
Ginofagia (Poemiudinhos). In: Crônica de amor por ela. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Arte: Derinha Rocha.
“(...) a mão nos seus cabelos, ambos calados, alisava a nuca da menina que se ia arrepiando; brilhavam os olhos. (...) lá iam plagiando brutos amores de mato – a mão pesada do peão magoando a nuca da menina... (...) O impacto carnudo de um beijo estalou em cheio na face da moça. O silencio ondulou mansinho. Maria estonteada, reagindo, reagindo (...) Maria desarvorada, tremendo o corpo todo – cara pegando fogo – ficou ainda por ali, muito tempo, se refazendo, e, pela primeira vez, o raciocínio daquela inteligência adormecida crivou de conjeturas a sua cabeça criança e virgem. Perguntava-se, insistente, porquê queria aquele bruto. Por quê fazia o que jamais sonhara: ir atrás procurá-lo. O que nele a atraia? Ela que sempre sonhara com a beleza dos príncipes das histórias que os ciganos contavam. (...) mãos nas suas costas pressionando-a para ele – bafo quente lambendo-lhe a cara, varrendo duas lágrimas esperinhas que se atiravam face abaixo – chocou, violento, os beiços nos beiços da cigana. (...) Corpo vibrando, tentando – pouca força – apartar o peão de si, enquanto suas bocas unidas, bebendo, se deixavam penetrar pelos caudais das lágrimas que seus olhos soltavam. Bocas se machucando, sugando desajeitadas as almas sequiosas – mãos na nuca machucando-lhe a cabeleira curta – brusco...” (Léo Godoy Otero, O caminho das boiadas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958).
Veja mais Ginofagia aqui, aqui, aqui e aqui.