sexta-feira, setembro 05, 2008
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: The Fall, 1467-68, do pintor flamengo da Renascença Norte Européia, Hugo van der Goes (ca.1440-1482)
AS GARRAS DA FELINA
Luiz Alberto Machado
Sigo à procura do teu cheiro felina de todos os aromas, sabores e versos.
E quero a tua íris dilatada de brilho no olhar de breu na noite de caça.
Sei que vens amestrada quando quer nas savanas do meu desejo, inupta e nua, pronta para cravar tuas garras retráveis na pele da minha febre ambiciosa.
Sei que vens com o teu incenso que povoa meus sentidos.
E vens de longe e já estás tão perto espreitando minhas vulnerabilidades de amante.
Se não te vejo, logo percebo o teu perfume no ronronar vigoroso.
Vens tão arredia e adulta e arisca no bulício macio do teu passo silencioso, do teu flexível expressar na índole carniceira que já sei prontinha para estraçalhar o meu poema esganiçado.
Acuada no átimo, vens com aguda audição e olfato aguçado: um jeito Márcia Tiburi no parque exclusivo da minha alucinação.
Indefeso, eu adivinho tua presença como quem flagra o iminente em riste e almejo o teu sexo como a salvação dos mortais.
Não há como adiar e reajo, persigo teus passos suspensos no ar com meu faro.
E adivinho a tua toca: o reduto da tigresa, onde alcanço toda amplitude da imensidão.
Encorajado pela silhueta de teu dorso, circundo teu corpo, arranco as vestes, desnudo com afinco como se conquistasse o meu Brasil ideal: assimétrico e sedutor.
E com o achado certeiro vou revolvendo tua intimidade completa de folhas e chilreios submersos, sinuosidades, saliências e reentrâncias: a nudez deificada.
Acossada por mim vai rendendo o dorso para a minha travessia caleidoscópica no belo sexo, onde a maiêutica e a vida nascem e renascem nos encontros, desencontros e reencontros: o gozo repetido de satisfação.
Sou teu.
És minha.
E teu desabrochar é a concha dos segredos que te fazem espectro acessível acolhido na minha loucura dionisíaca.
E embriagados como imigrantes do chão estalamos nossos beijos com marca de tormento e graça e nos dizemos estranhos do mesmo anátema que se dissipa em nossas descobertas abrasadas: o amor, a paixão e o sexo.
A fera e a presa: a corrente do rio na certeza de mar.
Quando a febre apazigua no gozo, me deito em seu corpo – meu ideal travesseiro – para nele saber de mim, de ti e de tudo.
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