segunda-feira, outubro 06, 2008

ROBERT HERRICK



Imagem: Venus, Vulcan and Mars, c.1550f, do pinto do Maneirismo italiano Jacopo Tintoretto (ca. 1518-1594)

OS POEMAS MALICIOSOS E OBSCENOS DE ROBERTO HERRICK

POEMA

Uma doce desordem nos vestidos
Ateia a chama dos sentidos:
A cambraia que cai por sobre os braços
Como se por acaso:
Um laço em desalinho, aqui e ali,
A sujeitar o púrpuro espartilho:
Um punho que se revela, negligente,
Fitas que saem confusamente:
Uma onda que monta (há quem não note?)
Da tempestade do saiote:
Um cordão de sapato em cujo laço
Vejo um civ Il desembaraço:
Movem-me mais do que se a Arte
E por demais precisa em toda parte.

ÀS VIRGENS, PRA QUE APROVEITEM O TEMPO

Peguem seus botões de rosa enquanto podem
O velho tempo ainda está voando
E essa mesma flor que hoje sorri
Amanhã estará morrendo.

O glorioso farol do paraíso, o sol
Quanto mais alto fica
Mais cedo sua corrida tem fim
E mais próximo fica do objetivo.

Aquela idade é melhor, a que é a primeira
Onde juventude e sangue são mais quentes,
Mas, ao serem gastos, o pior, e piores
Tempos sucedem o anterior.

Então não sejam recatadas, mas usem seu tempo;
E, enquanto podem, vão se casar:
Porque, ao perderem apenas uma vez a flor da juventude
Pra sempre ficarão esperando.

A SERPENTE DE SEDA

Júlia, a sorrir, lançou um laço
De seda e prata em minha face.
A seda azul subitamente
Passou, como se uma serpente:
A rapidez me surpreendeu;
Mas se dez medo, não mordeu.
Quando em sedas passeia minha Julia,
Penso: quão docemente flui
A liquefação de suas vestes.
Mas quando lanço minha vista
À vibração que ao seu andar se livra
Sinto cintilações celestes.

A VINHA

Sonhei que esta mortal parte minha
Se metamorfoseara numa vinha
A qual, dando volta sobre volta,
Cativara minha Lúcia graciosa.
Assim, suas pernas e quadris
Co´as minhas gavinhas surpreendi;
Seu ventre, nádegas, cintura,
Rodeei com minhas brandas nervuras;
Em torno da cabeça, eu serpente,
Grandes racimos (ocultos entre
As folhas) prendi às suas têmporas.
Do jovem Baco era Lucia imagem,
Dele preso em sua folhagem.
No colo meus cachos a envolviam,
De seus braços e mãos restringiam
Os gestos (e ali um só, dessarte,
Prisioneiro fizeram tais partes).
Mas quando com folhas fui tapar
As partes que as donzelas do olhar
Alheio guardam, tanto prazer
Eu tive que acordei para ver,
(Ai de mim!) ver esta carne minha
Feita mais um tronco que uma vinha.

ROBERT HERRICK – o poeta inglês Robert Herrick (1591-1674) é autor da peça lírica Héspérides, de 1648, refletindo as graciosas, inspiradas, maliciosas e obscenas poesias de poeta pagão

FONTE:
PAES, José Paulo. Poesia erótica. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
POUND, Ezra. ABC da literatura. São Paulo; Cultrix, 1977.

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