Imagem/foto: Derinha Rocha.
SHALESPEREANA
V
(A mútua dívida do amor)
Luiz Alberto Machado
Toda sexta-feira, meio dia em ponto, não dou mais desconto nem prazo a correr.
É dar ou fazer, não tem mais saída, obrigação já vencida só pra liquidar.
Pode até amortizar, importa adimplir, seu compromisso cumprir e sem arrazoado.
Pague logo o acertado sem cheque ou promissória porque essa cominatória só vale o que está riscado.
Não vá pular de lado, não adianta sustar, nem mesmo embargar, isso pode então custar muito desentendimento.
Pois a cada pagamento, vem o seu aditamento com a amortização.
Isso senão parto para arrematar e nem adianta arrestar ou forçar protelação.
Não brinque não, pague logo o que me deve, com celeridade breve resolvendo essa caranha.
Pois você ainda se banha diante das circunstâncias sem usar das implicâncias e comigo concordar.
Pode acordar de ser a Juliette Binoche toda só no rosa-choque, coisa linda a seduzir.
Ou pode assim, chegar Letícia Sabatella me chamando de banguela, querendo me provocar.
Vou avisar, não dou trégua nem emborco, vire-se Denise Stoklos ou Lucinda Elisa cover.
Ou faça pose, meta bronca sorrateira, pode plantar bananeira que não vou voltar atrás.
Seja sagaz, uma moça inteligente, seja bem obediente que não haverá nenhum conflito.
Faça bonito, chegue junto bem cordata sem armar qualquer bravata pra gerar mais prejuízo.
Então sugiro uma conversa amistosa, toda fina e toda prosa não correndo o menor risco.
Como petisco e armada a cortesia negociar assim podia de uma forma confortável, já pra lá de amigável quando ambos concordantes.
E adiante com fina habilidade, cordial amabilidade, entrar negociação com a maior demonstração e toda transparência, na maior das diligências tudo no maior conforme.
E se informe, caso seja essa intenção, porque do contrário então, a coisa se empena.
Não terei a menor pena, muito menos piedade.
E sei que na qualidade de credor condescendente, você vai ficar contente se a gente até brigar.
Vamos emendar e não seja tão velhaca, então vem e desempaca, pagando sua dívida.
Não fique lívida na maior da saia-justa, nem vá beber cicuta nem dê um carreirão.
Pode até ir pro Japão que estarei no seu encalço.
Você não sai do meu laço já está toda empenhada, com a calcinha afiançada, a blusinha e saia rendada, tudo já hipotecado.
Nem olhe de lado, fique logo bem nuínha e também meio arretada, se achegue logo tarada pronta pra fazer litígio.
Bote prestígio e venha nua pra emboscada, pronta pra minha cilada e pro maior esfregamento, que tô assim que nem jumento pronto para vadiar.
Quero mesmo me esbaldar por todo seu comprimento e essa sua arquitetura, pronto pra maior loucura, ferve quente o xambregar.
Isso pra cá, me agarrando com firmeza toda sua redondeza, tudo em cima, cabo a rabo.
Depois de quatro vai arcar com a despesa na maior das safadezas na demanda do tesão.
Você vai mexer pirão p´reu deixar limpo seu prato na oblação dos seios fartos até piar cancão.
Vou ajeitar meu quinhão no seu ventre apetitoso, nas ancas o guidão jeitoso, nas costas o meu repasto.
E quando farto da garanhagem e euforia, vou aprumar a minha guia pra ser agasalhado.
E sentir um bem guardado com toda litania pra você fazer no dia todo seu maior pecado.
Depois de bem dado, devendo ainda está, vou querer me aproveitar cobrando juros e mora.
E aí já sem demora exijo a quitação da primeira prestação acertada na penhora.
E isso agora que eu quero me empanzinar.
Juro que não vou ficar com fastio ou de biqueiro, vou gozar todo banzeiro até o galo cantar.
É bom pagar todo dengo com carinho, toda manha com jeitinho ou coisa parecida.
E isso pra toda vida, até perder de vista coisa de uma correntista num prazo esticado.
Está fadado seu dever reincidente, até mesmo sucumbente, coisa líquida e certa.
E seja esperta, porque esta pendência não terá mais decadência, muito menos desistência, coisa do maior valor.
E como autor, pego toga de excelência, visto toda competência e viro douto julgador.
Do que ficou, dou-lhe a mais formal ciência do teor dessa sentença, julgamento que valeu: você me deve uma conta.
E eu também devo a você.
No amor não se desconta, principalmente quando desponta coisa mútua que se deu.
Já que o seu é meu e o meu é seu, queira tudo o que é meu e mais quiser porque eu quero tudo seu porque tudo de seu é meu.
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