sexta-feira, março 07, 2008



Imagem: Sem título, de Jan Saudek.

MAPA DA MINA, A PANACÉIA
(Ah, muito demais!)

Luiz Alberto Machado

Dela, primeiro o olhar fisgando o desejo, o mapa da mina nas minhas mãos.
Sereia de água doce, nua e linda no passeio da noite de nossas querências, ah, tudo muito demais de demais porque é ela que vem incandescente com a sua face de maio que roça o meu lábio e tudo aflora agitando a caixa de voltagem de nossas almas atéias e acende o corpo na volúpia dos céus e infernos de todas as nossas vidas.
É ela que vem solfejando sereia entre o distante e o perto, com respiração dificultada sedutora e manhosa para resfolegar um dengo usurpando a hora, vãos e chão.
É ela o feitiço da paixão, nua e linda a se esfregar no meu ser com todas as poses fotogênicas, todos os perfis do encanto, adunca servil, toda arisca de banda, toda chamariz de bruços, toda nua estirada, em diagonal, arqueada em qualquer ponto cardeal, tal como lua cheia no meu coração.
É ela este espetáculo ao alcance da mão, pescoço dado, mordidas suaves de faz de conta que lambem tomando posse, invadindo tudo que vier de seu para que desfile qual miss Paripueira desde Maragogi cortando terra até Pariconha, descendo o Traipu para mostrar suas esculturas modeladas na erosão dos paredões rochosos do canyon, e eu mané-gostoso a me dar canoeiro que rema pela ilha do Ferro de Pão de Açúcar a beber de sua efígie na inscrição rupestre do Riacho do Talhado e me embrenhar em Penedo para que seja inteiro na minha sereia de água doce e eu no seu Piaçabuçu.
É ela que faz das minhas mãos seus seios pelos mil e um tagatés acendendo tudo na rua deserta do meu coração pastoril da Rita Tenório de Murici, a minha alma caeté, o meu pirão de carapeba que me lambuzo aos seus beijos de cocadas de coroa de frade.
É ela que faz o farol no meu sexo pajuçara enquanto seus quadris deslizam pelas mil e uma paixões do litoral ao sertão para explorar guerreira da Mestra Virginia com a boca da mata adentro, por todas as grutas, quedas d´águas, cantando pedra como a terra na bonança efêmera que sopra vento bom, testemunha dos meus naufrágios.
É ela como a noite no ventre da vida inteira, integral, completa e totalmente beijada pela minha sede de sempre dela deusa minha e nua estalando os dedos com um toque de mágica para que seus pés pisem meus pés e dance toré com ungüento de sândalo pelo corpo e eu espontâneo partilhando do seu cheiro que escandaliza e fascina na volúpia nova a ponto de perder-lhe o nome e não explicar coisa alguma porque tudo está suspenso e eu reduzido a avalanche do divino milagre da sua nudez, um condenado frente ao pelotão de fuzilamento dos seus seios rijos em pontaria, do beijo cativante, do seu corpo extasiante poesia que se realiza e que de sopetão não sei de onde vem e eu sei que vem dela e só dela porque ela é a tentação deliciosa que adoça meu desejo.
É ela toda só pernas que se enroscam como a arte das rendeiras do Pontal da Barra quando me dou à sua beleza e graça de poesia no misterioso perigo de entrar e nunca mais sair dela.
É ela e eu com o prêmio da calcinha, o mapa da mina na minha mão com todas as encruzilhadas, todas as veredas, todas as intimidades e eu no mapa da mina de sua atlântica deificação completa, suas digitais, seu gosto, sua raiz visceral, sua alma nua ao meu domínio.
É ela coxa nas minhas coxas, receita exata do banquete de rainha da Taieira nua pelo vale do São Francisco como quem procura o Rego da Pitanga enquanto todas as suas chaves em meu poder. E eu vou implacável com os meus monstros, ginete da vida e que dela procuro às cegas e é nela, panacéia divina, que sou imortalizado pela correnteza das carícias: quanto mais senhor ela me faz, mais servo sou de sua façanha.
É dela e eu e o seu gozo capaz de estremecer a terra, com a doçura indescritível do pecado, com todo mel que unta até sorver tudo para ver que gosto tem o gosto do prazer do amor na minha sereia de água doce do Piaçabuçu.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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