terça-feira, outubro 23, 2007



Imagem: Le reveil, de Christian Coigny, fotógrafo francês.

PRESENTE

Luiz Alberto Machado

Foi numa tarde mormaçada de maio quando ela chegou lindamente exuberante. Já nos conhecíamos de longa data, pois havíamos estudado juntos por todo o ginasial. Esse um período em que ela era detentora da verdade sobre um caso ruidoso que me envolvera no colégio, mas que só ela sabia o que, de fato, houvera, e não me delatou. Por isso, fiquei impune e devendo essa.
Os anos se passaram e a gente sempre com uma piscadela denunciando intimidade recôndita nos olhares. Nenhuma aproximação, nem nunca havíamos tido a oportunidade de esclarecer o caso, muito menos pude agradecê-la miudamente por me safar da bronca. O que havia de verdade era uma cumplicidade, isso sim, uma cumplicidade mútua, tácita, desinteressada.
Eis que nos últimos dias ela andou precisando de um acompanhamento jurídico e, sem grandes pretensões, me ligou perguntando se eu sabia alguém que pudesse fazê-lo. Poderia, evidentemente, ter sido proposital seus telefonemas para mim, não sei, uma vez que eu teria todo cacife para acompanhá-la no que fosse possível vez que, além de ser do ramo, chegara a minha hora de retribuir.
Cobri-lhe, então, de atenções e gentilezas e me dispus à tarefa solicitada, atendendo gentil e cortesmente todos os seus telefonemas, esclarecendo todas as dúvidas e dando uma verdadeira assistência às solicitações.
Depois de várias ligações trocadas, tomei pé da situação. Realmente era um caso que requeria mais que simples aconselhamentos, por conseguinte, demonstrei minha satisfação em intervir, acompanhando tudo até o desfecho possível.
Ela não escondeu a satisfação mediante minha disponibilidade e já insinuava gratidão antecipada pela minha gentileza. Foi então que fiz ver que não esquecera da dívida para com a forma como conduziu todo alarde acontecido nos tempos do ginásio.
- Lembra? -, perguntou-me.
- Evidentemente que sim, não poderia esquecer jamais da sua conduta no caso. Devo-lhe essa e, como não tive oportunidade até hoje de adimplir com você, coloco-me inteiramente ao seu dispor para acompanhar e tentar resolver a sua pendência.
- Nossa, obrigado! Nem me lembrava mais disso, você é um cavalheiro adorável que além de me ajudar ainda diz que tem dívida comigo. -, expressou-se espalhafatosamente e aos risos.
Horas ao telefone, eis que, algum tempo depois, é chegada a hora do vamos ver como é que anda tudo e dela trazer a papelada para eu dar andamento na resolução. E foi, justamente, naquela tarde mormaçada de maio, que ela chegou com a exuberância da vida, batom rubro nos lábios, olhos penetrantes, vestido negro de alça curtinho e colado na assimetria deliciosa do seu corpo. Pisava firme com uma bota preta longa acima dos joelhos, deixando à mostra uma parte das coxas roliças na saia rente à mina de todos os seus tesouros encantados e uma cadência no passo levitando na minha admiração estupefata.
Quando abri a porta que flagrei sua presença, já estava embasbacado com aquilo tudo. Ela notou meus olhos arregalados e perguntou:
- Posso entrar?
Nem respondi, fiz um gesto desarrumado permitindo que adentrasse e assim ela encheu o ambiente com o seu perfume embriagador.
Ao entrar, rodopiou e rente a mim, fixou seu olhar a ponto de me permitir perder todas as atitudes do momento. Completamente atordoado com seu jeito de me fitar, me vi imantado com tudo bulindo dentro de mim diante daquele ser maravilhosamente voluptuoso que me instigava às mais enlouquecidas aventuras e, completamente fora de senso, me joguei em sua direção e beijei seus lábios, me lambuzei no seu batom, alisei seu corpo por cima do vestido, toquei-lhe a pele e lhe agarrei levando-a contra a parede. Um verdadeiro estupro, assim, sem mais nem menos.
Mergulhei fundo no beijo e ela correspondia a minha louca exacerbação resfolegando e concedendo que eu ousasse mais longe no meu brusco e insano contato.
Nem deu tempo de pensar em resolver uma bronca criando outra. Nem liguei e beijei seus olhos, as faces, os lábios, o pescoço, lambendo-a, chupando a carne do mais saboroso teor, quando ela, aos impados, conseguiu sussurrar...
- Hum... ah, peraí, antes tenho dois presentes para você.... peraí... -, disse-me dengosa, tomada pela minha iniciativa.
Não parei e fiquei curtindo sua pele acetinada e gostosa, enquanto aguardava as suas palavras.
Foi aí que ela empurrou-me delicadamente, exigindo que eu me afastasse um pouco para que ela pudesse respirar ao que atendi.
- O primeiro presente.... -, disse-me, levantando o vestidinho colado pelos lados das pernas lindas e removendo a calcinha preta até expô-la para mim: - tome, é sua!
Nossa, tomei a calcinha entre as mãos, cheirei, beijei e me deixei contagiar pelo aroma delicioso que penetrava minhas veias e acendia a vida inteira completamente em mim.
- Agora... -, voltou ela para mim, abrindo os braços o mais que pôde, dizendo: - Abra os braços para me guardar...
Nossa, que surpresa agradabilíssima! E nem deu tempo de dizer nada, ela avançou sobre mim como uma carniceira fera faminta, beijando-me os lábios com avidez, empurrando-me agora contra a parede, me apertando docemente, me apalpando e ronronando despudoradamente como quem se apossa da presa indefesa.
Não satisfeita, cravou-me as unhas, mordeu-me o beiço, esfregou-se inteira lambendo-me e beijando-me obscenamente, arrastando-me com força até conseguir que eu me rendesse no sofá, onde ela exímia se apoderou de mim e começou a passar a língua pelo meu rosto, pescoço, tórax, ventre. E me inquietava pronto para o seu domínio.
Ao se acercar do meu membro rijo, ajoelhou-se em contrição e, entre lágrimas, orações e afagos manuais, fez dele a vela sacrossanta e deificada da sua adoração, rezando de forma incompreensível e gutural enquanto alisava docemente toda extensão do meu pau, entre os dedos, entre o rego dos seios, as dobras do cotovelo, as axilas, prendendo-o ao pescoço, pelas faces, até esfregá-lo entre os lábios e se lambuzar com o líquido que eu expelia timidamente para, no apogeu de sua prece, exclamar pela necessidade da aquosa essência vital que lhe fortalecia o corpo e a alma.
- Quero esse elixir! -, gritou-me possessa. E entre esfregados e carícias labiais, começou a estirar sua língua no meu cajado como uma fera que se lambe demoradamente para saborear a integral delícia proclamada. Lambia, gemendo com gosto e afeto demasiado todo o meu pênis. Descia à base e contornava passeando por todo aclive até chegar ao topo onde mordiscava levemente como quem se preparava para abocanhar poderosamente, sugando disfarçadamente.
Eu me esvaía na sua língua. E cada lambida proporcionava uma viagem inenarrável ao reino integral do prazer. E salivava como quem se apetecia saborosamente, até que ardilosa fingia lamber, ora mordiscando timidamente, ora sugando com a ponta dos lábios, numa trapaça que me levava até os confins do gozo. E lépida, segurando firme com alisados na minha lança rija, roçou-lhe com o queixo, as faces e finalmente os lábios úmidos, até armar-se estufada a engoli-lo devagar enquanto a língua fazia alvoroço em todas as direções do meu prazer.
O mundo foi rodando e ela engolindo mansamente e, a cada volteio caprichado, mais chupava intensa e decididamente a fazer-me refém de sua gula, até chegar ao frenesi de abocanhar completamente garganta adentro, qual picolé chupado de forma voraz e arrancado para o último sabor da fruta, até deixar-me a ponto da ereção plena.
Ao perceber que me encontrava prestes a explodir, mais ela dedicava minuciosas arremetidas permitindo que eu gozasse extraordinariamente em sua deliciosa boca. Freneticamente se apossou com insistentes lambidas paradisíacas, chupadas homéricas e sugadas inenarráveis de tudo o que restava das últimas forças e vitalidade em mim. Gozei abundantemente. E ela mais feliz que nunca, continuava a felação ronronando como em prece, às lágrimas de felicidade, agradecendo, genuflexa, toda maravilha da vida proporcionada.
Quando ainda me agoniava com os últimos estertores do gozo, ela sussurrou beijando-me ardentemente: - Feliz aniversário!

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados do autor.

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