
Imagem: Derinha Rocha.
SHAKESPEREANA
IX
(SONSA)
Toda sexta-feira, meio-dia em ponto, ela agarra no tronco e me diz: toda sua.
E se esfrega já nua, anjo e demônio.
Maior pandemônio, maior ventania.
Faço pontaria nela oferecida a me dá por guarida suas cercanias.
Vou pra montaria e nela me atrepar e sem blá, blá, blá, no seu alvo alado.
Apruma o rebolado com manha de sonsa, a me dá por responsa seus segredos guardados.
E todo malcriado e perito artesão, predador e pagão, batizo os pecados.
Nesse campo minado me faz candelabro esfregando o escalavro do seu poço imenso.
E já me convenço de sua alma mundana que a safada sacana deixa descoberta.
E mais inquieta me dá suas minas que queima a retina e cobiça o capacho.
Se atreve o meu cacho, minha flecha na maçã, nem até amanhã não apaga o meu facho.
O céu vai abaixo e não há nada igual.
Nesse manancial o prazer não tem preço.
Ela vira do avesso, o dedo na tomada, que atrevida e aprumada sobe todas as alturas.
E cai na fundura me faz seu arrimo, me cobrindo de mimo e toda afogueada.
Mais afeiçoada no nosso escambo, ela geme ao meu mando, toda ruidosa.
E mais que gulosa arreia atiçada, toda engatilhada dos desejos maiores.
E com garras piores, e doido varrido vou impor-lhe o castigo das ousadas vontades.
E vou com alarde e com toda ganância vasculhar as instâncias ignotas do corpo.
E vou com escopo na entrega gostosa a roubar seu cheiro de rosa e toda a sua essência.
Vai fazer diferença pegá-la escrava, como enxada que cava seu lombo e costado.
Eu puxo e puxado, arranco ferrolho, e descasco o repolho, do seu dorso o penhor.
Eu me faço senhor a fincar as bandeiras nas entradas fagueiras do seu território.
Sou dono meritório dessa graça opulenta, mais de oito ou oitenta, sou explorador.
E ela só: sim, senhor!
Rendida fremindo com tudo tinindo, maior saculejo.
E me enche de beijo a quedar minguada, lambida e chupada até o último gole.
E seu jeito me bole como bem a merece, me faz sua prece, seu altar e pastor.
E do seu alcandor no fogo da paixão, me aperta um tempão a suspirar de amor.