quarta-feira, janeiro 07, 2009

VAN LUCHIARI



Imagem: Light blue, de Daniel Oliveira.

A ESSENCIA CARNAL DOS VERSOS DE VAN LUCHIARI

FOME

Derrama o teu amor na minha língua
profano, devasso, proibido, viscoso.
Minha boca é feita para receber-te
duro, forte, explosivo, guloso.
Derrama-te em mim por inteiro
que todo o resto é nada
e é de ti que eu me alimento.
Eu desejo o teu gosto,
o teu cheiro, teu unguento.
Se escorrer uma só gota
eu recolherei com um beijo.
E se tu quiseres, amor,
podes me lamber que eu deixo.

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De baixo pra cima
O banquete completo:

Entrada
Prato principal
Sobremesa

Pode vir que tá na mesa!

TE COMER

Te comer.
Te comer com a língua, te comer com a alma.
Te comer no elevador, no corredor, te comer com amor.
Te comer com manteiga, com mel, com sorvete, com chantilly.
Em pé, sentado, no sofá, no chão, na cozinha, no restaurante,
No prato, em duralex, em eucatex, no provador e naquela estante.
Te comer sem medo, sem pudor, sem medidas, sem dó.
Ao sumo, molhado, fluído, sólido e duro.
Te comer na cama, na grama, na aspereza do muro.
Te comer com gosto, com gula, te comer com fúria e prazer.
Até que em mim te derrames todo, te dês inteiro até o talo.
Pra encher meu ser de ti e minha boca do teu falo.
Até que me sacies. Até que eu engula teu nome.
Te comer em goles. Te comer com fome.
Te comer com fome.

TUA

Essa noite eu serei tua.
Serei das tuas palavras que me atam gentilmente...
Farei da tua sede a minha amarra intensa e excitante.
Serei só da tua vontade, submissa aos teus quereres
Farei-me inteira tua posse, tua escrava, tua amante.
Essa noite eu serei tua.
Serei para ti as provocações suculentas e urgentes
Que a tua língua anseia e os teus dedos tremem.
Serei tua presa... oferenda vulnerável e nua.
Escorrendo coxas, esfregando pernas e mordendo dentes.

Seios, carnes, gozo, gemidos.... Serei tua aos pedaços.
Lentamente desvendada.... Nó a nó. Laço a laço.
Serei das tuas palavras, do teu pecado, da tua gula.
Essa noite eu serei tua. Essa noite eu serei tua.

DOS DIREITOS DE SER TUA

Reservo-me o direito de ser a pedra bruta
onde tu esculpes com teus dedos ávidos
o inevitável gozo.
Reservo-me o direito de esculpir meu corpo
no teu ir e vir frenético e pulsante
e deslizar minha pele na tua
até que a forma completa se conclua.
Reservo-me o direito de ser o rascunho rústico
onde tu experimentas o teu erotismo
e penetras intensamente os orifícios
sem argumentos ou artifícios.
Reservo-me o direito de ser tua!
Somente tua!
Tira-me os excessos. Mata-me as imperfeições.
E saboreia tua obra.
A minha pele te espera.... inteira e nua!
...
Vem

TUDO EM MIM

Despi-me. Estou nua.
Minhas mãos atrevidas invadindo os caminhos. As coxas abertas em entrega voluntária. Os dedos todos em mim. Penetram deliciosamente percorrendo os úmidos que me escorrem por tua causa. (Por tua causa) Respiro ofegante... Tudo em mim palpita. (Tudo) A boca seca implorando pelos teus dentes. Os lábios ensopados implorando pela tua língua. Os dedos lambuzados que eu levo à boca, tentando matar a minha sede de ti. Mas o gosto doce que sinto é o meu. (E é bom) Provo novamente. E denovo. Minhas fendas ensopadas sendo devassadas pelos dedos gulosos. Gemidos escapam trêmulos das entranhas do meu corpo. Tudo em mim se rende. E na cabeça só uma pergunta: Por que não é você? Por que não é você?

ARDENTE

O que eu preciso diariamente
Abrir-me aos teus dentes
Sentir-te entrando e queimando-me
num trago longo e quente.
Derramar-te meu gozo
dar-te minha pele nua e latente.
Sentir-te beber lentamente
meu peito, meu leite, minha mente.
Até não haver mais poro
ou buraco em mim que te ausente.
Sorver-te deliciosamente.
Até o fim, impiedosamente.

O que eu preciso diariamente
é de uma dose bem farta
da tua água-ardente

GUARDA-ME

A tua carne é uma gaveta
onde eu deposito os meus fluidos
onde eu guardo os meus segredos
onde eu arremesso os meus desejos.
A tua pele é um baú
onde eu armazeno os meus sonhos
onde eu abafo os meus éteres latejantes
onde eu decanto o meu gozar inebriante
O teu corpo é um recipiente
onde eu derramo minha essência mais pura
onde eu lambuzo e perfumo o meu sexo
e a minha língua prova a intumescida cura.

Noutras palavras....

RITUAL

Desejar-te é meu ritual diário.
Uma devoção insana
que me escorre pelo corpo
que me queima feito brasa.
Podes me queimar com tuas línguas!
Por ti eu queimo todos os meus fogos!
É porque eu te amo que eu sou tua!
E por ser tua, de mim mesma esqueço.
Querer-te é um altar onde me ofereço.
Aos teus pés me arreganho e sacrifico.
Desejar-te é meu ritual diário.
Por isso eu te quero. Por isso eu fico!

DEPUDORADA

Mostro-me! Revelo-me! Não tenho mais pudor!
Veja-me por inteiro. Receba o que te dou.
Esteja aqui. Invada meus sentidos, minha pele.
Pra ti eu dou meu gozo, minhas noites, meu amor.

EM TUDO

No meu corpo
nos meus olhos
nos meus dentros
nos meus centros...
Em tudo há você.
Nos meus cantos
nos meus profundos
nos meus olhos
nos meus mundos...
Em tudo há você.
No meu desejo
na minha umidade
no meu gozo
nas minhas metades...
Em tudo há você.
No chão em que me deito
no ar que eu respiro
no sonho em que te encontro
na nudez que eu transpiro...
Em tudo o que eu faço.
Em tudo o que eu vejo.
Em tudo o que eu fantasio.
Em tudo o que eu minto e sinto.
Em tudo há você.
Nos meus olhos fechados
Na minha alma despida
Em todas as músicas
Em tudo há tua vida.

Em tudo há você.

DIAS

Dia quente e eu te sinto em mim
Tua língua passeia voraz e furiosa
Degustando lábios e pingando uvas
Intumescendo grelos em tremor de vulvas
Despudorado e intenso meu amor escorre
Em tua boca aflita um gosto doce morre
Dia quente e eu te sinto em mim
Quisera o dia não tivesse fim.

VOCÊ VEIO

Foi num sonho... Você veio.
Invadiu-me sorrateiro
Pôs um beijo no meu corpo
Bico a bico, seio a seio
Você veio.
Delicado e faminto
foi sorvendo meu instinto
Dominando meu desejo
Arrepiando meus pelos
Você veio.
Intumescendo meu grelo
Sequestrando meus fluídos
Aprisionando meus anseios
Nas tuas unhas, nos teus dedos
Mordendo minha pele
Intoxicando meu cheiro
Batendo em minha bunda
Puxando os meus cabelos
Foi num sonho... Você veio.
Apaixonado e furioso
Penetrando sexo e orifícios
Devorando vulva e lábios
Possuindo meus anseios
Foi num sonho... Você veio.
Lobo em pele de cordeiro
E eu fui sua... por inteiro.

TEU

Meu corpo é o depositário do teu amor
O invólucro do teu desejo, do teu querer
O abismo onde o teu gozo explode
em jatos fortes e quentes.
Meu corpo é o guardião da tua insanidade
A cura de todos os teus males
Meu corpo é um mergulho profundo
em águas densas e mornas
Meu corpo é um deslizar macio
onde se esconde tua fuga, teu mundo.
Meu corpo é a tua cama,
teu aconchego, teu tudo.
Brasa queimando em ardor.
Lava latejante de vulcão.
Meu corpo é o recipiente dos teus pecados
Meu corpo é teu. Por todos os lados.

DEMORE-SE

Coma-me.... e pronto!

Demore-se nisso.
Teu corpo é onde eu existo
é onde eu me encontro.
Demore-se em mim, amor.
Que eu preciso esquecer a dor
reaprender o desejo, o calor.
Devolva-me a minha fome
a minha alma, o meu ardor.
Agora que você me tem
Deguste-me até o fim
Até que não reste nada
Pra mais ninguém.
Pra mais ninguém.

INSTANTES

Eu tenho mil instantes para te dar
Mil beijos, mil unhas, mil peles...
Mil desejos, mil pedidos, mil gozares.

Eu tenho mil instantes para te amar
Mil fomes, mil línguas, mil entradas...
Mil perfumes, mil pecados, mil mordidas.

Mil infinitos. Mil eternidades.
Mil vontades. Mil caminhos.

Tu tens mil instantes para mudar a minha vida!

ADVERTÊNCIA

O meu corpo é guloseima
para a tua boca faminta e exigente.
O meu corpo é iguaria
para saborear com fúria e lentamente.
Lambendo dedos, poros, dentes...
Mordendo lábios, grelos, peles...
Meu corpo é intoxicante
de efeito imediato e inebriante.
Rasga o teu desejo numa fome urgente.
Meu corpo é vício.
Toma-o.
Não aprecie moderadamente.

SOB TEU DOMÍNIO

Sob o teu domínio eu me rendo
Sou presa em cativeiro
à mercê da tua luxúria.
Sob o teu domínio eu me prendo
entregue às tuas unhas, à tua fúria
misturada à tua carne, ao teu cheiro,
aos teus gozos, línguas e dedos...
Submissa dos teus quereres
vou cumprindo os meus deveres
de amar-te assim corajosa e constante
Tua fera, teu anjo, teu pecado, tua amante
Delicada e nua, ponho tudo ao teu alcance.
Sob o teu domínio, coisas que nunca tive...
Sob as tuas presas, sinto-me livre!

VIRA-ME

Vira a noite, vira os olhos...
Tu me invades e revira tudo.
Vira-me o corpo, enfia-me a língua
penetra-me fúria, áspero e veludo.
Vira-me inteira pra ti
caminhos abertos, lubrificados...
Transformo todo o desejo em pecado.
Derramo-me nova, doce e sal
Como uma fruta desconhecida, carnuda
Virada em mistério, carne desnuda.
Oferecida assim à tua boca, ao teu mundo...
Viro-me em êxtase profundo.
Reviro-me em gozos e gritos
Minha alma é minha pele.
Lisa e nua, sou pra sempre tua...
Fêmea úmida de natureza crua.
Em ti, serei pra sempre fome e fartura.
Vira o ano, vira a vida...
Tu me reviras sempre!
Só o meu amor não muda.
Só o meu amor não muda.

VAN LUCHIARI – poeta, cantora e compositora paulista Van Luchiari, tem uma série de trabalhos poéticos e musicais publicado na rede. Destaque-se o blog Love Secret Love, a sua página no MySpace e a sua comunidade Van Filosofia.

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