Imagem: foto de Derinha Rocha.
ULTIMA CANÇÃO À FLOR DO ADEUS
“O amor quando acontece a gente logo esquece que sofreu um dia...” (O amor quando acontece, de João Bosco & Abel Silva)
"[...] e o que é o amor, para mim que estou jurado a morrer de amor". (Meu bem-querer, Djavan)
"[...] amar é um deserto e seus temores [...] Vem me fazer feliz porque eu te amo..." (Oceano, Djavan)
Luiz Alberto Machado
O amor é como a lua: duas faces que se imantam no imprevisível.
Quando ela é visível, é vibrante em toda sua plenitude.
Quando ela é nova como o primeiro beijo, é inteira como os desejos mais intensos.
Quando ela é cheia, dá-se inteira como quem vai às cegas para as circunstâncias.
Quando ela é crescente, é metade promissora que dói fingir que nada sente.
Quando ela é minguante, é como um pedaço que se esvai jogado ao nada.
Do outro lado, é escura que oculta o que há de mais belo quando não se cobre de noite para nunca mais. E ela jamais ponderou do meu amor, jamais sacou as juras mais arraigadas que de mim entoava em canção de flor ignorada.
Assim é o amor: como um rio excitante na nascente e que me banha caudaloso nas profundas correntes, integral indecente na entrega do mar.
E é como o vento que leva solto o ar da vida pela brisa de todos os modos de embalar.
É como o dia que nasce brando e espetacular para espantar meus olhos que crescem fortes, iluminando tudo no meio do meio dia e que cede enfim para se render na escuridão.
É como o fanatismo de quem professa o credo mais ardente.
É como a embriaguês do vinho, total, desmedida e despudoradamente.
E leva a palpitações infindas quando vem com o caos da emergência, com o teor da premência, com a sede da urgência.
É no amor que se aquece a aura e se padece de sofreguidão. Principalmente quando a paciência é pouca, a compreensão inexiste, ou quando não quer o que a gente quer dar. E eu me dei, corpo, alma, promessas verdadeiras de amor.
E eu dei até o que não tinha e pude dar porque era tudo dela como a vida é pro vivo.
Fica a decepção do insuficiente quando tudo já era totalmente incontido. Nada, mero olvidar na janela do ouvido. É isso. Mesmo eu gritando e me esboroando que era dela como a sede pra bebida, como o olho é pro olhar, como uma fera que se quer devorar, como cada um é pra somar e a tudo se duplicar milhões de vezes mais e maior que a própria necessidade.
E nela eu fui com toda a gula do faminto, porque ela era o paraíso de Shangri-lá, onde aprendi o bê-a-bá e toda ela tive como o direito que é justo se pleitear, como a fonte que é pra jorrar, como o gol do jogador, com todo fôlego dos náufragos por todos os seus degraus.
Dei pra ela minha vida com toda a especialidade do exclusivo e nela fiz meu rincão, meu regaço de veneração, meu poço de arrebatamento.
Ela se fez meu cordão de isolamento, meu refugio, minha possessão. E se fez o meu plano de vôo e minha aterrissagem. Minha embarcação, minha atracagem. Meu caminho e condução.
Ela se fez minha diáspora, meu exílio, a maior cantiga do meu idílio e me embalou por todos os redemoinhos da paixão quando eu tinha todas as bandeiras da exploração, todas as estratégias de guerra, todas as crenças de veneração.
E com todos os mergulhos do acasalamento, todas as maneiras de copular, eu invadi seu corpo e sua alma por todas as minas inexploradas, todas as veredas intransitáveis.
Todas as distâncias siderais, todas as condições inaceitáveis.
Todas as profundezas inacessíveis, todos os flagrantes indefensáveis.
Todas as querências inauditas, todos os limites inalcançáveis.
Todas as divisas indivisíveis, todos os segredos irreveláveis.
Todas as reentrâncias inatingíveis, todas as fontes inesgotáveis.
Todas as poses irresistíveis, todas as juras inventáveis.
Todos os devaneios comestíveis, todas as funduras insondáveis.
Todos os gestos imperceptíveis, todas as graças inenarráveis.
Todos os fervores inconsumíveis, todos os pecados irresponsáveis.
Todos os abraços intraduzíveis, todos os afetos incontroláveis.
Todas as fraquezas possíveis, todas as entregas intermináveis.
Todos os agarramentos impossíveis, todas as cobiças inadiáveis.
Todos os êxtases irredutíveis, todas as volúpias insaciáveis.
Todas as trelas possíveis, todos os gozos incansáveis.
De mim, de nós dois, sobrou mais nada. Ficou a indiferença, a intolerância, a incompreensão, a impaciência que fez virar o amor dela em ódio, o que é muito lamentável, uma decepção. Perdemos todas as batalhas e dela só o gesto da navalha no ar. É só e mais nada. O pior é não ter pra onde ir. E o melhor é não poder deixar na carne nua dela um beijo de adeus e de feliz ano novo.
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