quarta-feira, outubro 08, 2008

Maria Hilda de J. AlãO



Imagem: Lee Jones.

A POESIA ERÓTICA DE MARIA HILDA DE JESUS ALÃO

TU ME CHAMASTE

Ajoelhei-me na areia nua
De braços abertos para lua,
A trança cobrindo o bico do seio
E tu me chamaste de sereia.

Acariciaste meus cabelos
Retirando a trança do seio,
E com olhos de entendido em arte
Tu me chamaste de Vênus.

Cobriste minha nudez com folhas
De carícias ardorosas
E ao exalar meu perfume
Tu me chamaste de rosa.

Tua boca tinha fome
De outra boca, a minha,
E no encontro das línguas
Tu me chamaste de amada.

O beijo veio quente, úmido
Como a terra em cio primaveril
Que deixa no ar um gostoso calor,
Então eu te chamei de meu amor.

EROTIQUINHA

Eu não encontro palavras
Para expressar o que sinto
Quando abro o cinto
Soltando as travas
Da prisão da tua calça.
O pássaro vôo alça
Entrando de cabeça
No labirinto apertado,
Quente e molhado,
De onde jamais sairia.
Pela liberdade não lutaria
Escravo ele seria,
Eterna e gostosamente,
Do labirinto apertado.

A BUNDA DA MARIQUINHA

Mariquinha, menina sapeca,
Enlouquecia os moleques
Com sua bunda arrebitada
E seu andar de prostituta.

Empinava os peitos,
E a molecada sonhava
Meter a mão no decote
E apalpar cada centímetro

Daqueles lindos peitões
Que lhes arrepiavam a pele
Fazendo enrijecer os pintinhos
Ainda infanto-juvenis.

Foi na festa anual da escola
Que a bunda da Mariquinha
Virou notícia de jornal,
Até foi tema de carnaval.

Porque ao rodopiar pelo salão
Nos braços do Bastião
Voaram pelos ares os enchimentos
Que moldavam artisticamente

Aquele bundão tão desejado.
Foi uma gritaria geral.
Todos riam e corriam
Atrás da Mariquinha,

Envergonhada e sem bunda
Para enfiar a mão no decote
E conferir se os peitões
Eram reais ou de panos.

ORGASMO INFINITO

Do toque da boca num corpo
Nasce o desejo que é a caldeira
Onde o amor vive em ebulição.

E vem o poeta trabalhar a imaginação
Com suas palavras sonoro-eróticas
Inventadas por sua libido vulcânica.

Elas sobem ao espaço quebrando
O silêncio do cosmo que explode
Num grito de orgasmo infinito.

GEMIDO DE PRAZER

Vibram as fibras retesadas
De nervos e carnes.
Cantam as cordas vocais,
Bate o tambor das têmporas
Anunciando teu gemido de prazer.

É som que reboa no meu corpo
Dilatando todos os átomos,
E como vendaval espalha pelo ar,
Diluindo-os em suave perfume
Esse teu gemido de prazer.

Teu gemido lembra a chuva
Caindo na terra seca,
Ávida do líquido vital
Para gerar no seu ventre
As flores e os frutos.

Faz-me cometer sacrilégio
Comparando-o a uma oração.
É lume que faz arder a tocha
Iluminando o universo do quarto
Esse teu gemido de prazer.

Prende minh’alma entre raízes
De sensações que os corpos promovem,
E no momento do início da vida
Passo a entender a morte
Com esse teu gemido de prazer.

O ATO DA POSSE

Acendem-se os círios dos olhos,
Espargem a água benta
De suas bocas nos corpos,
Como animais se lambendo
Para sentirem o sabor
Da matéria fecunda do amor.
Não há saciedade de apetite
Nem limite de fantasia.
São feras dessa selva,
Pássaros voando no céu
Cada vez que sentem
A onda de gozo aflorar
Como jorro de água morna
Vinda das entranhas da terra.
A vida se transforma em poesia,
A alma ganha potentes asas.
Não há mudez para os dois,
Libertam-se as palavras asiladas
Em coro celebram o ritual
Dum corpo dentro de outro.
Nesse momento é só pirotecnia
Num espaço que se torna infinito
Pela grandeza que tem
O ato de se possuírem
O homem e a mulher.

ENTRE PERNAS MUSCULOSAS

Sentada em frente do mastro
Plantado entre pernas musculosas,
A mão nervosa descia e subia
Hasteando a tesuda bandeira
Do homem que gemia e gozava
Na hora em que sol se levantava
Iluminando o seu leito de trevas.
O jorro escorreu pelo mastro,
Branco qual espuma do mar
Formando na mão parada
Um lago de água cremosa
A escorrer por entre os dedos.
Mas o corpo tem seu desejo
De outro para enredá-lo.
Melhor que a mão é a caverna
Com estalactite clitoriana
Para fazer o mastro se perder
Nos labirintos do orgasmo.

ONDE BOTEI O MEU BILAU!

Saciada levanta a cabeça,
Rosto besuntado de pomadas,
Senta na cama a velha travessa,
Depois de horas de garibadas.

Estica o tronco, arqueia as omoplatas,
Risos sarcásticos da boca lhe saem.;
As tetas são duas pelancas que caem,
Como folhas em superfícies chatas.

Na penumbra dorme a gosto,
Depois de homérica carraspana
O malandro, filho de bacana,
Para quem mulher é tira-gosto.

Revirou o corpo nu nos lençóis
Procurando a quente garupa,
Sentiu cinco dedos como anzóis
Vincando seu peito sem culpa.

Despertou, finalmente, o cara-de-pau,
Olhando para quem pensava ser Vênus,
Sentiu um asco que lhe refletiu no ânus
Gritando: - Mãeee, onde botei o meu bilau!

PERFUME DE CIO

Teu corpo é uma parede
Incendiada de desejos,
As mãos são labaredas
Subindo-me pelas pernas.

Espalmam-se no meu peito,
Massacram meu coração
Com tentáculos de afagos
Contornando a silhueta.

Sentem a minha carne
As mãos de carne que são tuas,
E se banham no suor
Do meu prazer que transpira.

Penetras o meu mistério...
Sinto tremer as tuas formas,
Teus olhos revirados parecem
Duas luas em gozo frenético.

Invade-me o teu perfume
De cio que se evapora,
E na placidez dos carinhos
Nossos braços viram asas

Porque somos pássaros gêmeos,
Gerados no mesmo ovo,
E a nossa paixão é um ninho
Onde acasalamos nossos corpos.

MINHA NUDEZ

Voavas sobre a minha nudez
Como pássaro de primeiro vôo,
Descobrindo mistério de selvas
E de águas correntes
Que vão à direção do mar,
Unindo-se em beijo agridoce
Num gemido sacrílego
Da minha garganta pagã,
Abrindo portas de catedrais profanas,
Onde, devoto, genuflexo recebias,
A hóstia sagrada do meu corpo
Em rito de luz iluminando altares
Vindo do meu humano prazer
Que não se apaga, só esmorece,
Voltando a brilhar intensamente
Com o toque sutil dos lábios teus
Nos interruptores dos meus seios...

TUAS MÃOS

Por meu dorso e por meus seios
Tuas mãos morrem de amores,
De tão atrevidas me causam rubores,
E fazem aflorar lúbricos anseios...

Por elas quero ser domada,
E ao teu peito ser acorrentada,
Toda vez que liberte a fera ansiosa,
A volúpia que me faz tão fogosa...

Quero que dominem meu desejo com jeito,
E seu toque aumente-me o pulsar do coração,
E juntas orem ao deus do amor com devoção,
No branco altar do nosso leito...

E no meu corpo, querido amante,
Embevece-me tuas mãos contemplar
Tateando, e tua boca a procurar,
Da flor, o botão para beijar...

FALO DE TI.

Falo de ti a todo mundo.
Falo do brilho do teu olhar
Que vive sempre a faiscar,
Do gosto que sinto ao beijar
A tua boca que sabe a mel.
Falo de ti às ondas do mar,
De quem roubaste o sal
Que dá sabor ao teu suor
Bebido em noites de amor.
Falo de ti às aves que parecem acenar
Quando migram para outro lugar,
E como elas partiste um dia
Em busca do calor de outros braços.
Falo aos céus da tua volta,
Da saudade e dos teus anseios
De ter perdida, entre meus seios,
A mão forte que me ampara,
Que ocupa todo o espaço
Do meu corpo, para feliz,
Repousar no meu regaço.
Falo de ti a todo mundo!

OS AMANTES

Ele

Ora, não vás saindo à francesa.
Odeio as tuas nádegas redondas,
Tens-te como rainha da beleza,
Desejo-te comida por mil anacondas.

Ela

Metido! Orgulhoso dessa tua estatura,
Pareces um tronco desfolhado no inverno
À espera que um lenhador de má catadura
Decepe o teu “orgulho”, mandando-o ao inferno.

Ele

Pára de falar, ó gralha arrogante,
O “orgulho” sempre esteve sob a tua saia
Rígido, e tu de forma extravagante,
Fazias dele pingente no decote tomara-que-caia.

Ela

Isso porque esperava que ele fosse açoite,
Que me vergastasse a pele branca...
Coitado! Mal entrava na caverna à noite
Adormecia, eu digo isso de maneira franca.

Ele

Pudesse eu te algemar pelo pulso,
Ó geleira vinda de terras estranhas,
Levar-te-ia aos confins num impulso
Para o sol derreter tuas entranhas.

Ela

Num mar de inveja nadas e bóias...
Da força do teu despeito eu fico pasma,
Tuas palavras são o silvo de mil de jibóias,
Dessa masculinidade não vejo nem o fantasma.

Ele

A esta tua opinião a outra não adere,
Pergunta-lhe como sou nos lençóis mornos
Da cama onde à noite ela me fere
Com a língua no meu corpo todos os contornos.

Ela

Eu sabia que não eras nenhum monge,
E que sempre dormias no sul e no norte,
Mas o que não advinhas nem de longe
É que corno serás até a morte...

Ele

Nossa discussão já se estendeu demais.
Vem! Quero te dar um abraço gostoso.
As palavras só me excitam mais.
Vem! Sinto o meu “orgulho” nervoso.

Ela

Então, aquece com as mãos meus seios frios,
Aperta-me com a força dos teus braços
Porque no fim do ventre eu sinto calafrios
Só de pensar nos movimentos lassos

Do teu “orgulho” longo e potente,
Explorando a minha concha submissa
Como intruso que entra sorrateiramente
Numa capela proibida para ouvir missa.

Ele

Abre-te para mim como luz na neblina,
Este teu perfume suave me entontece,
Meu “orgulho” espera, da dama, a boca fina,
Para guiá-lo no mar do prazer, pois anoitece.

MARIA HILDA DE JESUS ALÃO – A poeta, professora e escritora sergipana Maria Hilda de Jesus Alão, é formada em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Santos, formando-se em Letras. Ela participou de vários concursos de Poesias e Antologias, entre elas a Tempo Definido, Palavras Escolhidas e Livre Pensador, da Editora Scortecci; A Árvore da Vida, editada por Arnaldo Giraldo; Antologia 22 - editada pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores; Verano Encantado, Penumbra y Amanecer e Solamente Palabras, do Centro de Estudios Poéticos, de Madrid – Espanha, com poemas em idioma espanhol. Livro publicado – Poemas da Maturidade – Editora Scortecci.

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