segunda-feira, outubro 20, 2008

CRÔNICA DE AMOR POR ELA



Imagem: Andrea Blackman

A FÚRIA DO ARPÃO

O erotismo, em seu conjunto, é infração à regra das interdições: ele é uma atividade humana. Mas, ainda que ele comece onde acaba o animal, a animalidade não deixa de ser seu fundamento. (...) A interdição está aí para ser violada”. (Georges Bataille, O erotismo).

“(...) O dia inteiro nossos corpos escondidos queimam como opala arde dentro da terra, um facho de beijos que o irritado calor do sol não toca. (...) e dentro dos amantes que se abraçariam, entrelaçamos nossos ramos e raízes, nossas línguas e nosso sangue e interminável e ubíqua estrela de cinco pétalas a noite inteira queimamos para eles a nossa carne mais candente” (Kerry Shawn Keys, Fora do jardim ocidental).

Luiz Alberto Machado

Ei-la nua e linda aléia sedutora com seus moinhos de vento e seu jeito adocicado nos meus olhos lunáticos, investida de poderes e errâncias por todas as escolhas enquanto meu coração sobressaltado vira chocalho na sua nudez.

Seu corpo nu é o meu cadafalso por que Deus faz-se visível na sua expressão depravada tal anjo delicado que se profana para minha salvação no prazer e vira uma putinha vertiginosa para demover todas as minhas derrotas na remissão do prazer e me contempla tal Maria clarividente que salta à vista em pessoa: tudo flutuando na sua leveza e eu sucumbindo à tentação do meu desiderato.

Na sua candura obscena faço-me fúria de arpão para conduzi-la às cãibras do ponto culminante onde toda seiva e energia emborram nossas horas tumultuadas.

Lábio nos lábios, toda partilha do querer na lâmina aguda cortando a carne do sexo como a noite na tarde da alma e meu sexo revolvendo suas entranhas como navalha do desejo rasgando a vida em polegadas adentro enquanto a fogueira do gozo traz labaredas espalhadas na pele até tatuar nosso conluio sangüíneo.

E tudo se faz explosão e na inquietude de sua dança murmura em segredo a troca da morte do cotidiano pela vida de instantes que varrem meus receios na armadilha da noite e escorrega na superfície do meu corpo no facho dos beijos pelas litanias.

E que arrebenta o gozo sob blasfêmias histéricas onde tudo incha e treme à deriva dos nossos delírios loucos.

É a nossa agonia desenfreada que explode pele umedecida no ataque da alquimia carnal como uma raiva pontiaguda rasgando todas as escaladas, vazando o mundo, talhos e trapos, suor e piedade na segunda pele e revira, fustiga, pega fogo e cruamente penetra e desfaz flamantes cicatrizes até abrir a última instância na trilha das nossas acrobacias trêmulas.

E como um maçarico a quarenta graus de febre atiçando nosso holocausto eu vou nesta nossa explosão.

E no restolho me esconjura aturdida enquanto goza obscena fazendo de agora o amanhã e depois e sempre e esse gozo nunca terminará na memória do ranger dos dentes, no paroxismo da paixão.

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