sexta-feira, novembro 30, 2007



Imagem: Nuda Veritas, 1899 [Oil on canvas] (Austrian National Library, Vienna), do pintor simbolista/Art Nouveau austríaco Gustav Klimt (1862-1918).

ALCOVA

I

ABECEDÁRIO PASSIONAL ERÓTICO

Luiz Alberto Machado

Aceno da anfitriã nua.
A partir de agora eu quero amar a sua presença que irrompe no adro da paixão, acessando o trono de sua realeza para viver à larga desse encontro que encanta desde longe como um fogo cruzado entre Romeu e Julieta em vias de fato, quebrando protocolo para que eu saiba o bê-a-bá do amor, reconhecendo todo terreno ao alcance do seu olhar furtivo na estréia do beijo.

Beijo: é bom demais.
Benfazeja sintonia da boca naufragada nos lábios vulneráveis da mulher amada com o seu sorriso arremessado na posição de ataque alvejando a noite e pretejando o dia com toda elegância feminina de beldade egípcia onde a carne da fábula na ponta da língua desliza o cais que quero aportar com o mais profundo teor da carícia.

Carícia na pele acetinada.
Cada qual cuide de nós enquanto eu pelejando toda opulência benfazeja e embalado erradio no encalço dos seus encantos e na perseguição gostosa de sua maciez salva-vida no desfile com cento e tantas variações de sedução na lingerie de toda graça hipnótica na mira lasciva do meu olho, quando ouso tocá-la com um cheiro alisando seu pescoço e abraço e aperto tudo que for do seu desejo.

Desejo no degrau da tentação.
Deu-se presente capaz da surpresa partilhando o toque, o arrepio, o contato, dois enamorados encenando suas danças e decolamos pelando de quente na ponta dos pés caixinha de música dionisíaca de saliva e gozo abundantes, até madrugar no corpo da gente e o dia faça coroar o encontro.

Encontro: carne na carne.
Ergue radiante com o prazer em chamas e estarei atento, comandando o fôlego e o fio da meada, afinal de contas parece que veio por encomenda, feito carne da minha carne, bailando ao som de Gismonti devolvendo-me o mundo com vertigem e furor.

Furor na revanche do nosso inferno delicioso.
Fisgo e sei que na verdade sou fisgado e fecundo travesso na terra fogosa primordial, sem cuidados, forno alto mexendo sempre a ondulação dos quadris para que eu possa fincar pé na entrada com o beijo de todas as peripécias dos amantes inundando tudo, alagados pelo doce afogar-se e eu me debatendo com suas garras.

Gozo: a véspera da eternidade.
Garras que divertem a sanha e engana galope e fica provado porque sabe onde têm as ventas, contorcionista com saltos mortais sobre meu ventre no fulgor da oferenda, a trepada e a proa declamada onde todas as frestas e reentrâncias me chamam em rosa para que eu seja sempre seu mais ardoroso hóspede.

Hóspede da delícia.
Hoje eu quero ser maior que o meu próprio desejo para sorrir impiedoso enquanto sobejo um delicioso bocado de comida enfiado em suas pernas no topo das paradas para ser ocupante autônomo pelo laço de sua sedução que me agasalha na enorme profundidade do seu íntimo.

Interior da catarse.
Íntimo que me faz familiar com o sândalo envolvente de sua carne com toda a intensidade de magia, toda imponência aconchegante da pele translúcida sedutoramente esguia na pose sonâmbula esfregando minha pele entre os dedos na supremacia das paixões juradas.

Jazo no delírio do mergulho.
Já me vejo indomável ambulante abusando dos limites de sua integridade, com toda gulodice dos deserdados, todo fôlego dos nômades, toda euforia dos aguerridos pronto para confundir noitedia de nosso rebuliço de luz.

Louca itinerância do prazer.
Luzidia emoção surpreendente e eu regando seu monte de vênus na matriz do querer, onde toda instância procede do amor fecundo rente a todas as brechas para travessuras, acessível para todas as traquinices impetuosas no seu saracoteio e que o resultado seja o espraiar da maravilha.

Mata desvirginada: botijas à flor da terra.
Maravilhado com o cheiro de buquê de rosas do seu ventre e batendo a macega púbica, a sua mata atlântica devastada e eu sorvendo os seus lençóis freáticos, revirando tudo, sangue fervendo na veia e acedendo a labareda da loucura que esborra estrepitosa para o meu lauto repasto que se agonia de vê-la se rendendo ao nirvana.

Nas nuvens etéreas da orgia.
Nunca mais um nome, nunca mais qualquer lei, só a entrega transgressora que se faz quentura no acasalamento viciado de amor e somos medonhos gemidos no nosso prazer onírico.

Onirismos das veias pulsantes.
Onde oscila os ventos de nossa obscenidade e vou na ventania do desejo língua de fora rangendo os dentes arrebentando com tudo para que me sirva integral mesa posta servida para alcançar a garupa da potranca.

Pódice: o alvo.
Possibilidade mágica com que eu chego rugindo qual leão com uma carícia na garupa gostosa alternando ritmos frenéticos, onde o meu lança-chamas com tamanha intensidade revida a nababesca magnitude carnuda da parelha que me completa com o seu punhado de doação, empinando a bunda para que eu libertino total possa repartir do poder aquinhoado de sua graciosidade e a se crer no que ela faz de mim com luxúria e paixão por seu atrevido torso pro meu quadrívio.

Quando tudo vai além da entrega.
Quando tudo é de seu céu e inferno na delícia de ser e não-ser por qualquer primazia que prevaleça quando tudo é nada e noite é dia e eu sou britadeira que implode suas estruturas e nos resta renascer.

Rastejando no assoalho nu.
Renascer de tudo no meio das rajadas medonhas a deparar um ao outro a refeição sanguinária de toda carnificina com toda ferocidade a estender um ao outro no tapete, quando rasteja ofegante para me render na surpresa da servidão.

Seminem in ore.
Servidão da boca com gosto de prazer, servindo-se com os refletores do seu sorriso quente no impulso de abrir fogo palpitante, afável e acolhedora na insaciável felação, felatriz total.

Transcendência antropofágica.
Totalmente entregues embaixo de nossa árvore, tal Melancia e Coco Mole e eu tomando de assalto, perfeita camaleônica mimética com toda graça dos mamilos rosados de Luciana Ávila no noticiário se desnudando a exalar das pernas flexíveis o perfume impregnado de sexo quando os braços pendem, relaxa as pernas num orgasmo duplo e somos toda a nossa unicidade.

Untando o desejo visceral.
Única e altaneira perfeição com o brilho de todos os diamantes no olhar e um sorriso em minhas mãos e seus seios ao carinho do meu afago e me chupa o dedo ereto a me conter por dentro dos braços, nossas luzes acesas e toda oportunidade vida.

Vicejando além dos limites.
Vida que vou circundando sua resistência na voz quente que sussurra abstrata na brisa, gritando meu nome, sonhos, poderes e tesão, esfregando minha ereção e seus dedos escapam pelas bordas do meu sexo em chamas sob risadas indecentes que se mexem pro meu xodó.

Ximão fisgado no jeito dela.
Xodó que me deixa a boca ofegante de náufrago esguichando o gêiser da minha agonia, que me faz enveredar na sua gruta com meus dentes a buscar sua herança secreta que mal dobra a esquina e que amanhece e é bom demais possuí-la, anfitriã gentil do zênite.

Zênite: graças à vida, o amor.
Zelozo vou febril cultivador zanzando suas entranhas, suplantando suas ofertas, transcendendo a barreira do auge na apoteose de todo ocaso até zurzir onde houver paradeiro para o nosso amor. E a cortina desce na alcova, tudo recomeça já e sempre. U-lá-lá! U-hu!

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

Veja mais Crônica de amor por ela. E se divirta com as previsões do Doro para 2008 de todos os signos.