terça-feira, novembro 06, 2007
Imagem: The Fisherman and the Siren, ca.1856-58, do pintor e escultor do romantismo victoriano ingles, Lord Frederic Leighton (1830-1896).
A LOBA
Luiz Alberto Machado
Numa manhã nublada ela chegara furtiva e graciosamente cadenciada no seu andar elegante, vestida com seu blusão negro sobre o decote pronunciado numa blusinha de alça a mostrar-lhe os seios proeminentes, o umbigo divisado pela calça jeans ligada aos contornos dos seus quadris, coxas e pernas realçadas pela bota preta de salto alto, tudo impactando com o penteado ruivo de loba-vermelha nos seus olhos de mar dos muitos naufrágios, lábios salientes na boca arrebitada e sedutora do seu rosto lindo e apaixonante.
Meu coração barulhava mais que a Harley Davidson acelerada na Avenida Paulista e tudo me metia num redemoinho que me arrastava por sutiãs, calcinhas, lingeries e aromas da mais pura feminilidade.
Sempre gostei dessa sensação de ver-me invadido e dominado pela sanha da fêmea a me deixar absorto pelos confins do prazer.
Não fora menor a sensação de ver-me rente ao seu jeito de loba fatal, pousando na mesa no restaurante do hotel, ao meu lado, a ponto de me soltar numa viagem sideral com o perfume delicioso de fera insana.
Lado a lado, confrontamos os rostos com um beijo de recepção quando ela olhou-me firme e segura do que queria ao lamber os lábios como quem denunciava o meu esquartejamento.
A minha potência canibal mais se aguçava com o alarme de que eu seria devorado naquela manhã.
Não poderia haver melhor sensação porque ela não escondia a sua ferocidade esguia no jeito nômade de quem estava pronta para me estraçalhar com a vitalidade faminta de suas garras prontas para o bote.
Eu tremia radiante fisgado por seu olhar esfaimado de quem se valia das tentações que povoam as florestas de todos os hemisférios noturnos. E mais saboreava a expectativa de ver-me embrenhado pelos labirintos de sua carne fugitiva.
Desgrudamos instantaneamente o olhar enquanto ela se servia de uma xícara de café, pousando uma das mãos sobre minha coxa, alisando devagar. O seu alisado formigava-me todo. Restituía a vontade de aprisioná-la entre meus braços perseguindo a viagem dos corpos à plenitude do gozo.
Logo seu contato tátil alcançou meu membro que não resistia rijo naquela provocação inflamável. E mais incendiava meu corpo alisando carinhosamente todo o contorno da minha glande agoniada.
Seus dedos pareciam magnetizar tudo em mim.
Servimo-nos do rápido café da manhã e ela obrigou-me a levantar seguindo para o meu apartamento.
Sabedora do estado em que eu me encontrava, tudo fez para que eu não fosse visto daquele jeito, postando-se sempre à minha frente, escondendo-me por trás do seu corpo.
Aguardamos o elevador e quando este chegou, seguimos para o meu apartamento. Nono andar. E enquanto subíamos, ela se acocorava arreando o zíper da minha veste e alcançando meu caralho duro doido de tesão. Ela começou lambendo-o e depois chupando em longas abocanhadas de suas mandíbulas fortes. Delícia a felação ali enquanto o elevador passava de andar em andar até o nono. Verdadeira viagem.
Quando chegamos, a porta abriu e ela foi olhar se havia alguém. Ninguém.
- Onde é? -, perguntou-me.
- Ali -, respondi.
E seguimos com uma das mãos dela agarrada no meu pau.
Abri a porta e atravessamos para o interior do negrume insinuante do apartamento, onde, à meia luz, tudo era de uma magia inenarrável.
Nem bem fechei o trinco, ela retornou à felação de antes. Era providente demais o prazer dela roubando minhas forças e fortificando minha pica com sua língua sedosa, sua boca faminta e de mágicas artimanhas.
Ao me deixar a ponto de bala, pronto para explodir de gozo, ela afastou-se, recuando para arrear a calça até os joelhos e se pôr de bruços na cama com a bundinha mais linda do universo exposta para minha ceia total.
- Vem! -, disse-me com sua voz agateada.
E fui sem dó nem piedade. Entrei de sola e a cada estocada explodia seus uivos lancinantes como uma sirene rasgando o silêncio e a loucura de nossa aventura sexual. Aventura que prosseguia com o deslizar do meu pênis no interior da caverna úmida que se escancarava cada vez mais para desafiar seu esconderijo e mais usurpar os limites da invasão. Aventura que me fazia poderoso acima das deidades de todos os panteões, dono absoluto de todas as vontades de usurpar e perseguir enlouquecidamente toda a sua íntima compleição. Aventura que explodia o meu gozo até esborrar demasiado alagando toda a boceta gostosa da loba. Ela gritava, gemia, pedia mais e gozava nervosamente. A respiração entrecortada e os gemidos de satisfação tomavam conta de nossos corpos que agora se acumulavam um sobre o outro. Era gostoso demais sentir-lhe a pele morena da obra de arte do seu corpo nu entregue ao meu poderio. Nada melhor que sentir-se arreado sobre as costas daquela a quem me devoraria e fora atraiçoadamente rebentada por mim. Beijei-lhe demoradamente as faces enquanto sentia seu rostinho lindo de olhos fechados curtindo toda minha ejaculação.
De repente ela desvira me jogando de lado, arregaça as vestes, se arruma aprontando para saída imediata, nem me deixando aplacar-lhe a fuga.
Ao sair, lançou-me um sorriso rasgado e um olhar com a expressão: um beijo, Loba.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados do autor. In: Rol da Paixão, inédito.
Veja mais Rol da Paixão.