Imagens
exclusivas do acervo de Ísis Nefelibata. © Direitos reservados.
EPÍLOGO
Como tudo na vida do ser
humano é caracterizado pela finitude, é evidente que jamais seria feliz pra
sempre com Ísis. Tendo ela sido fruto da minha imaginação e que, como Galateia,
tornou-se um ser humano de verdade por força da minha criação, não seria eu um
exitoso Pigmalião para ter, como ele, o amor dela para sempre.
E naquele dia Ísis não se
sentia bem. Vestida apenas com um longo vestido branco transparente,
deixando-me ver por completa a geografia da sua nudez, ela me chegou bastante
deprimida, lívida e com um desânimo nunca antes expressado, me entregou o seu
Diário e um acervo com centenas de cartas, fotos e vídeos.
- Toma! É tudo seu.
Fiquei paralisado com
aquela atitude dela. Estranhei e fiquei olhando-a com todas as interrogações
possíveis.
- Serei pra sempre sua!
Toda sua, somente sua -, disse-me beijando-me os lábios.
Com o seu beijo percebi que
ela respirava com dificuldades. E perguntei-lhe:
- O que está havendo, meu
amor?
- Sou sua pra sempre. -,
respondeu-me já desmaiando. Ao se recompor, sentou-se na cadeira à minha frente
e começou a recitar um poema...
HOJE EU QUERO
FALAR-TE
Hoje eu quero
falar-te...
Falar-te de coisas que nunca falei
Falar-te de coisas que nunca falei
Falar-te de um
sonho, um olhar, um sorriso
Falar-te de
flores, músicas, talvez do paraíso
A que me levaste um dia
Nas asas desse coração pungente.
Hoje eu quero falar-te...
Quero falar-te do vento que soprou em minha janela
Da brisa que dominou a madrugada companheira
Do orvalho que a manhã bebeu sofregamente
Das noites, dos dias e da esperança que me embriagou
Com o néctar dos beijos que até hoje eu não pude esquecer.
Sim... Hoje eu quero falar-te...
Quero falar-te da chama que esse corpo acendeu dentro de mim
Naquele momento em que a matemática
Negou a própria exatidão de seus cálculos:
Da soma de nós... um só sentimento... nada mais...
E ao longo dos anos quis vencer-nos a distância
Mas cada detalhe não se apagou da lembrança
E o próprio tempo preparou-nos outra armadilha...
Hoje eu quero falar-te...
Falar-te de hoje que, como ontem, eu sei,
Nos trará esse amanhã tão impossível
Mas tão almejado no íntimo de nossas almas
Que podem ter tido uma chance em outras vidas
Talvez uma história mais feliz
Registrada no livro da eternidade...
Hoje eu quero falar-te...
Falar-te de uma saudade que me dilacera o peito
De um reencontro, outro olhar, outro sorriso...
Ah! Meu Deus... estou perdida outra vez nesse paraíso
Que sempre abrigou a loucura desse amor sem juízo
Que me agita, me sufoca, me alegra e me entristece
Ao perceber que padeço de um bem ou mal que me enfraquece
Pois me alimento apenas de momentos roubados
Da existência desse amor que o tempo não destruiu
E a vida permitirá jamais trilharmos o mesmo caminho.
Hoje eu quero falar-te...
Mas as lágrimas talvez embarguem a minha voz
E ao olhares em meus olhos rasos d'água
Verás a sombra de um adeus que eu não tenho coragem de dizer...
A que me levaste um dia
Nas asas desse coração pungente.
Hoje eu quero falar-te...
Quero falar-te do vento que soprou em minha janela
Da brisa que dominou a madrugada companheira
Do orvalho que a manhã bebeu sofregamente
Das noites, dos dias e da esperança que me embriagou
Com o néctar dos beijos que até hoje eu não pude esquecer.
Sim... Hoje eu quero falar-te...
Quero falar-te da chama que esse corpo acendeu dentro de mim
Naquele momento em que a matemática
Negou a própria exatidão de seus cálculos:
Da soma de nós... um só sentimento... nada mais...
E ao longo dos anos quis vencer-nos a distância
Mas cada detalhe não se apagou da lembrança
E o próprio tempo preparou-nos outra armadilha...
Hoje eu quero falar-te...
Falar-te de hoje que, como ontem, eu sei,
Nos trará esse amanhã tão impossível
Mas tão almejado no íntimo de nossas almas
Que podem ter tido uma chance em outras vidas
Talvez uma história mais feliz
Registrada no livro da eternidade...
Hoje eu quero falar-te...
Falar-te de uma saudade que me dilacera o peito
De um reencontro, outro olhar, outro sorriso...
Ah! Meu Deus... estou perdida outra vez nesse paraíso
Que sempre abrigou a loucura desse amor sem juízo
Que me agita, me sufoca, me alegra e me entristece
Ao perceber que padeço de um bem ou mal que me enfraquece
Pois me alimento apenas de momentos roubados
Da existência desse amor que o tempo não destruiu
E a vida permitirá jamais trilharmos o mesmo caminho.
Hoje eu quero falar-te...
Mas as lágrimas talvez embarguem a minha voz
E ao olhares em meus olhos rasos d'água
Verás a sombra de um adeus que eu não tenho coragem de dizer...
Em seguida leu-me com dificuldade uma
carta de muitas laudas. Uma carta de despedida, falando de adeus, de amor, de
vida, de sexo e de nunca mais...
Amor
da minha vida...
Esta
é minha carta de despedida. Amo você de forma jamais sentida, me entreguei a
você de corpo, alma e coração. Dediquei cada milésimo de segundo desse tempo
juntos a você, com toda a sinceridade, lealdade e fidelidade da minha parte... a
minha entrega não foi falsa, não foi fingida, você me tirou de mim e por
incrível que pareça, você me matou... você me trouxe felicidade, me arrancou
uma mulher que nunca existiu e nem eu conhecia de mim mesma. Nossa, como me
abri, me entreguei, me choquei de encontro ao muro da vida... Não consigo
sentir ódio de você e gostaria sinceramente de sentir, seria mais fácil pra
mim, mas lhe disse várias vezes, vou morrer com esse sentimento, eu não existo
mais desde que fiz minha entrega pra você... Não quero ser sua inimiga, porque
não posso... eu fiz essa entrega, não me arrependo porque meu amor por você é
sincero, será, sempre... me guarde pra você, pra quando me ler ou me ver,
lembrar que existiu uma mulher que o amou mais que a própria vida... Não
deveria dizer do desespero que me encontro, da tristeza, nem tenho como
esconder isso de ninguém, mas vou tentar prosseguir... valeu, amor da minha
vida... até... Aqui me despeço de vc... pela ultima vez, dizendo, eu amo
você...
Mal terminou a carta e
desfaleceu, cabeça pendida sobre o braço da poltrona, braços soltos, a mão
deixando cair as folhas da carta...
- Ísis! Ísis! -, chamei-lhe
insistentemente, segurando-a contra o meu corpo. Percebi que desfalecia em meus
braços.
- Sou sua! -, murmurou ainda
com dificuldade. – Sou sua...
Não deu nem tempo para
socorro, ela desfalecia e dava o último suspiro nos meus braços. Beijei-lhe com
toda força do meu amor, mas logo percebi seus lábios tornando-se cada vez mais
frios, seu corpo perdendo o viço, sua carne esfriando-se. Ali insistentemente
fiquei chamando-lhe o nome, mas ela não respondia. Olhos cerrados, lábios
entreabertos, respiração nenhuma, pulso algum... ela se esvaíra rapidamente,
exangue, enlanguescida e completamente jogada nos meus braços.
Não contive o choro. Ela
morrera nos meus braços. Perdi a mulher que imaginei, que criei e que,
verdadeiramente, amei pra sempre. E carregando-a nos meus braços, caminhei a
esmo até o fim do mundo. Perdi a noção de tudo, não percebia mais nada. Eu
mesmo já um morto-vivo. A vida perdera completamente o sentido. Passos no
caminho...
Lá no extremo do mundo
encontrei a entrada do Hades e desci seus degraus até lá pra ficar ao seu lado.
Em um dos pátios do mundo dos que se foram, encontrei uma murada com alguns
apetrechos de aposentos e deitei o corpo de Ísis numa almofada confortável para
poder contemplá-la. Fiquei um longo tempo fitando as faces e todo corpo de
Ísis, aquela que havia me proporcionado o mais maravilhoso momento na vida.
Foi quando tentando pensar
em alguma coisa, tudo me fugia à cabeça, completamente desconcertado e sem um
mínimo de raciocínio possível, vi e folheei seu diário com algumas passagens
que contei aqui. Há muito mais coisas, poemas, cartas, relatos, fotos,
vídeos, tudo dela pra mim. Um acervo e tanto. Pretendo publicar em livro, uma
homenagem justíssima. Às vezes tenho a impressão de que ela respira... ledo
engano, ela se foi pra sempre. E se ela ressuscitar um dia postarei aqui mais
relatos do seu diário - isto é, se eu resistir a tudo isso. Ela morreu e eu estou prestes a morrer, na verdade
estou morto, só contando as horas pra passar dessa pra melhor ou pior e
cantando...
QUERÊNCIA
Mais
um dia amanhecido
E aquele
amor tão pretendido
O querer
queima vontade
E arde
sem ter piedade
Faz-se
então todo alarido
Faz parte
do que é servido
Quando
se quer pra valer
Se ganhar
ou se perder
Porque
quem tem um amor
Dá-se
com sabor de se entregar
Porque
quem tem um amor
Sabe dar
maior valor
Ao que
se tem para amar
É sangria
desatada então
Como toda
danação
O querer
que se apronta
Vai
maior além da conta
É ferver
em efusão
No mormaço
da paixão
Dos desejos
preteridos
Dos amores
surpreendidos
Porque
quem tem um amor
Dá-se
com sabor de se entregar
Porque
quem tem um amor
Sabe dar
maior valor
Ao que
se tem para amar
E ainda ouço sua voz sussurrar as palavras dela quando ouvia essa música:
Cubra-me com teu canto, meu
encanto, no espanto das estrelas que se perdem em nosso universo.
Cubra-me com tua poesia,
minha alegria, na alegoria das flores nos jardins que bailam em nossos sonhos.
Cubra-me com teu corpo que
te sorvo nas horas serenas das noites, nos espaços inventados dos dias, meu
açoite, minha lei...
E te deixo com meus traços
de paixão quando te afastas, para que não te esqueças dos sabores, dos nossos
rumores, gozos e prazeres até que voltes e tudo aconteça novamente...
FIM
Veja o Prólogo e toda
história aqui.