segunda-feira, novembro 05, 2007
Imagem: Love in the Golden Age, ca.1540-96, do pintor renascentista dos Paises Baixos, Paolo Fiammingo (Pauwels Franck – 1540/1596).
“(...) Às vezes saía, pelas tardes, com um longo cortejo de luzes de todas as cores, atravessando pelo ar, serenamente (...) Da sua cabeleira, as estrelas iam caindo todas, uma a uma, apagando-se e virando pedras. A mulher que visse desprender-se uma dessas luzes e fizesse um pedido antes dela apagar-se, seria servida pela Mãe do Ouro. Mas ficar-lhe-ia pertencendo para sempre; todas as noites, enquanto dormisse, o seu corpo sairia todinho da pele, sem ninguém perceber, sem a própria pessoa no dia seguinte lembrar-se, e ia aparecer no palácio da Mãe do Ouro. Ali se realizavam festas maravilhosas, as mulheres mais lindas, casadas e donzelas, compareciam envoltas em roupagens riquíssimas e transparentes, vendo-se umas às outras, mas sem se poderem falar, sem se poderem tocar, com os cabelos transformados em algas luminosas, com as pernas justapondo-se, confundindo-se, alongando-se, em forma de caudas de peixe. Iam ser amadas pelos gênios encantados no rio (...) Entrelaçavam-se demoradamente, cada um a cada uma, e as horas marcavam delicias orgíacas, valsas infinitas cantaroladas pelos seixos, pelas arestas luminosas, ao coro dos rochedos de uma a outra margem, num ritmo dolente e suave. (..) E pelos recantos, os pares se dissimulavam, zumbia a colméia de beijos, soluçavam as caricias nupciais, ardentes, de intermináveis desejos”. (Veiga Miranda, Mãe do Ouro. In: Mau Olhado. Rio de Janeiro: Leite Ribeiro & Murillo, 1919).
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