

Imagem: arte/seleção/edição Derinha Rocha
ALVOROÇO
Luiz Alberto Machado
Quando essa menina se volta felina e apronta outra vez, como sou seu freguês badala 12 horas. Dá prumo e é agora: doze vezes enlaçado, doze vezes amarrado pro seu capricho. É quando eu viro bicho doze vezes encarnado, doze vezes atrepado pronto pro ataque. Ela finge no baque e começa o festim, efígie querubim nua e descalça, pronta pra valsa, ciranda, cirandar. Ela me faz o seu par com beijos esmeraldas numa dança sagrada em meu corpo fadado. Sacode de lado, ajeita e desajeita, mais se espreme, mais se estreita, ela faz vulto. Aí que emerge o tumulto vergando seu dengo. Virando com jeitos, levando no peito e na raça. É quando possessa, com graça, quer que apareça quebrando a vidraça. E me sacaneia. Ainda esperneia e tudo se escancara. Ela enche a cara fica bicada, leva a minha picada, festa no meu sabugo. Ela não dá refugo nas pernas bambas. Ela quer mais samba embaixo do chuveiro – maior suadeiro! Eu me aproveitando. Tudo se esborrando doze vezes profanada, de restar estirada e ainda me colhe e tudo recolhe, doze vezes vingada com todas as honras, doze vezes aclamada no maior fausto, evento tão lauto, pra filha de rei. Seu querer é lei. E cavo sua terra, quanto mais ela berra, eu revolvo arando e sua carne azarando pra abafar o estrondo. Só resta os escombros dela ficar louca, de findar quase rouca de gritar que quer mais. É muito demais, sacudida de gestos, esfolando seus restos, me arranhando as costas, recolhendo as postas do que restou de mim. E não tem mais fim, mais furto, mais roubo, mais sigo no arroubo, dela se sacudir. E sem ter pronde ir, ela tem minha tocha que mais firme se arrocha como seu corcel alado. É quando o bocado ela chega ao demais, ela goza até a paz de arrear debruçada sobre o meu cajado.
VEJA MAIS:
GINOFAGIA
AUTO-ESTIMA