quarta-feira, agosto 27, 2008

GINOFAGIA




Imagem/arte: Derinha Rocha

TERRINA

Luiz Alberto Machado

Quando essa menina chega do grotão, toda sem noção, toda cabotina, aí se mostra então a mais fogosa bailarina - flor agreste no Raso da Catirina. Ela nem imagina e faz que não. Solta o seu bordão de dissimulada catilina - ah, quanta possessão! Quanta divina tesão! É a mais trelosa das traquinas no raio da silibrina!

Quando essa menina chega no porão, o seu clarão de estrela cristalina reluz no salão e me fascina com seus olhos de esverdeada turmalina. Que bão! É a mais revigorante vitamina! Tudo me ilumina em plena escuridão - o seu choque de luz na retina me enche de emoção.

Quando essa menina vem de sopetão: pele fina, lábios de antemão. Carne cajuína prenhe de paixão. Logo azucrina, perde a compleição. Logo me abomina e me passa um carão. E faz jogatina, quer passar gamão. Enrola a cocaína, doura o canjirão. Dá um carreirão de bater em Santa Catarina. Quando volta dobra a esquina, finge mangação. Como arisca vem guenza canina, quer que eu cante uma canção. De preferência, Carolina – ou a com K debaixo da lamparina. Vira Zezulina toda manhosa e me faz alisar a sua rosa, acionar sua buzina pra me fazer prosa e sua ave de rapina toda ouriçada que ela alada se enrosca, entroncha e se entranha mais que feminina, com a sua candura franzina, feita meu pirão.

É quando essa menina abre o coração, a terrina, ela é bela verde quente Teresina na minha desolação. É quando ela vai sestrosa se derretendo frochosa, toda feita cremosa margarina pra minha saboreação. É quando ela revira o chão e se amunta granfina, fica atrepada na minha caeselpina com toda gula de heroína da mais louca raça nordestina que manda ver no rojão, viva São João! E esquenta a bobina, vira o caminhão, sobe e desce repentina até grunhir feito um cão. Não findou não. Como ela não pára não, vira logo Catarina, depois vira Severina, quando apruma a direção. Ela se ajeita arguta. Toda ferina, ela me chupa, me exulta, sou a predileta tangerina que ela sorve com sofreguidão. Depois toma o meu coração, tudo refina: minha alma e minha vida, tudo ajeitado com a resina que escoa da sua mão para ser no vão da sua cabina o universo de sua taça servida.

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