terça-feira, setembro 02, 2008

DELÍCIAS DA PAIXÃO



Imagem: Giove (Satiro) e Antiope, c.1630, do pintor do Barroco flamengo, Sir Anthony van Dyck (1599-1641)

SUFOCO

Luiz Alberto Machado

A alcova dela é o meu regaço, um universo mágico, imprevisível. Onde tudo é estonteantemente aconchegante.

Na ciranda do tempo ela vai e vem, cabelo ao vento, faíscas nos olhos. Ela se parece mais uma filha de rei inatingível, daquelas princesas do outro mundo. Mas não, eis que como uma ave alada capturada pelo fogo da minha volúpia, a namorada do tempo levita e vai pousando como uma ninfa liquefeita com sua face de lua e seus olhos de estrelas iluminadas ofuscando minha alma.

Aterrissa firme até que aos puxavanques, na marra, trago-a arremessada pro meus beijos, tronco colado um no outro, pra minha chibata – a sua vergasta.

Aí, ela com seu riso de heroína chegando, rangendo os dentes com seu dorso de égua mordendo a vida e o meu desejo com seus beijos tumultuosos e que me pertence inteira entre as minhas mãos alheias e eu nascendo na sua boca voluptuosa, valendo-me do seu soluço, da sua inquietação, de sua terra morena em êxtase na nossa dança de todos os ritmos.

Eu o dono da situação, minhas mãos buliçosas arrancando seus grilhões e minha língua ambulante mambembe saboreando todos os seus bagos, gomos, sua seiva, seus peitos maduros, seu ventre em brasa com sua flor deliciosa com olor enfeitiçante, sua rosa cobiçada ardendo nas suas entranhas mornas e siderais onde cavouco todo canteiro de jasmins, avencas, lírios e gerânios muitos, até ficar molhada de gozo para em estado de choque, estado de graça, me agasalhar incansável, persistente, devorando o seu império agoniado, festejando estocadas aos 45 minutos do segundo tempo, com marcação cerrada na cara do gol, pressão total, até que poemas intermináveis e o ribombar de sinos ensurdecedores venham celebrar nossa entrega abissal.

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