segunda-feira, março 31, 2008
ARETINO
Imagem: do pintor renascentista italiano Giulio Romano (1492-1546).
SONETOS LUXURIOSOS DE PIETRO ARETINO (1492-1556).
VIGÈSIMA QUARTA DÚVIDA
Hortênsia quis dar gosto ao seu amante
E o lugar mais mimoso do seu corpo
Franqueou-lhe, mas o fez prometer antes
Que do seu grande nabo só um pouco
Ali poria. E eis que ele, não obstante
A promessa, no furor do gozo,
Põe-lhe tudo no rabo. Utrum Hortênsia
Poderá acusá-lo de violência?
VIGÉSIMA QUARTA RESOLUÇÃO
In lege prima de justitia et jure,
Fus natarae, parafragrapho previu
Do primi motus homini naturae,
Baldo que o homem fogem quando em cio:
Faz o furor primeiro que descure
Dos demais, pecador em desvario.
Se o movem, pois, impulsos primordiais
Não se pode acusá-lo de outros mais.
SEXTO SONETO LUXURIOSO
Atenta bem, ó tu que amando estás
E a quem turva tão doce empreendimento,
Neste que leva a cabo tal intento
Ledamente fodendo onde lhe apraz.
Sem de qualquer escola andar atrás
Por trepar verbi gratia a todo tento,
Fará feito sem par e a seu contento
O que possa foder sem ser loquaz.
Vede como nos braços a levanta
Ele, que as pernas dela tem dos lados
E como de prazer já se quebranta.
Não se perturbam por estar cansados.
Mas o jogo lhes dá ardência tanta
Que fodendo queriam-se finados.
E retos, sem cuidados,
Ofegam juntos de prazer frementes,
E enquanto ele durar, estão contentes.
DÉCIMO PRIMEIRO SONETO LUXURIOSO
Para provar tão célebre caralho,
Que me derruba as orlas já da cona,
Quisera transformar-me toda em cona,
Mas queria que fosses só caralho.
Se eu fosse toda cona e tu caralho,
Saciaria de vez a minha cona,
E tirarias tu também da cona
Todo o prazer que ali busque o caralho.
Mas não podendo eu ser somente cona,
Nem inteiro fazeres-te caralho,
O ânimo pronto; baixai a vossa cona,
Enquanto enfio fundo o meu caralho.
Depois, sobre o caralho
Abadonai-vos toda com a cona,
Que caralho eu serei, vós sereis cona.
PIETRO ARETINO (1492-1556) foi uma das figuras mais espantosas da Renascença italiana, fazendo-se notar desde jovem pela virulência de seus poemas satíricos que ridicularizavam os figurões da nobreza e do clero. Tornou-se, por isso, temido dos poderosos de cujos favores vivia, tendo recebido o epíteto de “Flagelo dos príncipes” e caiu nas boas graças do papa Leão X. O escândalo causado pela divulgação dos seus Sonetos Luxuriosos foi a susposta causa de sua fuga para Veneza, cidade em qie viveu como nababo até o fim da vida. Esses sonetos foram inspirados em quiadros eróticos de Giulio Romano, amigo do poeta, a exemplo de outros grandes pintos italianos do século XVI. FONTE: PAES, José Paulo. Poesia erótica. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
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sexta-feira, março 28, 2008
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: Luiz Carlos Rufo
DELEITE
Luiz Alberto Machado
Quando ela me beija, sou todo deleite:
É que ela me faz seu doce de leite.
Quando ela me invade, baba e rebate:
Sou todo cremoso, o seu chocolate.
Quando ela alumia em aguar minha vida
Que ainda é de dia de inverno a verão,
Vivo toda agonia que dela irradia
E é só poesia a sua tesão.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
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quinta-feira, março 27, 2008
UM POEMINHA EM CANÇÃO DE AMOR POR ELA
Imagem: arte de Derinha Rocha.
UM POEMINHA EM CANÇÃO DE AMOR POR ELA
MORENA
Letra & música de Luiz Alberto Machado
Ai, quem me dera agora, morena, cantar uma canção!
Ai, quem me dera agora, morena, ganhar seu coração.
O coração da morena é difícil conquistar
Custa fazer a novena ou apelo a Zanzibah
O tempo que essa morena leva em tempo conjugar
É tanto de quarentena que sara, oxalá!
A luz que tem, apenas, dá pro mundo alumiar
O choro de fazer pena, chora até o Paraná
Os olhos dessa morena chega até o sol raiar
No mais é um cinema rodado em Shangri-lá!
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quarta-feira, março 26, 2008
GINOFAGIA
Imagem: foto de Derinha Rocha.
GINOFAGIA: PARANÓIA
Luiz Alberto Machado
Quando a tarde chega ela sorri tal qual minha nega, minha musa, avalie! E ri como o dia nasce. Não usa disfarce no perfume que exala incensando a sala e me dopando além. Blém, blém, eu folgo inchado e puxo ela do lado e dou-lhe uns arrochos. São vários acôchos daqueles bem dado de só o corpo colado dela me aproveitar. Larali, laralá. E pego a pegar, me ajeito e só puxo, esfrego, acarinho e repuxo e ela toda no gingado. Dela eu dou cabo dos pés ao cabelo no maior desmantelo, maior forunfado, maior que o pecado quando nela me ajeito, no seu corpo perfeito, minha salvação. Mas ela então, no meio dos meneios, inventa arrodeio e quer prestar contas. Vixe, que tonta, ela chama na grande, uma ficha se expande com muita exigência. Ela adiou a urgência, salta de lado emergência pra aprumar a conversa. Vixe que tô na travessa e ela vai debulhando até ficar reclamando as coisas que eu desdigo. E me faz de Rodrigo e ela Macabéa, quando é a panacéia da minha ginofagia. Tenho essa regalia quando fala sabiá ou quando quer me tratar com os regalos melhores. Depois todos pormenores ela bota na lista me acusando de artista de quinta categoria. Eita, que aleivosia, maior paranóia, ela solta a pinóia do meu senso empenar. E em primeiro lugar não alivia o badalo e joga sem intervalo que sou badass mothafuckes que só lhe sufoca e ainda banco o durão. Tem mais, então, ela se diz vítima de atentado e que sou apontado por fora-da-lei. Eita, teibei! Facínora execrado e infeliz desgraçado pior no mundo sou eu. Belzebu! Asmodeu! Pedra ruim e vasilha imprestável, o maior irresponsável, trepeça e malfeitor. Ela virou promotor e me lascou pro babau, com o Código Penal todinho invocado. Tô réu apenado com sangue fervendo, com processo respondendo com qual culpa imputado? Eu tô mesmo é condenado na volta dessa mulher. Na verdade ela quer me ver todo lascado. Porque solta o ditado que vai findar tísica sem integridade física porque sou genioso. Pior, sou mafioso, o pior dos bandidos e o maior foragido da face da terra. Ela mais me enterra provocando arenga pruma maldita pendenga pelos tribunais. E me inferniza demais no maior desaforo, jogando duro em meu foro com insulto desalmado. É quando eu fico invocado e ela sai na defensiva, bicha sabida e viva, negaceia e apruma o tom. E em alto e bom som, ela parte pro piquete, zomba que sou um sorvete e que tá completamente louca. É quando me beija na boca e depois ela arteira faz bico é quando me faz ficar rico de tanto amolego e carinho. Aí viro seu amorzinho e não deixo barato, dou saculejo nos quartos com apetrechos e talher – porque não sou banguela! E eu de cima dela não saio nem que vire o mês de maio e seja mais o que Deus quiser!
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terça-feira, março 25, 2008
DELÍCIA DA PAIXÃO
Imagem: Giovana Casotto.
A VARANDA
Luiz Alberto Machado
A lua reinava com a chegada da noite naquelas paragens. Era cheia na penumbra e transversal dos beijos estalados com sabor de cerveja e mar.
No escurinho, frente a frente, mergulhamos no confronto dos corpos e ela beijoqueira começou a uivar com seus olhos de faroleiro errante.
Primeiro naufraguei no seu decote e embarquei lépido rumo à plataforma do amor e nele fiz morada para sempre sem abrir mão de cavoucar todos os acidentes geográficos de sua assimetria provocadora. E fui, com uma mão entre a pele da cintura e o elástico do biquíni rompendo os vales do ventre umedecido. A outra alisando impune o dorso da coxa divisando a mina púbica de todos os desejos florescidos. Essa a nossa balada, o momento perfeito.
Foi quando ela transida pela loucura da sedução infringiu todos os limites. Investigou, virando a cabeça, inspecionando lado a lado, conferindo os mínimos detalhes do ambiente para ver a existência de alguma presença afora a nossa, algum testemunho ou atrapalho flagrante.
Enquanto fazia sua minuciosa conferência por toda dimensão territorial, eu me rendia ao toque de suas mãos inquietas e usurpadoras. Era porque enquanto ela inspecionava tudo, as suas mãos percorriam minha carne agitando minhas veias., vasculhando meu ventre e, depois da conferência geral, foi se ajeitando comodamente até que ajoelhou-se no piso forrado da paixão como uma Juliete Binoche arrepiada com a intimidade desnuda embaixo da saia levantada que dava comodamente com a vagina nua assentada e esfregada no meu pé como se fosse a sela do corcel onde ela rebolava e se arrastava à medida que se preparava para uma prece em frente da minha vela viva e empunhada pelo seu bulício.
Parecia que estava insatisfeita de tudo e como quem quer mais do que possui, aos murmúrios lancinantes do cio, ela arremessou a vida no alvo do meu sexo premiado e dele fez o pavio de sua busca para alimentar o hábito de querer no hálito de sua alma requerente com o trabalho de quem faz por amor na labuta dos amantes, fazendo-o da pira iluminada com a sua língua acendedora de lampião no breu.
Acolhedora atirou-se incansável e frenética e foi recolhendo todo meu edifício vistoso, andar por andar, lentamente, centímetro por milímetro, delicada e vorazmente implorando por misericórdia porque queria mais e muito mais do que havia até então se apropriado.
Ela rangia os dentes, boca cheia dágua da baba escorrer pelo canto. E mais agitada ia acomodando o meu rijo tridente pelos vãos dos seus lábios que apontam os jardins do Éden. E ruminava contornando toda cúpula, torre e superfície acesa descortinando a lâmina afiada da minha espada porque sua boca movediça tratava de dar cabo de toda dimensão da minha estatura agora untada por sua saliva e batom vermelho que é a rosa em flor de lótus com mil pétalas estelares para toda a cobiça e se apossava com todo gosto e me destrinchava reavendo o que perdi na existência e não me restava mais nada do que aquilo tudo da dádiva dela.
Foi aí que seguiu desmedida e sussurrava amolegando o meu guidon energizado, completamente abocanhado por sua faminta determinação. E gemia com a lareira do seu ventre grudado na minha pele. E prostrada sobre o meu ventre ela encarava a minha serpente de gumes afiados e que descobre todos os seus mistérios e que a faz mais que o esplendor do veludo sobre o meu mel. E lambia os lábios abastados como quem se prepara para o banquete de gratidão, como quem se arma para o bote benfazejo ao paladar e se arregalava quando suas mãos arregaçavam com mil beijos de sua gula profana que invadia e lambuzava, segurava e sobejava o meu sobejo e vicejava afogada na mira, retendo para si entre os dedos esgoelada e sugava e eu crescia. E afagava com o rosto, e tomava insaciável o falo como quem mede o palmo na palma da mão, ah, fodoral.
Aí ela fechava o cerco e nada perco porque o meu cajado luzidio é o pico salivado pela sua sede e fome como quem escava o poço da garganta quando emerso da sua arma mais estreito transponho a abertura do seu empenho que se sujeitava a caprichar no vai-e-vem e a confiscar minha vigília como quem persegue a sua vingança, como quem rompe o senso de quem quer consolo a qualquer preço, como quem quer colo a qualquer custo e comendo bolo no maior rolo e eu aceso nos seus beiços que são novelos que me envolve na alquimia que me faz fruta madura quando a noite não cabe mais e retomo sem me deter e puxo, repuxo com força e quero atravessar sua laringe até onde mais der porque as suas margens esborraram com a lambida caleidoscópica onde toda cornucópia é mais que abundante e faustosa e tudo é imenso e absorve a minha manivela por inteiro porque ela engole o cabo e eu no seu reduto de cadela rosnando no osso de carne como quem saboreia um picolé delicioso e eu no auge vou como quem perde o leme, esquece a rota e ela me leva ao tálamo da sua presença ampla, vasta e totalmente viva entre as sombras que tenho porque fecho os olhos e ela sorve meu sêmen completamente embriagada e deliciando o néctar do meu gozo vivo nas galáxias de sua divina abóbada palatina que é a taça do desejo de sua mais que viçosa alma de nenhum fastio e transcendente precipício das chamas no maremoto da saliva que é o véu e que inventa o abismo delicioso que colhi e decifrei com toda e nenhuma direção e consinto que se sirva enquanto eu vulnerável vou sucumbindo à paixão do amor mais que desejado. Estava eu entregue e sob o seu jugo enquanto ela, olhar de sonsa, jeito de manhosa que não tem nada a ver com isso, risinho safado oculto no olhar, satisfação de tímida e nua reluzente, danada de gostosura e me tratando por herói, me fazendo amo e querendo ainda ser estraçalhada pela minha voraz vontade de esganá-la por inteiro com meus beijos, carícias e esfregões.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
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segunda-feira, março 24, 2008
LYA LUFT
Imagem: La Fornarina, ca. 1516 (Galleria Nazionale di Arte Antica, Rome, Italy) do pintor da alta renascença italiana Raffaello Sanzio (1483-1520).
A EROPOÉTICA ANÍMICA DE LYA LUFT
“(...) O amor é salto sem rede entre a razão e a magia". (E só assim vale a pena)” (Trapezista)
“Derrama sobre mim tua esperança de homem, tanto tempo contida: planta em meu solo a árvore da renovação, mais alta do que a noite escura. Larga a solidão, apaga a desesperança, inventa um novo reino onde as águas não são naufrágio, nem o amor desengano. Vem para esta enseada, onde há ventania e risco, mas podes ancorar teu coração depois da longa procura, para que ele pouse e pulse e brilhe como a estrela-do-mar em seu fundo de oceano” (Dádiva).
“Quando pareço ausente, não creias: hora a hora meu amor agarra-se aos teus braços, hora a hora meu desejo revolve teus escombros, e escorrem dos meus olhos mais promessas. Não acredites nesse breve sono; não dês valor maior ao meu silêncio; e se leres recados numa folha branca, não creias também: é preciso encostar teus lábios nos meus lábios para ouvir. Nem acredites se pensas que te falo: palavras são meu jeito mais secreto de calar” (Meu jeito).
“(...) Um amor precisa espaço de voar, liberdade para querer ficar, alegria, e algum desassossego contra o tédio” (Receita de casa).
“Vem me fazer inteira. Vem mudar a criança que fui em feiticeira sem medo de morrer por suas crenças. Vem fazer, da minha fraqueza, força para enfrentar os meus fantasmas, e sepultar nessa fogueira os teus. Vem de transformar em mais do que hoje sou: mais forte e mais serena, mais confiante e mais dura – mas também doce quando precisares. Vem fazer de mim algo maior que eu”. (Convite).
“Cavala de flancos intensos, patas rebeldes, sem dono nem domação, rebentando espumas nesse galope, namora mais do que o amor, a sorte. Uma cavala dourada e sensual com crinas de leite, talvez centaura: carrega um nome então, um pensamento, uma audácia e uma ausência. Leve a memória, como cicatriz, de um beijo no pescoço, a espreita e a espera: a desabalada cavala na sua danação e sua glória” (Domação).
“Acolhe-me em teu abraço, com teu olhar me afirma: aquele espaço a teu lado é o porto da minha viagem, meu lado de rio, minha margem. Abriga-me no teu corpo para que o meu se descobre em onda d mar ou concha. Aceita-me e me recria como nem eu me conheço: em ti parece que chego como uma coisa concreta, algo que avança e se adianta, e só assim se desdobra pois antes era miragem. Recebe-me em duas partes: aquela que o mundo avista, e a outra, a verdadeira, chão da tua sombra que passa, e da tua luz que se planta” (Tua dádiva).
“Como fontes que de noite brandamente boca a boca trocam seus segredos dágua, tocam-se os amantes, no afago da lúcida paixão secreta dessas águas. Assim, bocas sequiosas, os que estão apartados deixam que brotem, fundam-se, retornem, os seus recados de amor como num lago” (O silêncio dos amantes).
“Nós nos amaremos docemente, nesta luz, neste encanto, neste medo: nós nos amaremos livremente no dia marcado pelos deuses. Nós nos amaremos com verdade porque estas almas já se conheciam: nós nos amaremos para sempre além da concreta realidade. Nós nos amaremos lindamente, nós nos amaremos como poucos, nós nos amaremos no teu tempo” (Canção da estrela murmurante).
“Guardei-me para ti como um segredo que eu mesma não desvendei: há notas na minha viola que não toquei, há praias na minha vida que não andei. É preciso que tomes além do riso e do olhar naquilo que não conheço e adivinhei; é preciso que me cantes a canção do que serei e me cries com teu gesto que nem sonhei” (Canção da vez primeira).
“Que mão se enfia entre minhas raízes, que paixão me esventra o coração? Abro caminho na liberdade de uma folha, e escrevo lentamente a palavra secreta. E ela, preguiçosamente, abre-me os braços esquiva donzela ou feito palhaço. Uma palavra apenas, no mistério maior de uma página intacta, ou no emaranhado dos traços?: o nome que não posso pronunciar sem medo, enquanto invento outros, que resumem a verdade da vida na mentira que assino” (Canção da palavra secreta).
FONTES:
LUFT, Lya. Para não dizer adeus. Rio de Janeiro: Record, 2005.
_____. Secreta mirada e outros poemas. Rio de Janeiro: Record, 2005.
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quinta-feira, março 20, 2008
POEMAS & CANÇÕES DE AMOR POR ELA
Imagem: Lápis sobre papel, de Luiz Carlos Rufo.
UM POEMINHA EM CANÇÃO DE AMOR POR ELA
MATIZES
Letra & música de Luiz Alberto Machado
E soprasse forte o vento sul
Ventania maior da paixão
Com matizes demais
Nas mãos esponsais
E felizes bem mais
Mais!
E a primeira brisa me ofertasse
O que um coração mandasse
E rendia uma emoção
Desvão
Novelo irrevelável
No trajeto do querer
E na conta um desejo a mais
Confessasse o amor contumaz
Em saliva pra língua que se escolher
E levitar
Endoidecer
Vou me guiar pelo prazer
E no sereno que a noite me excitar
Uma atrativa rede o amor me embalar
Pra dizer que é bom amar
Me diga na vida o quanto é bom se amar
Repita sempre com a voz do coração
E diga o quanto é bom se amar.
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quarta-feira, março 19, 2008
GINOFAGIA
Imagem: foto/arte Derinha Rocha.
PRIMEIRO POEMA DE AMOR PARA A MENINA AZUL
Luiz Alberto Machado
Foi com seu jeito franzino que ela tirou um fino no céu e acertou em cheio e com escarcéu a minha retina. Esse jeito menina cheia de vida traquina virou a noite do dia dentro de mim que sem guia e na maior fantasia ficou tatuada na minha memória. Era a sua vitória, uma asa torta, pá virada. Eu de chapa: será roubada? Era não, era uma deusa em plena profanação. Ah, que festão no meu coração. O cheiro da sua carne amena, uma menina falena cheia de truques e simulação. Eu na maior perdição, ela apontando pro norte, seguia pro sul sua sorte, maior gamação. Eu, então, sigo seu jeito que ofusca quando ela aonde me busca e não me dou por vencido. Sou enxerido e muito pelo contrário, sou vencedor. Sou o domador dessa andeja presente. E a gente, coração cheio divide a vida meio a meio sem prova dos nove ou descarte. Ela faz estandarte da minha expressão. E me leva nas mãos pelo rio do seu ventre. Eita, chaleira quente das boas esquentadas, seu chamego ponto de chegada que de mim resta quase mais nada porque sou simplesmente um reles dependente, humano reincidente querendo seu colo e suas miragens, suas as paisagens oníricas de sua boca fatídica dos meus naufrágios. Ela cobra então ágio no nosso céu de beijos, multiplicando os desejos de abraços, cobiças e ânsias. Santa extravagância! E a vida treme nos seios dela, entre o meu coração e apalpadela no seu sexo gostoso, é aí que vem o gozo de todos ais e uis porque os nossos sonhos são todos tão azuis.
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terça-feira, março 18, 2008
AS DELÍCIAS DA PAIXÃO
Imagem: Tatjana, do fotógrafo norte-americano Herb Ritts (1952-2002).
O SABOR DA PRINCESA QUE SE FAZ SERVA NA MANHÃ
Luiz Alberto Machado
A manhã esquentou no dia do aniversário dela. Vejo, logo, cobiço. Lá fora o sol estonteante incendeia o mundo enquanto ela imune e esguia me provocava relâmpagos de temporal. Era. Ela faceira e linda ocupada na pia manipulando a comida. No corredor da cozinha, eu, de esguelha, segurava o copo de cerveja com mirabolantes fantasias no quengo lambendo os beiços para devorá-la naquela sedução. Fiquei inquieto, dali pra sala e voltando a fitá-la sedutora em seus trajes sumários, quando ela diligentemente focada no preparo em temperar legumes, verduras e carnes, roubei-lhe a vida tascando um beijo sedento na nuca dela arrepiar-se toda. Ao meu contato ela arqueou e se debruçou sobre a bandeja de pratos, insinuando a bundinha, ajeitando as coxas com um Cupido entre as pernas, uma rendição atraente porque o corpo estava mais palpitoso, os seios insinuantes, o jeito provocante e a vida não era mais a mesma naquela hora. Estava ela cônscia que era a minha caça. E eu faminto levantando a sua saia que, obediente santa, quer ser rasgada. E ela fêmea selvagem quer que a loucura salte fora, mande ver. É por isso que remexe para cima, para baixo, de lado, trota, u-lalá! Espreguiça, estremece, o corpo vibra rosnando à porta da cozinha, os cabelos desalinhados com seu contorcionismo e eu fazendo uma devassa no meio dos seus suspiros exclamativos na promessa do gozo interminável. Ela mais rendida se faz mais solícita e estendida de bruços sobre a pia, se esfregando manhosa, dengo à flor da pele para que eu alise sua cintura, garanhando seu sexo com meus dedos firmes e ela manhando mais, sussurrando baixinho, gemendo de acordar o mundo. Era a comida e a fome. A captura. E ela indomável fazendo uma boquinha ofegante, dificultando um pouco enquanto eu achava a melhor maneira de abatê-la. E mantinha os olhos fechados, xameguenta, enquanto eu vasculhava seus sótãos e porões, seguindo a pista com meu faro obsceno, farejando suas reentrâncias. Deixa? Deixa, vai. Caçada desconcertante, ela em apuros, destronada de seu reino, eu implacável: o jogo que os dois podem jogam, o xeque-mate aprazível. Mas ela blefa, faz que não quer enquanto se esparrama no tabuleiro do meu desejo reduzida a nada com seus segredos suicidas. Via-me obrigado a cercá-la, domá-la, arremessando meu beijo sobre seus olhos, voz, gesto e corpo. Ela mais depravada pra minha montada numa tigresa que eu não queria apear nem tão cedo porque estava suspensa no meu sexo e mais se ajeitava procurando melhor penetração e virando meu tapete mágico, meu trenó. E adorava o estupro porque eu enterrava minha clava com bola e tudo pro gol que ela deslizava acolhedora, perversa, condenada e pronta pro meu fuzilamento, com o sexo em brasa, o coração agitado, a boca entreaberta, um sorriso de sol. Uma princesa que virou serva e saiu do faz-de-conta e arreou nua no meu sexo enquanto eu o mocinho, à força, gemendo poemas na sua carne, esfregando minha loucura na sua queixa que mais quer e querendo mais se gaba, tira e bota para que eu recolha sua oferenda divina, a sua oferta dadivosa, batendo o punho malvado, esmurrando a parede, sonsa e aboletada sobre a pia enquanto eu vou retalhando sua carne em postas, a comida fatiada no meu paladar e sem escapar da minha captura que ela mais puxa e preme, e sacoleja numa dança em câmara lenta, o lombo, saliências, o dia de seus anos... meus dedos e ela lambendo, chupando, Cupido entre as penas e os seus seios na minha mão e ela descalça arregalando os olhos como quem quer mais com seus pés suspensos para ser melhor penetrada, devorando o tempo na loucura efêmera e gritando: Sou sua. Sou sua! Sou suaaaa! Ah, princesa serva. Era aniversário dela. E eu com um buquê de flores nos beijos, com todo carinho do universo nos braços, toda uma guerra de gozos para explodir sua alma. Foi quando ela deitou os olhos sobre o meu braço, deliciada e desfalecida de amor.
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segunda-feira, março 17, 2008
O AMOR DE APOLÔNIA GASTALDI
Imagem: foto de Rafael Mariante.
O AMOR DE APOLÔNIA GASTALDI
Um dia haverei de possuí-lo inteiro. Resgatarei tudo o que me foi sonegado até então. Verás. Meus dedos percorrerão teu corpo nu. Meus afagos todos os teus pontos acharão. Vibrarás. Minhas mãos dançarão sobre tua pele com a leveza de uma valsa e a fúria dos tangos. Sentirás. E a eclosão como lavas de vulcão será compartilhada (Apolônia Gastaldi, Resgate).
Dizem que beijei todas as bocas muitas todas. Mentira! Línguas soltas invejosas mentirosas! Poucas. Todas as bocas? Não! Poucas! Confesso sim, sim, eu beijei tua boca como louca. Te deixei sem oxigênio esganei arranquei os cabelos teus que eram meus. Beijei a tua boca como louca! A tua boca de gênio, só a tia boca! Eu beijei! Beijo de louca! Beijei! (Apolônia Gastaldi, Beijos).
APOLÔNIA GASTALDI é professora, escritora e poeta catarinense, autora, dentre outros livros, de “Amor”, “Segredos”, “Sinais”, “Barra do Cocho” e “Regresso”. Os poemas aqui publicado são do livro “Amor”, uma obra intimista, pessoal e elegante, contendo trinta e um poemas, a maioria deles românticos, firmando um estilo ao mesmo tempo sóbrio e sensível, evidenciando o lirismo e a cosmovisão da autora.
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sexta-feira, março 14, 2008
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: Jan Saudek
ÁRIA DA DANAÇÃO
“Que nos perdemos por amar se diz... Tolice! Outra é a verdade, podes crer: Só quem não ama sente-se infeliz!“ Aretino (1492-1556)
Luiz Alberto Machado
Naquela tarde tudo parecia azul e ela nua e linda no súbito ímpeto de inundar-me com toda fragrância onímoda do seu corpo Kilimanjaro a me seduzir misteriosamente na minha loucura de querer a mais que o limite do horizonte.
Ah, esse corpo aeronave do prazer que me leva pelas corredeiras da tesão para seguir as trilhas dessa obra-prima divina e que me reduz apenas a duas pálpebras abertas de estupefação por se apossar de sua fenda mágica e deliciosa onde recolho o gozo na água da paixão de sua fonte de todos manjares mais apetitosos e inenarráveis.
Ah esse corpo vesco que me faz atleta do esporte mais radical para seguir insone à adrenalina do topo da torre abissal do seu prazer e vou de cabeça em queda livre num salto sem engates nem cintos como bungee jump por toda exuberância de sua excelsa geografia.
É onde suplanto o cume das colinas de toda sua extensão corpórea com a pirotecnia de vencer o Matsumoto, ou de ascender pela Machame Route, acampar no Barafo Hut, de sobrepujar o Huascaran no Peru de todas as suas sinuosidades de sua íntima compleição e lá erguer o punho como quem celebra a vitória de todas as ejaculações prementes na esporrada de corpo e alma sexo e profanação.
É onde usurpo os cimos alcantilados que se precipitam pelas serrarias de sua graciosidade assimétrica e buliçosa e vou aturdido a gozar das benesses de sua nudez incandescente nos meus olhos cheios de frêmitos das alturas complacentes de todas as profundezas escaladas do point livre de sua emanação esguia onde sou alpinista carregado de emoção no espetáculo fantástico da minha Guta Estresser desfilando nua na passarela do meu coração.
Ah esse corpo de ária encantada na minha danação que se faz boom nas minhas festas febris, se faz the best na agonia faminta dos meus delírios somáticos que reclamam seu toque e seu feitiço a todo instante ao meu contato para me acalmar nos seus desabridos sabores e me sentir a salvo nos seus braços de fortuna abandonada que requer comandante-em-chefe de todas as suas vontades diuturnas e inacalmáveis.
Ah esse corpo manhã de maio inquieta na minha lareira inextinguível, sou cativo errante de seus encantos que me fazem pródigo amante a poetar todos os limítrofes encantos inesgotáveis de sua entrega alada.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
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quinta-feira, março 13, 2008
UM POEMINHA EM CANÇÃO DE AMOR POR ELA
Imagem: Kama Sutra.
CRÔNICA DE AMOR: UM POEMINHA EM CANÇÃO DE AMOR POR ELA
OLHAR
Letra & música de Luiz Alberto Machado
Quando olho pra você
Coração me diz: - Paixão!
Um olhar, interessante a me envolver
Mas eu fisgo no seu olhar
O visgo do amor, toda paixão
O seu jeito a me enamorar
Acendo o fogo. E a sedução
Toda vez eu sinto dentro
Um desejo a me enlouquecer
Cada vez na minha vida
Eu quero você
E com você vou tentar não sofrer jamais
Porque no amor tudo é viver
Já sei que vai acontecer
Toda vez eu sinto dentro
Um desejo a me enlouquecer.
Cada vez na minha vida
Eu quero você.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
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quarta-feira, março 12, 2008
Imagem/foto/arte de Derinha Rocha.
GINOFAGIA
Luiz Alberto Machado
Nada é tão pouco,
Nada é demais.
Dentro dela um mundo louco
É redemoinho de paz.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
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terça-feira, março 11, 2008
Imagem: Acqua, de Luiz Carlos Rufo
O PISOTEIO NOTURNO
"O prazer é o início e o fim de uma vida abençoada". (Epicuro)
Luiz Alberto Machado
- O quê? Madalena Pisoteio? Meu sinhô, essa é o cão chupando manga! A danida eu conheço derna de pirrototinha e já era virada na gota! Jogava chimbra, dava cacete nos meninos da rua, pulava academia, apelava no garrafão para dar mãozada nas costelas dos desinfeliz, mascava o tempo todo um chiclete com um jeitão brabo, os dente remoendo de raiva por alguma coisa, chata que só, presepeira, parecia mais que era doente dos nervos ou dos ossos de tão ruim que era. Num tinha rebuliço que ela não tivesse metida, era encrenqueira de mesmo! Fosse o que fosse o negócio dela era desmoralizar os outros. Eita bicha home! Melhor ela de saia que muitos fuleiros que nem sequer honram a calça que vestem. O dito dela era ponto e pronto, não desinretava nem no pau, nem um tantim assim. Era a boca de uma mulher com palavra de homem. Duvidasse não, tabefe comia. Eu mesmo já vi a aloprada desbancar muito cabra metido a macho no rincão e depois o cara só não desmunhecou porque não tinha ainda esse costume. A desalmada arredava de pai, de mãe, de velho, de polícia, de autoridade, viesse não, ôxe! Possuidora que era dum juízo forte, a bicha quando se ariava, home, saia de perto que é melhor, a destemida endireitava logo o torto. Uma fulô de mulher, bonita que só, macha toda. A saia dela ninguém mexesse não, os peito duro, miudinho, metido na frente, nariz arrebitado, beiço virado, bunda de quartuda empinada, pisado forte com aquelas coxas de jogador de futebol, jeitosa toda, pintada dos pés à cabeça, vixe! Uma perdição de mulé linda! Acho eu, meu senhor, que ela tinha partes com o tinhoso.
Verdade deveras, conheci Madalena na companhia do coronel Dionísio Cebolão, um homem destemido, ricaço da região, numa bebedeira desarrumada e na companhia do meu tio. Ele, o patenteado, era amigo do meu tio Benevaldo, outro atarracado em grossura e fora-da-lei. Eram amigos indo e vindo. Onde estava um, encontrava o outro. Pareciam mais irmãos. E desmantelavam um bocado de vida que se atrevesse a colocar qualquer dificuldade na mira deles.
Madalena, muito jovem para o ancião, se enrabichara por ele, vivendo duma mancebia incólume por bares e noites perdidas no calendário, dançando e bebendo a noite toda, o dia corrido, quase semanas.
O Dionísio Cebolão era um verdadeiro ogro, quasímodo, um sujeito neandertal, embelezado apenas pela filantropia e pelo dinheiro, o que permitia que a desbocada namorada possuísse um carro, um revólver três-oitão nos quartos, vestimenta da moda e um prestígio de causar inveja até nos maiorais da localidade, imagine nas damas dali.
Era ela achegada a um jeans arrochado com umas blusas decotadas, coladas no corpo, dinamizando os contornos corporais salientes de atraente mulher, umas botas de salto proeminente, pisando forte, capaz de atropelar no pisado quem se metesse a se intrometer pela frente, uma bravura de ameaçar os céus. Brincos, pulseiras, um Rolex no pulso, cintos extravagantes, um Ray Ban legítimo para esconder-lhe os olhos verdes, um chapéu discreto, uma volta de ouro de quase dois centímetros de largura no pescoço realçando em tudo com uma elegância ímpar e chamando atenção pela beleza estonteante, ferindo a cobiça de todos com o seu caborge. Quem era doido?
Todo dia a beldade desfilava sua suntuosidade com vestidos exuberantes ou mesmo em vestes primárias, shortinhos e miniblusas de fazer nego ficar com torcicolo por uns dias, praga largada pelas despeitadas esposas dos inditosos curiosos. Onde chegasse chamava a atenção.
- Vá mexer com esse diabo, vá! Num tem vara no mundo que não se torne curta pela encrenca.
Certa noite num bar muito requisitado pelos frequentadores homéricos, possuindo o estabelecimento a chancela de Pra Vocês, point dos mais atrativos para largados, desachegados e perdidos, estavam o Coronel, Madalena e meu tio, bebericando umas e outras. Eu aportara por ali a esmo, para degustar uma cerveja gelada descompromissada. Estava sozinho com meus pensamentos quando impuseram-me à mesa. Descabreado, quase que recusava, quando o coronel apimentou com seu vozeirão uma intimação incapaz de qualquer descrente de juízo no lugar fazer desfeita. Compulsoriamente eu estava ali, sentado, de frente para Madalena e ao lado do meu tio e do coronel.
Mazinho ao violão, animava a noite naquele bar. No meio do repertório inventou de cantar uma música minha. Eu fiquei quieto, quase que escondido e num disse nada. Ao final o cantor achou por bem de anunciar que a música era minha. Foi uma ovação. Uns mangavam, outros aplaudiam fervorosamente. Fiquei em estado de nervos, todo cheio de pernas.
- Esses poetas é tudo doido! Num sei no que pensam! -, era o coronel arrotando sabedoria. - Mas esse aí, cumpadre Benevaldo, não é porque é seu sobrinho não, esse é bom, é gente boa, a música é bonita, poeta dum estilo que num sei mais nem se é poesia ou o que é. Ô menino traz aquele violão alí que eu quero que esse poeta cante umas coisinhas para gente, vamos lá poeta!!!!
A turma do gargarejo aproveitou a ocasião e meteu um coro: canta! Canta! Levantei-me e fui até o pequeno palco onde se encontrava Mazinho.
- A culpa é sua, Mazinho!
- Nada, dê uma canja pra gente!
Fiquei meio lá, meio cá, mais pernas que minhoca, empulhado, situação vexatória aquela, meu.
Apalpei a viola, afinei o instrumento e larguei uns xotes estilizados que eu havia composto. No meio fiz um pout-pourrit de Luis Gonzaga, Nando Cordel, Dominguinhos, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Lenine, Antonio Carlos Nóbrega, Zoca Madureira, a zoadeira de percussão na mesa com talheres, ganzás arrumados, bongôs improvisados com lixeiras e uma desafinação sustentada pela euforia da embriaguês. Tinha nego já dançando, ajuntando gente, eu já ficando rouco, empolgado, com os dedos inchando e a noite se acasalando com a madrugada.
Quando concluí fiz o possível para tomar um gole e me despedi do palco, flagrando o olhar quente de Madalena na minha direção. Arrepiei a espinha. Virgem nossa! Que bronca! Desviei a vista e me concentrei apenas nas exigências do público pedindo mais, dirigindo o olhar para todo mundo, menos para Madalena. Que traidor seria eu, embalado pela amizade sincera, cometesse a perfídia de botar uma gaia no coronel? Deus que me livre! Senti de novo que ela estava hipnotizada por mim. Iiiiiihhhhh! Tocou fundo no meu coração, tocando com seus lábios sedosos a minha alma. Eita! Quase que o meu olhar fica agarrado no dela devido atração poderosa que ela exercia sobre tudo e todo o mundo. Vôte!
Desconversei no microfone e cabrestei a intenção, diminuindo os goles para não ficar lavado e cometer alguma asneira.
- Poeta, toque uma música para a minha Madalena.
Danou-se! Era o coronel exigindo que eu tocasse uma canção para sua predileta. Procurei um buraco no chão para me socar e não encontrei. Que desafio. Um côro pedia uma canção que havia composto em parceria com Mazinho, chamada “Entrega”, pareciam cobrar de mim uma saída para tal vexame. Ela com um riso cobrança, como se dissesse para si mesmo: eu num disse, faça agora! Era um deboche, ela já sabia que eu evitava qualquer agrado para sua banda, e agora me colocava numa verdadeira sinuca-de-bico. Puta que o pariu, meu! Logo o coronel!
Envolvido com meus pensamentos enrolava uns acordes e só me acordei daquilo com a cobrança peremptórica do Dionísio.
- Como é, essa valsa sai ou não sai?
E eu dizia para mim mesmo: a culpa é sua, coronel. Madalena aboletou-se a espera da minha canção, eu procurando os acordes que fugiam da intuição, ela exigindo a minha declaração que confirmaria com a música que escolheram se ela tocou ou não no meu coração e não só havia tocado o coração como todas as dependências do meu corpo e da minha alma. Eu estava tomado.
- Canta! Canta! Canta!
Minha nossa! Que enrascada! Encontrei a nota e dedilhei a música, recitei um poema e entoei a canção. Nossa, quase que o bar descia com tudo abaixo. Dê-me a sua mão nessa rua, nossos sonhos são tantos que eu já nem sei seguir por veleidades... Cantarolei. Linaldo e Cicó haviam gravado recentemente e ela tocava nas rádios como sucesso do momento na minha rua. Foi uma ovação. Não cantei, só solfejei a primeira frase e todo mundo, inclusive o coronel, fez coro a tantas vozes. Entoaram a letra do começo ao fim.
- Eita música bonita da gôta! - era o coronel aos berros. - você merece, minha deusa! Tá vendo, ao vivo, assim, de graça, com o artista cantando para você com coro e tudo! Tá vendo! Essa é a minha Madalena!
E ela quase desmaiando com uma sensualidade incrível e seu jeito especial de ser.
- Muito obrigada!
Bastou isso e eu me desmantelei, sorvi o copo de uma só vez e pedi licença para zarpar dali o quanto antes.
- O quê? Você é ou não é um artista, pode cobrar cachê, eu pago!
- É, agora você só sai depois que todo mundo tiver bêbo!!
Foi um deus nos acuda. Sorte minha estava Ozi e Mazinho do lado, joguei o violão na caixa dos peitos do primeiro que saiu balançando a turma com seu jeito estilizado e, lá para as tantas, inventou de cantar outra música minha, “Estigma”, uma parceria com ele. Ai meu deus! Felizmente, depois que Ozi retomou seu repertório próprio, que se esqueceram de mim por um instante. Contudo, toda vez que eu me levantava para arriar o óleo da bexiga era uma confusão.
- Você não vai sair agora não!
- Calma, pessoal, só vou no sanitário.
Ozi era um sucesso, mas Madalena acompanhava todos os meus passos para onde quer que eu fosse. Quase escapulindo, ela cutucou o coronel.
- Tô lhe vendo, vai sair agora de jeito nenhum!
Madalena não desgrudava de mim e assanhava o coronel a requisitar a minha presença no palco ao violão. Os dedos já não aguentavam mais, aproveitei Ozi e cantarolei outras tantas canções, já afônico, dando os últimos destroços da minha voz ali. Madalena se extasiava.
Já de madrugada braba, álcool dominando tudo, o coronel convocou a conta e pagou tudo, dos que estavam e até dos que não estavam na mesa e noutras mesas. Passou o cheque e me deu um abraço forte e se despediu de todos.
- Tô esperando outra cantoria para amanhã, ouviu? - assanhou, por fim, Madalena, se despedindo e jogando um beijo para mim.
Ufa! Voltei a respiração ao normal, estava o tempo todo sobressaltado. Pedi logo outra cerveja e sorvi com avidez. Pensei que aquilo não teria fim.
- Eu vi, Madalena colou em você! -, era meu tio largando pilhéria.
Nossa, meu tio também notara, tô frito! No mato sem cachorros! Aquele mulherão iria me colocar de verdade num beco sem saída. Tudo virou um pesadelo. Por isso passei a evitar, definitivamente, os bares que eles frequentavam. Quando sentia de logo que eles estavam chegando no buteco, eu me esquivava e saía desembestado. Por causa disso, onde eu chegasse, pedia a bebida e pagava logo para que ninguém corresse atrás de mim cobrando. Sempre me esquivava.
Um dia eu estava numa festa de aniversário do meu compadre Javanci e da comadre Sandra, arranhando algumas canções ao violão quando, de repente, aparece do inopinado, Madalena e uma amiga sua. Meu sangue fugiu. Sentaram numa mesa próxima, ignorando, por disfarce, a minha presença. Fiz que não vi. Aliviado com a indiferença dela, pude então cantarolar com mais entusiasmo e arrepiei no sentimentalismo exacerbado. Uns aplausos aqui, outro ali, nenhuma unanimidade, graças, discretamente discorria por minhas composições sem embaraço.
A certa altura recebi do garçom um guardanapo. Ao abri-lo constava "Entrega", em letras garrafais. O bilhete não possuía assinatura, mas bem que eu já desconfiava de onde partira. Todo mundo voou em cima para ver que música haviam solicitado. Tentei evitar inutilmente. As deprecações exigiam a minha interpretação daquela música.
Com o intuito de provocação, inventei de cantá-la com um timbre bem baixinho. De nada adiantou, todo mundo acompanhava os acordes da canção. Ao término, aliviado, estourou um pedido de bis duma mesa lá do canto. Condenei a solicitação. Daqui a pouco eram todos pedindo bis. Madalena levantou-se e cobrou:
- Agora cante direito que ninguém lhe ouviu!
Valha-me deus! Lá vou eu de novo seguindo a canção. Tudo bem. Aplausos, bis. Entoei logo outra cantiga e, por fim, se esqueceram daquela. Desfilei uma porção. Novamente o guardanapo: "Entrega e se entregue". Fiquei estupefato. A letra de quem solicitava era a mesma. Pedi desculpas e aleguei ao microfone que já havia cantado essa música. Protestos muitos, tive que por fim da força cantá-la novamente. E foi uma ovação sem fim. Aplausos. Aproveitei a deixa e flagrei Mazinho calado, encostado na porta da entrada e convidei-o a cantar. Por sorte ele aceitou e danou-se a tocar noite adentro. Aproveitei o encanto da sua interpretação e escapuli. Saquei das chaves, abri a porta e me sentei ao volante. Quando estou saindo eis que... não! Quem? Quem?
- Ei, amorzinho, fugindo assim furtivamente, é?
- Não, vim esquentar o motor que está frio e arriando a bateria.
- Vamos para outro lugar, aqui já está além da conta. Me acompanhe.
Era Madalena, ela entrou no carro dela e saiu me obrigando a segui-la. Entrou numa rua, saiu em avenida, subiu ladeira, descambou em declive, dobrou para a direita, contornou a praça, atravessou a rodovia, quebrou para a esquerda, entrou pelo bairro, disparou pela periferia, seguiu pela perimetral e estacionou num barzinho discreto. Desceu e ficou me esperando até que eu encostasse, desconfiada que eu abrisse do pau. Desci enervado, todo na minha. Ela tomou do meu braço e agarrada a ele me encaminhou para o interior do botequim. Qual não fora a minha surpresa, lá estavam o coronel e o meu tio, cheios dos paus.
- Eu num disse que trazia ele praqui!
- Esta é a minha raínha! O que você não consegue, amorzinho? Me diga? Venha cá poeta, tem um violão dos bons aqui pra gente e só tem a gente, viu? Fretei para o nosso esbaldar, está fechado para os outros.
Que susto! Que cruzêta, meu deus! Não, não era, eles se riam misteriosamente, maliciosamente. Pediram mais cerveja, mais tira gosto e jogaram o violão nas minhas mãos.
Saí cantarolando, desfilando muitas e tantas canções.
Madalena interrompeu e pediu que o coronel solicitasse uma música chamada Entrega. Eu me arrepiei e atendi o pedido.
- Porra! Que música linda!
- É dele, amorzão, sabia?
- Claro. Toca de novo, quero ouvir!
Madalena aplaudiu a exigência dele. Cantei de novo, aliás, cantaram de novo.
- Mostre outras músicas suas! - exigiu tio Benevaldo.
E saí desfilando outras. Madalena não piscava o olho. O coronel notando o hipnotismo dela passou as mãos entre os seus olhos. Eu é que me toquei. Ela se recompôs.
Cerveja vai, uísque vem e um bate-papo inaugurei. Deitei o violão nas pernas e comecei a enrolar conversação.
- Vamos gravar o disco dele! -, sentenciou Dionísio meio que embriagado. Madalena só faltou se rasgar de alegria, aplaudindo efusivamente a idéia dele.
- Calma, gente, eu não tenho um repertório definido para um disco.
- O quê? Você cantou umas quinze músicas e não pode gravar um disco? -, era Madalena condenando minha atitude.
- Não é isso, eu tenho umas cinqüenta composições inéditas, embora ainda não tenha escolhido quais delas poderiam fazer parte num cd.
Finalmente assentiram e como a madrugada já estava por findar, raiando o dia, nos levantamos e partimos. Ele e Madalena se foram, o tio Benevaldo de carona comigo.
- A Madalena está fissurada em você, rapaz!
- Longe de mim, tio, tal desfeita com Dionísio.
- Menino, ela está gamada em você, otário!
- Sim, tio, eu acho que não, ela apenas aprecia e incentiva muito a minha música, viu?
- Bicho besta, só você que não vê que ela está arriada os quatro pneus de amores por você. Eu sei tudo, sinto quando o cheiro da gaia aparece e se você não boliná-la, ela vai chantagear você até conseguir. Tenha cuidado, Dionísio é meu amigo e é doido de amor por ela.
- Tio, fique tranqüilo, eu não quero nada com ela, inclusive, vou até me afastar de vocês.
Deixei o tio meio bicado em casa e já respirando normalmente, livre da pressão imposta por Madalena, demorei engatar a marcha, aliviando o corpo por completo.
Já de retorno ao lar, quando dobro a última curva para entrar na rua em que moro, eis que um outro veículo avexado me trancava. Tremi, seria uma emboscada? Providenciei logo os meus reflexos e já de marcha a ré, fui aplacado pela intervenção de Madalena.
- Pensou que havia se libertado de mim, foi?
- Não, não é isso, estava me recolhendo que o dia já está para nascer.
- Tenho um convite, guarde seu carro que a gente tá noutra festa. O teu tio tava meio baleado e era melhor que a gente suspendesse a bebedeira para ele não dormir na mesa. Vá guarde o carro e venha no meu.
- Não posso, daqui a pouco o dia nasce e eu tenho que descansar, fica para amanhã.
- Vai fazer desfeita com o coronel Dionísio Cebolão, vai?
- Longe de mim, só estou cansado.
- Não vai ter cantoria, não, é só conversa mole, a gente está sem sono e quer jogar lero-lero fora. Vamos, vamos!
- Tudo bem, eu vou no meu carro mesmo, acompanho você.
- Olhe, não vá fazer papel safado! Me acompanhe mesmo!
Rezei por todos os santos que nunca acreditei nem consagrei, pedi por tudo no mundo, para que aquilo não acontecesse comigo, era uma tentação que nem Jesus Cristo seria capaz de exorcizar. Eu estava fudido e mal pago no meio de um redemoinho inclemente.
Acompanhei, a contragosto, o trajeto dela, sabendo que ía cair numa boca de caieira desgraçada.
Chegamos na chácara, a porteira foi aberta por um capataz com uma espingarda calibre doze no suvaco, deu boa noite à Madalena e também cumprimentei na passagem.
- Boa noite, seu poeta!
- Cadê o coronel?
- Foi ali, seu poeta, vê se arranja uns camarões. Volta logo.
Adentrei meio que intranqüilo se bem que ele voltaria logo e Madalena não ousaria nenhuma manha para minha banda.
Já estava tudo pronto, um litro de Johny Walker Blue intacto, bebida que muito aprecio, gelo, iguarias para tira gosto. Ué, tinha camarão à vontade e ele foi buscar mais? Desconfiei.
- Vamos jogar porrinha enquanto Cebolão não chega.
- Tres!
- Dois!
- Perdemos, só tem um palito!
- Tres!
- Lona! Ganhei, querido!
- Tres!
- Um! Perdi, fofinho. Um a um.
- Vamos lá, dois!
- Lona!
- Você ganhou, meu amor.
Nem pestanejei e ela já estava se ajeitando, se achegando mais para perto de mim.
- O que você quer, coisa fofa? -, perguntou-me toda saliente e dengosa.
- Uma melhor de tres. -, respondi ríspido.
- Só? Vamos lá, peça coisa melhor, coisa linda.
- Tres!
- Qualquer coisa, importando que você ganhe, meu amor.
- Calma, Madalena, eu sou amigo do coronel e não seria de bom alvitre que ele nos visse com intimidades.
- Ele liga não, amorzinho, veja só, vou tirar a blusa e ele não vai ficar nem aí. Tô com um calor danado.
Não! Que ousadia, meu! Tirou a blusa e deixou os peitinhos com os bicos róseos, miudinhos, saborosos, à mostra. Que coisa! Deus meu! Fiquei atordoado com aquele espetáculo. Ela notou e me provocou mais, desabotoou o short e retirou-o depois ficando só de calcinha.
Eita! Meu pau deu sinal de vida e já bulia por dentro da cueca. Pior: ela sentou-se mais perto e cobrou o meu palpite na porrinha. Estava absôrto. Ei! Não escutava nada, olhar fixo naquele corpo suculento, saborosíssimo, era real! Nem me preocupei com o vigia lá na guarita que devia estar filmando tudo para me foder a alma.
- Ô, Madalena, você não está com frio, não?
Quando dei por mim ela já estava com uma das suas mãos sobre a minha braguilha. Tomei outro susto! E me levantei bruscamente.
- Calma, meu filho!
- Não, não e não. Ou você se recompõe ou eu vou embora agora mesmo, onde já se viu?
- Tudo bem.
Seguiu casa adentro e eu fiquei tentando ordenar meus pensamentos na cabeça. Sabia que era uma arapuca. Que será de mim quando o coronel souber disso? Ela foi muito ousada, não resisti e agora? Estava metido numa camisa de onze varas, não tinha mais remédio, uma bronca das pesadas. Sentia fedor de morte no ar, como me sair dessa?
Já estava me levantando para ir embora quando ela chegou enrolada num chambre, descalça, altaneira como sempre. Nas mãos, um frasco de perfume fino fazendo questão de quebrar o gargalo, só para impressionar o meu coração, uma atitude tão Madalena assim perante um pseudo Cristo como eu.
- Tomei um banho, me refresquei e agora podemos conversar à vontade.
- Cadê o coronel que não chega?
- Na verdade ele foi ver se comprava uns camarões mas desconfio que seja uma retirada de campo, porque ele devia ir à fazenda de Quebrangulo para fazer o pagamento cedo e ver como está um dos seus mangalargas marchadores que estava meio adoentado. Você sabe, esse tipo de cavalo é o sonho dele. Qualquer coisinha ele se aperreia, nem comigo tem tanto cuidado.
- É um cavalo caro!
- E eu? Sou por acaso tão sem valor assim?
- Não quis dizer isso!
- É provável que eu não faça o seu tipo.
- Não quis dizer isso também.
- É, eu devia me tocar, não sou pro seu bico mesmo...
- Calma, Madalena, vamos colocar o ponto nos iis e deixar claro que você é a preferida do coronel, ou futura esposa, sei lá, eu sou apenas um sonhador qualquer, não valho um tostão furado e não quero estragar nem a vida de vocês nem a minha amizade pessoal com ele.
- Eita! Precisa fazer sermão, é?
- Já raiou o dia e eu tenho de ir, já que ele não está, já vou.
- Não, não. Façamos o seguinte, me dê uma carona até a praia de Camanducá que ele vai me apanhar lá. Você não vai deixar de me dar uma carona, não é?
- Olhe...
- Estou indisposta para dirigir e, inda mais, quero esperá-lo lá, já sei que ele quer que eu vá para a praia.
Pensei, claro que eu queria recusar, estava cansado, não queria dar bandeira e cair nesta cilada. Ela tão solícita, tão compenetrada na minha resposta, sabia que eu estava correndo o maior risco da vida. Demorei. Hesitei.
Um movimento brusco mostrou-me que por baixo do chambre ela estava nuazinha com seu cheiro de rosas, jasmins e sândalos.
Mais provocante ainda arrancou uma pérola do seu colar, dissolveu num copo que havia trazido, pelo cheiro parecia cheio de vinagre e depois bebeu todo líquido. Empertiguei-me. Seus olhos faiscaram. Deu-se um alvoroço nas minhas entranhas. E quando o chapéu do vaqueiro endoidece e se anima todo, num tem quem não vire a cara pro perigo e seja lá o que deus quiser.
Foi aí que ela pegou um taquinho de papel pequeno, jogou nele umas pétalas de estramônio, enrolou com caprichosa intenção, passando-lhe uma das bordas do papel na língua mimosa para emendar as partes como um cigarro, pegou o isqueiro e acendeu, dando umas baforadas na minha cara. Ah! Perfume letárgico.
- Tá bem. -, assenti.
Pra quê disse isso? Não queria que fosse assim. Não pensava mais. Ela esfuziante, deslumbrante, levantou-se e foi lá dentro pegar alguns pertences. Entrei no carro não antes me dirigir ao vigia que estava escondido no maior ronco, assustou-se e aleguei que estaria levando dona Madalena para a casa de praia de Camanducá, lá ela estaria aguardando pelo coronel, ok? Certo. Retornei ao automóvel, espremi os olhos, agitei as mãos para acordar daquela quimera, buscando disposição para dirigir por quase oitenta quilômetros na rodagem da praia.
Fiquei aguardando, até que ela abriu a porta e, mais linda que nunca, se aboletou no assento de forma sedutora, deixando algumas de suas maravilhosas partes às minhas vistas.
Meus nervos tremiam, não conseguia nem guiar direito, estava condenado pelo imã que seu corpo atraía.
Acelerei, empurrei primeira e saí estrada afora, no meio das canas do coronel.
Uns quinze quilômetros andado, Madalena sentiu-se mal. Fiquei aperreado, estacionei o veículo na beira da estrada, desci, pelejei, contornei o carro e fui até a porta do passageiro onde ela se encontrava, abri-lhe e ela sufocada exigiu que friccionasse seu peito, alegando falta de ar. Meu deus! Minha mão roçava os seios dela ao que ela pegou minha mão e levou por baixo do chambre, levando-as de um seio ao outro, numa verdadeira provocação.
Nesse ritmo doido, sabia lá o que fazer, meu pênis dilatou. Ela meteu uma de suas mãos sobre meu membro duro. Repulsei carinhosamente.
De olhos fechados e lábios semicerrados, uma lindeza do céu, ela insistia alisar minha intimidade enquanto eu repousava minha mão num de seus seios palpitantes. Era o paraíso na porta do inferno.
Algum tempo depois, normalizando a respiração assentiu continuar a viagem.
- Já estou melhor, sigamos viagem. -, disse-me ao perceber a minha sutil rejeição.
Não agüentava mais as artimanhas dela e segui silente, ligado na rodagem. Era um sacrifício além das minhas defesas orgânicas.
Foi ai que com a mão esquerda ela segurou minha perna; olhei pelo canto do olho, ela se contorcia no assento do lado, abrindo o chambre para entregar-me sua nudez. Agitando a mão direita pelo próprio corpo, inquieta; a outra subindo mais, alcançando minha virilha, escorrendo o zíper lentamente, metendo-se por cima da minha cueca, depois removida, alisando-me assim em carne viva. Deu um puxão na minha espada, ficou agitando num vai-e-vem delicioso.
Depois de um certo tempo assim alegou tontura e foi deitando-se no meu ombro até se fazer adormecer, indo escorregando pelo meu tórax até, finalmente, deitar a cabeça no meu colo, onde meu cacete duro estava livre aos seus cuidados manuais.
Não ignorando nada, fiquei à deriva das tentações dela. O pau que só madeira-de-lei, acariciado por exímia manipuladora, foi tocado por seus lábios rubros, beijando-o de cima a baixo. Ora beijava, ora lambia, engolia, chupava. Ave, praga! E eu devaneava conduzindo-nos por aquela estrada, meu deus, como eu queria que aquilo nunca terminasse, a estrada fosse para sempre, sem fim, na eternidade, estrada por caminhos múltiplos, milhões de veredas, zilhões de quilômetros, arrudiando os planetas de norte a sul, de leste a oeste, perene, no meio das estrelas, por entre cometas, atravessando o sol, galáxias, o infinito, quanta doçura naquela língua aveludada que sugava meu corpo, penetrando minha alma, usurpando meu eu, minha identidade, minha consciência de ente perdido na rompante do tempo, pelo espaço ignoto, pela ultra sensação de liberdade cósmica, num transe perfeito da loucura sensual que me abocanhava o universo e me dizimava em microátomos inatingíveis. Eu estava fudido no meio de um redemoinho inclemente, de verdade.
Acompanhei o trajeto dela, sabendo que ia dar numa emboscada desgraçada, de mesmo. Já não conseguia concatenar nada, meus pensamentos se repetiam, confundindo palavras, situações, eu todo confusão, negando-me ao meu próprio desejo, conflitando todas as querências e repulsas, não, eu já não sabia de nada, se pulava no precipício ou se dava a cara para o ignoto dédalo ameaçador onde um minotauro hostil me espreitava. O que era doce aqui seria fel depois, sabia eu, estava cônscio desses opostos.
Ah! Como eu poderia aquilatar aquele momento no vórtice da minha própria existência, levada entre a quimera e o transtorno, entre a frustração e a veleidade? Que frustração que nada! Estava inteiro ali naquela boca, naquela abóbada iluminada que me revigorava para viver no meio da imensidão intransponível e que era agora um aleph ilógico revendo os mínimos detalhes de toda minha vida em fração de segundos, meus erros, acertos, arroubos e anátemas.
Ah! Como eu poderia ser tão indiferente ao milagre de tal prodigalidade que me devolveria o sentido roubado para seguir adiante nos dias vindouros de um futuro imensurável na direção maluca de uma rosa dos ventos, girando embriagada, em todas as direções.
Ah! Como eu poderia negar a felicidade quando ela me jogava no precipício da razão e do pudor, mostrando que o presente é o que se enaltece nessa cena transcendental, que apreendeu que o passado é uma dose doce passada a limpo e que o futuro é a embriagues vital de luz e de compreensão.
Ah! Língua gnóstica do meu desejo panteísta! Boca prismática do meu gozo existencial! Quase morro no torpor do prazer.
Por fim e pra minha tristeza, concluímos a viagem e chegamos na casa de praia.
- Duvida que sou gostosa?
- Não, nunca sequer duvidei.
E não pude me segurar. Verdade, pus a mão no fogo. Se fazendo por indisposta, tive que levá-la nos braços até a cama. Alguém que passava inquiriu o que acontecia, o que se passava, alegando eu, assustado, que ela estava só se sentindo mal da bebedeira da noite e que estaria restabelecida após um sono dos anjos, livrando-me de qualquer obstrução.
Ficamos a sós, joguei seu corpo badejo na cama ao que ela ronronou, eriçada, suspirou ofegante e não largou minha mão, ao que me puxou para cima e largou um beijo na minha boca com uma astúcia letal.
Não tive como conter tal provocação. Desliguei o mundo e arriei de cabeça em sua carne. Beijei-lhe plenamente: a boca, os seios, o ventre, a boceta gostosa e suguei seu segredo, fiquei bêbado de luxúria, louco na libidinagem e enfiei minha língua em suas entranhas até ela extinguir-se aos gritos.
Foi então que ela usou de sua força e puxou-me pelos cabelos até senti-la ofegante e louca. E num beijo ardente penetrei a sua alma.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
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segunda-feira, março 10, 2008
Imagem do pintor, escultor, printmaker e designer surrealista catalão Carles de Vilallonga (1927).
A MULHER ETHEL FELDMAN
Poeta-cantador que poemas serão os teus se te contar que carrego em meu ventre nada Qual será a tua canção quando souberes que irrigas uma terra sempre seca – estéril Quais serão as trovas do amor anunciado se teu sêmen se alaga na minha esperança perdida Onde estou nos teus versos que não me encontro Abraço teu sexo com o mesmo calor Que o da vizinha Maria Mas nada aduba meu ventre Nem mesmo a vontade que tenho De ser cultivada Diz-me poeta- trovador Onde estou nos teus versos Se parideira não sou? Meu nome se confunde Com o das terras do norte Onde se morre de sede Ainda antes de nascer Qual é a tua homenagem poeta A essas donas Damas sem cor? (Ethel Feldman, Mulher).
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sexta-feira, março 07, 2008
Imagem: Sem título, de Jan Saudek.
MAPA DA MINA, A PANACÉIA
(Ah, muito demais!)
Luiz Alberto Machado
Dela, primeiro o olhar fisgando o desejo, o mapa da mina nas minhas mãos.
Sereia de água doce, nua e linda no passeio da noite de nossas querências, ah, tudo muito demais de demais porque é ela que vem incandescente com a sua face de maio que roça o meu lábio e tudo aflora agitando a caixa de voltagem de nossas almas atéias e acende o corpo na volúpia dos céus e infernos de todas as nossas vidas.
É ela que vem solfejando sereia entre o distante e o perto, com respiração dificultada sedutora e manhosa para resfolegar um dengo usurpando a hora, vãos e chão.
É ela o feitiço da paixão, nua e linda a se esfregar no meu ser com todas as poses fotogênicas, todos os perfis do encanto, adunca servil, toda arisca de banda, toda chamariz de bruços, toda nua estirada, em diagonal, arqueada em qualquer ponto cardeal, tal como lua cheia no meu coração.
É ela este espetáculo ao alcance da mão, pescoço dado, mordidas suaves de faz de conta que lambem tomando posse, invadindo tudo que vier de seu para que desfile qual miss Paripueira desde Maragogi cortando terra até Pariconha, descendo o Traipu para mostrar suas esculturas modeladas na erosão dos paredões rochosos do canyon, e eu mané-gostoso a me dar canoeiro que rema pela ilha do Ferro de Pão de Açúcar a beber de sua efígie na inscrição rupestre do Riacho do Talhado e me embrenhar em Penedo para que seja inteiro na minha sereia de água doce e eu no seu Piaçabuçu.
É ela que faz das minhas mãos seus seios pelos mil e um tagatés acendendo tudo na rua deserta do meu coração pastoril da Rita Tenório de Murici, a minha alma caeté, o meu pirão de carapeba que me lambuzo aos seus beijos de cocadas de coroa de frade.
É ela que faz o farol no meu sexo pajuçara enquanto seus quadris deslizam pelas mil e uma paixões do litoral ao sertão para explorar guerreira da Mestra Virginia com a boca da mata adentro, por todas as grutas, quedas d´águas, cantando pedra como a terra na bonança efêmera que sopra vento bom, testemunha dos meus naufrágios.
É ela como a noite no ventre da vida inteira, integral, completa e totalmente beijada pela minha sede de sempre dela deusa minha e nua estalando os dedos com um toque de mágica para que seus pés pisem meus pés e dance toré com ungüento de sândalo pelo corpo e eu espontâneo partilhando do seu cheiro que escandaliza e fascina na volúpia nova a ponto de perder-lhe o nome e não explicar coisa alguma porque tudo está suspenso e eu reduzido a avalanche do divino milagre da sua nudez, um condenado frente ao pelotão de fuzilamento dos seus seios rijos em pontaria, do beijo cativante, do seu corpo extasiante poesia que se realiza e que de sopetão não sei de onde vem e eu sei que vem dela e só dela porque ela é a tentação deliciosa que adoça meu desejo.
É ela toda só pernas que se enroscam como a arte das rendeiras do Pontal da Barra quando me dou à sua beleza e graça de poesia no misterioso perigo de entrar e nunca mais sair dela.
É ela e eu com o prêmio da calcinha, o mapa da mina na minha mão com todas as encruzilhadas, todas as veredas, todas as intimidades e eu no mapa da mina de sua atlântica deificação completa, suas digitais, seu gosto, sua raiz visceral, sua alma nua ao meu domínio.
É ela coxa nas minhas coxas, receita exata do banquete de rainha da Taieira nua pelo vale do São Francisco como quem procura o Rego da Pitanga enquanto todas as suas chaves em meu poder. E eu vou implacável com os meus monstros, ginete da vida e que dela procuro às cegas e é nela, panacéia divina, que sou imortalizado pela correnteza das carícias: quanto mais senhor ela me faz, mais servo sou de sua façanha.
É dela e eu e o seu gozo capaz de estremecer a terra, com a doçura indescritível do pecado, com todo mel que unta até sorver tudo para ver que gosto tem o gosto do prazer do amor na minha sereia de água doce do Piaçabuçu.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
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quinta-feira, março 06, 2008
UM POEMINHA EM CANÇÃO DE AMOR POR ELA
Imagem: FeiticeirAlyzarim, de Ana Kaminski.
UM POEMINHA EM CANÇÃO DE AMOR POR ELA
O AMOR
Letra & música de Luiz Alberto Machado
Quem ama persegue o alcandor
E segue adiante o alvo da paixão
Vai mais distante seja pra onde a flor
Desabroche o amor no seu coração
Mantém a luta pelo que alcançou
A desfrutar pra sempre o seu quinhão
Maior a dívida do seu penhor
Por que o amor
Porque o amor
Porque o amor
É mútua condecoração
É o amor
É o amor
O amor
Que manda agora
Todo carisma
Como num prisma
Rolando na hora do amor.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
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quarta-feira, março 05, 2008
Foto/Imagem: Derinha Rocha.
GINOFAGIA: BEIJU
Luiz Alberto Machado
Ela dá de ombros e eu só escombros nos assomos dela. É quando revela secreta, peito nu, alma aberta, toda delícia, verdadeira sevícia no meu bocejo. Ela me dá um beijo e se mostra atiçada e vem toda ouriçada pra cima de mim. E assim acende o beiju abalando Bangu e toda redondeza. E se faz minha presa e, também, a caçadora, a total predadora e rendida de graça. Quando meu beijo perpassa, ela rasteja lagartixa que bem muito se espicha sobre meu território. E no seu envoltório, se arrasta, rasteja, arrebata, viceja e me faz mais feliz.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
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terça-feira, março 04, 2008
Imagem: Stella Bianco.
LAVANDO A JEGA
Luiz Alberto Machado
Era 8 de dezembro de mil novecentos e não me lembro, dia de festa da padroeira local, quando a cidade estava apinhada de gente que se achava elegante na sua indumentária peculiar, tudo novinho em folha do penteado ao chulé.
Deus meu, quantos ocrídios esnobes nas caricaturas jocosas dos curaus de todas as marcas e laias mais inesperadas? Eu procurava por beldades para paqueras, quando só me aparecia brucutus desinfelizes. Vôte!
Era, a região inteira acorria para os festejos tradicionais, cada um mais lambido que o outro, pescando satisfação pessoal.
Achando pouco o volume estrondoso da efeméride, o prefeito inventou de, no mesmo dia, entregar algumas obras, fazendo sua promoção pessoal. Dentre as mais bestas e as mais despropositais, estava a principal: a rodoviária. Se tudo era um festejo, todo ano, neste dia a coisa tava maior: era pipôco desde as seis da manhã.
No meio desse festeiro, comecei a bebericar numa barraca na praça da matriz desde as três da tarde e já me encontrava, lá pelas dez da noite, bem bicado. Presenciei tudo: alvoroço, estardalhaço, mungangas, peiticas e apertões. A inauguração fora ruidosa.
Mais tarde, deu vontade, pela vigésima vez, de mijar: - vou inaugurar a rodoviária. E fui depois de ter me aventurado a sapecar mijada nos locais mais insólitos. Fui lá. Era gente como a praga. Só para entrar tive que transpor uma multidão de boquiabertos engolindo mosquito com sua leseira.
Com a dificuldade de locomoção para transpor a mundiça toda, o negócio apertou. Saí empurrando e na primeira porta que encontrei aberta, adentrei. Não deu tempo nem de olhar a diferença, tudo muito limpo - porque, banheiro de homem, fede. Tem nada mais chato que fedentina de mijadouro masculino, tem?
Não obstante, ali tudo limpinho, imaginei porque era tudo novo, ainda por usar. Procurei onde e não encontrando – novidade, hem? -, já fui arriando o zíper porque não agüentava mais segurar e fui inaugurando o mijadeiro no piso de azulejo branquinho.
Andando, divisei com uma porta e empurrei. Que susto! Eu com o pingulim derramando e uma moça loura e linda depositada no trono. O mijo, sem querer, respingou nela. Nossa, fiquei estatelado. Imaginava o escândalo. Paralisei-me. Como pedir desculpas? Procurei um buraco no chão e não encontrei como me safar daquilo. Não sabia se corria ou tentava enxugar a baboseira que fiz. Até o mijo tranquei. Ainda consegui ver a carinha linda dela com seus olhos fechados, as mãos levantadas para não ser atingida e aquele corpo sentado na privada. Mais nada. Estava tudo muito claro. Sem saída, eu berrei:
- Moça, a senhora está no banheiro errado!
- Negativo! Você que está no sanitário errado, meu caro!
Foi aí que dei conta da mudança, da modernidade que apostava ter chegado à cidade, não era nada, era a toalete feminina que eu...
Agoniei-me e fiz menção de sair o mais depressa daquela situação difícil, mas a porta havia se fechado atrás de mim: dei uma cabeçada de ficar zonzo. Voltei, me contorcendo, mas busquei o trinco, não achava, e a fechadura dificultava abrir.
Foi quando ela, a moça loura do jeito de Cristina Berndt pegou-me pelo braço e puxou-me para perto de si. Fiquei com o meu membro rente ao seu rosto, imóvel. Ela tateou, alisou e ficou admirando minha manjuba. Nossa, o que fazer? Ela remexeu carinhosamente e logo meu caralho deu sinal de vida, estirando-se todo, ficando rijo. Ela remexeu mais, o negócio tava ficando bom. Foi friccionando e eu apertando os olhos até que não agüentei e, depois da exímia manipulação dela, fiquei exaltado, durinho-da-silva. Perigo e prazer se misturavam na minha cabeça e corpo. Ela continuou acariciando, melando o meu pau-madeira-de-lei, e numa carícia infinda botou um palmo de língua pra fora e começou a libar proficiente com aquela grunhideira doce - essa, com certeza, não tinha papas na língua -, o meu cajado no seu eurístomo lépido de Elaine Mickeli, tomando no gargalo, calibrando, beijando, cheirando, lambendo, de não haver quem queira se desvencilhar.
Justo eu um arolas franzino, quebra-freios, todo gamela, birrento, pimponete com a domingueira em dia, com a soberba machista da adolescência, beldroega ancho com aquilo, sem oficio nem benefício, o raio da celebrina dum graveto de gente, lambaio, estava exaltado, danou-se! É hoje! Medroso para não cair em alrotaria pelo flagra em local indevido, nossa! Perdi as estribeiras! Mas ela peitou, pegou no bico da chaleira-quente, agüentou o repuxo e me expôs o seu paladar, mordendo com os lábios, mastigando carinhosamente, inferindo, salivando, de alcançar sua abóbada palatina, por todos os cantos, eu morrendo, sapequei:
- Bota pra cá o agasalha-rola, vai! Vou te enfiar o meu pé-de-mesa!
Hum... ela lambeu os lábios demonstrando uma carinha de anja safada doida pela foda. Foi aí que ela se remexeu, ficou de quatro se apoiando na bacia sanitária mostrando aquela lindeza de bundinha.
- Isso não é bunda, é uma verdadeira obra de arte! -, disse eu então empolgadíssimo com aquele pódice para lá de maravilhoso. Não podia ser diferente, com aquela belezura toda pronta para ser servida na minha frente, não fiz por menos, encanguei-me naquela garupa e quase estrompo a moça, todo malicioso e inclemente, enfiando até topar no canto. E tome e tome e tome e tome, vuque-vuque da porra, ela gemendo, se esgoelando. Quanto mais eu enfiava mais ela requebrava gemente pedindo mais e mais e mais. Enlouquecidos e ensopados de suor, mais caprichava nas estocadas, empurrando firme até que gritamos, em uníssono, nosso gozo agoniado. Esporrei tudo, ela urrava de prazer, enquanto molhávamos de suor e resfolegávamos satisfeitos, cansados, felizes. Ali, desfalecemos de prazer.
Era a surpresa mais maravilhosa que já havia sentido até aquele momento. Ela com a carinha mais linda foi deslizando pela parede até sentar-se no piso. Imitei-lhe e fiquei fitando a sua beleza taful: era a glória de Deus! Fitamo-nos um tempão, até que, lá para as tantas, ela me disse:
- Muito prazer, rola-doce!
- Prazer é meu, boceta-gostosa -, respondi-lhe.
Nisso, batem na porta, silenciamos e não nos mexemos. Ficamos algum tempo ali, trancados, silentes. A tesão já dava sinal de vidas.
- Adoro foder em lugares assim, aperriados -, falou-me com seu jeito safado.
- Também -, assenti.
- Vamos vasculhar outro lugar assim? -, surpreendeu-me com jeito putinha safada.
- Agora? -, perguntei mais abestalhado que nunca.
- Sim -, assentiu.
- Vamos.
Quando não ouvimos mais nenhum barulho, saímos de mãos dadas e negociamos nossos quereres nas noites perdidas, achadas, desencontradas até o fim do nosso idílio.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados do autor.
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