quinta-feira, novembro 26, 2015

SEGUNDO POEMA DE AMOR PARA ÍSIS NEFELIBATA


CENTO E OITENTA E SETE HORAS

Luiz Alberto Machado

Da primeira vez foram noventa e uma horas de mútua passagem pelas noites, dias e tardes da nossa expectativa pra nos fazer varar a madrugada até que a manhã fosse o nosso símbolo diuturno e plano de voo. Foram entregas e comedimentos, carícias e espreitas, festa e timidez.

Da segunda vez foram noventa e seis horas de maior efusão na catarse das expectativas. Éramos ainda estranhos que se conheciam e de cabeça mergulhamos nas nossas intimidades a nos batizar de nós e de tudo que queríamos e pudemos. Foi festa da constatação a nos certificar que devíamos singrar na gente o que nos incendiava para seguir adiante.

Ao todo foram cento e oitenta sete horas de fatos reais para que nos fizéssemos acesos e íntimos na vida.

Foram cento e oitenta e sete horas para definir o alicerce do empreendimento sentimental a projetarmos na cabeça a plataforma crástina e toda a trajetória da estrada vindoura.

Foram cento e oitenta e sete horas para eu descobrir a trina una que me deu apetite, fartei-me aos bocados e me senti feliz de antemão.

De primeira chegou-me se arrastando súcuba a deliciosíssima vampira de carne faminta e sedenta qual Mulher Gato com seus apetites ilícitos a se mover em mim e me fazer maior e a se esborrar de gozo para me ensinar que o seu prazer era o meu prazer.

Em seguida se fez presente no sonho de musa altruísta, materna, solidária a me fazer Osíris resgatado e me ensinar que a nossa entrega era o meu renascimento.

Por fim, eis a guerreira aplicada, dona de casa e parceira, politicamente corretíssima e a me ensinar com a sua iniciativa a minha realização.

Essas cento e oitenta e sete horas viraram noitedias que nos fizeram insones para sermos de nós mesmos os súditos e soberanos de nossa comunhão, até que o futuro nos faça prêmio com a remissão da cobiça e da gula que nos alimenta por todo esse tempo.

Essas cento e oitenta e sete horas de fato se tornaram inúmeros momentos sucessivos e intermitentes para a manifestação do amor na realização de se amar.


Imagem de Dario Ortiz Robledo.

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