CRÔNICA DE AMOR POR ELA - Blog do cantarau poético-musical de Luiz Alberto Machado reunindo poemas, proserótica, poemiuderóticos e outras canções de amor por ela.
Toda sexta-feira, meio dia em ponto, ela aponta nos lábios um sorriso de sol acendendo a vida todinha só pra mim.
E na boca carmim escancarada, folia de festa, obra rara na língua de fora quão louca desvela os teores mais fundos de todos os sabores do mundo e da vida. E só para mim.
Meio dia em ponto, toda sexta-feira, a sua boca gulosa me engole e me guia pra toda alegria da satisfação.
E se torna o hangar dos meus vôos, porto dos meus navios, pia batismal onde lavo todos os meus pecados e sortilégios, túnel onde a sorte irisa meus sonhos e indagora revolveu minhas crenças inundando de assombro toda alegoria e o dia anoitece, a tarde madruga e a noite amanhece felando em mim.
Dentro da sua boca, toda sexta-feira, meio dia em ponto eu me enrijeço adulto e me extasio menino travesso que não cansa brinquedo um segundo sequer.
Tudo só para mim.
E meio dia em ponto, a língua estirada em agonia me faz mais real em todas fantasias, shakespeareanamente a saber que existem mais gozos nas estrelas do céu da sua boca do que possam prever as minhas mais obscenas ejaculações.
aberta a janela penetra-se nas trevas estrelas se fazem e nus nesse oásis quedamo-nos
entre as frestas o caldo da entrega sal do amor
a morte hora incerta deu-nos a deus corpos inocentes
roupas largadas montanhas pegadas suor
LA BELLA DONNA
seus olhos são noites seu cheiro manhãs são tardes seu colo seu sexo agoras seus seios auroras o tempo advoga a seu favor
O SEMINARISTA
afunda no decote margeia os mamilos escorre pelas bordas desvia pros quadris desce até as coxas retorna ao umbigo enquanto a prima dorme cheirosa igual canela biquini cor-de-rosa virgem por triz
(IN)DE.CISÃO
todos os dias ao amanhecer jogo-te ao vento tomo a decisão de te esquecer
depois eu me lembro do teu riso do teu beijo sinto um arrepio e me arremesso
ARRASTÃO
teus olhos são rede o mar é amor eu - peixe
ÂNGELA
a moça de alma albina quer ser puta não consegue fica nua vai pra esquina quando um homem se aproxima lua não tem sexo
FLUIDOS
tornei-me assim liquefeita quando daquela feita despi-me de nãos e sins
de mim então me perdi nesta vontade inconclusa acumulada no rim
ficou a mágoa comigo fincada dentro do umbigo um imenso chafariz
minha tristeza de chuva essa amargura profusa tem olhos túmidos
sou tal e qual um dilúvio derramo transbordo enxurro sangro os pulsos
CÓCEGAS
tuas águas me embalançam como o mar e o navio
rio
DELTA
entre os joelhos e a virilha uma ilha de renda a esconder a gruta de mato dentro
TESÃO
cheiro de arroz cor de leite salpicado com canela gosto de cravo pau de canela um doce manjar dos deuses para todos os prazeres para dar água na boca sentir vontade e voltar
arroz doce com canela nesta vida passageira esperarei por cem anos mais que isso se preciso retornarás bem cremoso cheiro de arroz cor de leite gosto de cravo pau de canela
AL DENTE
saia curtinha blusinha verde e o vegetariano não desgruda os olhos da sua carne tenra
OBLÍQUA
quando a cama fica imensa atravesso-a de ponta a ponta desassossegos pelo meio insônias no viés
DESMILAGRE
eu te abismo tu me abismas e em queda livre precipitamo-nos
o fundo era previsível a superfície nem santo
DI_AMANTE
eu te quero sol de todo dia e só vens na lua cheia
a bola de neve do meu medo (não sou a amada sou o pouso o oásis) te traz na primavera do ano bissexto
assusta-me à distância o cometa halley
SEM PÉS NEM CABEÇA
ali no ponto gê a tomada elétrica deixa guiomar de pernas pro ar
MAGO
alguém que me queira como sou que me pegue e me esfregue até que eu veja o gênio da lâmpada
DE TODAS AS FÓRMULAS
fazes-me falta
em todas as fases faltas-me
LADAINHA
faço verso rastejante igual cobra no papel
faço verso flutuante passarinho lá no céu
faço verso comprimido fechado dentro do frasco
faço verso assim ridículo acostumado ao fiasco
faço verso bem florido nascido em pleno setembro
faço verso esquecido o jeito dele nem lembro
faço verso galopante como visita de amante
faço verso des'tamanho coração de minha mãe
faço verso faço verso
faço verso
CUNHÃ
parece uma flor de palha a moça que me atrapalha sem cheiro e sem encantos no entanto igual arraia enreda em sua saia o dono dos meus quebrantos
O CABAÇO
penso aqui com os borbotões estou cheia de senões se fossem abotoados os pingolins dos meninos ia ser um desatino desarrolhar os coitados acho mesmo houve engano nas meninas muito pano os rapazes sem cortina triste é a nossa sina um selo de validade desde a mais tenra idade
LÍDER
peito para frente bunda para trás e o batalhão atrás
CONQUISTA
a pele da piscina arrepia-se com as tuas braçadas
DIABA
nem mais bonita rica ou inteligente queria tão somente ser o seu tipo a mulher que ele escolhesse sem titubeio sem avaliar os prós os contras a que tivesse a medida o exato tanto entre puta e santa
LIRIA PORTO – A poeta e professora mineira Liria Porto tem vários de seus excelentes poemas publicados em diversas páginas, revistas, sites e portais da web. Ela edita o blog Tanto Mar e Putas Resolutas.
Imagem: Female nude reclining on a divan, do pintor do Romantismo frances, Eugene Delacroix (1798-1863)
EPIGRAMAS DE JOHANN WOLFGANG VON GOETHE (1749-1832)
Não te queres deitar nua ao meu lado, bem-amada; Por vergonha te escondes de mim em tuas vestes. Diz-me, o que cobiço? A tua roupa ou o teu corpo? vergonha: uma roupa que os amantes jogam fora,
Quanto tempo procurei uma mulher; só achava putas. Finalmente te apanhei, putinha: aí tive uma mulher.
Dá-me, em vez de Schwanz, uma outra palavra, Priapo, Pois que, poeta, estou mal servido em alemão. Chamam-me phallos em grego, o que soa bem ao ouvido E a mentula latina é palavra tolerável. Mentula vem de mens, Schwanz tem a ver com traseirom Onde nunca senti alegria nem prazer.
Não vos irrite, mulheres, admiramos as moças: Gozais de noite o que elas de dia excitam.
Gosto de rapazes, mas muito mais de moças: Satisfaço a moça, e ela me serve de rapaz.
Meu maior cuidado: Betina se faz cada dia mais destra, Mais e mais ágeis se tornam seus braços, suas pernas, Consegue até levar a linguinha à sua graciosa greta E com ela brincar: já não lhe importam muito os homens.
A FELICIDADE DA AUSÊNCIA
Suga, ó jovem, o sagrado néctar da flor ao longo do dia, nos olhos da amada. Mas, sempre esta dita é melhor que nada, estando afastado do objeto do amor. Em parte alguma esquecê-la posso, mas se à mesa sentar-me tranqüilo com espírito alegre e em toda liberdade e o impereptível engano que faz venerar o amor e converte em ilusão o desejo.
JOHANN WOLFGANG VON GOETHE – O poeta, dramaturgo, romancista e ensaísta alemão Johann Wolfgang Von Goethe (1749-1832), desenvolveu vasta obra literária, autobiográfica, de estudos de ciências naturais e conversações, sendo considerado com unanimidade como a maior personalidade da literatura alemã e o maior poeta alemão. Ele envolveu-se em aventuras amorosas e escreveu poesias anacreônticas, à moda da época, chegando a proclamar sua divina mãe Devi Kundalini, a Serpente Ígnea de nossos mágicos poderes, como autêntica libertadora. Incontestavelmente, nas relações amorosas mais conhecidas de Goethe, excluindo-se, naturalmente, a sustentada com Cristina Vulpius - foram, sem exceção alguma, de natureza mais erótica que sexual, como as de Carlota Buff, Lili ou Frederica Brion e a senhora Von Stein, chegando a escrever a sua mais forte a paixão não esquecida por Charlotte, tema do romance Die Leiden des jungen Werther (1774; Os sofrimentos do jovem Werther). Já com Charlotte von Stein, uma mulher altamente sofisticada, inspiraram-lhe nova série de poesias líricas. ”Erotica Romana” é o título da primeira versão manuscrita das consagradas “Elegias Romanas” de Johann Wolfgang von Goethe, resultante da sua estadia em Itália (1786-1788), embora maioritariamente composto após o seu retorno, este ciclo de poemas eróticos sofreu numerosas alterações, atendendo à tolerância de um público que apenas admitia a expressão literária do prazer sensual através da máscara da mitologia ou da imitação dos poetas clássicos da antiguidade. Com isso, observa-se que Goethe arrastava consigo rumores de inúmeras aventuras amorosas com várias mulheres e, mais concretamente, trazia consigo Catherine Vulpius com quem passou a viver, sem com ela se casar. Foi imbuído do espírito libertino e liberal que escrever poemas eróticos.
FONTES: BARRENTO, João (Org.). Literatura e sociedade burguesa na Alemanha (séculos XVIII e XIX). Lisboa: Apáginastantas, 1983. BROCA, Brito. A viagem maravilhosa de Goethe. In: ___. Ensaios da mão canhestra. São Paulo: Polis / Brasília: INL, 1981. ___. Sobre os amores de Goethe. In: ___. Escrita e vivência. Campinas: Edunicamp, 1993. CAMPOS, Haroldo de. Deus e o diabo no Fausto de Goethe. São Paulo: Perspectiva, 1981. CARPEAUX, Otto Maria. Presença de Goethe. In: ___. A cinza do purgatório; Ensaios. Casa do estudante Brasileiro, 1942. GOETHE, Wolfgang. Os sofrimentos do jovem Werther. São Paulo: Nova Alexandria, 1999. _____. Epigramas. Revista Versoados. Disponivel em Acesso em 08.03.2009. HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Fausto. In: ___. O espírito e a letra. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. MAAS, Wilma Patrícia Dinardo. Poesia e verdade, de Goethe - a estetização da existência. Cerrados. Brasília (UnB), v. 9, p. 165-177. MONTEZ, Luiz Barros. A obra autobiográfica de Goethe como relato historiográfico. Itinerários (UNESP), v. 23, p. 39-48, 2005. ___. Literatura e vida: relembrando um Goethe um tanto esquecido. Terceira Margem, Rio de Janeiro, v. 10, p. 170-185, 2004. ___. Sobre o mito do Goethe. Forum Deutsch - Revista Brasileira de Estudos Germânicos, Faculdade de Letras da UFRJ, v. 6, p. 88-102, 2002. ___. Conhecimento e alienação no Fausto de Goethe. Terceira Margem. Rio de Janeiro (Revista da Pós-Graduação da Faculdade de Letras da UFRJ), n. 4, p. 34-41, 1996. ___. O século XVIII e o Pré-Romantismo. Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, n. 127, p. 99-110, 1996. ORLANDI, Enzo. Goethe. Lisboa: Editorial Verbo, 1972. PAES, José Paulo. Poesia erótica. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
A lua reinava com a chegada da noite naquelas paragens. Era cheia na penumbra e transversal dos beijos estalados com sabor de cerveja e mar.
No escurinho, frente a frente, mergulhamos no confronto dos corpos e ela beijoqueira começou a uivar com seus olhos de faroleiro errante.
Primeiro naufraguei no seu decote e embarquei lépido rumo à plataforma do amor e nele fiz morada para sempre sem abrir mão de cavoucar todos os acidentes geográficos de sua assimetria provocadora. E fui, com uma mão entre a pele da cintura e o elástico do biquíni rompendo os vales do ventre umedecido. A outra alisando impune o dorso da coxa divisando a mina púbica de todos os desejos florescidos. Essa a nossa balada, o momento perfeito.
Foi quando ela transida pela loucura da sedução infringiu todos os limites. Investigou, virando a cabeça, inspecionando lado a lado, conferindo os mínimos detalhes do ambiente para ver a existência de alguma presença afora a nossa, algum testemunho ou atrapalho flagrante.
Enquanto fazia sua minuciosa conferência por toda dimensão territorial, eu me rendia ao toque de suas mãos inquietas e usurpadoras. Era porque enquanto ela inspecionava tudo, as suas mãos percorriam minha carne agitando minhas veias., vasculhando meu ventre e, depois da conferência geral, foi se ajeitando comodamente até que ajoelhou-se no piso forrado da paixão como uma Juliete Binoche arrepiada com a intimidade desnuda embaixo da saia levantada que dava comodamente com a vagina nua assentada e esfregada no meu pé como se fosse a sela do corcel onde ela rebolava e se arrastava à medida que se preparava para uma prece em frente da minha vela viva e empunhada pelo seu bulício.
Parecia que estava insatisfeita de tudo e como quem quer mais do que possui, aos murmúrios lancinantes do cio, ela arremessou a vida no alvo do meu sexo premiado e dele fez o pavio de sua busca para alimentar o hábito de querer no hálito de sua alma requerente com o trabalho de quem faz por amor na labuta dos amantes, fazendo-o da pira iluminada com a sua língua acendedora de lampião no breu.
Acolhedora atirou-se incansável e frenética e foi recolhendo todo meu edifício vistoso, andar por andar, lentamente, centímetro por milímetro, delicada e vorazmente implorando por misericórdia porque queria mais e muito mais do que havia até então se apropriado.
Ela rangia os dentes, boca cheia dágua da baba escorrer pelo canto. E mais agitada ia acomodando o meu rijo tridente pelos vãos dos seus lábios que apontam os jardins do Éden. E ruminava contornando toda cúpula, torre e superfície acesa descortinando a lâmina afiada da minha espada porque sua boca movediça tratava de dar cabo de toda dimensão da minha estatura agora untada por sua saliva e batom vermelho que é a rosa em flor de lótus com mil pétalas estelares para toda a cobiça e se apossava com todo gosto e me destrinchava reavendo o que perdi na existência e não me restava mais nada do que aquilo tudo da dádiva dela.
Foi aí que seguiu desmedida e sussurrava amolegando o meu guidon energizado, completamente abocanhado por sua faminta determinação. E gemia com a lareira do seu ventre grudado na minha pele. E prostrada sobre o meu ventre ela encarava a minha serpente de gumes afiados e que descobre todos os seus mistérios e que a faz mais que o esplendor do veludo sobre o meu mel. E lambia os lábios abastados como quem se prepara para o banquete de gratidão, como quem se arma para o bote benfazejo ao paladar e se arregalava quando suas mãos arregaçavam com mil beijos de sua gula profana que invadia e lambuzava, segurava e sobejava o meu sobejo e vicejava afogada na mira, retendo para si entre os dedos esgoelada e sugava e eu crescia. E afagava com o rosto, e tomava insaciável o falo como quem mede o palmo na palma da mão, ah, fodoral.
Aí ela fechava o cerco e nada perco porque o meu cajado luzidio é o pico salivado pela sua sede e fome como quem escava o poço da garganta quando emerso da sua arma mais estreito transponho a abertura do seu empenho que se sujeitava a caprichar no vai-e-vem e a confiscar minha vigília como quem persegue a sua vingança, como quem rompe o senso de quem quer consolo a qualquer preço, como quem quer colo a qualquer custo e comendo bolo no maior rolo e eu aceso nos seus beiços que são novelos que me envolve na alquimia que me faz fruta madura quando a noite não cabe mais e retomo sem me deter e puxo, repuxo com força e quero atravessar sua laringe até onde mais der porque as suas margens esborraram com a lambida caleidoscópica onde toda cornucópia é mais que abundante e faustosa e tudo é imenso e absorve a minha manivela por inteiro porque ela engole o cabo e eu no seu reduto de cadela rosnando no osso de carne como quem saboreia um picolé delicioso e eu no auge vou como quem perde o leme, esquece a rota e ela me leva ao tálamo da sua presença ampla, vasta e totalmente viva entre as sombras que tenho porque fecho os olhos e ela sorve meu sêmen completamente embriagada e deliciando o néctar do meu gozo vivo nas galáxias de sua divina abóbada palatina que é a taça do desejo de sua mais que viçosa alma de nenhum fastio e transcendente precipício das chamas no maremoto da saliva que é o véu e que inventa o abismo delicioso que colhi e decifrei com toda e nenhuma direção e consinto que se sirva enquanto eu vulnerável vou sucumbindo à paixão do amor mais que desejado. Estava eu entregue e sob o seu jugo enquanto ela, olhar de sonsa, jeito de manhosa que não tem nada a ver com isso, risinho safado oculto no olhar, satisfação de tímida e nua reluzente, danada de gostosura e me tratando por herói, me fazendo amo e querendo ainda ser estraçalhada pela minha voraz vontade de esganá-la por inteiro com meus beijos, carícias e esfregões.
Toda vez que penso em ti vejo ouro pois tu és a minha jóia rara céu de azul e furta-cor promessa de flor, prisioneira da vida dúvida do ser para amar porque já se amou
pois já que tu és a promessa de um sonho por se realizar pra viver e ser feliz e jamais será fuga de um beijo ou desejo fugaz
enquanto não se chora uma dor a gente poderá ser feliz muito mais.
Não canto mais Babete nem Domingas Nem Xica nem Tereza, de Ben jor;
Nem Drão nem Flora, do baiano Gil; Nem Ana nem Luiza, do maior;
Já não homenageio Januária,
Joana, Ana, Bárbara, de Chico;
Nem Yoko, a nipônica de Lennon; Nem a cabocla, de Tinoco e de Tonico;
Nem a tigreza nem a vera gata Nem a branquinha, de Caetano; Nem mesmoa linda flor de Luiz Gonzaga, Rosinha, do sertão pernambucano; Nem Risoflora, a flor de Chico Science, Nenhuma continua nos meus planos. Nem Kátia Flávia, de Fausto Fawcett;
Nem Anna Júlia do Los Hermanos.
Só você, Hoje eu canto só você; Só você, Que eu quero porque quero, por querer.
Não canto de Melô pérola negra; De Brown e Hebert, uma brasileira; De Ari, nem a baiana nem Maria, Nem a Iaiá também, nem minha faceira; De Dorival, nem Dora nem Marina Nem a morena de Itapoã; Divina garota de Ipanema, Nem Iracema, de Adoniran.
De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda;
De Michael Jackson, nem a Billie Jean;
De Jimi Hendrix, nem a doce Angel; Nem Ângela nem Lígia, de Jobim;
Nem Lia, Lily Braun nem Beatriz,
Das doze deusas de Edu e Chico; Até das trinta Leilas de Donato, E de Layla, de Clapton, eu abdico.
Só você, Canto e toco só você; Só você, Que nem você ninguém mais pode haver.
Nem a namoradinha de um amigo E nem a amada amante de Roberto; E nem Michelle-me-belle, do beattle Paul; Nem Isabel - Bebel - de João Gilberto;
E nem B.B., la femme de Serge Gainsbourg; Nem, de Totó, na malafemmená; Nem a Iaiá de Zeca Pagodinho; Nem a mulata mulatinha de Lalá;
E nem a carioca de Vinícius E nem a tropicana de Alceu E nem a escurinha de Geraldo E nem a pastorinha de Noel E nem a namorada de Carlinhos E nem a superstar do Tremendão E nem a malaguenha de Lecuona E nem a popozuda do Tigrão
Só você, Hoje elejo e elogio só você, Só você, Que nem você não há nem quem nem quê.
De Haroldo Lobo com Wilson Batista, De Mário Lago e Ataulfo Alves, Não canto nem Emília nem Amélia, Nenhuma tem meus vivas! E meus salves! E nem Angie, do stone Mick Jagger; E nem Roxanne, de Sting, do Police; E nem a mina do mamona Dinho E nem as mina – pá! - do mano Xiz!
Loira de Hervê e loira do É O Tchan, Lôra de Gabriel, o Pensador; Laura de Mercer, Laura de Braguinha, Laura de Daniel, o trovador; Ana do Rei e Ana de Djavan,
Ana do outro rei, o do baião
Nenhuma delas hoje cantarei: Só outra reina no meu coração.
Só você, Rainha aqui é só você, Só você, A musa dentre as musas de A a Z.
Se um dia me surgisse uma moça Dessas que com seus dotes e seus dons, Inspira parte dos compositores Na arte das palavras e dos sons, Tal como Madallene, de Jacques Brel, Ou como Madalena, de Martinho; Ou Mabellene e a sixteen de Chuck Berry, E a manequim do tímido Paulinho;
Ou como, de Caymmi, a moça prosa E a musa inspiradora Doralice; Se me surgisse uma moça dessas. Confesso que eu talvez não resistisse; Mas, veja bem, meu bem, minha querida; Isso seria só por uma vez, Uma vez só em toda a minha vida! Ou talvez duas... mas não mais que três...
Só você... Mais que tudo é só você; Só você... As coisas mais queridas você é:
Você pra mim é o sol da minha noite; É como a rosa, luz de Pixinguinha; É como a estrela pura aparecida, A estrela a refulgir, do Poetinha; Você, ó flor, é como a nuvem calma No céu da alma de Luiz Vieira; Você é como a luz do sol da vida De Steve Wonder, ó minha parceira.
Você é pra mim e o meu amor, Crescendo como mato em campos vastos, Mais que a gatinha para Erasmo Carlos; Mais que a cigana pra Ronaldo bastos; Mais que a divina dama pra Cartola; Que a domna pra Ventadorn, Bernart; Que a honey baby pra Waly Salomão E a funny valentine pra Lorenz Hart.
Só você, Mais que tudo e todas, é só você; Só você, Que é todas elas juntas num só ser.
Eu sou a mãe da praça de maio Sou alma dilacerada Sou Zuzu Angel, Sou Sharon Tate
O espectro da mulher assassinada Em nome do amor Sou a mulher abandonada Pelo homem que inventou Outra mais menina
Sou Cecília, Adélia, Cora Coralina Sou Leila e Angela Diniz Eu sou Elis Eu sou assim
Sou o grito que reclama a paz Eu sou a chama da transformação Sorriso meu, meus ais Grande emoção
Que privilégio poder trazer No ventre a luz capaz de eternizar Em nós sonho de criança Tua herança
Eu sou a moça violentada Sou Mônica, Sou a Cláudia Eu sou Marilyn, Aída sou A dona de casa enjaulada Sem poder sair Sou Janis Joplin drogada Eu sou Rita Lee Sou a mulher da rua Sou a que posa na revista nua Sou Simone de Beauvoir Eu sou Dadá Eu sou assim...
Ainda sou a operária Doméstica, humilhada Eu sou a fiel e safada Aquela que vê a novela A que disse não Sou a que sonha com artista De televisão A que faz a feira Sou o feitiço, sou a feiticeira Sou a que cedeu ao patrão Sou a solidão Eu sou assim
Nada merece mais a nossa gratidão que o ventre materno, seja ela simples dona de casa alagoana ou uma resignada do mosteiro de Argenteuil.
Decerto todos nós passamos pelo canal de parturição.
Nós, vivos ou mortos, já viajamos nove meses na aeronave do ventre, dependentes da ternura materna até termos a consciência do oxigênio e da vida.
Nada seria interessante se não fosse o poder da concepção que elas carregam no ventre, seja ela secretária executiva de Natal ou trabalhadora de Orange.
Nada é mais admirável que a fecundação quando tudo se faz de prazer atravessando a zona pelúcida para gerar filhos da vida, adubados pelo carinho e a ternura da maternidade, seja de uma simples balconista de Terezina ou aquela de Guaratinguetá de Di Cavalcanti.
Admirável é a sua anatomia, o seu design belo de recipiente do amor e do prazer, seja ela gueixa de Kioto, Aprés le l bain de Degas ou vendedoras de frutas da Martinica. Ou mesmo a de Unamuno no banho, ou costureira do mercado de Abi Djan.
Que seja amada como uma simples rendeira de Aracati, ou mestiça do Gabão; ou tuaregue do Níger; ou ticoqueira da cana-de-açúcar.
Que seja amiga mesmo como camponesa nordestina ou do milharal do Haiti. Ou mesmo uma cachorrona sexy, maluca pauleira, fatal miss ou sedutora perversa.
Que seja malandra, dócil ou abestada, ou quitandeiras do Recife, prostitutas de Brasília ou a executante de alaúde de Caravaggio.
Sempre serão belas mesmo que seja uma simples jovem turca, ou esquimó da Groenlândia ou, mesmo, a Garota de Ipanema.
Sempre serão exuberantes mesmo na simplicidade daquela das colinas de Chittagong em Bangladesh ou aquela lavadeira de Portinari. Ou uma nativa birmanesa, ou aquela marabá de Rodolfo Amoedo. Ou mesmo a colhedora de chá do Ceilão ou uma linda índia Kamayurá. Ou, ainda, Le bain au serail de Theodore Chasseriau.
Pode ser uma humilde tecelã de seda em Bali ou operária de qualquer montadora de São Bernardo do Campo. Ou a nômade Fars, ou humilde verdureira da feira de Caruaru.
Pode ser uma dedicada vendedora de cosméticos de Aracaju ou Nu à contre jour de Bonnard. Ou uma Diana de Lee Falk, ou a Danae de Rembrand.
Pode ser uma teimosa da vida ou Fleurs de la prairie de Maillol ou humilde enfermeira de um hospital de João Pessoa.
Pode ser uma adolescente eterna sonhadora ou a estudante de Anita Malfati ou uma nativa das ilhas Trobriand, ou a Vênus Anaduomene de Ingres ou As Artes de Van Gogh.
Que seja musa dos escritores, poetas e compositores ou mesmo uma perdida nas veredas da vida, ou Vairumati de Gaugin, Vênus de Brozino ou a que carda lã no Nepal.
Seja a Bovary de Flaubert ou a de 30 de Balzac ou a dedicada submersa entre marido e filhos. Ou a Nu de Modigliani ou uma passageira de Olinda; seja a mãe de Almada Negreiros, ou de Gorki, ou Valentina de Guiido Crepax.
Seja ela Velta, ou Lôra Burra, a Vênus de Urbino de Ticiano ou Léda Atomique de Salvador Dali; ou femme de frisant de Toulouse-Lautrec; ou uma da cadeira de David Lingare.
Mas também que seja ela Safo, louca, aguerrida ou desgarrada. Que seja uma sumidade intelectual ou muçulmana de Oman, mestiça de Cuenca, mulata do Rio de Janeiro ou mesmo estabanada andrógina da noite na paulicéia desvairada.
Seja mesmo o que for: a “Mulher” de Geraldinho Azevedo & Neila Tavares, ou mesmo “Todas elas juntas num só ser” de Lenine & Carlos Rennó, ou tantas outras grandes e anônimas mulheres deste planeta, aqui só gratidão. Obrigado por existirem. Esta a minha homenagem, MULHER!
CRÔNICA DE AMOR POR ELA – Volume que representa uma edição de luxo com capa dura, do livro/cd reunindo prosas poéticas/proseróticas, poemas prosaicos, poemiudinhos/poemiuderóticos & outras canções de amor por ela, escritas e compostas por mim, Luiz Alberto Machado. Este é ideal para presentear a namorada, noiva, esposa, paixão, parceira, companheira, enfim, um presente para a mulher especial da vida de um homem. São centenas de poemas de amor no livro e 20 canções de amor no cd, disponíveis apenas sob encomenda pelo mail lualma@terra.com.br ou pelo fone 82.8845.4611 ou ainda pela HomeLAM.
Naquele dia a gente navegou por nossas fronteiras mais arraigadas e se curtiu o dia todo, era o aniversário dela. Logo de manhã eu saboreei sua delícia na cozinha: a comida da comida. De tarde, namoramos todos os mormaços. E quando a noite chegou, eu acendi todas as estrelas com o prêmio da sua língua lua na varanda. Era a festa total, como se todas as noites estivessem nesta noite na rodada de sua saia estampada, mãos na cabeça e sussurros de vontades. Ali, de nós dois, todas as posses e bens despojados varridos pela nossa dança na sala, no quarto, nuvens e céus. Foi quando ela me agarrou com seu beijo Maragogi e me afogou nas ondas do seu corpo. Foi quando ela engatinhou faminta, engolidora de espadas e devoradora de desejos incendiando o meu sexo iluminado que a fazia rodopiar, se entreter e esfomear na cena explícita de nossa explosão pornô e na minha hipofixilia agoniada de gozo. Com a minha explosão ela me deu seu sorriso que dinamitou de vez todas as minhas neuras, traumas, frustrações. Ofegantes na cama, nossos corpos vencidos. Aí eu levitei com o aperto de seu abraço Porto Calvo. O seu beijo molhado fez o mundo girar mais depressa e caímos lentamente no Passo e bailamos nus na Matriz de Camaragibe. Eu sou seu par e ela se debruça na cama e me puxa com força sobre as costas lanhadas para que eu vença seus montes e sua carne rendida. Foi aí que venci a sua Paripueira, usurpei o seu Sonho Verde, venci a sua Guaxuma até fazer no seu corpo o Riacho Doce. Coração saindo pela boca, nosso suor lavou a minha vitória. E venci urrando de gozo sobre sua carne varada e servida sobre a bandeja do meu domínio. O meu peso sobre a rendição de sua maravilha dorsal. Os meus braços no seu corpo: o banho da noite. A água iluminava a sua pele nua na minha língua que percorria a sua Cruz das Almas, o seu Mata-Garrote, Jatiuca, Ponta Verde, Pajuçara até enfiá-la na mina do seu Pontal e ela me deu a Madalena do Francês rebolando na Barra, se espremendo no Gunga, se ajeitando na praia de Jequiá, enlouquecendo no Pontal de Coruripe, até rebolar seu Piaçabuçu na curva do Penedo que assaltou a minha loucura profana e a fez chorar de satisfação. O trem do meu tesão seguia os seus trilhos. E ela tributária de tudo se valia dos nossos nervos que reagiam na luta dos quereres mais safados. Não havia como saltar fora, soltar agora toda libidinagem visceral. Foi quando ela, frango assado, escancarou todos os segredos desvelando toda sua alma perversa. Ela Amanda Peet premiando o meu apetite. E se deitando no céu como se fosse um presente de natal, como se fosse toda folia de carnaval, como se fosse maior fungado de São João, como se fosse as bênçãos de ano novo, todas as festas juntas, todas as noites nessa noite. Era aniversário dela e por isso me olhava com seu jeito azul de me beijar a virilidade, quando eu enlouquecido sugava no seu ventre como quem bebe gasolina, gerando a todo vapor a nossa putaria, pele na pele nua e eu me apoderando de sua carne com a fúria dos gritos de quem ama aquilo tudo e muito mais. E insistia alisando a sua carne tocando cada milímetro de sua feitura, como se num walkaround com toda força vital. Ah, minha vulnerável Lois Lane que quando eu um simples Clark me fazia de Superman. E foi: todas as noites nessa noite. E sobreviventes, emergimos enquanto mergulhávamos um no outro. Aí, lá e loa. Ah, coisa tão boa. A gente mandava bem sem sossegar o facho, maior repasto. Foi quando ela então vira Madonna ousada e sacana e tudo outra vez e de novo. Puxa! Todas as noites nessa noite quando eu sonho nossas entregas que fazem viver.
Fui nascida mais mulher do que tantas e quaisquer, sobre mim há muitas delas, são capazes, são sinceras. Muitas há em minha mente, outras vivem-me na alma, várias saem-me pelas palmas, outras ficam quando calmas. Sou mulheres bem maduras, sou mulheres tão meninas, estas são tão femininas e aquelas mais seguras. Pelas partes de meu corpo sempre surge uma mulher, não as vê só quem é tolo ou verá quem eu quiser. Várias usam-me as entranhas, outras moram-me nas manhas, há algumas que se assanham, poucas há que cedo apanham. Só há uma que insiste em ser frágil, em ser triste e entregue a sua sorte, temerosa aguarda a morte. Há mulheres temporais, há mulheres sazonais, sempre tenho uma mulher inserida nos anais!
À ESPERA
Tua sensibilidade crítica é que me traz e instiga, a investigar teus escombros!
Quero no teu interior, com euforia ou dor, revelar os teus sonhos.
Larga-te às minhas investidas, são curiosidades antigas, que me ligam a ti.
Deixa que eu te penetre e jamais te apresses em despir-te de mim.
Vou conferir-te a fundo, saber-te profundo, num chegar e partir.
E quando fores embora ficarei aqui fora, esperando por ti!
Sei que sempre tu voltas e bates à porta, que eu vou abrir.
Eu te recebo sorrindo, achando tão lindo, voltares pra mim.
PUDORES
Chama -me à cama, não dou ouvidos! Esse seu jeito julgo atrevido! Rejeito a cama, abro as janelas, pudores contidos fogem por elas. Fecho as janelas, volto pra cama, tiro o pijama. louco me ama!
LINGUA LIQUIDA
A líqüida língua vaza! Infiltra-se entre os dentes, rompe os limites dos lábios gotejando boca á fora ou, entornando livremente... Não há fronteira que a reprima, não há limite que a contenha. O dono da língua líqüida, possui ouvidos alados que saem pelas orelhas, lúcidos ou atordoados, diretos ou de qualquer maneira e colhendo informações voam pra todo lado! Temo essa língua por ela, pelos ouvidos que a acompanham e por todos ouvidos alheios nos quais chega, sem medo, a relevar os segredos. Se uma dessas, liqüefeitas, vem molhar-me os ouvidos, afasto-a rapidamente, secando depressa o líquido, temendo que tal proximidade impune contamine-me a língua, e que por momentos, instantes ou pelo restante da vida liqüefaça-a abundante, infame larga, solta e incontida...
BEIJO
Você se faz tão suave, pedintes seus lábios são. Pousando feito uma nave, trazem gosto e emoção! Chegam doces, molhadinhos, disfarçados de sorriso, beijam bem devagarzinho, põem meu ser tão indeciso. Vêm só para me sentir, ou querem se distrair? Quem os dirige sou eu, ou, a mãozinha de Deus?
CHEGANDO E PARTINDO
Ante minha face hirta, pálida, envelhecida há um túmulo uma cruz fosca torta e velha, uma jarra trincada, uma flor amarela; única flor; amarela e bela; bela e única; única e frágil; frágil e muda, muda e bela, a flor amarela, em jarra trincada, sob cruz torta, velha, sobre um tosco túmulo, atrás de minha nuca suada...
A DAMA
Cheiro de lama, cheiro de trama, cheiro de dama, nua na cama.
Vão-se as dores, fortes venenos, vêm os olores, leves, amenos.
Estira-se a dama, em brasas e o leito aviva-lhe a chama, desnuda-lhe o peito
Vão-se os olores, leves, amenos, ficam as dores, fortes venenos.
Encolhe-se a dama dolente e o leito apaga-lhe a chama, oculta-lhe o peito.
UMBIGO
O umbigo afoito, na premissa do lazer, oferece-se ao coito, muito antes do prazer.
PÚBIS
Dessujeito, posta-se sob os peitos desabados. Desinibido, mostra-se.
ENLEVO
este olhar tão bandido é o olhar atrevido, que trago comigo!
nestas mãos satisfeitas, da paixão mais perfeita, eu me encosto e abrigo...
este peito discreto, suado e incerto, incansável, eu ouso!
nestas pernas alongadas, umedecidas de gozo, faço meu, seu repouso!
CARÊNCIA
Secura de mim. Vazo de um vaso trincado, sem a querença, sem a crença e a certeza do amanhã. Vida que vadia resfolega sob o relógio que se arrasta entre a solidão matinal e a noite fria... ermitã.
MARIA MORTALHA
Cedo, deitou-se Maria, pronta pra logo morrer, vestindo a alva mortalha, sem medo de adormecer. Os olhos tanto mais fundos, coroados por olheiras, cerravam-se moribundos, nessa hora derradeira. Implorando-lhe ajuda, veio um moleque qualquer: - Vó, apanha uma agulha, me tira o bicho do pé! Servil, levanta a Maria, desvestindo a alva mortalha e já mais morta que viva, do pé, o bicho estraçalha. Volta, esvaída, Maria para o bom leito de morte, quando lhe chega a nora , chorando a fome e a sorte. Maria, do quarto, dormente, sai e aquece o fogão, serve-lhe o leite fervente e duros nacos de pão. Com a fome, então, saciada e o corpo fortalecido, parte a jovem senhora com olhos agradecidos. Maria, assim, novamente, põe-se no leito de palha, julgando que, certamente, não mais tiraria a mortalha. E eis que lhe chega a vizinha com um pote tosco à mão. Queria do sal, só um pouco, que lhe salgasse o feijão. Maria deixa o leito... que a Morte espere um instante... pra atender a boa vizinha, ergueu -se, mesmo ofegante. Bem cheio o pote de sal, a dona vai -se embora. Maria, já fria, descora e aguarda, da Morte, a hora. A Morte que vinha chegando, notou-a em pele ardente, porém, percebeu que a lida, tornara Maria valente. Vendo a mulher à espera, recolhida em seu leito, ordena que se levante e atenda-a com medo no peito. Maria coloca, surpresa, os olhos esbugalhados sobre as vestes que a Morte trazia em trapos rotos, rasgados. A Morte impõe, soberana: - Sobreviva só mais um dia, ainda que condenada, cosa-me a capa, Maria! E apontando-lhe as entranhas, ressecadas e vazias, exige-lhe que, ao fogo, torne, o leite, que frio jazia. Maria salta do leito, arranca a tal da mortalha e sem mesura ou respeito, rebelde, à Morte, detalha: - Em face aos desmandos alheios, viverei mais um ano e meio.
A MENINA DA CAPELA
- Que menina é aquela? - É a menina da capela. A capela é sua casa. O altar é a cama dela.
Quando o dia amanhece, Toca o sino em doce prece. Aos fiéis essa menina Sua casa oferece.
- Que menina é aquela? - É a menina da capela. A capela é da menina. A capela é a casa dela.
A menina da capela quer a casa bem florida, pra rezar na casa dela uma prece colorida.
MARIA DA GRAÇA ALMEIDA - a escritora, pedagoga e professora paulista Maria da Graça Almeida, é formada em Educação Artística. Ela participa de diversas antologias e possui crônicas, cartas e poemas publicados em diversos sites da rede. Ela é autora de vários livros publicados e de outros tantos inéditos. Seus trabalhos estão publicados no Jornal de Poesia, Usina de Letras e Recanto das Letras, entre outras páginas da rede.
Imagem: Women’s Bath, 1496, do pintor e gravurista alemão Albrecht Dürer (1471-1528)
A PEQUENA LOUVAÇÃO DE CRISTOPH MARTIN WIELAND
O jardinzinho bem fechado Todo mês de rosas ornado Onde o jardineiro se enfia E cuida e rega noite e dia, Louvado seja!
O bom mineiro tão robusto Que em negro buraco, sem susto, Penetra e fura sem cansaço, Até acabar-se, ficar lasso, Louvado seja!
CRISTOPH MARTIN WIELAND – Formado no ambiente do pietismo luterano, Christoph Martin Wieland (1733-1813) cedo se libertou dele para afirmar-se um livre-pensador segundo o modelo voltairiano. Autor de romances, dramas e narrativas em verso, viveu parte de sua vida na corte de Weimar, ao lado de Goethe e Schiller. Dentro do Rococó literário, destaca-se, conforme Otto-Maria Carpeaux, como um libertino alegre cujo erotismo não temia ofender ouvidos castos. Era considerado o Baccaccio alemão.
FONTE: CARPEAUX, Otto-Maria. Historia da Literatura Ocidental. Rio de Janeiro: Alhambra, 1980. PAES, José Paulo. Poesia erótica. São Paulo: Companhia das Letras, 2006;
Essa menina é feita de lua. Ela voa na rua prontinha querubin. E me apronta tlin tlin no alto da campina onde tudo é cantina feita só de si.
Ah, essa menina que dança com jeito, somente a gingar. Qual estrela lá mansa na unha matutina, desde sonsa ilumina onde antes supunha nunca existir. Ela está sempre aqui como chama na retina, como a grama que mina todo o quintal. E se faz de vestal de todos os presságios. Ela alucina ao contágio. E ela só vale ágio na sina do apelo a brilhar nos cabelos toda magia. O que eu mais queria: roubar o seu cheiro, seu secreto terreiro de tangerina. Ah, fulmina iminente – ela não é gente – é deusa a mendigar.
Essa menina é feita de mar, intensa, quiçá, real mais divina. Quando vem cabotina só me desmantela. Ela vira a janela pronta pr´eu abrir.
Essa menina chega com o olhar ardendo de vida. Quase desvalida com a boca nas asas que vaza e é guia perdidas esquinas, toda emoção repentina com o sopro de aguerrida na pele. O paladar que repele na maior febre, que tudo se quebre ao sol posto - a saliva com gosto de boa cajuína. Ela é tão traquina: o seio da boca sedenta. E venta maior ventania. E, todavia, se põe a chover: o corpo queimando o prazer.
Essa menina é feita do rio que escorre ao quadril pra me afogar. Patati, patatá, é ela que me abriga como se eu fosse a viga que ela quer sustentar.
Essa menina, bailarina da noite, em carne viva, vitalina, essa flor menina a me servir sucessivas entregas, peças que prega nos meus cinco sentidos.
Essa menina é feita de peso: a coxa tatua o desejo que as pernas eqüinas rolam sobejo do sexo azul. Eu todo taful com seus pés nos meus braços que o abraço fulmina e lateja, água que poreja tão pequenina e vira ribeirão na luz feminina. Vingo-lhe a nuca que me ilumina e ela me sorri encantada, franzina com a gula que vai da glória à ruína.
Essa menina e a mão culpada de amor. Ela brota, ereta, me socorre, me empesta. Salta da grota, na greta, virada na breca, capeta, na alvura exalta, cristalina. E tudo se arrasta, arrebata, contamina. E me larga no sopro. Meu corpo oficina. Maior serpentina de carnaval. E me faz imortal. Vem e ilumina a vida toda esquecida no meio da paixão. É quando, então, ela cisma do mundo e reduz quase tudo na palma da mão onde ela mais que altaneira me deita na esteira e me nina um milênio de paixão.
caminhando vou - fumaça, vôo, nuvem chuvisco de azul nuvem de chuva sabe-se lá porquê dia de lua
CINTILÂNCIA
desde que brota desejante vai umedecendo de vida todo o curso
num remanso embora feita de assossego embora pura harmonia inacessível e mansa branca e elegante se faz garça
e num segundo de descuido deixa-se fotografar desnuda
NÃO-FALO
falo de mãos e de dedos falo de figos e de seus segredos
falo de lábios e línguas falo de peixes e serpentes e maçãs
falo de pele e de arrepio falo de velas, espadas e bastões
falo de cheiros e de sabores falo de flores falo de romãs
falo de cálices, de sinos e de torres falo de calores e de convulsões
falo e a noite se vai e eu não durmo
não-falo
EX-FINGE
percorre as veredas do meu corpo verás que ainda há parte do humano que fui quando assim fingia ser
tateia com vagar todos os flancos desse ser tão incomum igual a ti
de quatro talvez me descortines de quatro animais encontras partes à minha humanidade amalgamada
cabeça e seios de mulher corpo de touro (ou de cão se assim preferes) garras de leão asas de ave e essa imensa cauda de dragão
não temas, amado, inda sou eu a mesma que desconhecendo, amastes e se duvidas de mim, olha no espelho verás que, enfim, me decifrastes
ÁQUATICA
Navega-me, que me faço mar. Não para me singrares de velas enfunadas. Teu deslizar há de fazer marolas que hás de alisar docemente. Eu crescerei em vagas impetuosas e te farei soçobrar. Mergulharás em mim e eu, maremoto. Até que, juntos, na praia morna, em branca espuma morreremos.
GERUSA LEAL – a poeta e escritora pernambucana Gerusa Leal, é autora de contos e poemas publicados nas coletâneas Contos de Oficina, organizadas pelo escritor Raimundo Carrero e também as organizadas pela Fundação de Cultura Cidade do Recife. Conquistou premiação nos concursos Luís Jardim, Prefeitura de Cordeiro – RJ, Maximiano Campos, Fliporto e mais recentemente o prêmio Edmir Domingues de Poesia 2007 da Academia Pernambucana de Letras, com o livro de poemas versilêncios, livro ainda com lançamento previsto para final de março/2009. É integrante da Rede de Escritoras Brasileiras – REBRA. Ela edita o blog Flor de Gelo.
Quando o céu se reflete no seu olhar estrelado de imensa ternura, eu já tomado de amores, flor miosótis, sou cada vez mais o escravo que não pode viver longe do encanto que me prende a todo desvario e vertigem dos impulsos do coração abrasado de amor. E esse amor é você.
Quando o mar se aprofunda no seu ser onde corre o sangue ardente de irresistível encanto, excepcional beleza e suas íngremes e deliciosas dunas, cada vez mais, beija-flor, sou servo inteiro ao seu dispor. E meu beija-flor é você.
Quando o sol se reflete no seu riso cheio de surpresa e furor com cintilações azuladas onde você, tostada pelo fogo ardente do coração na febre do amor, trazendo meu gosto na boca, minha posse no corpo e meu desejo na alma, mais me vejo grato sangue ardente a me jogar onde quem manda é o amor. E o amor, beija-flor, está em você.
Deixa-me ser tua meretriz Tua escrava, sem pudor Encostar meu corpo nu em ti Deixar banhar-me com o teu calor Domina-me com prazer Ordena-me! Provoca-me! Coloca-me em tua frente Ajoelhada a te olhar Segura em meu cabelo com força Puxa-me, para que com minha boca, eu te sugue Aperta com força tua dama de encontro à ti Sinta o calor de meus lábios a envolver-te Com minha língua passeando por teus recantos Forte...quente...sedutor Ao mesmo tempo em que te olho E me faço serva, sem pudor Tens o gosto do melhor vinho apreciado Bebo de ti, até o fim Sorvo teu néctar sagrado Absorvo de teu prazer, enfim Com minhas mãos toco-me insana Na busca do prazer gritante Num instante chego ao clímax Explodindo meu gozo, pulsante...
UMA NOITE DE AMOR
Jogo-te na cama Lençóis desfeitos Cabelos bagunçados Perdidos, do avesso
Num impulso quase febril Desejo beirando o insano Deito meu corpo sobre o teu Coloco-te dentro de mim, inflamo!
Ritmo marcado, pulsante Tento com minha boca tocar teu peito Sinto teu coração vibrante Como se nunca antes assim, tivesse feito
Penetra por caminhos meus Apropria-se do que já é teu Puxa-me com força de encontro à ti Acorda esse vulcão que um dia adormeceu
Uma noite linda com a lua a nos inspirar Toco seu corpo quente...macio Nossa pele arrepia-se pelo simples olhar Beijo sua boca úmida...seus olhos fecham-se ao meu toque E suas mãos estremecem em meu corpo
Tento manter meus pensamentos organizados Mas em mim, tudo já está acelerado Joga-me na relva molhada pelo sereno da noite Como tivessem se amado o céu e o mato Beija todo o meu corpo sedento de amor
Penetra-me com sua mão...ouve meu gemido de prazer Conhece-me pelo tato...pelo paladar...pelo cheiro... Caminha forte com seus dedos pelo meu corpo Aperta-me de encontro à você, Num desejo insano de me possuir!
E no auge do tesão Penetra-me sem pudor Olhando em meus olhos Que feito chama, estão a te olhar Marca forte seu ritmo
Levanta-me com seu corpo a bater no meu Segura-me pelos cabelos Qual animal sedento Deita em meu pescoço sua língua Em busca de gotas do meu suor
Urra de prazer E deixa em mim, seu néctar sem igual Beija-me ao final... Tendo somente a Natureza a testemunhar Tal ato de amor e desejo carnal
CASA VAZIA
Dormir sem você é ruim. Mas não é pior do que acordar sem a sua presença. Não ao meu lado. Isso eu não sinto. Ainda sou capaz de sentir seu corpo junto ao meu. Mas o calor...Ah! O calor! Esse já não existe mais. Já não há mais o calor dos corpos que se amam, nem a loucura de estarmos colados um ao outro. Nunca mais tive a deliciosa sensação de estar com você...em você! Não a sensação mecânica de dois corpos num ato de “frenesi”, mas sim sentir-me plena em contato com seu sexo...sentir que o amor multiplica-se pelo simples toque...a face ruboriza-se, o corpo estremece, todas as veias parecem querer saltar! Ah...que saudade de sentir-me em descompasso cardíaco! Não há mais a conversa matinal sobre as manchetes de jornal...nem há mais o jornal. Ele ficou amontoando-se na porta a espera de um dono fiel que o lesse, que o segurasse por entre os dedos e manusease-o como a um companheiro. Ah...quanta falta sinto das letras regadas ao cheiro impregnante de café... A casa silenciou-se...não ecoam mais as gargalhadas....a TV nunca mais fora ligada...os móveis tão vistosos escolhidos ‘a dedo’, agora jazem cobertos por uma fina névoa de desilusão... Mas o pior de tudo....a maior de todas as dores...é quando silenciam-se as palavras... Não porque resolveu-se calar o que está prestes a ser dito. Mas por um motivo maior e mais agravante: não há mais o quê falar...não há mais nada...Nossa história fica limitada a retratos semi desbotados, guardados dentro de uma caixa....Dentro dela também ficaram os sorrisos estampados numa face juvenil, com olhos brilhantes e corações esperançosos... tudo esvaiu-se pouco a pouco... findou-se... caíram os cabelos... embranqueceram-se os fios... o sorriso deixou de ser uma marca...e as palavras...ah...as palavras...elas me fazem tanta falta!
ONDE ESTOU?
Aqui...
Sofrendo por esperar uma resposta Questionando se falei algo que não devia Querendo que tudo mude na rapidez de um raio Mordendo o cantinho da boca - meu calmante Precisando dormir, mas com o peito em ebulição... Tentando lembrar de me esquecer...
E a história é sempre a mesma... Desejando virar a mesa, mas com medo de pisar nos cacos que sobrarão dela...cansada de ser boazinha e querendo respirar ar puro, desinfetado de você...’nao te quero mais’...palavras caladas em minha garganta mas transbordadas em meu olhar....um olhar cansado de ver a vida, corpo latejando a vontade de vivê-la...ansiando pelos horizontes e meus pés aqui, estagnados! Não posso mais deixar de sentir a brisa bater em meu rosto...não quero mais sentir culpa pela sua culpa... Quero voar, sem direção! Sem asas, até! Me deixar levar pelo fluxo incerto da minha emoção...
....E quando estou só [não raro] olho pra você... Seu sorriso me encanta, seu cheiro me embriaga...até seus problemas são interessantes...uma conversa marcada de cumplicidade, de saberes implícitos [ entrelinhas poderosas] rumos novos [sem rumo]...ultrapassar aquilo que sei para alcançar o que desejo....ardente...queimando....cheio de motivos para ser...cheio de razões para não acontecer...deixo a razão [antiga companheira], para ficar à mercê de você...serva, submissa, amante...[sou, enfim, amada]
...Se eu sumir, me procure nas estrelas... Cansei de suportar o peso do mundo!
POETA DA DOR
Não sou poeta da dor Apenas falo de amor Ainda que não seja em forma de flor...
Não quero fazer sangrar a ferida Quero apenas achar uma saída Para esse peito, maculado na dor
Deixo que saiam as palavras Quero extravasar minha mágoa Quando em versos, desenhar minha tristeza
Tenho confesso minha amargura Minh’alma em dor se contorce Quando a realidade, do avesso, perdura
Tristeza, és linda e pura! Ainda que de mim, vertam lágrimas obscuras Desenho-te como a uma partitura..!
LETICIA CESARIO – a poeta Leticia Cesário é de São Paulo e diz dela mesma: Sou mulher, amiga, profissional e sentimento. Tenho-os à flor da pele. Amo escrever. Meus cadernos, meus lápis e as palavras que neles cabem são o meu Divã... Seus poemas estão no Recanto das Letras.
VASTAS EMOÇÕES E PENSAMENTOS IMPERFEITOS DE RUBEM FONSECA
“E os prazeres do sexo?”, perguntou Liliana enquanto tirava os rolinhos do cabelo. “Não estou interessado.” “É mesmo”, disse Liliana, tirando a roupa. Seus seios tinham bicos vermelhos. “O que você anda fazendo? Exercicios de ascese? Masturbação? Ou arranjou uma dessas atrizinhas que para trabalhar em qualquer filme dão para qualquer diretor? Anda, deita aqui comigo.” Ela apagou a luz. Podia vê-la no escuro – Liliana sempre apagava a luz para fazer amor – ali na cama ao meu lado, brilhando como um ferro em brasa. “Quero que você acenda a luz, se não vou-me embora. Quero ver a tua boceta vermelha.” “Você está louco!” Saí da cama. “Estou falando sério.” Liliana acendeu a luz. “Você não está bom da cabeça, nunca falou assim comigo”, disse ela, não sei porque faço o que você está mandando.” Abri as pernas de Liliana e olhei. Sua boceta escarlate estava úmida e rutilante como se estivesse sangrando, não propriamente sangue, mas esmalte de unhas. “Agora vira de bruços.” Delicadamente abri os dois rijos hemisférios glúteos da bunda musculosa de Liliana – suas nádegas eram separadas, como as das bailarinas – e contemplei o pequeno orifício cor-de-rosa, que pareceu se contrair ante o meu olhar. “Isto está me dando uma sensação esquisita”, ela disse, “acho que é tesão.” Depois Liliana em perguntou se eu não queria com ela ao baila do Scala. Não. (...) (…) Fornicação – os poetas estão sempre certos: “That´s all the facts when you come to brass tacks”. (…) Ao acariciar o corpo nu de Liliana, sua pele lisa e macia, ao sentir seus ossos, sua carne, seu calor, sua vida, fui dominado por uma grande alegria, uma estranha felicidade, misturada com uma espécie de vertigem que por momentos supus, erradamente, ser um pródromo da pseudo-síndrone de Meniére. Eu não odiava mais Liliana, talvez nunca a tivesse odiado. Podia me entregar àquela fruição simples e primária, aceitar o contentamento puro que ela me trazia. (...) Ela me diz que o amor não existe, que só existe o orgasmo, cuja vitalidade é uma coisa parecia com cagar, por exemplo, algo que te alivia e depois você se limpa, com uma toalha, ou com água, em seguida vai tratar da vida – comprar uma roupa,ou uma casa, ou uma jóia, ou fazer ginástica. (...) Ficamos, depois, deitados na cama nus, lado a lado. (...) O que fazia uma pessoa ser atraída por outra? O que me fizera segurar a mão de Mitiko, naquele instante? Casanova, segundo Schnitzler, queria muito mais dar do que receber prazer. Eu também era assim. Esse dar prazer era uma forma de se exibir? Uma espécie da bazófia?... (...) Agora é tarde, fazemos nosso destino e eu não soube fazer o meu. Mas agora sei o que quero. (...) Por quê? Quem pode explicar por que o desejo por uma mulher linda pode acabar?... (...) “Qual o seu sonho de consumo?”, ela perguntou. “Acreditar em Deus”, eu disse. “Isso mudaria alguma coisa?” “Talvez o meu estilo. Minha linguagem é assindética, cheia de elipses de conjunção. A fé tornaria meu estilo hiperbólico, polissindético”. Etc. Na época pensei que estava brincando. “Se os filmes brasileiros”, escreveu a jornalista, “fossem tão interessantes quanto as entrevistas dos seus diretores, o cinema brasileiro seria o melhor do mundo”. Meu sonho de consumo, eu sabia agora, era a liberdade. O ser humano se caracteriza, na verdade, por uma grande estupidez. Ele só descobre que um bem é fundamental quando deixa de possuí-lo.
RUBEM FONSECA – O premiadíssimo escritor, roteirista e advogado mineiro, Rubem Fonseca, foi comissário de polícia no Rio de Janeiro, chegando a se aperfeiçoar na área e a estudar Administração de Empresas na New York University. Depois trabalhou na Light quando, por fim, dedicou-se exclusivamente à literatura sendo agraciado com inúmeros prêmios literários por seus escritos literários e roteiros cinematográficos. Entre as suas obras está “Vastas emoções e pensamentos imperfeitos”, um romance que foi publicado em 1988 que traz a sensação de se estar no cinema assistindo a uma colagem de questões intelectuais, angústias humanas, romance policial, cenas da guerra fria, loucuras do sonho. Talvez seja o melhor da obra de Rubem Fonseca porque ler Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos significa não conseguir parar um minuto sequer. É enxergar a vida e as situações cotidianas do homem dentro de uma ótica cinematográfica, na qual é necessário que haja uma lógica concisa e eficiente. Os personagens devem ser sempre muito bem definidos, suas ações delimitadas, seus sentimentos delineados para que o público capte "o quê o diretor quis dizer". E é aí que se encontra a confusão. A história de um cineasta-narrador que se envolve com uma história de pedras preciosas e assassinato, ao mesmo tempo em que começa a ler os contos do judeu soviético Isaak Bábel. A tentativa de transformar tais contos em roteiro para sua nova produção, junto aos seus confusos sentimentos e amores acaba em uma mistura da lógica racional da linguagem cinematográfica, à completa falta de lógica da linguagem inconsciente dos sonhos e a tentativa de adaptar a linguagem literária à uma realidade. E então, qual a mensagem que deve ser passada? Há algo que deve ser passado? Como organizar as vastas emoções sem deixar com que se percam em pensamentos imperfeitos? Rubem Fonseca não fornece respostas, mas incita questões - questões essas que valem muito a pena.
FONTE: FONSECA, Rubem. Vastas emoções e pensamentos imperfeitos. São Paulo: Planeta De Agostini, 2003.
O quarto poema de amor nasceu numa noite fria. Nasceu duma fantasia que eu sonhava então. Apesar de ser verão, chovia longamente. Foi então no de repente que sonhei, ave-Maria. Eu já sabia porque ela passeia nua de dia e na noite da minha vigília e nos capítulos dos meus sonhos mais medonhos. Sempre nua e minha e toda etérea, vem pousando toda aérea na atmosfera que anoitece. Aí o seu encanto me embevece e tudo em nós nos apetece, nada engilha, tudo enrijece, sorvo muito e bocadão. É de endoidar qualquer cristão porque o beijo da sua boca é o mais gostoso. O seu jeito a se entregar é tão demais delicioso, chega perco a vida e a noção. Isso é só provocação. Aí me torno cativo do carinho, ela faz com que amocegue o seu caminho e lhe sirva de escravo e servil. Estou a mais de mil e faço o que ela quiser. Dou-lhe tudo que tiver, dou-lhe posse e poder. Até não ter mais o que e me tenha despojado, réu confesso e condenado, dela todo poderio. Que desvario! Ela me soma em seus beijos quando em meus desejos ela se subtrai. É tudo demais! A gente se enrosca e se retalha em posta para servir de prazer. A gente abre as comportas, escancara todas as portas, todo limite a vencer. Aí me chama na grande e brame louca a valer, me explora pra sobreviver, a me fazer servo e senhor. E me faz seu pirão, me chama de bestão e me joga no seu balaio. Inda diz: ai, ai, meu papagaio! E a coisa dá na canela, de apertar todas as costelas, de desmaiar de paixão. E me faz seu refrão e quero que ela me ame como a musa de Modigliani, se entregue ronronando entrecortadas frases, feito Amy Winehouse com toda inquietude e deixe a minha morenice na sua branquitude sem que me visse pelas pernas entreabertas, eu que sentisse minha farra ereta no seu corpo lavado pelo estupor e o meu cio a chave certa, o seu grunhido e o seu sabor. Isso é que é show! Ela é linda e nua na minha loucura! É de fato. É como um retrato de valor que emoldura com torpor a candura do amor.
OS LUXURIOSOS VERSOS FEMININOS DE ANA CRISTINA POZZA
GOSTO DE TIRAR A ROUPA
Gosto de tirar a roupa E sentir o teu caralho duro Enchendo de prazer a minha boca Deixando-me louca de tesão Enquanto vou sendo beijada com sofreguidão... Gosto de tirar a roupa Virar-me de costas E oferecer-me por inteiro Pedindo sorrateira A tua entrada no meu traseiro. Gosto de tirar a roupa E me sentir lambuzada Inteiramente desejada Pronta para comer E ser comida... Gosto de tirar a roupa Abrir as minhas pernas E ficar te sacaneando Oferecendo a minha vagina quente Cheia de vontade de ficar molhada. Gosto de tirar a roupa E me sentir uma puta Pronta para ser abusada Penetrada, amada Tonta de tesão e dor. Gosto de tirar a roupa E sentir as tuas mãos me envolvendo O teu dedo no meu cuzinho A tua língua na minha pombinha E a minha boca no teu pau. Gosto de tirar a roupa E de gritar como uma maluca Com o prazer doidivanas Que tu provocas no meu corpo Quando entra em mim ereto. Gosto de tirar a roupa E ser obscena Ser a tua pequena Ser a tua tarada Sempre pronta para tirar a roupa...
SONETO DA MULHER
Ah! Eu ainda sou uma criança Que ama e sonha e quer E tem no peito a esperança De se tornar uma grande mulher. Uma mulher autêntica e forte Que mergulha em si e acredita No seu poder e não na sorte Pois é o seu desejo que dita O seu caminho, a sua história. Mulher de razão e emoção Guarda o passado na memória, Não temendo cair no chão Faz da vida a sua glória: Viver é o seu lema, a sua canção.
PROFISSÃO: MULHER
Do lar?! Só se for dinheiro Recheando a minha carteira! Eu sou mulher! Mulher por inteiro. Mulher inteira. Prefiro ser Louca, Des-va-i-ra-da A ser Isaura, Mulher escravizada!
A TARADA NUM CARRO
Eu não minto Eu invento E se tomo vinho tinto Logo me esquento! Quando sinto, Eu tento. Percorro o labirinto, Busco o vento. Arranco o teu cinto, Deixo-te sedento Aí vejo o teu pinto E sento!
LUA ALTA
Lua alta E por trás De tantas nuvens Brilham estrelas... Aqui, Por trás desta neblina, Brilho também... Sozinha E acompanhada De mim E de mais ninguém... Não direi mais nada É o silêncio que mais convém... Agradecida, A Lua Sussurra: Amém...
ESPARRAMADA NO UNIVERSO
Esparramo-me Num calafrio de Sensações, De um querer ardente, Sorrindo à imaginação Que me invade Sem pedir permissão... Num repente, Meu corpo Intensamente Deseja, Sonha, Quer, A tua presença No meu corpo de mulher... Eu te quero, Te desejo, Me esparramo Cada vez mais... Olhos, Boca, Pele, Meu sexo em flor, Os vales de amor, Sonham com o teu calor... É tanto carinho, É tanta paixão E eu me esparramando Num ser cheio de saudade Numa imensidão De louca felicidade... Em pensamento deixaste-me nua, Desejando ser toda tua, Esparramada no universo, Querendo-te dizer num só verso (Sem rima, Pois está de tudo acima): Meu amor, Te amo...
À IMENSIDÃO AZUL
Num instante, Como num passe de mágica, Estamos frente à imensidão azul do mar, Andando juntos, De mãos atadas, Com intervalos de beijos selados, Nos lábios e no coração...! Como na magia de um belo sonho, Torno-me inteira como tu és E ainda continuo sendo eu Oferecendo-lhe o meu coração... Tu confundes o teu corpo com o meu Num entrelace de vida e de paixão...! Há o mar, a areia, os morros, o sol... E há nós dois. Cerramos os olhos E a chuva cai... Pingos incessantes que nos fazem Ser Água, ser Desejo, ser Amor... Nos amamos com sofreguidão E somos um só Na alma, no corpo, no coração... Quando eu me perco Me encontro no teu olhar Para logo me perder no teu tocar...! Olhos nos olhos, Boca com boca, Pele com pele Corpo no corpo! A água do mar, Os pingos dançando E nós dois apaixonados a nos amar...!
A TUA VOZ NO PAPEL
Os dias se vão e eu espero notícias... Quero apenas a tua voz no papel Pois ainda permanece dentro de mim o teu olhar E a saudade aperta quando os dias se vão e eu fico a esperar...
TRABALHO DE PARTO
Vejo no seu arrasta pé, No seu rosto de cansaço, Vejo que falta um brilho... Ai, meu Deus!! A Ana está morrendo... A Ana que engole sapos, A Ana que não se escuta, A Ana que dá mais importância ao outro, A Ana que não se ama, A Ana que só se engana... A Ana está morrendo! Tragam macas, psicólogos Médicos, enfermeiros, Muitos colos, Esparadrapo, mercúrio, bisturi! Tragam rápido: O coração ainda bate... E tragam confetes e serpentinas, Bandas de música, O nascer do sol, Tragam corações em brasa, Olhos brilhando, Tragam sorrisos no rosto E amor na alma! A Ana está morrendo, Porque, Finalmente, A Ana está nascendo...
GOSTOSO
Gosto de pensar. Gosto de pensar em ti. Gosto do gosto de pensar. Gosto do gosto de pensar em ti. Gosto do gosto gostoso de ti. Gosto gostoso de ti. Gosto de ti, gostoso.
INEBRIANTES NA DANÇA DO AMOR
Minha mente é só desejo: Minha boca clama pelo teu beijo, Meu corpo pulsa pelo teu toque, Meu ser estremece pelo teu olhar. Eu sou, inteiramente, lua, nua, tua. Desejo acima de desejo Corpo sustentando corpo Alma comportando alma. Tu infinitamente no meu íntimo... Nós dois Inebriantes Na dança do amor A tocar A sentir A gozar Na explosão do depois...
FEZ, TÁ FEITO
Fez, tá feito Sem essa de ficar se arrependendo Como se houvesse tempo sobrando por aí, Em qualquer banco de praça, Nos galhos das árvores, Nos braços translúcidos do Sol. Fez, tá feito E que tudo venha como proveito, Como algo a mais a ser vivido, A ser aprendido, A ser sentido E jamais, jamais, A ser algo arrependido. Fez, tá feito E se o mundo parecer cair na cabeça, As lágrimas tornarem-se rios, A angústia dominar o peito, Não tem jeito, O negócio é encher a alma de coragem E bola pra frente, Pois a vida é pra ser vivida E jamais para ser coisa arrependida. Fez, tá feito E que se abra os braços, O peito, A alma O sorriso Para a vida, Para o Sol, Para a Lua, Para o que está para vir! Fez, tá feito. Ser feliz é se permitir...
TESÃO E SONETO
Enquanto segues em frente, Deito-me maliciosa em teu leito, Sentindo teu corpo quente: Diante das tuas mãos, tudo aceito... Roubas meus seios da minha roupa, Acariciando-os com intensos beijos, Deixando-me completamente louca, Abrindo-se para ti a Flor dos meus Desejos... Sou só desejo, sou toda tua... Beijo-te inteiro com sofreguidão, Enquanto deixas-me totalmente nua, Provocando em meu corpo espasmos e gemidos, Embalo com lambidas teu tesão Até nos tornarmos um só em todos os sentidos...!
PALPITANDO ALUCINADO
Não bateu inspiração... O que me move É esta enlouquecida paixão Que dispara o coração A cada suspiro de saudade Quando aumenta a vontade De encontrar os doces lábios teus... E todo o meu corpo, Palpitando alucinado, Volta-se a esta saudade Espreguiçando-se num cansaço Só pra ter o teu abraço Enlaçando apertado Todo o desejo meu...
ANA CRISTINA POZZA é poeta e psicóloga catarinense, edita o o blog Ana C. Pozza.