sexta-feira, setembro 26, 2008

CRÔNICA DE AMOR POR ELA



Imagem: Wounded Amazon, 1904, do pintor e escultor do Simbolismo/Expressionismo alemão Franz von Stuck (1863-1928)

O TALO CORAL NA FENDA DOURADA
(ou viajando ao centro do teu corpo)


Luiz Alberto Machado

Em nós fez-se ontem para o que haverá
E eu guardei o meu sorriso no teu corpo e nele renasço em sol no mormaço das cores de tua nudez maior que a manhã.

Porque eu viciei todos os rios que vão dar no Sneffels do teu cio estonteante,
Porque eu mergulhei nos quatro mil e quinhentos graus centígrados de tua compleição sedutora, demolindo tuas fronteiras, deliciando o teu magma, saciando tua fenda dourada onde a minha língua faz festa com o fascínio que te ilumina a carne, ouro da minha cobiça, mel no meu paladar, alvo da minha flecha certeira.

E mesmo que tudo se faça na perda, o desfeito em ti se refaz porque já vai longe o beijo roubado embaixo dos desejos quando moqueada pela minha gula insaciável.

E mesmo que ainda amanheça, permanecerei insone porque buscarei teus olhos em todas as esquinas do tempo, porque buscarei tuas mãos nos confins dos espaços, porque buscarei tua exuberância desabotoada no manto acolhedor da pele descoberta, até que te sinta presa extravasada pelo embarque do meu relho deslizante no assoalho íntimo de tuas inquietudes abrasadas.

E quando te acercares da minha possessão medonha, eu sugarei teu veneno de serva Afrodite, me fartarei de todos teus humores e abocanharei tua reclusa para fruir incessantemente toda satisfação universal.

E quando tudo explodir de nossa completude, eu te serei arrimo a juntar os cacos do que sobrar reanimando a vida.

E ainda que eu possa apenas me valer do dia e da noite, reinventarei tudo em ti para que seja acesso do meu próprio ser.

E ainda que não nos baste esta vida e tantos desvarios outros, reencarnarei tantas e quantas vezes em tua pose escancarada e nua para que se possa renascer todas as entregas atemporais e mútuas.

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