sexta-feira, outubro 31, 2008

BETH JOY



Imagem: S/T, foto de Helder Mendes

OS VERSOS FLAMEJANTES DE BETH JOY

TUA...

Tua presença me aquece
Teu olhar me enternece
Teu perfume me entontece
Teu toque me apetece
Teu beijo me estremece
Teu carinho me envaidece
Teu amor me enlouquece
Tua ausência me entristece...
Adoro quando em meus braços
Cansado, você adormece!!

FRUTO DA PAIXÃO

Sou o fruto do seu desejo
Fruto da sua imaginação
Sou o fruto dos seus sonhos
Do seu querer, do seu sentimento...
Fruto que te faz viver
Fruto do seu pecado contido
Fruto doce da sua emoção
Fruto maduro, ao alcance de sua mão...
Sou fruto de suas loucuras
Sou fruto da tentação
Fruto proibido que te atiça
Fruto mágico, uma visão...
Fruto que você saboreia
Cheio de amor e paixão
Sou o fruto que te vicia,
Que te enlouquece... e te sacia!

ENTREGA TOTAL

Vem, meu amor...
Toque-me
Com o mais carinhoso toque...
Olhe-me
Com o mais ousado dos olhares...
Beije-me muito
Beijo demorado, sugado, de tirar o ar...
Sinta-me na ponta dos seus dedos
Explore-me sem pressa
Sou sua...
Vivo cada momento desse ritual
De forma total e plena
Me entrego... deliro...
Quero sentir cada segundo
Do seu, do nosso prazer
Quero sentir nossos orgasmos
Explodirem com um grito
Quero nossos corpos suados
Unidos,
Um só espírito...
Entrelaçados, apaixonados
Quero viver contigo
O mais profundo de todos os êxtases
E então descansarmos
Um no peito do outro...
Saciados e felizes...

NOSSO LOUCO AMOR

Luzes apagadas
Quatro paredes
Silenciosas cúmplices...
Eu e você
Loucos desejos
Longe de tudo
Perto do céu...
A gente se agarra
Se morde, se esfrega
Se beija, se arranha
Os corpos em chamas...
Te gosto assim
Preso a mim!
A cama tão perto!
Mas queremos ali... de pé
Encostados à parede
Como animais no cio!
Te deixo louco
E ainda acho pouco
Peço, imploro,
Fecho os olhos... me entrego
Seus dedos me invadem
Sua língua na minha...
Sua voz é rouca:
"Meu amor... meu tesão"...
Você se ajoelha
Sua boca desliza
E me faz delirar!
Agarro seus cabelos
Mordo sua orelha
Arranho suas costas
Você geme e gosta...
Então me olha
Me pega nos braços
Me joga na cama
E gozamos juntos
Loucos de amor!

MIL FACES DE UMA MULHER

Sou mulher, tenho mil faces
Um enigma, uma mistura
Às vezes doce, bela e charmosa
Às vezes criança pura

Romântica, inteligente,
Carinhosa, linda e leal
Às vezes menina inocente
Às vezes mulher fatal

Frequentemente chata e inquieta
Mas sensível, firme e segura
Apaixonada, doce e dengosa
Sempre cheia de ternura

E pra quem já me conhece
Sabe o quanto sou amiga
Mas, se irritada sou impaciente
E, confesso, bem atrevida!

Sei também descer do salto
E aí... ai de você
Posso armar um bom barraco
Daqueles de estremecer!

Já vi que você percebe
Que sou meiga e maliciosa
E, embora isso te irrite,
Sou esperta e poderosa!

Eu sei que você não quer
Dar o seu braço a torcer
Mas diga logo a verdade:
Tem medo de me perder!

Você diz que sou malvada
Debochada e até ruim
Mas... fala sério, querido:
Não pode viver sem mim!

SINTONIA...

Sinto-te tão intensamente
Que é como se aqui estivesses...
Fecho os olhos e sinto-me arrepiar
Tamanha tua proximidade...
Suavemente, sinto o calor de tuas mãos
Pelo meu corpo, devagar, a passear...
Excitada, sinto teu cheiro, teu hálito, teu gosto
Encantada, recebo teu beijo quente
Louca, te sinto a me abraçar
E assim, meio tonta,
Abandono-me, entregue a ti
E... sozinha...
Nessa total sintonia
Alcanço o êxtase
Imaginando nós dois...

PROIBIDO

Sei que não posso te pertencer
Ou sequer sonhar em te querer
Mas... será pecado pensar em você?
Não minto, sou bem sincera:
Você, meu doce pecado
Me tira o sono, me desespera
Ter-te ao menos uma vez
Te abraçar, beijar seus lábios
Ah, que delícia... quem me dera!
Sonhos loucos, irreais
Fantasias proibidas
Delírios pra lá de sensuais...
Não... não tente me convencer!
Entre a realidade do não poder
Prefiro o desejo de te querer
Tocá-lo, senti-lo vibrar
E assim, junto comigo,
Sentir o êxtase chegar...
Sei muito bem que é impossível
Admito que é pecado
Proibido, censurado
Mas... o que fazer
Se o proibido é mais gostoso?
Excitante e tentador?
Não há como negar!
Estou perdida, sem salvação...
Enfrentando a tudo e a todos
Desafio as convenções
Pra poder te ver um pouco
Forço mil situações...
Sua boca me excita
Seu corpo me enlouquece
Meu coração ao te ver
Pobrezinho, como padece!
Diante da lei dos homens
Sei que não é permitido
E não adianta nem tentar
Pois posso me machucar
Mas vivo me perguntando:
Por que não posso sonhar...?

NOSSO MOMENTO

Quando me olhas assim desse jeito
Todo o meu corpo sinto estremecer
Coração a saltar do peito
E o desejo, então, me vencer

Nesse instante só existimos nós dois
Essa paixão, essa coisa louca
Todo o resto fica pra depois
Eu te adoro! – diz, com a voz rouca

Quando teus lábios tocam os meus
Sinto o doce sabor do mel
Retribuindo os carinhos teus
A sensação é de que estou no céu...

O que mais quero nessa hora
É me entregar a essa emoção
Que me envolve, me devora
Me faz voar sem sair do chão...

Quando pelo meu corpo passeia
Com tua língua macia e quente
Provoca, enlouquece e incendeia
Meus sentidos, corpo e mente...

Com beijos e abraços saciamos
Nossa fome, nosso tesão
Loucamente nos amamos
Com muito amor e paixão

E assim, entre carícias ardentes
Como animais no cio, brincando de amar
Me entrego inteira aos seus beijos quentes
E alucinadamente, sinto o êxtase chegar!

LOUCAS FANTASIAS

Ontem adormeci
Desejando você
Querendo te ter...
Imaginei situações
Criei fantasias
E nessas fantasias
O resto do mundo não existia
Só eu e você...
Fantasias loucas, ousadas
Sonhadas...
Porque em sonhos tudo é possível...
Até senti seu sabor
Esse doce sabor do pecado
Que me agita
Me excita, me faz tremer...
Essa sensação tão devastadora
Quanto a fúria de mil vulcões!
Amo essas viagens no pensamento
Elas me encantam,
Me fazem chegar perto
Tão perto de você...
Me enchem de euforia
E me fazem desejar
Cada vez mais
Você...

BETH JOY - a jovem escritora carioca, Beth Joy, é autora do livro ainda inédito “A ponte dos sonhos” e reúne seus textos seus textos e versos na sua página do Recanto das Letras, confira.

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POESIA & MÚSICA

quinta-feira, outubro 30, 2008

LIZETE MEINE



Foto: AMANDA COM

A SINTESE IRONICA E SENSUAL DE LIH MEINE

INTELECTUAL

Carinha com oculos
Dama safada
Lady vadia
Me arrepia!

MULHER BONITA

Mulher bonita
Um vai
Outro fica!

AMIGO

Tenho um amigo que foi outro dia no motel.
Entre umas e outras brincadeiras dela, amarrando-o na cama, vedando os olhos dele, deixou-o sem a cueca, escondendo em sua bolsa.
Ele procurou e não achou a cueca.
Relutou mas vestiu as calças e foram embora, sem a cueca.
Ela, sacana, deixou a cueca de baixo do banco do carro dele.
Dias depois, com suas clientes mulheres acharam a cueca no carro e entregaram na mão dele!
Imaginem? Quase houve um assassinato!

PERNAS NUAS

Gera tesão em mim
De forma unica
De vestidinho
Tuas pernas nuas!

TESÃO

Um dia me disseste de um corpo digno de ser lambido e ser penetrado com muito tesão! Porque não aproveitaste?

LIH MEINE – a escritora gaucha Lih Meine é formada em História e Direito, residindo atualmente em Foz do Iguaçu, no Paraná.

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segunda-feira, outubro 27, 2008

CRÔNICA DE AMOR POR ELA



Imagem: Amantes, de João Werner.

PERSEGUIÇÃO

Luiz Alberto Machado

Ah quando ela chega andeja afável, linda corada e amável, despida inefável como uma visão celeste com toda formosura agreste de sua apetitosa carnadura que eu persigo insone e vexado, sempre levado ao seu encalço pela febril paixão estrondosa e armado de meu falo rijo para invadir sua reclusa abissal, a sua fenda, a sua colossal borboleta mágica ventral, a relva úmida do seu sexo imantado.

E persigo noitedia indômito e sagaz até espreitar a fera acuada contumaz, até capturar sua sanha selvagem de presa irrequieta, arreada e domada, de bruços, inquieta, as mãos ao rebuço entre os cicios de deleites e festas.

Dominada, faz a viagem do pavio aceso entre as pernas e mais aperta o desejo até ser acometida pelos tremores de todos os prazeres adiados que me levam passageiro viajante pela imensidão sideral do éden na satisfação carnal.

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sábado, outubro 25, 2008

LA FONTAINE



Imagem: Venus and Vulcan, 1610, do pintor do Maneirismo flamengo Bartholomeus Spranger (1546-1611)

A FABULOSA POÉTICA DE LA FONTAINE

EPIGRAMA

Amar, foder: uma união
De prazeres que não separo.
A volúpia e os prazeres são
O que a alma possui de mais raro.
Caralho, cona e corações
Juntam-se em doces efusões
Que os crentes censuram, os loucos.
Reflete nisso, oh minha amada:
Amar sem foder é bem pouco,
Foder sem amar não é nada.

POEMA

É o jogo mais divertido desse mundo afora,
Um jogo que renova freqüentemente a ardência:
O que me agrada é que muita inteligência
Não se necessita e em nada colabora.
Ora, adivinha como este jogo se nomeia.
Você, assim como nós, o joga;
E diverte tanto a bela quanto a feia.
Seja dia, seja noite, é agradável a qualquer hora,
Porque se vê claramente sem candeia.
Ora, adivinha como este jogo se nomeia.
O belo do jogo é que o marido o ignora:
É com o amante que este prazer granjeia.
E a assistência, para os lances definidora,
Se dispensa. Nunca há pelejas.
Ora, adivinha como este jogo se nomeia.

INVOCAÇÃO À VOLÚPIA

Sem ti, doce Volúpia, o viver e o morrer
Teriam, desde o berço, idêntico valor:
De toda a criação, universal pendor,
Com que força fatal, tu consegues prender!
Tudo, por ti, aqui se passa.
Por tua causa e tua graça,
A duras penas todos vão:
Não há soldado, capitão,
Nem fidalgo, plebeu, nem Ministro de Estado,
Que em ti não tenha o olhar pregado
Das Musas na afeição, se, de serões nascido,
Um agradável som não nos encanta o ouvido,
E se ele não nos traz amena sensação,
Tentamos nós uma canção?
O que, pomposamente, é chamado de glória
E, nos jogos d'Olimpo, exalçava a vitória,
Precisamente, és tu, Volúpia divinal.
E seu preço não tem o prazer sensual?
E então por que os dons de Flora,
O pôr-do-sol, a linda Aurora,
Pomona e seus finos manjares,
Baco, razão dos bons jantares,
Florestas, fontes, pradarias,
Mães de fagueiras fantasias?
Belas artes, por quê? de quem és a nascente,
Por que tanta beldade, amável, atraente,
Se não pra vires, até nós, sempre morar?
Eis o meu parecer, por mais procure alguém
O seu desejo castigar,
Algum prazer inda lhe vem.

Ó Volúpia gentil, que, na Grécia de outrora,
De um pensador foste senhora,
Não me desprezes não: vem à minha morada,
Não ficarás sem fazer nada:
Amo os livros, o amor, música e diversão,
Cidade, campo, enfim; o mundo nada tem
Que não me seja enorme bem,
Mesmo o aflito prazer de um triste coração.
Vem, pois, e desse bem, ó Volúpia querida,
Queres então saber a medida acertada?
Pelo menos preciso uns cem anos de vida,
Pois trinta só é quase nada...

OS DOIS POMBOS
(Epílogo)

O vós que vos amais, quereis então viajar?
Não seja nunca muito longe.
E sede mutuamente um mundo sempre lindo,
Sempre novo, sempre sorrindo.
A sós, tudo supri, nada vos dê cuidado.
Eu amei uma vez: e por isso, jamais,
Por tesouros, paços reais,
Por todo o firmamento e o céu todo estrelado,
Eu trocaria algum lugar
Honrado pelos pés, aceso pelo olhar
Da querida pastora em flor
A quem, ferido pelo Amor,
Servi, preso por meus primeiros juramentos.
Ai! quando voltarão semelhantes momentos?
Tanta amável mulher, cheia de encantamentos,
Ao léu, me deixará, de minha alma inconstante?
Ai! se de novo o peito ousara se inflamar!
E não mais sentirei afeição que me encante?
Já se foi meu tempo de amar?

A VIUVINHA

A perda de um marido inspira muitos ais.
Brada aos céus a viúva e depois se consola,
Pois nas asas do Tempo a tristeza se evola.
De novo o Tempo os gozos traz.
Entre a recente viuvez
E a que tem pouco mais de um mês
A diferença é grande e quase que se pensa
Que não seja a mesma pessoa.
Uma nos faz fugir, a outra é linda presença.
Aquela, um pranto falso ou verdadeiro entoa;
E sempre a mesma nota e conversa sem fim;
Diz que não tem consolação;
Fala, mas não é bem assim,
Como neste conto verão,
Que bem traduz uma verdade.
O esposo de jovem beldade
Partia para o além. A seu lado, a mulher
Lhe gritava: "Me espera, eu não quero viver,
A minha alma, com a tua, está pronta a voar!"
Quem partiu foi ele somente.
A bela tinha um pai, varão experiente,
Que o tempo deixando rolar,
Lhe disse, enfim, pra consolar:
"Minha filha, é demais o teu copioso pranto:
Exige o mono, então, que afogues teu encanto?
Se a vida continua, esquece os falecidos.
Não digo que, mui brevemente,
Melhor partido se apresente,
Transforme em bodas teus gemidos,
Considera, mais tarde, a proposta, porém,
De um jovem, belo esposo e melhor, ó meu bem,
Que o finado. - O meu casamento,
A filha respondeu, há de ser um convento."
A desgraça engolir, deixou-lhe o velho pai.
Desse modo, um mês lá se vai;
E ela gasta o outro mês, cada dia mudando,
No adorno, alguma coisa, os cabelos, o fato:
O luto, enfim, serve de ornato,
Outros enfeites esperando.
Dos amores, o alegre bando
Volta logo ao pombal; a dança, a alacridade,
Terão depois a sua vez:
E noite e dia a viuvez
À fonte vai da Mocidade.
Não teme mais o pai o defunto querido;
Deixando de falar de casamento à bela:
"Mas onde está o jovem marido
Que você prometeu?" diz ela.

JEAN DE LA FONTAINE – O escritor La Fontaine (1621-1695) pertenceu ao grupo de escritores do período clássico da literatura francesa. A sua estréia literária se deu com seus Contes (Contos), publicados em vários volumes. O primeiro deles foi Novelles en vers tirées de Bouccace et de l'Arioste (1665; Novelas em versos extraídos de Boccaccio e Ariosto) e o último teve publicação póstuma. São narrativas sutilmente licenciosas que visam a diversão do leitor. Les Amours de Psyché et de Cupidon (1669; Os amores de Psiquê e Cupido) se destaca pela elegância da prosa e pela análise maliciosa da psicologia feminina. La Fontaine tornou-se internacionalmente conhecido com suas fábulas inspiradas nas tradições clássica e oriental. Escritas em versos e reunidas em 12 livros publicados entre 1668 e 1694, incluem histórias mundialmente conhecidas, como "La Cigale et la fourmi" ("A cigarra e a formiga"), "Le Corbeau et le renard" ("O corvo e a raposa") e "Le Loup et l'agneau" ("O lobo e o cordeiro"). São fábulas que se distinguem sobretudo pelo valor literário e nas quais há elementos de comédia e drama. Em 1684, foi nomeado membro da Academia Francesa, justo reconhecimento a um autor que deu ao classicismo francês uma de suas mais belas expressões literárias.

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sexta-feira, outubro 24, 2008

SILVIA MARA



Imagem: Nu, de Jan Saudek

A CARNAL EXPRESSÃO POÉTICA DE SILVIA MARA

CRIME E CASTIGO

Quando inicia
fala aos meus pés...
se detêm em ouvir os dedos
que murmuram.
Ao calcanhar inconfessável
segredos vulneráveis.
Ensurdece os vizinhos.
(...)
Ocupa-se longamente
e permanece
permanece.
Morde meus lábios
todos os lábios.
Pequenos
médios
grandes...
me descobre
me cobre
me cobre.
Brinca de esconde-esconde
nas coxas emprestadas.
Sua
sua
sua.
Soa poesia pela boca
sua boca pelo corpo
seu corpo pelo meu.
Em par
somos ímpares.
E repete
repete...
Até exaurir os lençóis
manchar as paredes
enguiçar a janela
incendiar o abajur.
E chama
chama...
Faz suar o banheiro.
envergonha a fechadura
queima a comida.
Devora tudo o que sou.
Até que eu suplique
não posso.
Até que implore
chega.
Até que desmaie.
Acordamos
naquele horário
cientes do que fizemos.
Só nós dois sabendo
em que estado
abandonamos os corpos.

SEM TÍTULO

Continua beijando.
Sente o gosto cítrico de tomate que carrego.
Continua beijando.
E fala comigo daí.
Murmura
porque ecoa.
Fala daí.
Escutas o barulho do molhado
perdido entre as coxas onde naufragas.
Beija meus lábios
lembrando o gosto que tem minha comida.
E pensa como é quando estás com fome.
E cospe bem
cospe bem no prato que tu come.

INAPTA

Promovo uma escrita armada.
Aliada atriz incapaz de simular.
Só policio o que intenta a caneta.
Filha que casou com o pai.
Mãe do próprio marido.
Beijo oito focinhos por dia.
Quando em português pareço grego.
Há muito me abandonou o microfone.
Explode todos os dias um amigo.
Adversos encaminham os proclames.
O plantão mora lá em casa.
Abro a porta e encerro.
É madrugada que me acorda pra passear.
Não pretendo nome de rua.
Ando só de boca em boca.
Sempre que furiosa sou lúcida.
Quando sensata pareço louca.

PARADA

Entrou mais alguém.
Além de mim
mais alguém
e mais alguém
e mais
e mais...
até não poder entrar ninguém.

Nunca achei que teria tanto espaço.

DEPOIS DE TI

Minha preocupação é com as horas,
precisamente com os próximos vinte anos.
Estarei lá, bela, quase cinqüentona.
Mas e tu?
Chegarás aos oitenta?
Mais que a fraqueza das unhas, a reposição de hormônio,
a perda natural do meu vigor...
me preocupo com a tua vitalidade.
Continuarei com cabelo comprido pra disfarçar e,
certamente,
até lá,
uma prótese atenuará crises de depressão.
Já não serei tão vistosa...
Mas e tu?
Terás o mesmo ímpeto para levantar da cama?
Serás vigoroso fazendo amor?
Serás impetuoso ao levantar?
Ou já não levantarás mais?
Ou já não mais?

ROMANCE POLICIAL

(...) na voz do delegado.
Começou dar queixa
- sem crime
Decido: sedução
e registro a ocorrência
me faço de vítima
ponho ela no papel da escrivã
uso toda a autoridade
e digo não pára,
conte nua.
Então ela cala
Eu - Falo sem parar.

... e trocamos de posição.

VÊNUS VOYER

Vênus
nos

nus.

AVE!

Abro-as pra que possas alçar vôo.
Afasto devagar.
Pousa doce bico
às voltas desse néctar.
E passa passarinho.
Faz desta fenda
pra sempre teu ninho.

POEMA PARA MIM

Sou singular.
Tudo que digo
primeira pessoa.
Nos outros
só o que me reflete.
Sou indiferente ao diferente.
Minha verdade
é falsa modéstia.
Nasci salão de espelhos
Tudo que faço
pura vaidade!

... de tanto me ver
cego.

DO COMEÇO AO FIM

Quando te conheci
quis casar menina.
Da primeira vez
fiz amor parecendo última.
Éramos
anjos obscenos...
Havia paixão, fúria,
uma vontade de chorar incontrolável.
Agora o que quero é te perder...
pra sempre.

Pra que
toda esta história tenha
algum sentido.


SILVIA MARA – a poeta e jornalista gaucha, Silvia Mara, é graduada em Arte Dramática - Interpretação Teatral e em Artes Visuais pela UFRGS , participou da fundação da Casa do Poeta de Camaquã – CAPOCAM e edita o blog Amarela Poesia.

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segunda-feira, outubro 20, 2008

CRÔNICA DE AMOR POR ELA



Imagem: Andrea Blackman

A FÚRIA DO ARPÃO

O erotismo, em seu conjunto, é infração à regra das interdições: ele é uma atividade humana. Mas, ainda que ele comece onde acaba o animal, a animalidade não deixa de ser seu fundamento. (...) A interdição está aí para ser violada”. (Georges Bataille, O erotismo).

“(...) O dia inteiro nossos corpos escondidos queimam como opala arde dentro da terra, um facho de beijos que o irritado calor do sol não toca. (...) e dentro dos amantes que se abraçariam, entrelaçamos nossos ramos e raízes, nossas línguas e nosso sangue e interminável e ubíqua estrela de cinco pétalas a noite inteira queimamos para eles a nossa carne mais candente” (Kerry Shawn Keys, Fora do jardim ocidental).

Luiz Alberto Machado

Ei-la nua e linda aléia sedutora com seus moinhos de vento e seu jeito adocicado nos meus olhos lunáticos, investida de poderes e errâncias por todas as escolhas enquanto meu coração sobressaltado vira chocalho na sua nudez.

Seu corpo nu é o meu cadafalso por que Deus faz-se visível na sua expressão depravada tal anjo delicado que se profana para minha salvação no prazer e vira uma putinha vertiginosa para demover todas as minhas derrotas na remissão do prazer e me contempla tal Maria clarividente que salta à vista em pessoa: tudo flutuando na sua leveza e eu sucumbindo à tentação do meu desiderato.

Na sua candura obscena faço-me fúria de arpão para conduzi-la às cãibras do ponto culminante onde toda seiva e energia emborram nossas horas tumultuadas.

Lábio nos lábios, toda partilha do querer na lâmina aguda cortando a carne do sexo como a noite na tarde da alma e meu sexo revolvendo suas entranhas como navalha do desejo rasgando a vida em polegadas adentro enquanto a fogueira do gozo traz labaredas espalhadas na pele até tatuar nosso conluio sangüíneo.

E tudo se faz explosão e na inquietude de sua dança murmura em segredo a troca da morte do cotidiano pela vida de instantes que varrem meus receios na armadilha da noite e escorrega na superfície do meu corpo no facho dos beijos pelas litanias.

E que arrebenta o gozo sob blasfêmias histéricas onde tudo incha e treme à deriva dos nossos delírios loucos.

É a nossa agonia desenfreada que explode pele umedecida no ataque da alquimia carnal como uma raiva pontiaguda rasgando todas as escaladas, vazando o mundo, talhos e trapos, suor e piedade na segunda pele e revira, fustiga, pega fogo e cruamente penetra e desfaz flamantes cicatrizes até abrir a última instância na trilha das nossas acrobacias trêmulas.

E como um maçarico a quarenta graus de febre atiçando nosso holocausto eu vou nesta nossa explosão.

E no restolho me esconjura aturdida enquanto goza obscena fazendo de agora o amanhã e depois e sempre e esse gozo nunca terminará na memória do ranger dos dentes, no paroxismo da paixão.

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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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domingo, outubro 19, 2008

VERA LINDEN



Imagem: Tamara Alves.

O UNIVERSO AMOROSO DE VERA LINDEN

AMAR-TE

Quero amar-te,
Para nunca mais, deixar-te,
Na angústia da espera.
Com o frescor da primavera.
E por primeiro,
Beijar teu corpo inteiro.
Acolher-te nos meus braços,
No calor de meus abraços.
Em nossa alcova perfumada,
Ser tua amada,mais amada...
E repousar tua cabeça, entre meus seios
Te deliciar por todos meios.
Esperar-te toda nua,
Ser somente tua..
Ouvir bater teu coração
Emocionado de tesão
Vais adormecer cansado,
No meu corpo abraçado.
E vais de novo me querer,
E todas vezes, vais me ter.
Minhas mãos te acariciando,
Minh alma e meu corpo te amando!

INCANDESCENTE

No teu corpo, a descoberta
Traz a minh alma aberta,
Às mais divinas sensações
Todas as transformações.
Metamorfoses loucas,
Vozes roucas.
Gritos abafados,
Gemidos não podem ser calados.
O dia recebe a lua.
A liberdade me deixa nua.
E me ensinas a amar,
Aprendo a te excitar.
Acendo o teu vulcão.
Faço tremer teu coração.
Tua boca me descobre,
Me percorre
Teu calor se espalha em mim,
No teu gozo sem fim.
Nada é pecado ou indecente.
Tudo é amor incandescente.

DE CORPO E ALMA

Vem adoçar o meu corpo,
com teu mel sublime.
Vem me fazer de ancoradouro,
Do teu desejo.Me redime.
Pulsar no meu corpo e no meu sexo.
Dissipar esta espera sem nexo.
Fundir tua paixão,
Toda na minha.
Vou te fazer suar,
Suspirar
No êxtase,
No frêmito,
Na ânsia do gozo eterno.
Múltiplo,
Infinito.
Flutuar,
Alcançar a eternidade,
Num segundo,
No maior prazer do mundo.
De corpo e alma.

A HORA VESPERTINA

Na doce hora vespertina,
Me fazes menina.
Beijo-te inteiro.
Foste o prazer primeiro.
Repousas e, em tua suave respiração,
Está crescente a minha excitação.
Fagulhas alimentadas pelo vento.
Corpo em chamas e atento.
No leito morno, o teu corpo formatado
Este corpo sempre jovem e amado.
Será este meu amor, que conserva
A juventude em ti? E te preserva ?
Teu cheiro e tuas marcas ficam em mim.
Ah! Tão gostoso amar-te assim...
Nesta hora, pelo sol dourada
E, eu inteira, me sentindo amada.

VERA LINDEM – a poeta gaucha Vera Linden começou sua vida literária ao 10 anos de idade quando vencei um concurso na escola, ganhando uma bolsa de estudos para concluir o primário. Depois ganhou alguns prêmios em Vila Veha e São Leopoldo. Já trabalhou como assistente administrativa, desenhista técnica e instrutora do Senai/Noturno até aposentar-se. Agora se dedica a escrever artigos, cartas, contos, cordel, crônica, infantis e poemas.

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segunda-feira, outubro 13, 2008

FRIEDRICH VON LOGAU



Imagem: Jupiter and Danae, 173, do pintor do Rococó italiano Giambattista Tiepolo (1696-1770)

A DIETA DO BARÃO DE VON LOGAU

A BOA DIETA

Carlota dissera ao seu doutor
Que lhe agradava, de manhã, fazer amor,
Embora à noite a coisa fosse mais sadia.
Sendo ela prudente, resolveu
Fazê-lo duas vezes ao dia:
De manhã, por prazer
De noite, por dever.

FRIEDRICH VON LOGAU - Friedrich von Logau (1604-1655) um dos poetas barrocos de língua alemã, autor deste simples poema, proveniente de um epigramatista sintético, certeiro e preciso. Ele dedicou-se principalmente ao epigrama que cultivou em termos de um moralismo que antecipa o racionalismo Frances do século XVIII. Em seus epigramas, ele criticou, sobretudo, o cosmopolitismo dos costumes, a intolerância religiosa e os desregramentos eróticos.

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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
REVÉLLON & CONFRATERNIZAÇÃO TATARITARITATÁ!!!

sexta-feira, outubro 10, 2008

CRÔNICA DE AMOR POR ELA



Imagem: Harry Candelario

ENCONTRO DO PÍCO VIGOROSO AO TERRAÇO DA JÓIA

Luiz Alberto Machado

Primeiro tempo: do flerte à dança, o desvario da paixão

Agora o momento conspira favoravelmente e mais persevera quando flagro a divícia de toda a sua compleição convidativa que dá provas inequívocas do requinte da sedução.

Eu mereço, tenho certeza, esse pulcro e luzidio jeito menina sapeca a me enfeitiçar com o semblante misto entre angelical e satânico, com um cumprimento no olhar chamativo num estro a não perder jamais de vista – pálpebras lânguidas de inesperadas ternuras, suspiros ao léu, com o frêmito nos lábios com gosto de primavera vigente, com jeito dócil no pescoço a descoberto, nas alças fulgurantes da blusa a expor toda a atmosfera do decote emanando fulgurante pôr do sol entre os seios de fruta no pomar, com indulto na cintura que vai dar na circunferência da saia colada no corpo Maracanã das minhas emoções – corpo matéria-prima do milagre -, girando, girando a exalar o frescor da vida para meu sobressalto e delírio.

É espetáculo demais de desejos entreabertos para o trapézio do amor, onde os beijos estalam adocicados e insinuam jogadas na pequena área de nossas contumazes deprecações de satisfação; que saltam do seu olhar de ébano a desnudar-me a alma e levá-la folha seca pela ventania forte e nas vazantes etéreas de sua imantação, que me dá conta dos seus lábios rubros e que por tal fresta vem o sopro vital nas minhas narinas e me assalta o toque macio que ao menor contato me eletriza a ponto de invulgar combustão pélvica e que nos abrasa a embolar no meio de campo a confundir de nós a própria vida.

É chegada a hora e pronto já test-drive vou margeando, contornando, walkaround, até cravar as minhas garras nessa delícia geográfica além do querer, aspirando do infinito nas asas da sua graciosidade que dá o braço a torcer, tomada de assalto pela minha agonia faminta e já se faz pronta na rendição dos meus galanteios mais lúbricos.

Segundo tempo: a nudez, o toque e o prazer estufando o gol do amor

Vê-la nua é o sabor do instante na maravilha de estar vivo, onde me faço ourives a deslindar toda alvura carnuda imarcescível de sua extrema condição de amante, carregada com nova leva de carícias para o meu estopim mais arvorado.

O seu corpo é a cidade onde habito com todos os temores e explosões, onde cultivo a crença que professo quando o dia começa a romper, onde semeio o que há de melhor em mim para a completa comunhão do dar e receber.

É o seu corpo o verdadeiro prêmio que cobiço, é a estrada que transito e me perco e me encontro quando me expõe os seios, montanhas do Cáucaso de meus delírios, à minha bocarra insaciável devolvendo a plena vida sugando o sal da terra.

Eu solapo todas as medidas com o exame tátil de nossas inquietações na furiosa tempestade a devassar todos os limites dos domínios e nas dimensões do seu corpo que predispõe a loucura do gozo e vou num ritmo ideal de jogo com todas as firulas e mando de campo, encarando a zaga e na jogada, lance de bandeja, vou buscar a enfiada profunda para alcançar o conteúdo das suas redes mais ao rés-do-chão do paraíso almejado.

Eu corro perigo com o assédio dos seus encantos como se fosse o meu refeitório eivado de luxúria de completa adrenalina quando penetro entre as suas pernas oblíquas e avultamos nossos urros, nos dizimamos um ao outro em nossos apegos mais íntimos, até que nossos corpos caiam estiolados fenecendo de prazer.

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quarta-feira, outubro 08, 2008

Maria Hilda de J. AlãO



Imagem: Lee Jones.

A POESIA ERÓTICA DE MARIA HILDA DE JESUS ALÃO

TU ME CHAMASTE

Ajoelhei-me na areia nua
De braços abertos para lua,
A trança cobrindo o bico do seio
E tu me chamaste de sereia.

Acariciaste meus cabelos
Retirando a trança do seio,
E com olhos de entendido em arte
Tu me chamaste de Vênus.

Cobriste minha nudez com folhas
De carícias ardorosas
E ao exalar meu perfume
Tu me chamaste de rosa.

Tua boca tinha fome
De outra boca, a minha,
E no encontro das línguas
Tu me chamaste de amada.

O beijo veio quente, úmido
Como a terra em cio primaveril
Que deixa no ar um gostoso calor,
Então eu te chamei de meu amor.

EROTIQUINHA

Eu não encontro palavras
Para expressar o que sinto
Quando abro o cinto
Soltando as travas
Da prisão da tua calça.
O pássaro vôo alça
Entrando de cabeça
No labirinto apertado,
Quente e molhado,
De onde jamais sairia.
Pela liberdade não lutaria
Escravo ele seria,
Eterna e gostosamente,
Do labirinto apertado.

A BUNDA DA MARIQUINHA

Mariquinha, menina sapeca,
Enlouquecia os moleques
Com sua bunda arrebitada
E seu andar de prostituta.

Empinava os peitos,
E a molecada sonhava
Meter a mão no decote
E apalpar cada centímetro

Daqueles lindos peitões
Que lhes arrepiavam a pele
Fazendo enrijecer os pintinhos
Ainda infanto-juvenis.

Foi na festa anual da escola
Que a bunda da Mariquinha
Virou notícia de jornal,
Até foi tema de carnaval.

Porque ao rodopiar pelo salão
Nos braços do Bastião
Voaram pelos ares os enchimentos
Que moldavam artisticamente

Aquele bundão tão desejado.
Foi uma gritaria geral.
Todos riam e corriam
Atrás da Mariquinha,

Envergonhada e sem bunda
Para enfiar a mão no decote
E conferir se os peitões
Eram reais ou de panos.

ORGASMO INFINITO

Do toque da boca num corpo
Nasce o desejo que é a caldeira
Onde o amor vive em ebulição.

E vem o poeta trabalhar a imaginação
Com suas palavras sonoro-eróticas
Inventadas por sua libido vulcânica.

Elas sobem ao espaço quebrando
O silêncio do cosmo que explode
Num grito de orgasmo infinito.

GEMIDO DE PRAZER

Vibram as fibras retesadas
De nervos e carnes.
Cantam as cordas vocais,
Bate o tambor das têmporas
Anunciando teu gemido de prazer.

É som que reboa no meu corpo
Dilatando todos os átomos,
E como vendaval espalha pelo ar,
Diluindo-os em suave perfume
Esse teu gemido de prazer.

Teu gemido lembra a chuva
Caindo na terra seca,
Ávida do líquido vital
Para gerar no seu ventre
As flores e os frutos.

Faz-me cometer sacrilégio
Comparando-o a uma oração.
É lume que faz arder a tocha
Iluminando o universo do quarto
Esse teu gemido de prazer.

Prende minh’alma entre raízes
De sensações que os corpos promovem,
E no momento do início da vida
Passo a entender a morte
Com esse teu gemido de prazer.

O ATO DA POSSE

Acendem-se os círios dos olhos,
Espargem a água benta
De suas bocas nos corpos,
Como animais se lambendo
Para sentirem o sabor
Da matéria fecunda do amor.
Não há saciedade de apetite
Nem limite de fantasia.
São feras dessa selva,
Pássaros voando no céu
Cada vez que sentem
A onda de gozo aflorar
Como jorro de água morna
Vinda das entranhas da terra.
A vida se transforma em poesia,
A alma ganha potentes asas.
Não há mudez para os dois,
Libertam-se as palavras asiladas
Em coro celebram o ritual
Dum corpo dentro de outro.
Nesse momento é só pirotecnia
Num espaço que se torna infinito
Pela grandeza que tem
O ato de se possuírem
O homem e a mulher.

ENTRE PERNAS MUSCULOSAS

Sentada em frente do mastro
Plantado entre pernas musculosas,
A mão nervosa descia e subia
Hasteando a tesuda bandeira
Do homem que gemia e gozava
Na hora em que sol se levantava
Iluminando o seu leito de trevas.
O jorro escorreu pelo mastro,
Branco qual espuma do mar
Formando na mão parada
Um lago de água cremosa
A escorrer por entre os dedos.
Mas o corpo tem seu desejo
De outro para enredá-lo.
Melhor que a mão é a caverna
Com estalactite clitoriana
Para fazer o mastro se perder
Nos labirintos do orgasmo.

ONDE BOTEI O MEU BILAU!

Saciada levanta a cabeça,
Rosto besuntado de pomadas,
Senta na cama a velha travessa,
Depois de horas de garibadas.

Estica o tronco, arqueia as omoplatas,
Risos sarcásticos da boca lhe saem.;
As tetas são duas pelancas que caem,
Como folhas em superfícies chatas.

Na penumbra dorme a gosto,
Depois de homérica carraspana
O malandro, filho de bacana,
Para quem mulher é tira-gosto.

Revirou o corpo nu nos lençóis
Procurando a quente garupa,
Sentiu cinco dedos como anzóis
Vincando seu peito sem culpa.

Despertou, finalmente, o cara-de-pau,
Olhando para quem pensava ser Vênus,
Sentiu um asco que lhe refletiu no ânus
Gritando: - Mãeee, onde botei o meu bilau!

PERFUME DE CIO

Teu corpo é uma parede
Incendiada de desejos,
As mãos são labaredas
Subindo-me pelas pernas.

Espalmam-se no meu peito,
Massacram meu coração
Com tentáculos de afagos
Contornando a silhueta.

Sentem a minha carne
As mãos de carne que são tuas,
E se banham no suor
Do meu prazer que transpira.

Penetras o meu mistério...
Sinto tremer as tuas formas,
Teus olhos revirados parecem
Duas luas em gozo frenético.

Invade-me o teu perfume
De cio que se evapora,
E na placidez dos carinhos
Nossos braços viram asas

Porque somos pássaros gêmeos,
Gerados no mesmo ovo,
E a nossa paixão é um ninho
Onde acasalamos nossos corpos.

MINHA NUDEZ

Voavas sobre a minha nudez
Como pássaro de primeiro vôo,
Descobrindo mistério de selvas
E de águas correntes
Que vão à direção do mar,
Unindo-se em beijo agridoce
Num gemido sacrílego
Da minha garganta pagã,
Abrindo portas de catedrais profanas,
Onde, devoto, genuflexo recebias,
A hóstia sagrada do meu corpo
Em rito de luz iluminando altares
Vindo do meu humano prazer
Que não se apaga, só esmorece,
Voltando a brilhar intensamente
Com o toque sutil dos lábios teus
Nos interruptores dos meus seios...

TUAS MÃOS

Por meu dorso e por meus seios
Tuas mãos morrem de amores,
De tão atrevidas me causam rubores,
E fazem aflorar lúbricos anseios...

Por elas quero ser domada,
E ao teu peito ser acorrentada,
Toda vez que liberte a fera ansiosa,
A volúpia que me faz tão fogosa...

Quero que dominem meu desejo com jeito,
E seu toque aumente-me o pulsar do coração,
E juntas orem ao deus do amor com devoção,
No branco altar do nosso leito...

E no meu corpo, querido amante,
Embevece-me tuas mãos contemplar
Tateando, e tua boca a procurar,
Da flor, o botão para beijar...

FALO DE TI.

Falo de ti a todo mundo.
Falo do brilho do teu olhar
Que vive sempre a faiscar,
Do gosto que sinto ao beijar
A tua boca que sabe a mel.
Falo de ti às ondas do mar,
De quem roubaste o sal
Que dá sabor ao teu suor
Bebido em noites de amor.
Falo de ti às aves que parecem acenar
Quando migram para outro lugar,
E como elas partiste um dia
Em busca do calor de outros braços.
Falo aos céus da tua volta,
Da saudade e dos teus anseios
De ter perdida, entre meus seios,
A mão forte que me ampara,
Que ocupa todo o espaço
Do meu corpo, para feliz,
Repousar no meu regaço.
Falo de ti a todo mundo!

OS AMANTES

Ele

Ora, não vás saindo à francesa.
Odeio as tuas nádegas redondas,
Tens-te como rainha da beleza,
Desejo-te comida por mil anacondas.

Ela

Metido! Orgulhoso dessa tua estatura,
Pareces um tronco desfolhado no inverno
À espera que um lenhador de má catadura
Decepe o teu “orgulho”, mandando-o ao inferno.

Ele

Pára de falar, ó gralha arrogante,
O “orgulho” sempre esteve sob a tua saia
Rígido, e tu de forma extravagante,
Fazias dele pingente no decote tomara-que-caia.

Ela

Isso porque esperava que ele fosse açoite,
Que me vergastasse a pele branca...
Coitado! Mal entrava na caverna à noite
Adormecia, eu digo isso de maneira franca.

Ele

Pudesse eu te algemar pelo pulso,
Ó geleira vinda de terras estranhas,
Levar-te-ia aos confins num impulso
Para o sol derreter tuas entranhas.

Ela

Num mar de inveja nadas e bóias...
Da força do teu despeito eu fico pasma,
Tuas palavras são o silvo de mil de jibóias,
Dessa masculinidade não vejo nem o fantasma.

Ele

A esta tua opinião a outra não adere,
Pergunta-lhe como sou nos lençóis mornos
Da cama onde à noite ela me fere
Com a língua no meu corpo todos os contornos.

Ela

Eu sabia que não eras nenhum monge,
E que sempre dormias no sul e no norte,
Mas o que não advinhas nem de longe
É que corno serás até a morte...

Ele

Nossa discussão já se estendeu demais.
Vem! Quero te dar um abraço gostoso.
As palavras só me excitam mais.
Vem! Sinto o meu “orgulho” nervoso.

Ela

Então, aquece com as mãos meus seios frios,
Aperta-me com a força dos teus braços
Porque no fim do ventre eu sinto calafrios
Só de pensar nos movimentos lassos

Do teu “orgulho” longo e potente,
Explorando a minha concha submissa
Como intruso que entra sorrateiramente
Numa capela proibida para ouvir missa.

Ele

Abre-te para mim como luz na neblina,
Este teu perfume suave me entontece,
Meu “orgulho” espera, da dama, a boca fina,
Para guiá-lo no mar do prazer, pois anoitece.

MARIA HILDA DE JESUS ALÃO – A poeta, professora e escritora sergipana Maria Hilda de Jesus Alão, é formada em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Santos, formando-se em Letras. Ela participou de vários concursos de Poesias e Antologias, entre elas a Tempo Definido, Palavras Escolhidas e Livre Pensador, da Editora Scortecci; A Árvore da Vida, editada por Arnaldo Giraldo; Antologia 22 - editada pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores; Verano Encantado, Penumbra y Amanecer e Solamente Palabras, do Centro de Estudios Poéticos, de Madrid – Espanha, com poemas em idioma espanhol. Livro publicado – Poemas da Maturidade – Editora Scortecci.

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terça-feira, outubro 07, 2008

A DELICIA DA PAIXÃO



Imagem: Catherine Deneuve como Séverine no filme La Belle De Jour (1967), do cineasta espanhol Luis Buñuel (1900-1983)

MOLENGA

Luiz Alberto Machado

Nada melhor que a sua chegada no mormaço da tarde: carne fresca e trêmula de Luisa Micheletti suspirando desejo dentro do vestido. E eu enamorado pelo decote valho nada mais que menos de R$ 1,99 porque viro a sua criptonita e babo canibal pronto pro repasto delicioso que palpita e seduz entre as suas coxas no saiote que me fazem Goya no seu olhar Natalie Portman quando sou mais que Lobão na cobiça do seu remexido sensual de Vanessa da Mata. É aí que ela se rende, vendida, inheta de manha e cheia de munganga como quem desfila em trajes mínimos pela praia do Janga a me chamar de banguelo na rua, na chuva, na fazenda, ah! Cobiçada prenda que faz ao vivo o que sabe e eu a ela, dois bicudos, dou meu recado e topa tudo autografando a foto e eu D2 carburando na sua fogueira, pronto para incendiar o mundo e o universo. É aí que vou Gustave Courbet enquanto ela Catherine Deneuve nua Séverine no devaneio do meu coração Luis Buñuel me provocando pra que eu seja o motorboy mandando ver na lambreta, levando na maior toda a máquina indomável que nua, linda, implacável vai se insinuando e vou pastorando com jeito e jinga até não resistir sem qualquer empecilho. É quando ela mexe os cílios, desenfreada, finda emo com toda aura domada pela minha certeira ferveção que espragata os tomates, descasca banana, chupa laranja - minha língua vira solo de guitarra Kisser Sepultura reverberando nas entranhas como o meu mergulho na Ponta Verde do seu corpo. Ela ronrona, resmunga, fala feito hap e eu repente como o sol na pele lavando a alma e a jega na sua graça e sanha, porque sou vilão sem papas na língua nem escrúpulo nem nada, sou Nelinho mandando o canudo nela goleira vazada com prazer bola na caçapa, gol, sou goleada, sou passe certo na jogada, ela de voleio e eu gozando na jangada com minha tocha viva e ela sádica porque sou campeão e ganho a taça e o premio Nobel, porque tudo se arregaça, tudo é ignóbil e tudo me dá e tudo dou pra ela, sem piedade nem noção, porque tudo finda dela nua e dada numa gravura tatuada no meu coração.

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segunda-feira, outubro 06, 2008

ROBERT HERRICK



Imagem: Venus, Vulcan and Mars, c.1550f, do pinto do Maneirismo italiano Jacopo Tintoretto (ca. 1518-1594)

OS POEMAS MALICIOSOS E OBSCENOS DE ROBERTO HERRICK

POEMA

Uma doce desordem nos vestidos
Ateia a chama dos sentidos:
A cambraia que cai por sobre os braços
Como se por acaso:
Um laço em desalinho, aqui e ali,
A sujeitar o púrpuro espartilho:
Um punho que se revela, negligente,
Fitas que saem confusamente:
Uma onda que monta (há quem não note?)
Da tempestade do saiote:
Um cordão de sapato em cujo laço
Vejo um civ Il desembaraço:
Movem-me mais do que se a Arte
E por demais precisa em toda parte.

ÀS VIRGENS, PRA QUE APROVEITEM O TEMPO

Peguem seus botões de rosa enquanto podem
O velho tempo ainda está voando
E essa mesma flor que hoje sorri
Amanhã estará morrendo.

O glorioso farol do paraíso, o sol
Quanto mais alto fica
Mais cedo sua corrida tem fim
E mais próximo fica do objetivo.

Aquela idade é melhor, a que é a primeira
Onde juventude e sangue são mais quentes,
Mas, ao serem gastos, o pior, e piores
Tempos sucedem o anterior.

Então não sejam recatadas, mas usem seu tempo;
E, enquanto podem, vão se casar:
Porque, ao perderem apenas uma vez a flor da juventude
Pra sempre ficarão esperando.

A SERPENTE DE SEDA

Júlia, a sorrir, lançou um laço
De seda e prata em minha face.
A seda azul subitamente
Passou, como se uma serpente:
A rapidez me surpreendeu;
Mas se dez medo, não mordeu.
Quando em sedas passeia minha Julia,
Penso: quão docemente flui
A liquefação de suas vestes.
Mas quando lanço minha vista
À vibração que ao seu andar se livra
Sinto cintilações celestes.

A VINHA

Sonhei que esta mortal parte minha
Se metamorfoseara numa vinha
A qual, dando volta sobre volta,
Cativara minha Lúcia graciosa.
Assim, suas pernas e quadris
Co´as minhas gavinhas surpreendi;
Seu ventre, nádegas, cintura,
Rodeei com minhas brandas nervuras;
Em torno da cabeça, eu serpente,
Grandes racimos (ocultos entre
As folhas) prendi às suas têmporas.
Do jovem Baco era Lucia imagem,
Dele preso em sua folhagem.
No colo meus cachos a envolviam,
De seus braços e mãos restringiam
Os gestos (e ali um só, dessarte,
Prisioneiro fizeram tais partes).
Mas quando com folhas fui tapar
As partes que as donzelas do olhar
Alheio guardam, tanto prazer
Eu tive que acordei para ver,
(Ai de mim!) ver esta carne minha
Feita mais um tronco que uma vinha.

ROBERT HERRICK – o poeta inglês Robert Herrick (1591-1674) é autor da peça lírica Héspérides, de 1648, refletindo as graciosas, inspiradas, maliciosas e obscenas poesias de poeta pagão

FONTE:
PAES, José Paulo. Poesia erótica. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
POUND, Ezra. ABC da literatura. São Paulo; Cultrix, 1977.

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sexta-feira, outubro 03, 2008

CRÔNICA DE AMOR POR ELA



Imagem: Estella, de Tuta.

O PÁSSARO VERMELHO NA PORTA DO CINÁBRIO

Luiz Alberto Machado

Na rosa do teu corpo o meu pássaro vermelho rouba os aromas essenciais da vida e toma o fogo do teu coração inquieto e ofegante não ignorando o aliciamento enredado em teus ardis mais obscenos.

Na tua fenda dourada eu vou voluntário enfrentando todos os relâmpagos e tempestades de tuas acrobacias mais perversas e vou potente no enleio de te contrair para que eu possa ter a maior expansão de domínio sobre a entrega dos teus tesouros mais submersos.

No terraço da tua jóia eu empino a sanha e me enfio autônomo cravando dentes, empunhando o sexo e incendiando a alma pela tua assimetria de doce naufrágio assaz vigoroso.

No teu lótus dourado eu vou avançando com minhas arremetidas diligentes pelas ondulações dos mil encantos de sua alquimia sem reservas e despudorada.

No teu vaso receptáculo eu vou surtindo efeito para que sejas o meu carrinho-de-mão de Aretino, malhando na tua maneirice dissoluta, fundindo na tua meiguice depravada e fodendo as tuas inquietações demasiadas de vida.

Nessa avalanche de prazer nossas guelras ficarão expostas à nossa própria lama para que minha serpente possa hibernar tranqüila no esconderijo da íntima união que vem dos segredos da câmara de Jade.

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quinta-feira, outubro 02, 2008

GINOFAGIA




Imagem: Anthony Guerra / Arte: Derinha Rocha.

FEBRE

Luiz Alberto Machado

Em tua carne febril de manhãs amorosas a libertação do poema pelo canto que ensaio presente em meu querer despudorado que se multiplica e nos multiplicamos na minha canção visitante civil e indômita na tua agasalhadora sedução que me faz canção no teu ouvido e a minha volúpia danada não cabe entre teus seios de setembro ensolarado porque a primavera é viva demais no meu inquieto sexo que quer lambuzar com meus poemas atiçadores a tua pele corpo e alma azul inventando a vida para provar de todo o pomar que é a tua inteira carne como a noite e renascida como o dia até tê-la desalinhada e crua, ai meu deus do céu, com teu césio 137 na velocidade 5 dançando nua no meu créu.

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GINOFAGIA