SHAKESPEREANA
VII
(CONTUMAZ)
Luiz Alberto Machado
Toda sexta-feira meio-dia em ponto, eu chego macorongo pra despranavear.
E ela vem lá com cara indecente, ardilosa e premente a me trucidar.
E chega a catar toda nuínha dizendo que é minha pro que der e vier.
E logo ela quer saltar investida, gemendo a lambida a me delirar.
Com sacolejar, sem-vergonha mais rara, abocanha e dispara meu bloco na rua.
Ela morde a lua e acende meu frevo, eu pego e me atrevo maior cipoada.
Ela cai de bocada e chupa que baba, quando o mundo desaba e eu nem aí.
Eu fico daqui só maré cheia, quando ela negaceia e toda descabela.
Abre toda janela, esfrega e alisa, e me dá uma pisa com todo carinho.
Pede mais um cadinho da minha drupa, não se desgruda nem larga um tiquinho.
E vai de mansinho de oito a oitenta, empina a venta e engole Pernambuco.
Eu fico maluco e arreio a ripa, sacolejo a tripa até fim do cabo.
É assim que me acabo o dia inteiro, mais que banzeiro gozando demais.
E ela quer mais, faminta e taluda enquanto a cascuda só quer explodir.
Então é aí nesse repasto, beijo-lhe grato e torno a beijar.
A me fartar dos seus lábios vermelhos, a língua o seu relho e a boca um manjar.
E grato a ficar, feliz Zé-bedelho, quando ela de joelhos, se põe a rezar. Ah!