
Imagem: Reclining Nude, 1897, do pintor e printmaker do Pos-Impressionismo francês Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901)
BARREIRAS: UMA LOA PREVENDO O FIM
Luiz Alberto Machado
De manhã ela diz que me quer. Cândida exaltada enfeitiça meus sentidos e vira tudo de ponta à cabeça, até que tudo enlouqueça em mim, ao nosso redor.
Nessa hora ela é a andeja dos meus labirintos. É quando fica altiva, lábios escarlates, corpo exultante, desejo engolindo tudo. Aí completamente transida, monta na minha virilidade, apronta, faz comícios, rola no frevo, perece nas águas do meu corpo e ao sobejar eriçada aos grandes goles. Sua gula é maior e reverbera com suas mãos pegando fogo, sua língua em brasa, seu corpo queimando louca e incendiando minha alma destroçada. Aí judia gostoso, faz o que bem quer: tem minha vida, minha nuca e meu calcanhar. Dá-me tudo e nela erijo a minha gólgota. Somos um no gozo e na vida.
Quando é de noite ela diz que me quer, mas não. Ela devasta tudo ao derredor, faz limpeza geral e cai no buraco negro de esquecer e de lembrar. Indecisa, sorri e disfarça sua angustia. Quase chora, contida. Fica cheia de não me toques. Parece que nada aconteceu. Dá de ombros e mergulha na sua misantropia. Pede socorro, implora estendida sobre nossas rachaduras. Mas não consegue se libertar de mim que estou grudado nas suas entranhas. É quando ela toca meu bambu e percebe minha sina uakti e revira meus sonhos, sacoleja meus ventos, arrevira minhas marés e vira tudo de cabeça pra baixo. E mias tenta e reinventa no empinado da venta, faz de mim o que quer e depois da gozada, arreia esparramada: jaz feliz da vida. Ainda bem, mas não. Me olha pidona, eu sei, ela quer mais. Mas fica absorta, coberta de dúvidas cavando seqüelas, magoando feridas no peito até rasgar o meu íntimo aniquilado, esmagando meu futuro e pisando meus andrajos. Ela não me quer mais, apenas provoca a vida com sua nudez que pensei fosse só minha.
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