segunda-feira, setembro 01, 2008
LILIAN MAIAL
Imagem: Nude Woman Reclining, 1887, do pintor do pós-Impressionismo holandês Vincent van Gogh (1853-1890)
A POESIA SABOROSA DE LILIAN MAIAL
BANQUETE
Postei-me à mesa de tua casa,
como banquete em oferenda
ao teu amor incondicional.
Deitei-me preparada
do molho dos teus temperos,
inebriando o ambiente
com os aromas de tua fome.
Dei-te a provar o antepasto de meus olhos,
onde o desejo de adentar tua boca faminta
suplanta a ansiedade
da espera do prato principal.
Servi-te o mais puro vinho de minha adega,
para deleite de teus lábios e papilas,
que poderão sorver,
gota a gota,
a tentação desse cálice bento.
Minha boca, oferecida em beijos
de requintada sopa de saliva
e frutos do mar (de amor),
entreabre-se ante a visão
da tua voracidade em degluti-la.
Meu corpo nu, prato único,
iguaria sem igual,
jaz impregnado do cheiro
dos ingredientes exclusivos
dessa mistura embriagante e secreta,
aguardando, quente e tenro,
a consumação desregrada,
sem noções de etiqueta.
Os dedos, mergulhados nos caldos e molhos,
fogem das lavandas
e são lavados diretamente na boca.
A ornamentação dos frutos maduros,
de textura suave, estimulando o paladar,
trazem lembranças de pêssegos e peras,
maçãs, ameixas, cerejas, jabuticabas,
numa salada-de-frutas carnudas do prazer.
Teu apetite animal quer desvendar os mistérios
dessa cozinha médio-oriental,
e saboreia cada elemento,
tentando adivinhar suas origens,
de olhos fechados.
Após saciar-te a volúpia,
embriagar-te com minhas beberagens,
nutrir-te com minhas seivas,
apresento-te a sobremesa,
na bandeja dse argila do meu dorso,
donde provarás do fruto mais raro,
dos recantos mais exóticos,
deliciando-se como os bárbaros.
E nesse banquete sensual,
musicado por sussurros arautos,
gemidos menestréis,
gritos sopranos,
urros tenores,
suspiros angelicais
e obscenidades profanas,
finalizamos com teu licor,
de efeitos satânicos,
de poderes libidinosos,
para então brindarmos,
exaustos,
ao nosso amor.
DIABA
Rabo pontudo,
chifre carnudo,
sou toda inferno!
Que venham os céus,
que torre a terra!
Cravam-me os desejos
na carne sem pejo,
nas coxas,
no beijo.
Sou toda perdição:
o mal, a absolvição,
pecado e redenção,
hóstia maldita,
vinho contaminado,
paixão.
Teia feliz,
sou aranha,
serpente,
escorpião,
rabisco teu corpo
com a mesma devassidão.
Quero mais,
bem mais,
quero tudo!
Tomo as rédeas da tua vontade,
sou má,
sou cruel,
sou nociva,
mas sou indispensável
na tua cama
e na tua pele em chamas...
O BANHO
Esquece que é você,
Nem lembre o que é você...
Rompa a distância dos milímetros,
Envolva a estátua viva com mãos incandescentes,
Indecentes, impertinentes, reticentes...
Sorva toda a volúpia que seus sentidos possam apurar,
Contorne as curvas esguias e insinuantes,
Ultrapasse as barreiras do banho quente,
Me esquente mais, me ferva,
Misture o jato d'água com sua saliva,
Deixe que os pingos de amor escorram lentamente,
Demarque seu espaço, adentre seu terreno
E venha tomar posse do que sempre foi seu.
A pele está quente e vermelha,
Os olhos estão cerrando de desejo,
O sangue lateja e faz pulsar os recônditos do prazer
Já não se é mais eu e você...
Os corpos aderidos, pela goma indissolúvel
Se deslizam em relevos e reentrâncias,
Se completam, se encaixam,
Buscam-se em frenesi,
Se bastam por si,
E a água, que tudo lava e tudo leva,
Vem lamber os tecidos ingurgitados,
Onde não se sabe mais o que é rosto,
O que é ventre, o que é perna,
O que dorso, o seu colosso,
O meu pescoço, é tudo nosso,
Já não tarda a explosão do vulcão
Que derrama sua lava,
Majestosa e insolente,
Que seca e petrifica
Com a água do chuveiro.
E nada pode separá-los nesse momento...
UMBIGO
negro e profundo abismo de amor
despenca a boca no penhasco
que te abraça
atira tua língua
ato suicida
impensado
instintivo
salva-te
de mim
agarra-te
em mim
escorrega
atraído
ímã oco
buraco tolo
parada obrigatória
dívida
moratória
pedágio do prazer
segue adiante
passe livre
preso a mim
SUBLIMAÇÃO
Sobre o leito de pétalas,
os cacos de vidro ferem e encantam,
enquanto os lábios de mel lambem o sangue,
a seiva, o suor.
Dominação e danação,
completa simbiose,
o senhor é o escravo,
a dona é a dona.
Lacerada a pele,
o toque, o beijo,
a cura,
a entrega,
o amor.
Marcas do louco querer,
cicatrizes de paixão,
vida do sexo e do medo,
incerteza do gozo e da dor,
cumplicidade torta,
de um pulsar em silêncio.
HOJE EU QUERO TE AMAR ASSIM (1° dia)
Violenta
Arranhar tua pele
Sedenta
Beber teu suor
Lenta
Torturar sem chegar
Pimenta
Fazer arder as mucosas
Menta
Refrescar tua boca
Nojenta
Cuspir nas tuas partes
Sonolenta
Cair de exaustão
Tenta
Sair da minha chave
Venta
O bafo quente no cangote
...e morde!
LILIAN MAIAL – a mulher, médica e escritora carioca, Lilian Maial, foi premiada em vários concursos, participou de diversas antologias, integrante da REBRA e autora do livro "Enfim, renasci!". Em 2001, participou da Antologia Cantinho do Poeta. Em 2002, participou do lançamento da Antologia Poetrix, movimento internacional ao qual pertence, com 15 poetrix seus publicados nessa coletânea de 44 autores de diversos países.
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