sexta-feira, outubro 23, 2009

VERS&PROSA PARA A MENINA AZUL



Foto: Derinha Rocha

FESTA NO CÉU


Luiz Alberto Machado


Enquanto rodopiava pelos devaneios solfejando a canção dos seus idílios, ela sonhava comigo: um quase príncipe encantado na sua predileção que chegasse gentil e sedento com o fervor apaixonado de um Dom Quixote buscando nela a Dulcinéia desejada.

Enquanto ela encantadoramente azul passeava sobre as nuvens oníricas dos meus desejos, eu coaxava sonhando com uma rã-pintada nua e maravilhosa na fonte das águas amorantes.

Ela dava conta de mim nos seus sonhos de princesa.

Eu ansiava a sua vida nas minhas alucinações de anuro desolado da beira do rio.

Quanto mais cantarolava, mais transluzia infinitamente iridescente na vida. E eu cada vez mais apegado à imagem anfíbia de sua expressão mágica.

Certo dia a princesa veio se bronzear no campo.

Foi quando correu o boato de que haveria uma festa no céu.

Essa eu não poderia jamais perder. Porém, para meu desapontamento, fui excluído pelos promotores do evento por ter a boca grande.

Uma desfeita.

Mas, cá pra nós, uma provocação para minhas astúcias. E fui: aproveitei a ocasião e me acomodei cuidadosamente dentro da calcinha da princesa e ali fiquei escondido.

Ah, um verdadeiro porto seguro, a maloca mais aconchegante e segura que já tinha saboreado desde a maternal fase da concepção.

Era o reino da vida e da paixão.

Parecia até que ela gostava da minha presença ali. E, por isso, fiquei todo ancho, maior que o meu próprio tamanho.

Lá para as tantas, eu fui surpreendido.

É que a princesa deu por minha existência.

Assustou-se, permitindo que eu caísse em queda livre.

Nessa hora pude cantar aos gritos de socorro: “Béu, béu, béu! Se desta eu não escapar, nunca mais festa no céu!”.

Tei bei.

Lasquei-me!

Estava eu ali desfeito em zis pedaços pelo chão.

Ao ouvir minha cantiga a princesa azul lembrou dos conselhos de uma cigana despachada que lhe adivinhara as palpitações ocultas na alma, recomendando que desenhasse a efígie do amor dos seus sonhos para sacudi-lo na boca do primeiro sapo que encontrasse e que, ao encontrá-lo, deveria depositá-lo embaixo da sua cama, cuidando para que fosse a sua existência regada à base de ouro, dinheiro e metais.

Com isso e só com isso seus desejos se realizariam.

Foi aí que ela se encheu de ternura e compaixão, caindo de cócoras cantarolando a juntar pacientemente os meus pedaços.

Ao juntá-los passou a cerzir cuidadosamente até me deixar inteiramente coaxando enamorado e todo remendado na beira dos seus sonhos.

Ah, a emenda foi melhor que o soneto.

É que ela passou a me embalar com canções de sua predileção a me tratar com carinhos até me deitar confortavelmente numa aveludada tipóia embaixo da cama e no escuro do seu quarto.

Eu, aos pinotes, queria voltar pro meu habitat, enquanto ela me cercava por todas as direções, cuidando para eu não fugir.

Numa dessas tentativas de fuga, fui agarrado e no pedestal de uma de suas mãos espalmadas, ela me fitou os olhos: leu-me a alma e o amor.

Não sei, acho que se apaixonou por mim. E beijou-me.

Crás!

Desencantei.

Não era o príncipe que ela esperava, mas nem deu tempo para que nomes ou feições valessem nessa hora.

Passamos a nos confundir aos beijos um no outro. E rodopiamos juntos o idílio dos nossos sonhos. E desnudados cavalgamos os dias e as noites, lambendo um ao outro para nos purificar de amor e nos entregarmos no meio da chuva que explodiu dos nossos mais selvagens desejos no reino da paixão.

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