Imagem: sem título da artista plástica Ana Davidovic.
A SENSUALIDADE POÉTICA DE BRANCA TIROLLO
ÊXTASE SEXUAL
Esfera! Meu tablado amante e companheiro.
Viajo! A lua vaza entre frestas sorridente.
Traz-me tua boca nua, cruel e distante,
e próxima de uma sagacidade. Pura sugação
de o meu pensar, á ardejar nesta espera.
Além da imaginação textual, há excitação
com tifemia e tronejo, á ulcerar-me o peito,
enquanto procuro teus lábios que bamboleiam.
Vejo teus olhos triscados á sitiar-me,
lubrificando minha tricofagia como se fossem teus!
Os negros pelos que minha boca faz folia.
Alucina a temática! Teleguiada persiste.
Quase sem fé! Ajoelho-me ao tembé.
Á tunantear está! Teu corpo ao meu.
Adergando entres fios eletrizados.
Neste invento do alcochear dos dedos.
Cai um temporal no meu pensar insano.
Estou escalando montanhas em chamas.
Presa ao seu sexo, deleito o clamor dos lábios,
adormecendo no gozo da última cena.
DESEJOS PROIBIDOS
Beije-me! Toda uma eternidade, como amante.
Nesta doce magia que comporta
Nossos míseros instantes!
Beija-me como um tufão em fúria
Que atira sobre o chão, raios em cruzes.
Beija-me! Como o reflexo complexo
Destas negras e desiludidas luzes
Beija-me! Como onda inquieta
Que ronda o céu e serena beija areia
Como o cair da noite, no raiar do dia
Como sol ardente e lua fria
Apenas beija-me! Beija-me!
Neste mísero instante de magia.
FERA RACIONAL
Eis que febril queima o corpo meu,
num instante dócil, quando me toca o seu.
Estes teus braços, em laços, em plumas...
Teus encantos, espantos, espumam.
Teus olhos domados, em risos, em versos,
Teus pecados meigos, de afagos, de beijos.
Eis que a ti revelo meus sonhos, em gritos.
Num súbito instante, de amores, de dores.
Por teus insultos, deboches, rumores,
nestes negros olhos, de glória, delírios.
De pegadas duras, desvairadas loucuras,
deste pranto falso, de tortura, castigo.
Eis que tu tão farto, tão nítido, tão puro.
No tapete enrola, teu corpo, tua face,
nestas melodias, sussurros, desgastes.
Destas noites loucas, de pasmo contraste.
Tuas fantasias de sonhos malucos,
tua frente fria, de tristes desastres.
Eis que a mim volta, sereno, calado.
Num olhar carente, de
intrigas e abraços:
Destas peles rubras, de apertos, marcadas,
deste alivia fértil, que exala, espalha,
no meu corpo sadio, esgotado, espectro.
Eis que te descansa nu, sereno, e domado.
GATO DE MINAS
Gracioso és tu! Há fantasias eróticas
Transbordando em seu olhar
É pálida a sensação desgastante
Em teu corpo figurante
Teu corpo arde com sede
Teu desejo chama em chamas
O corpo da sua amante!
Não quero que seja meu deus
Nem meu demônio nem ateu.
Nem meu sonho nem meu eu.
Seja apenas, meu.
QUE AMOR É ESTE?
Que amor é este que se deseja antes de tomá-lo nos braços
E se envolve entre abraços ao partir?
Que amor é este que não deixa escolha profere e revoga,
açoitando o destino faz chorar e sorrir?
Que amor é este que com todos os defeitos se faz perfeito na dor,
extravasando no olhar leva além da vida, o perdão?
Que amor é este que dorme para esperar a morte
E não desfalece o seu esplendor?
Que amor é este, cuja essência não foge ao vento,
E faz tempestade no silêncio da noite?
Que amor é este que acalenta faz dormir e sonhar,
Invadindo o corpo, a alma e o pensar?
Que amor é este que ronda o infinito inquietando céus
E no coração vem sereno repousar?
Quero!
Entre suas ondas, de onda em onda mergulhar
Meu corpo, minha alma, meu grito
Minha calma, meu sonhar
Meus ventos, meus inventos
Em meu pensamento lento
Poder acompanhar
Tuas ondas, Mar.
Uma parte minha é anjo
Outra parte fera negra
m lado bate asa e voa
O outro a asa conduz
O veneno que do anjo
Necessariamente reluz
MOMENTOS ERÓTICOS
Momentos eróticos Quando minhas mãos tocam O transparente vinho branco Num desvio qualquer. Estranho minha face Debruçada em meu ser mulher. Os sonhos opacos e esquecidos Refletem no álcool envelhecido Estampando minha nítida nudez.
BRANCA TIROLLO – a atriz, roteirista e escritora paulista Branca Tirollo, é membro da Academia de Letras do Brasil e autora de várias peças teatrais, de diversos projetos engajados, artísticos e sociais, do documentário Mil vidas em meu pensar, de inúmeros livros de contos e poesias, além de ter participado de várias antologias.
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