍ(N)TIMA

Teu corpo alagado
é um porto selvagem e inconstante,
quando tudo fora é sequidão e estio.
Eu, enchente de rios, matas, peixes,
que teimas represar em mim.
Na incessante busca e entrega,
por sobre a pele alva e salina,
voe-me, albatroz, em doce agonia,
flecha-me o alvo, o túnel, o arco.
Inunda, finalmente, em espumas gotejantes,
a branca praia, deserta e encantada
ávidos ao mastro, redescobrindo terras,
a posse será lenta, a invasão armada.
Serei em teu corpo, a mulher que insisto,
serás em minha mão, meu pássaro em extinção.

NO REINO DE APRENDIZ

Ainda que febre e vertente
o instinto e ócio se bastam,
mais o contágio se inverte
se no avesso da fruta, sou bagaço.
Se no retalho do corpo, sou farpa
mais minha boca tritura,
a lâmina e o fio se gastam
ainda que reste a armadura.
Ainda que pele erodida
o estio do corpo se faça,
mais o dardo engravida
se no vinco da pele, sou traça.
Se no chão ou taça, sou bebida
mais minha carne se trava,
o caroço e a fruta, se comida
ainda que raiz e erva brava.
Ainda que tarântula e teia
o pó e a seda se trançam,
mais o ninho se azeda e semeia
se no micróbio e larva, sou lança.
Se a larva abrir o contágio
e a erva curar a ferida,
ainda que dure um estágio
ainda que dure uma vida.

PREFÁCIO

De todas as formas,
a que mais ama,
a que mais enseja,
é a alma turbulenta,
a que impera
na sucessão dos dramas,
cal que sedimenta.
Única armadura,
nicho de chagas,
em vão, a espreitar
o corpo,
mil sentinelas de magos.
Úvida embocadura,
necto mineral,
enfim, a esplender
em partos,
todo o avesso do cristal.

LÍVIA TUCCI – A cantora, escritora e professora mineira, Livia Tucci é bacharel em Turismo, artesã e designer de jóias e bijuterias formada pela Escola Mineira de Joalheria, em Belo Horizonte, nos cursos de Desenho de Jóias e Joalheria Básico. Estudou piano e participou do Coral do BDMG até 1994, em Belo Horizonte, como contralto e mezzo soprano. É autora do livro de poemas “O Avesso do Cristal”. Edita os blogs Miss Jazz in Black and White e Livia Tucci em Poesia, Imagens e Sons.

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FOLIA TATARITARITATÁ

domingo, janeiro 11, 2009

VERS&PROSA PARA A MENINA AZUL



Foto: Derinha Rocha

PRIMEIRO POEMA DE AMOR PARA A MENINA AZUL

Luiz Alberto Machado

Foi com seu jeito franzino que ela tirou um fino no céu e acertou em cheio e com escarcéu a minha retina.

Esse jeito menina cheia de vida traquina virou a noite do dia dentro de mim que sem guia e na maior fantasia ficou tatuada na memória.

Era a sua vitória, uma asa torta, pá virada.

Eu de chapa: será roubada?

Era não, era uma deusa em plena profanação.

Ah, que festão no meu coração.

O cheiro da sua carne amena, uma menina falena cheia de truques e simulação.

Eu na maior perdição. Ela apontando pro norte e eu seguia pro sul sua sorte, maior gamação.

Eu, então, sigo seu jeito que ofusca quando ela aonde me busca e não me dou por vencido.

Sou enxerido e muito pelo contrário, sou vencedor.

Sou o domador dessa andeja presente.

E a gente, coração cheio divide a vida meio a meio sem prova dos nove ou descarte.

Ela faz estandarte da minha expressão.

E me leva nas mãos pelo rio do seu ventre.

Eita, chaleira quente das boas esquentadas, seu chamego ponto de chegada que de mim resta quase mais nada porque sou simplesmente um reles dependente, humano reincidente querendo seu colo e suas miragens, paisagens oníricas de sua boca fatídica dos meus naufrágios.

Ela cobra então ágio no nosso céu de beijos, multiplicando os desejos de abraços, cobiças e ânsias.

Santa extravagância!

E a vida treme nos seios dela, entre o meu coração e a apalpadela no seu sexo gostoso, é aí que vem o gozo de todos ais e uis porque os nossos sonhos são todos tão azuis.

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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
BIG SHIT BÔBRAS
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sábado, janeiro 10, 2009

JEAN-JACQUES ROUSSEAU



Imagem: The Yellow Robe, do pinto italiano de Giuseppe Dangelico Pino.

UM EPIGRAMA E FRAGMENTOS DO DISCURSO SOBRE A ORIGEM DA DESIGUALDADE DE JEAN-JEACQUES ROUSSEAU

EPIGRAMA

Palpava um Barnabita irmã Colette
Por trás do parlatório, em desajeito.
A freirinha queixou-se: nem se mete
Assim. Melhor seria estar num leito.
Cara irmã, disse o monge, contrafeito,
Essa idéia vem do espírito imundo;
Deus não nos fez para estarmos a jeito
Cá embaixo, como a gente do mundo.

DISCURSO SOBRE A ORIGEM DA DESIGUALDADE
(fragmento)

“Malgrado o que dizem os moralistas, o entendimento humano deve muito às paixões, que, de comum acordo, também lhe devem muito: é pela sua atividade que a nossa razão se aperfeiçoa; só procuramos conhecer porque desejamos gozar; e não é possível conceber porque aquele que não tivesse desejos nem temores se desse ao trabalho de raciocinar. As paixões, por sua vez, se originam das nossas necessidades, e o seu progresso dos nossos conhecimentos; porque só podemos desejar ou temer coisas segundo as idéias que temos delas, ou pelo simples impulso da natureza; e o homem selvagem, privado de toda sorte de luzes, só experimenta as paixões dessa última espécie; seus desejos não passam pelas suas necessidades físicas; os únicos bens que conhece no universo são a sua nutrição, uma fêmea e o repouso; os únicos males que teme são a dor e a fome (...) Entre as paixões que agitam o coração do homem, há uma ardente, impetuosa, que torna um sexo necessário ao outro; paixão terrível que arrosta todos os perigos, derruba todos os obstáculos e, em seus furores, parece própria para destruir o gênero humano, que ela é destinada a conservar. Em que se transformarão os homens, presas desse furor desesperado e brutal, sem pudor, sem moderação, e se disputando todos os dias o amor à custa de sangue? (...) É preciso convir, primeiro, que, quanto mais violentas as paixões, mais necessárias são as leis para contê-las: mas, além das desordens e dos crimes que as paixões causam todos os dias entre nós, mostrarem toda a insuficiência das leis a esse respeito, seria bom examinar ainda se essas desordens não nasceram com as próprias leis; porque, então, quando estas fossem capazes de as reprimir, o menos que se deveria exigir delas seria fazer cessar um mal que não existiria sem elas. (...) Limitados somente à parte física do amor, e bastante felizes para ignorar essas preferências que lhe irritam o sentimento e aumentam as dificuldades, os homens devem sentir menos freqüente e menos vivamente os ardores do temperamento, e, por conseguinte, ter entre si disputas mais raras e menos cruéis. A imaginação, que faz tantos estragos entre nós, não fala a corações selvagens; cada um espera pacificamente o impulso da natureza, a ele se entregando sem escolha, com mais prazer do que furor; e, satisfeita a necessidade, todo o desejo se extingue. É, pois, coisa incontestável que o próprio amor, como todas as outras paixões, só na sociedade adquiriu esse ardor impetuoso que tantas vezes o torna funesto aos homens; e é tanto mais ridículo imaginar os selvagens como se estrangulando sem cessar para saciar a sua brutalidade, quanto essa opinião é diretamente contrária à experiência, e os caraibas, de todos os povos existentes o que, até aqui, menos se afastou do estado de natureza, são precisamente os mais pacíficos nos seus amores e os menos sujeitos ao ciúme, embora vivendo num clima escaldante, que parece dar a essas paixões uma atividade cada vez maior. (...) Relativamente às induções que se poderiam tirar, em várias espécies de animais, dos combates dos machos que ensangüentam constantemente os nossos terreiros, ou que, disputando a fêmea na primavera, fazem retumbar as florestas com seus gritos, é preciso começar por excluir todas as espécies em que a natureza estabeleceu manifestamente, na potência relativa dos sexos, relações que não há entre nós: assim, as brigas dos galos não formam uma indução para a espécie humana. Nas espécies em que a proporção é mais bem observada, esses combates só podem ter como causa a raridade das fêmeas em relação ao número de machos, ou os intervalos exclusivos durante os quais a fêmea recusa constantemente a aproximação do macho, o que eqüivale à primeira causa; porque, se cada fêmea só suporta o macho durante dois meses do ano, a esse respeito é como se o número das fêmeas estivesse abaixo de cinco sextos. Ora, nenhum desses dois casos é aplicável à espécie humana, em que o número de fêmeas ultrapassa, em geral, o dos machos, em que nunca se observou, mesmo entre os selvagens, que as fêmeas tenham, como as das outras espécies, épocas de calor e de exclusão. De resto, entre muitos desses animais, toda a espécie entrando ao mesmo tempo em efervescência, vem um momento terrível de ardor comum, de tumulto, de desordem e de combate: momento que não existe para a espécie humana, na qual o amor nunca é periódico. Não se pode concluir, pois, dos combates de certos animais pela posse das fêmeas, que a mesma coisa acontecesse ao homem no estado de natureza; e, ainda mesmo que se pudesse tirar essa conclusão, como essas dissenções não destroem as outras espécies, deve-se pensar ao menos que não seriam mais funestas à nossa espécie; e é muito aparente que elas causassem ainda menos devastação do que na sociedade, principalmente nos países em que, sendo os costumes ainda contados para alguma coisa, o ciúme dos amantes e a vingança dos esposos causam todos os dias duelos, assassínios e coisas piores ainda; em que o dever de uma eterna fidelidade só serve para provocar adultérios, e em que as próprias leis da continência e da honra estendem necessariamente o deboche e multiplicam os abortos. Concluamos que, errando nas florestas, sem indústria, sem palavra, sem domicílio, sem guerra e sem ligação, sem nenhuma necessidade dos seus semelhantes, assim como sem nenhum desejo de os prejudicar, talvez mesmo sem jamais se reconhecerem individualmente, o homem selvagem, sujeito a poucas paixões e bastando-se a si mesmo, tinha somente os sentimentos e as luzes próprias desse estado; que não sentia senão as suas verdadeiras necessidades, não olhava senão o que acreditava ter interesse de ver; e que sua inteligência não fazia mais progressos do que a sua vaidade. Se, por acaso, fazia alguma descoberta, podia tanto menos comunicá-la do que nem mesmo reconhecia seus filhos. A arte perecia com o inventor. Não havia educação nem progresso; as gerações se multiplicavam inutilmente; e, partindo cada uma sempre do mesmo ponto, os séculos se escoavam em toda a grosseria das primeiras idades; a espécie já estava velha, e o homem conservava-se sempre criança”.

Viver não é meramente respirar, mas sim agir; é fazer uso de nossos órgãos, sentidos e faculdades, de todas as partes de nós mesmos que nos dão a sensação de existência.”1

JEAN-JACQUES ROUSSEAU - Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra no ano de 1712 e morreu no de 1778. Dotado de excepcionais qualidades de inteligência e imaginação, foi ele um dos maiores escritores e filósofos do seu tempo. Em suas obras, defende a idéia da volta à natureza, a excelência natural do homem, a necessidade do contrato social para garantir os direitos da coletividade. Seu estilo, apaixonado e eloqüente, tornou-se um dos mais poderosos instrumentos de agitação e propaganda das idéias que haviam de constituir, mais tarde, o imenso cabedal teórico da Grande Revolução de 1789-93. Ao lado de Diderot, D'Alembert e tantos outros nomes insignes que elevaram, naquela época, o pensamento científico e literário da França, foi Rousseau um dos mais preciosos colaboradores do movimento enciclopedista. Das suas numerosas obras, podem citar-se, dentre as mais notáveis: Júlia ou A Nova Heloísa (1761), romance epistolar, cheio de grande sentimentalidade e amor à natureza; O Contrato Social (1762), onde a vida social é considerada sobre a base de um contrato em que cada contratante condiciona sua liberdade ao bem da comunidade, procurando proceder sempre de acordo com as aspirações da maioria; Emílio ou Da Educação (1762), romance filosófico, no qual, partindo do princípio de que "o homem é naturalmente bom" e má a educação dada pela sociedade, preconiza "uma educação negativa como a melhor, ou antes, como a única boa"; As Confissões, obra publicada após a morte do autor (1781-1788), e que é uma autobiografia sob todos os pontos-de-vista notável.
Este personagem principal e famoso da Revolução francesa, em seu livro chamado "Confissões" fala em alto e bom som dos prazeres que homens perfeitamente constituído em caráter e mente, e os amantes ferventes das mulheres que experimentavam ser chicoteados por elas. Escreveu: “(...) como Mademoiselle Lambercier experimentava em nós o afeto de uma mãe, também gostava de exercitar sua autoridade, ocasiões em que ela apreciava quando nos castigava. Durante muito tempo estava determinada a nos ameaçar, e cada ameaça de um novo castigo, um começo era terrível para mim. Porém quando o castigo se materializava, eu o achava menos terrível do que tinha imaginado. E a coisa mais curiosa é que com cada castigo minha adoração a ela crescia por ela impor isto para mim. Na dor e até na vergonha da humilhação, eu encontrei um tanto quanto a sensualidade que gerava em mim mais desejos que medo pela experiência de novamente outro castigo”. Vê-se, pois, que ele era adepto do spanking e defendia que a masturbação nada mais é que uma forma de expressão do desejo sexual no ser humano.
Para Hannah Arendt ele foi o "criador" da intimidade no século XVII e, como era um homem dado à mansidão e ao culto à bondade natural, reiterou que a instrução das mulheres "(...) deve ser relativa ao homem. A mulher é feita para ceder ao homem e suportar-lhe as injustiças".

FONTE:
PAES, José Paulo. Poesia erótica em tradução. São Paulo: Companhia das Letras, 2006
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens São Paulo/Brasilia: UnB/Ática, 1989.

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GUIA DE POESIA

quinta-feira, janeiro 08, 2009

SILVA ALVARENGA



Imagem: Actaea, the Nymph of the Shore, c.1868, do pintor e escultor do Romantismo Vitoriano inglês, Lord Frederic Leighton

OS FRAGMENTOS DA GLAURA DE SILVA ALVARENGA

MADRIGAL

I

Suave fonte pura,
Que desces murmurando sobre a areia,
Eu sei que a linda Glaura se recreia
Vendo em ti dos seus olhos a ternura;
Ela já te procura;
Ah! como vem formosa e sem desgosto!
Não lhe pintes o rosto:
Pinta-lhe, ó clara fonte, por piedade,
Meu terno amor, minha infeliz saudade.

III

Voai, suspiros tristes;
Dizei à bela Glaura o que eu padeço,
Dizei o que em mim vistes,
Que choro, que me abraso, que esmoreço.
Levai em roxas flores convertidos
Lagrimosos gemidos que me ouvistes:
Voai, suspiros tristes;
Levai minha saudade;
E, se amor ou piedade vos mereço,
Dizei à bela Glaura o que eu padeço.

XV

No ramo da mangueira venturosa
Triste emblema de amor gravei um dia,
E às Dríades saudoso oferecia
Os brandos lírios, e a purpúrea rosa.
Então Glaura mimosa
Chega do verde tronco ao doce abrigo...
Encontra-se comigo...
Perturbada suspira, e cobre o rosto.
Entre esperança e gosto
Deixo lírios, e rosas... deito tudo;
Mas ela foge (Ó Céus!) e eu fico mudo.

XXIV

Não desprezes, ó Glaura, entre estas flores,
Com que os prados matiza a bela Flora,
O Jambo, que os Amores
Colheram ao surgir a branca aurora.
A Dríade suspira, geme e chora
Aflita e desgraçada.
Ela foi despojada... os ais lhe escuto...
Verás neste tributo,
Que por sorte feliz nasceu primeiro,
Ou fruto que roubou da rosa o cheiro,
Ou rosa transformada em doce fruto.

À LUA

Como vens tão vagarosa,
Oh formosa e branca lua!
Vem co'a tua luz serena
Minha pena consolar!
Geme, oh! céus, mangueira antiga,
Ao mover-se o rouco vento,
E renova o meu tormento
Que me obriga a suspirar!
Entre pálidos desmaios
Me achará teu rosto lindo
Que se eleva refletindo
Puros raios sobre o mar.

Madrigal LIII [Tu és no campo, ó Rosa,]

Tu és no campo, ó Rosa,
A flor de mais beleza
De quantas produziu a Natureza
Que em tuas perfeições foi cuidadosa.
E se Glaura formosa
No seio dos prazeres te procura,
Qual outra flor será de mais ventura,
Ou mais digna de amor ou mais mimosa?
Tu és no campo, ó Rosa,
A flor de mais ventura e mais beleza
De quantas produziu a Natureza.

Madrigal XVIII [Suave Agosto as verdes laranjeiras]

Suave Agosto as verdes laranjeiras
Vem feliz matizar de brancas flores,
Que, abrindo as leves asas lisonjeiras,
Já Zéfiro respira entre os Pastores
Nova esperança alenta os meus ardores
Nos braços da ternura.
Ó dias de ventura,
Glaura vereis à sombra das mangueiras!
Suave Agosto as verdes laranjeiras
Co'a turba dos Amores
Vem feliz matizar de brancas flores.

A SERPENTE

Verde Cedro, verde arbusto,
Que o meu susto e prazer vistes,
Vamos tristes na memória
Essa história renovar.
Este o vale, é esta a fonte:
Glaura achei aqui dormindo:
Sonha alegre e se está rindo,
E eu defronte a suspirar.
Junto dela pavoroso,
Vi, oh Céus! Monstro enrolado,
Fero, enorme, atroz, manchado,
E escamoso cintilar.
Verde Cedro, verde arbusto,
Que o meu susto e prazer vistes,
Vamos tristes na memória
Essa história renovar.
Ardo, e tremo, e louco amante
Mil horrores n’alma pinto:
Vou... receio... ah que me sinto
Vacilante desmaiar.
Vence Amor (doce ternura!):
Tomo a Ninfa nos meus braços:
Ele aperta os novos laços,
E assegura o triunfar.
Verde Cedro, verde arbusto,
Que o meu susto e prazer vistes,
Vamos tristes na memória
Essa história renovar.
Em si mesma se embaraça
A serpente enfurecida;
Ergue o colo e atrevida
Ameaça a terra e o ar.
Numa pedra rude e feia
Já lhe envio a morte afoita;
Já co’a cauda o tronco açoita,
Morde a areia ao expirar.
Verde Cedro, verde arbusto,
Que o meu susto e prazer vistes,
Vamos tristes na memória
Essa história renovar.
Venturoso e satisfeito,
"Glaura bela (então dizia),
Vê de amor e de alegria
O meu peito palpitar".
Ela, em mim buscando arrimo,
Coroa, e diz inda assustada:
"Esse puro ardor me agrada",
Eu te estimo e te hei de amar".
Verde Cedro, verde arbusto,
Que o meu susto e prazer vistes,
Vamos tristes na memória
Essa história renovar.
(Rondó V).

Neste áspero rochedo,
A quem imitas, Glaura sempre dura,
Gravo o triste segredo
Dum amor extremoso e sem ventura.
Os faunos da espessura
Com sentimento agreste
Aqui meu nome cubram de cipreste;
Ornem o teu as ninfas amorosas
De goivos, de jasmins, lírios e rosas.

Suave fonte pura,
Que desces murmurando sobre a areia,
Eu sei que a linda Glaura se recreia
Vendo em ti de seus olhos a ternura:
Ela já te procura;
Ah! como vem formosa, e sem desgosto!
Não lhe pintes o rosto:
Pinta-lhe, ó clara fonte, por piedade,
Meu terno amor, minha infeliz saudade.

No ramo da mangueira venturosa
Triste emblema de amor gravei um dia,
E às dríades saudoso oferecia
Os brandos lírios e a purpúrea rosa.
Então Glaura mimosa
Chega do verde tronco ao doce abrigo ...
Encontra-se comigo ...
Perturbada suspira, e cobre o rosto.
Entre esperança e gosto,
deixo lírios e rosas ... deixo tudo;
Mas ela foge (ó céus!) e eu fico mudo.

Capada laranjeira, onde os amores
Viram passar de agosto os dias belos,
Então de brancas flores
Adornaste risonha os seus cabelos.
A fortuna propícia aos teus desvelos
Anuncia feliz novos favores:
Glaura torna; ah! conserva lisonjeira,
Copada laranjeira, por tributos,
Na rama verde-escura os áureos frutos.

Ó sono fugitivo,
De vermelhas papoulas coroado,
Torna, torna amoroso, e compassivo
A consolar um triste, e desgraçado,
Gemendo nesta gruta recostado,
Sinto mortal desgosto;
Não vejo mais que o rosto descorado
Da saudade, e da mágoa, com que vivo;
Ó sono fugitivo,
Torna, torna amoroso, e suspirado
A consolar um triste, e desgraçado.

Crescei, mimosas flores,
Adornai a verdura deste prado.
Já zéfiro aparece entre os Amores
Risonho e sossegado:
Da amável Primavera o doce agrado
Novo prazer inspira às Graças belas:
Verei brincar entre elas
A Ninfa mais cruel nos seus rigores.
Crescei, mimosas flores,
Fugiu o Inverno triste, e congelado;
Adornai a verdura deste prado:

Ó águas dos meus olhos desgraçados,
Parai que não se abranda o meu tormento:
De que serve o lamento
Se Glaura já não vive? Ai, duros Fados!
Ai, míseros cuidados!
Que vos prometem minhas mágoas? águas,
Águas! . " responde a gruta,
E a ninfa que me escuta nestes prados!
Ó águas de meus olhos desgraçados,
Correi, correi; que na saudosa lida
Bem pouco há de durar tão triste vida.

O AMANTE SATISFEITO - Rondó XXVI

Canto alegre nesta gruta,
E me escuta o vale e o monte:
Se na fonte Glaura vejo,
Não desejo mais prazer.

Este rio sossegado,
Que das margens se enamora,
Vê co'as lágrimas da Aurora
Bosque e prado florescer.

Puro Zéfiro amoroso
Abre as asas lisonjeiras,
E entre as folhas das mangueiras
Vai saudoso adormecer.

Canto alegre nesta gruta,
E me escuta o vale e o monte:
Se na fonte Glaura vejo,
Não desejo mais prazer.

Novos sons o Fauno ouvindo
Destro move o pé felpudo:
Cauteloso, agreste e mudo
Vem saindo por me ver.

Quanto vale uma capela
De jasmins, lírios e rosas,
Que co'as Dríades mimosas
Glaura bela foi colher!

Canto alegre nesta gruta,
E me escuta o vale e o monte.
Se na fonte Glaura vejo,
Não desejo mais prazer.

Receou tristes agoiros
A inocência abandonada;
E aqui veio retirada
Seus tesoiros esconder.

O mortal, que em si não cabe,
Busque a paz de clima em clima;
Que os seus dons no campo estima,
Quem os sabe conhecer.

Canto alegre nesta gruta,
E me escuta o vale e o monte:
Se na fonte Glaura vejo,
Não desejo mais prazer.

Os metais adore o mundo;
Ame as pedras, com que sonha,
Do feliz Jequitinhonha,
Que em seu fundo as viu nascer.

Eu contente nestas brenhas
Amo Glaura e amo a lira,
Onde terno amor suspira,
Que estas penhas faz gemer.

Canto alegre nesta gruta,
E me escuta o vale e o monte:
Se na fonte Glaura vejo,
Não desejo mais prazer.

O BEIJA-FLOR - Rondó VII

Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.

Neste bosque alegre e rindo
Sou amante afortunado;
E desejo ser mudado
No mais lindo Beija-flor.

Todo o corpo num instante
Se atenua, exala e perde:
É já de oiro, prata e verde
A brilhante e nova cor.

Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.

Vejo as penas e a figura,
Provo as asas, dando giros;
Acompanham-me os suspiros,
E a ternura do Pastor.

E num vôo feliz ave
Chego intrépido até onde
Riso e pérolas esconde
O suave e puro Amor.

Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.

Toco o néctar precioso,
Que a mortais não se permite;
É o insulto sem limite,
Mas ditoso o meu ardor;

Já me chamas atrevido,
Já me prendes no regaço:
Não me assusta o terno laço,
É fingido o meu temor.

Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.

Se disfarças os meus erros,
E me soltas por piedade,
Não estimo a liberdade,
Busco os ferros por favor.

Não me julgues inocente,
Nem abrandes meu castigo;
Que sou bárbaro inimigo,
Insolente e roubador.

Deixo, ó Glaura, a triste lida
Submergida em doce calma;
E a minha alma ao bem se entrega,
Que lhe nega o teu rigor.

O RIO -- Rondó XLIX

Chora o Rio entre arvoredos,
Nos penedos recostado:
Chora o prado, chora o monte,
Chora a fonte, a praia, o mar.

Vêm as Graças lagrimosas,
E os Amores sem ventura
Nesta fria sepultura
Pranto e rosas derramar.

Por ti, Glaura, a Natureza
Se cobriu de mágoa e luto:
Quanto vejo, quanto escuto
É tristeza, e é pesar.

Chora o Rio entre arvoredos,
Nos penedos recostado:
Chora o prado, chora o monte,
Chora a fonte, a praia, o mar.

A escondida, áspera furna
Deixam sátiros agrestes,
E de lúgubres ciprestes
Vem a urna circular.

Vêm saudades, vêm delírios,
Vem a dor, vem o desgosto
Com os cabelos sobre o rosto
Murta e lírios espalhar.

Chora o Rio entre arvoredos,
Nos penedos recostado:
Chora o prado, chora o monte,
Chora a fonte, a praia, o mar.

Nestes ramos flébil aura
Triste voa e presa gira:
Glaura aqui, e ali suspira,
Torna Glaura a suspirar.

Eco, as Dríades magoa,
O saudoso nome ouvindo;
E na gruta repetindo,
Glaura soa e geme o ar.

Chora o Rio entre arvoredos,
Nos penedos recostado:
Chora o prado, chora o monte,
Chora a fonte, a praia, o mar.

Glaura ó Morte enfurecida,
Expirou... que crueldade!
E pudeste sem piedade
Sua vida arrebatar?

Cai a noite, a névoa grossa
Turba os Céus com manto escuro;
E eu aflito em vão procuro
Quem me possa consolar.

Chora o Rio entre arvoredos,
Nos penedos recostado:
Chora o prado, chora o monte,
Chora a fonte, a praia, o mar.

SILVA ALVARENGA - Manuel Inácio da Silva Alvarenga (1749 - 1814) nasceu em Vila Rica. Estudou no Rio de Janeiro e em Coimbra. Era um ardoroso defensor de Pombal e das idéias iluministas. Sua obra Glaura (1799). Pelos dados biográficos de Manuel Inácio da Silva Alvarenga se pode depreender que sua vida fluiu em parte em função das duas tendências ideológicas atuantes ao seu tempo. Como poeta, entretanto, foi ele obediente seguidor da tradição. Sua poesia lírica consubstanciada num livro apenas, Glaura, é quase um permanente esforço de subordinação a formas e temas consagrados, num preciosismo de quem requinta em obter algo de algo já esgotado e decadente. Todas as suas peças líricas de sua Glaura são em numero de cinqüenta e nove rondós e cinqüenta e sete madrigais. O rondó, forma poética medieval francesa, tem sua notabilidade em Guillaume de Machaut, Eustache Deschamps, Charles d´Orleans, devendo, originalmente, ser destinado ao anto e consistindo de tres estrofes, com um total de doze a quatorze versos, com duas rimas recorrentes. Variando o numero de versos e o esquema das rimas, o verdadeiro apoio fonético que em breve o caracteriza passou a ser a repetição do primeiro verso ao fim da segunda e terceira estrofres do rondó. Variação subseqüente, que se pode chamar rondel, consistiu em repetir, em numero maior de versos, o primeiro verso pela altura do oitavo ou de um dos seguintes versos e no fim do poema. Os rondós de Silva Alvarenga representam um fim de evolução da forma, como estrutura sensivelmente diferente. Consistem, quase todos, em quatro grupos de tres quadras, sendo repetida a primeira quadra, em forma de estribilho, no inicio de cada grupo assim como no fim do poema – o que totaliza, por conseguinte, treze quadras ou cinqüenta e dois versos. O verso, na grande maioria dos rondós, é heptassilabo, redondilha maior, salvo os do rondó que são pentassilabos redondilhas menores, e os rondós hexassilabos. Os heptassibilabos são, quase sem discrepância, acentuados na terceira e sétima silabas. Os pentassilabos, na segunda e quinta, e os hexassilabos, na segunda e sexta. O madrigal, originalmente italiano, confunde-se com a silva espanhola, praticada em língua portuguesa, consistindo de uma pequena serie de versos decassílabos e hexassilabos, em seqüência qualquer, rimando entre si sem esquema prévio de rimas.
Em Glaura - Poemas eróticos (1799), Silva Alvarenga soube criar uma sonoridade leve e cantante, animada por um sentimentalismo difuso, entre dengoso e lamuriante, que iria derramar-se, em clave mais adocicada, em muitas cantigas do nosso cancioneiro popular. Ao mesmo tempo, a imaginação plástica de Silva Alvarenga captou vivamente aspectos da natureza carioca, abrindo espaço para um sentimento da paisagem que os românticos depois iriam aprofundar. Por tudo isso, Glaura constitui um episódio fundamental do arcadismo brasileiro.
Os rondós são formas poemáticas que, como a balada, estão relacionadas com a dança, sendo de origem francesa, foi convertido por Silva Alvarenga em um conjunto de quadras com um estribilho que abre e fecha a composição se dispondo sempre como rimas internas, além de se intercalar entre séries de duas estrofes. A obra Glaura é composta por 59 rondós e de 56 madrigais. Nos rondós o autor utiliza versos curtos, sendo hábil na expressão da clareza dos sentimentos e na exploração do estrato fônico dos poemas, bem como a perfeição do ritmo e da rima, inclusive internas, que revela o sentido primitivo do rondó que traz a idéia de circularidade : rondeau (do latim, rotundu(m), "redondo, em forma de roda"),e, pelo que se sabe, o rondó foi feito para ser cantado ou para servir de acompanhamento de uma dança chamada ronde. Os rondós, sempre em redondilha, começam com poucas exceções, por um quarteto que serve de estribilho, com rimas encadeadas. Segue-se dois quartetos.
Os madrigais de origem italiana são composições poéticas engenhosas e galantes dirigida as damas, porém mais livre, articulando-se em estrofes variamente rimadas, que vão de 8 a 11 versos. Como na tradição italiana dessa forma, notamos a alternância de versos decassílabos, maiores, com versos hexassílabos, menores, atribuindo maior variedade rítmica. Os madrigais, constroem-se um pouco ao sabor da improvisação, guardadas sempre as medidas do verso heróico de dez ou sei sílabas.
Silva Alvarenga como músico e também descendente de músico, soube enriquecer com facilidade suas obras com grande musicalidade, assim podemos observar no madrigal de número XXVI "Vês, Ninfa, em alva escuma o pego irado", o ar festivo ao celebrar o amor com simplicidade das palavras e com seqüência ligeira dos versosdos quartetos é sempre a mesma, e aguda.

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