sexta-feira, julho 25, 2008

CRÔNICA DE AMOR POR ELA



Imagem: José Cláudio.

MAÇÃ

(...) Nudez total! Todo prazer provém de um corpo (como a alma sem corpo) sem vestes(...). Como encadernação vistosa, feita para iletrados, a mulher se enfeita; mas ela é um livro místico e somente a alguns (a que tal graça se consente) É dado lê-la. Eu sou um que sabe. (John Donne, 1572/1631, Elegia: indo para o leito).

Luiz Alberto Machado

No primeiro dia, o impacto e ela, raios de sol bailando primavera na manhã do meu fascínio. E era o caos e do profundo sono de minha alma de atum azul, ela surge macieira mágica – Eva que é Lilith, a minha Neve Campbell bailando no palco do meu coração Altman, nua e linda na chuva dos desejos.
Eu nem sabia do mundo antes dela.
Ao relento, deu-me o sopro de vida: o sabor e o aroma delicado do seu corpo rodopiando nos meus braços, certezas de menos, desejos a mais: o segundo dia e o amor.
E com o amor fui do caos ao fascínio: ela nua na retina. Deu-me a maçã mordida e linda transgredindo tudo, maldita e bela, bendita e nua: pernas de livro aberto e o paraíso das delícias, o terceiro dia.
E nela exultei vigoroso, lambuzei fervendo e cônscio de céu e mar, bem e mal, inebriado de sabedoria: desfeitas costelas, serpentes e crenças até se consumir o quarto dia.
E não mais havia trevas, abismos e solidão de mim, nem remoia entre o ridículo e o anonimato, a meio caminho da loucura na oblação e indômito andarilho, comparsa do dia e da noite, pelo que nasce e o que agoniza: o amor e o quinto dia.
E no sexto dia só o êxtase sublevado à mercê de sua relva fêmea deslumbrante onde saqueei tudo e todos os feitiços do seu veneno por nossas tempestades, clarões e ventos e assim se fez e foi bom e será, o sétimo dia.
E ela vem do amanhecer de todos os dias: o meu fetiche. Rasteira pela noite, água, céu e mar: nus na terra-firme, sitiados nas acrobacias do prazer e de mais um dia por amor.
De nós dois: o amor, ossos e carne, músculo na terra. Do pó ao fôlego, estopim de libações onde me refugio (e bem que mereça) prostrada no meu júbilo: ela, luzeiro de todos os meus dias.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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