Imagem: Jogos de
Sedução, foto do fotógrafo português Nuno Casimiro.
ATRAÇÃO E SEDUÇÃO
A atração está dicionarizada como ação de atrair, força que atrai,
inclinação, simpatia, ou como sinônimo de distrações, divertimentos, prazeres.
Significa, no sentido de universal, o mesmo que gravitação. No que concerne ao ser humano, a atração tem
levado os pesquisadores a se dedicarem a inúmeros estudos sobre questionamentos
que vão desde a identificação de que atividade sexual está desvinculada
dareprodução no ser humano, ou se isto ainda é um imperativo biológico que
impulsiona o desejo, bem como se sexo hoje adquiriu outras funções e papéis,
que não apenas a procriação, dentre outras. Nessa perspectiva, existem
determinadas teorias que procuram explicar e identificar um padrão de escolha
de parceiros sexuais nos seres humanos.
Tudo começa com Charles Robert Darwin (1809-1882), evolucionista
que identificou a seleção natural como o processo básico da evolução das
espécies, e que foi um dos primeiros cientistas a questionar a Seleção Sexual. Em
seus estudos, descreveu a Seleção Intrasexual quando indivíduos de mesmo sexo
competem entre si pelo sexo oposto e a Seleção Intersexual , quando há
preferências de um sexo por outro, como a escolha discriminada da fêmea por um
macho mais forte e vistoso.
Várias teorias surgiram tentando definir que características
seriam mais importantes para chamar atenção do outro sexo. Algumas delas
explicam que os indivíduos buscam similaridade de características, ao contrário
do que se pensava, que a busca era por parceiros com características diferentes
e opostas. Considere-se, portanto, que a partir desses estudos, passa-se a
entender que a importância relativa da percepção e avaliação no despertar da
emoção depende da natureza do estímulo, do tipo e estado do organismo, bem como
da quantidade de aprendizagem realizada. Em seguida à percepção e avaliação de
estímulo ambiental, o indivíduo pode sentir atração ou aversão, dependendo de
sua avaliação intuitiva do estímulo. Essa sensação da tendência da ação é o que
se experimenta como emoção. Assim, para Fisher (1995:56): “Este violento
distúrbio emocional que chamamos de paixão ou atração pode começar com uma
pequena molécula chamada feniletilamina, ou FEA. Conhecida como a amina da
excitação, a FEA é uma substancia existente no cérebro que provoca as sensações
de exaltação, alegria e euforia”. Mais amiudamente isso quer dizer que é a
partir do córtex, uma camada cinzenta, de aspecto esponjoso que fica
diretamente abaixo do crânio, que se processa as funções básicas como a visão,
a audição, a fala e as habilidades matemáticas e musicais. Assim, é o córtex
que integra as emoções dos pensamentos, proporcionando que a FEA e outros
neuroquímicos, tais como a norepinefrina e a dopamina, possam atuar.
Dentro das três partes básicas do cérebro conectadas entre si
estão os neurônios, ou células nervosas. A FEA fica na extremidade de algumas
células nervosas e ajuda o impulso do salto de um neurônio para outro. Isso
quer dizer, que para alguns estudiosos a pessoa se apaixona, os neurônios do
sistema límbico, o centro emocional, ficam saturados ou sensibilizados pela FEA
e ou com outros químicos cerebrais. E isso estimula o cérebro. Não é de se
estranhar que as pessoas apaixonadas possam ficar acordadas a noite inteira,
conversando e se acariciando. Também, não é de se estranhar que se tornem tão
distraídas, ausentes, otimistas, gregárias e cheias de vida (Fisher, 1995). Tais
sensações desabrocham bastando ver-se o sorriso da pessoa amada, ouvindo sua
voz, observando seu andar, recordando um momento encantador ou um comentário
inteligente, dentre outras, quando a mais leve percepção do ser amado envia ao
cérebro uma onda gigantesca de excitação, mais conhecida como o turbilhão do
delírio de Eros.
É notório que milhões ou bilhões de pessoas já tenham
experimentado e continuam experimentando até hoje a tempestade engolfante da
paixão, tornando-se uma emoção equalizadora que reduzi poetas, presidentes,
acadêmicos, técnicos, enfim, todo ser humano ao mesmo estado confuso de
expectativa, esperança, agonia e beatitude. Para Sviatopolk-Mirsky (2001), a
atração constitui o primeiro passo de um processo mais longo, que culmina com a
escolha do parceiro, e é segundo a etologia composta pelo conjunto de todos os
comportamentos que favorecem aproximação entre dois indivíduos da mesma
espécie, até o contato físico ou sexual. Nessa condição Sviatopolk-Mirsky
(2001:22), observa que: “(...) segundo a perspectiva evolucionista, os homens
atraem pela exibição de seus recursos, isto é, pelas suas características
morfológicas e comportamentais, que demonstram a sua capacidade de gerar filhos
e cuidar deles e das fêmeas. As mulheres, por sua vez, sinalizam sua
fertilidade através da exibição de suas características sexuais secundárias que
se tornam mais visíveis quando estas atingem a época da procriação”. Isso quer
dizer que na reprodução dos seres humanos, o homem é escolhido por seus
recursos, enquanto a mulher o é por seus atributos de fertilidade, fato que é
comum a todos os animais. Características morfológicas e comportamentais
sinalizam estas qualidades como indicadores da aptidão reprodutora e, portanto,
são privilegiadas nas escolhas, qualidades essas que são apuradas ou
incrementadas e passadas de geração a geração (Sviatopolk-Mirsky, 2001:22). Dessa
maneira pode-se interpretar as características sexuais secundárias do homem e
da mulher como sinais de atração. Estudiosos, assim, elegem que os sinais de
atração podem ser visuais, auditivos, táteis ou olfativos, e que várias regiões
do corpo emitem sinais de atração. Algumas dessas atrações são comuns a ambos
os sexos, embora seu significado seja diferente para homens e mulheres.
Para os etólogos, segundo Sviatopolk-Mirsky (2001), a moda,
enquanto fenômeno cultural, portanto temporal e transitório, serve à função de
atração, na medida em que indica o status do indivíduo, e faz com que seus
sinais sejam mais visíveis. A constatação de que regiões do corpo funcionam
como estímulos atrativos sendo por isso chamadas pelos biólogos de
características sexuais secundárias, levam a apontar dois questionamentos: o
conceito de beleza e o valor dado aos estímulos e sinais variam de acordo com a
cultura. Dessas duas vertentes, encontra-se a resposta de que as
características sexuais secundárias não são cruciais para a reprodução, e ,
portanto, a escolha de um, em detrimento de outro, pode se dar por fatores
culturais. Isto considerando que as mulheres são mais belas por um juizo de
valor feito por machos. E é previsto pela biologia evolutiva, ao supor que, tendo
a mulher um poder de atração maior, a sua escolha poderá ser feita entre vários
machos e, portanto, terá maiores chances de escolher o melhor.
Os atrativos corporais exercem poder de atração entre os seres e
podem ser identificados como pênis grandes, barbas, seios roliços, lábios
vermelhos, contínua receptividade sexual por parte das fêmeas e outras
características atrativas, tanto femininas como masculinas, que são como a rede
da sereia, características de atração sexual que evoluíram durante milênios de
seduções (Fisher, 1995). Nesse sentido, Juberg & Jurberg (1977:76) defendem
que embora existam sinais físicos de atração específicos de cada sexo, existem
alguns sinais que são comuns aos dois sexos, entre os quais, entrepernas,
pernas, ventre e cintura, pele e olhos.
Em referência às entrepernas, essa é uma pequena região com
inúmeras atividades, desde a reprodução e o prazer até a excreção. Nesta região
estão situadas as características sexuais primárias, que são tão fortes e
atrativas e que, na maioria das culturas, encontram-se cobertas; quando a
cobertura é pequena, entretanto, ela faz sobressair o conteúdo, que é um
atrativo para ambos os sexos (Juberg & Jurberg, 1977). As pernas femininas,
por exemplo, exercem atração nos homens, principalmente se forem longas, pois
indicam a maturidade sexual. O salto alto não é imposição da elegância, mas o
sacrifício que as mulheres fazem para alongar as pernas. Nos homens, as pernas
musculosas indicavam a nossos ancestrais a disposição para a caça, atividade
primordial dos nossos antepassados para garantia da subsistência da fêmea e dos
filhotes.
O ventre achatado pertence aos amantes, aos jovens de ambos os
sexos, enquanto o ventre arredondado, às grávidas e aos velhos, na medida em
que a idade favorece depósitos de gordura nessa região. E a cintura mais fina
tem o mesmo poder de atração.
A pele sadia indica indivíduos jovens, aptos à reprodução, daí a
moda preocupar-se tanto com a integridade da pele.
Já os olhos e sobrancelhas emitem sinais de atração. Nos olhos, as
pupilas dilatam-se quando a pessoa está interessada e excitada e, desta
maneira, os olhos que brilham são mais atraentes para ambos os sexos. As
sobrancelhas, por sua vez, emitem sinais do humor e de disposição, podendo
inibir, quando cerradas, ou facilitar, quando levantadas, a aproximação (Juberg
& Jurberg, 1977). Os olhos são responsáveis pelo flerte. E o padrão do
comportamento feminino do flerte surgiu numa experiência de Eibl-Eibesfeldt,
etólogo alemão, em 1960, quando primeiro ela sorri para seu admirador e ergue
as sobrancelhas em um movimento rápido, enquanto abre bem os olhos para olhar
para ele. Depois, baixa as pálpebras, inclina levemente a cabeça para o lado e
desvia os olhos. Freqüentemente cobre o rosto com as mãos e, enquanto o
esconde, dá risadinhas nervosas (Fisher, 1995). Dessa forma, o olhar é o
instrumento mais importante, vez que o contato visual passa a surtir efeito
imediato. O olhar desperta uma parte primitiva do cérebro humano, provocando
uma dentre duas emoções básicas: aceitação ou rejeição. Esse olhar, chamado
pelos etólogos de olhar de desejo, pode muito bem estar incorporado na psique
evolucionária (Fisher, 1995). Quando os olhares se encontram, começa um outro
estágio, ou fase do reconhecimento, quando, nesse momento, qualquer um dos
amantes em potencial aceita o jogo com um sorriso ou alguma mudança corporal e
o casal começa a conversar.
A conversa da sedução é caracterizada pela mudança da voz, que
quase sempre fica mais alta, suave e musical, adquirindo o mesmo tom utilizado
para expressar carinho às crianças ou para tranqüilizar as pessoas que precisam
de cuidados (Fisher, 1995). Por outro lado, os sinais femininos de atração
podem ser distinguidos nos seios, nádegas e boca. Os seios, a glândula mamária,
mesmo quando não funcional, encontra-se bem desenvolvida nas mulheres adultas,
indicando ser um sinal de maturidade sexual. Os seios desenvolvidos,
independentemente da fase de amamentação, característica específica da fêmea
humana, representaria, um substituto das nádegas femininas, que funcionavam
como sinais de atração quando o homem ainda não tinha adquirido a posição ereta
e a cópula era praticada por trás. As nádegas, um sinal de atração forte,
valorizado por determinadas culturas, que engordavam as suas mulheres para que
tivessem nádegas descomunais, tidas como ideal de beleza. Em épocas passadas as
nádegas foram tão valorizadas que a moda fazia com que sobressaíssem,
aumentando-lhes o volume através de inúmeros artifícios como anáguas e
espartilhos, esses últimos servindo tanto para esse fim quanto para afinarem a
cintura. A boca emite sinais sexuais, pois representa a mesma estrutura da
vagina, com os lábios projetando-se para fora e revestida de mucosa rosada,
tecido que lhe amplia a capacidade de excitação e, portanto, maior
possibilidade erótica. Essa característica é igualmente específica da espécie
humana, pois não é encontrada nem mesmo entre os demais primatas. A moda faz
sobressair o seu valor de atração, ao sugerir cobri-la de pigmento rosa ou
vermelho, imitando os lábios vulvares.
Já os sinais masculinos de atração, segundo Juberg & Jurberg
(1977), podem ser identificados nos ombros largos, no maxilar e na mandíbula. Os
ombros largos indicam a força e juventude do homem, sinalizando-o como um
melhor provedor das necessidades das fêmeas e das crias. Os homens também
utilizam táticas de flerte similares àquelas encontradas em outras espécies.
Por exemplo, ele estufa o peito (Fisher, 1995). O maxilar e mandibula, mais
desenvolvidos nos machos humanos do que nas fêmeas, indicando uma postura de
agressão. Talvez os nossos antepassados mais longínquos os usassem na defesa e
antes de dominarem os instrumentos.
A essa altura é preciso entender que as pessoas começaram a
discutir a atração provavelmente há mais de um milhão de anos, enquanto paravam
à beira dos rios da África para descansar e observar o céu., e que para a sua
sobrevivência como espécie foi necessário ao longo do processo evolutivo, que
homens e mulheres conseguissem um certo equilíbrio estável em suas estratégias
de busca de parceiros. Essas estratégias podem ser de longo prazo e de curto
prazo, ambas viáveis para os dois sexos. No entanto, sempre a escolha feminina
é em muito maior grau determinada por estratégias de longo prazo que favoreçam
a manutenção do macho escolhido o maior tempo possível ao seu lado, já que seu
maior investimento parental e responsabilidade na criação da prole favorecem
esse tipo de estratégia. Para os machos, tanto por seu pequeno investimento
parental inicial, como pela infinidade de células reprodutivas que produz ao
longo da vida, a estratégia que favorece o curto prazo se mostra muito
interessante como forma de maximizar seus ganhos reprodutivos na guerra dos
sexos (Sviatopolk-Mirsky, 2001). Apreende-se, portanto, que uma série de
estímulos oriundos dos sentidos olfativos, visuais, de tácteis à fantasia
sexual, desencadeia a resposta sexual com todas as alterações fisiológicas
normais no corpo. Esses estímulos vão ao cérebro, que os verifica, os controla,
os relaciona e através da medula espinhal dá livre acesso à resposta definitiva,
ou seja, a ereção, a lubrificação vaginal, dentre outros. O sistema medular tem
autonomia no que se refere aos estímulos genitais diretos , ou seja, os tácteis
e, como todo ato reflexo, responde quase automaticamente, embora o cérebro
possa incrementar ou inibir esta resposta. Vários segmentos da medula espinhal
controlam a ereção do pênis e clitóris, a lubrificação vaginal, a ejaculação e
parte do orgasmo feminino. Indubitavelmente, há uma relação importante entre a
química, a atração e o desejo sexuais. Isso quer dizer que algumas substâncias
químicas, os hormônios e os neurotransmissores, são produzidas pelo nosso corpo
em resposta aos próprios impulsos internos e a estímulos ambientais.
Detalhadamente percebe-se, portanto, que os hormônios sexuais são
agentes químicos secretados pelos testículos e ovários, em conjunto com a
supra-renal, e que são encaminhados ao cérebro onde são recebidos por
receptores específicos para influir na capacidade de reprodução e no impulso
sexual. Andrógenos, ou seja testosterona, a estrógenos e a progesterona são os
principais hormônios ligados às mudanças nos nossos corpos na puberdade e pelas
respostas sexuais. Os fatores genéticos e a produção de hormônios têm um papel
determinante na morfologia sexual, ou seja, nas características físicas dos
homens e das mulheres e dão um grande número de diferenças anatômicas,
fisiológicas e bioquímicas entre eles.
A identidade do gênero, homem ou mulher, a orientação e as
preferências sexuais estão muito condicionadas pelo ambiente sociocultural. É
preciso, então, entender que a testosterona é o andrógeno ou hormônio sexual
masculino mais importante, e que é secretado pelos testículos que produzem e
mantém os caracteres sexuais secundários, tais como o crescimento e desenvolvimento
do pênis, escroto e testículos, barba e pêlos púbicos, alterações nas cordas
vocais. Seu nível sanguíneo influi no aumento ou queda da libido e do interesse
sexual. Os neurotransmissores, que são substâncias que interligam os neurônios
cerebrais, cumprem uma função indispensável na ativação do impulso sexual, como
por exemplo, quando as carícias e beijos levam a lubrificação vaginal e à
ereção peniana. Com isso, encontra-se uma outra teoria, a dos pesquisadores
Buss e Schmitt (apud Sviatopolk-Mirsky, 2001), que propuseram a Teoria das
Estratégias Sexuais. Nela, relatam dados empíricos de uma extensa pesquisa
realizada em vários países do mundo. Acreditam eles que a escolha de parceiros
pode ser feita de duas formas diferentes ou até mesmo, associadas. Descrevem a
estratégia de curto prazo e a de longo prazo. Ambas se baseiam no imperativo
biológico, ou seja, as escolhas e preferências de parceiros sexuais ainda são
influenciadas pela busca de melhores genes para nossos futuros filhos. Por
exemplo, os homens buscam mulheres jovens e atraentes, pois detectam na
juventude a possibilidade ainda de gerar muitos filhos, e na atratividade, a
saúde do corpo para enfrentar a gravidez e suas repercussões.
Já a mulher buscaria um parceiro com dispositivos internos de
força, poder e capacidade de proteção para ela e sua prole. Acreditam que o
homem tem uma tendência a seguir a estratégia de curta duração, pois é a menos
onerosa para ele. Busca quantidade para tentar produzir maior número de filhos.
Sua contribuição para a procriação é somente seu esperma e uma boa vontade. Enquanto
que para a mulher, há maior tendência de buscar a estratégia de longa duração,
pois seu investimento é muito custoso: nove meses de gestação, alguns outros de
amamentação e vários anos de cuidados com seus bebês. Os filhotes humanos são
extremamente dependentes de seus genitores para cuidados de higiene,
alimentação e desenvolvimento. Isso quer dizer que para a mulher, a seleção é
de extrema importância. Deve saber preferir e discriminar o macho de maior
valor genético, com mais força muscular, mais inteligência, por exemplo, para
não perder tempo em investimentos que lhe serão custosos e de pouco retorno.
Algumas pesquisas no Brasil revelam que as mães que têm muitos
filhos e que são muito pobres investem mais naqueles que podem sobreviver e que
apresentam melhores características, deixando de lado os filhos mais fracos.
Vendo desse ponto de vista, é realmente assustadora a similaridade com os
animais. Mas os machos da espécie cuidam de seus filhotes e seguem a estratégia
de longo prazo também, inclusive com mulheres pós-menopáusicas. E as fêmeas
humanas também buscam relacionamentos de curto prazo. Todavia, é importante que
se tenha em mente que, apesar de o gênero humano ser uma continuidade da
natureza, possui características únicas comparando-se as espécies, e que ainda
está em evolução. Entender como se processa a seleção sexual e entender a
sabedoria da evolução natural, talvez renda a compreensão do caminho a ser
seguido pela espécie humana. Com tal aprendizado, passa-se, então, a entender
que a sexualidade feminina, com zonas erógenas mais difusas e um ritmo mais
lento, é diferente da do homem. O prazer feminino também não se manifesta de
forma não evidente quanto o masculino. Um parceiro mais experiente e atento é
capaz de perceber as alterações que acontecem no corpo da mulher durante o ato
sexual: as contrações da vagina, casa vez mais freqüentes e enérgicas, e da
própria região do abdome, visíveis até externamente a medida que o orgasmo se
aproxima. Na verdade o sexo provoca grandes transformações tanto no homem
quanto na mulher. Na fase preliminar da excitação, observa-se a elevação da
pressão arterial e uma aceleração do ritmo dos batimentos cardíacos,
acompanhada por contrações musculares invonlutárias. A complexa rede vascular
do aparelho genital passa a receber um grande fluxo sanguíneo. Contudo, a
primeira resposta feminina ao excitamento é a liberação de um fluido
lubrificante pelas paredes vaginais. O útero também apresenta movimentos
involuntários, contrações rítmicas, sincronizadas com aquelas produzidas pelos
genitais externos. Com o aumento da tensão, há uma intensa atividade secretora
das glândulas, aparecendo nas paredes do canal vaginal algumas gotas de muco.
Este mecanismo de lubrificação das paredes vaginais prepara a vagina para a
relação sexual. Já a motivação sexual do homem é maior quando a mulher está
ovulando. Nesta fase, a "mensagem" enviada pelo corpo da mulher é
olfativa e as substâncias responsáveis são certos ácidos graxos presentes nas
secreções vaginais. A pele também reage aos estímulos, por meio da secreção
sudorífera, que contribui para a ação das mesmas substâncias que são
denominadas feromônios. Estas desempenham um papel fundamental na atração
sexual e na própria relação. Assim, deve-se prestar atenção a todos os odores
antes, durante e depois do amor, pois são muito estimulantes. A mulher demora
mais para se excitar do que o homem. No universo feminino, a fase de excitação,
essencialmente de carícias, pode durar minutos ou horas. Mas em compensação,
ela ainda se mantém excitada quando o homem já está na fase de relaxamento, ou
seja, logo após a ejaculação. Por isso, os parceiros devem tentar coordenar
seus ritmos neste estágio final. Para a mulher os jogos amorosos, os carinhos
que precedem o ato sexual são a fase mais importante. A duração das carícias e
seu grau de intensidade também têm grande influencia. Se o parceiro demora
tempo de menos ou de mais num só local, ou volta a ele com muita insistência ou
muita força, como no caso do clitóris, um dos pontos mais sensíveis do corpo
feminino, o prazer pode se transformar em desconforto.
Por outro lado, o acasalamento pode se dar de diferentes formas:
na Poligamia, o homem tem múltiplas esposas, na Poliandria, as mulheres tem
múltiplos maridos. A Endogamia ocorre quando parentes próximos se acasalam e na
Exogamia, evita-se acasalamento entre parentes. O acasalamento é um fenômeno
básico, mas complexo, no qual intervém muitas partes do sistema nervoso. O ato
sexual mesmo é composto de uma série de reflexos que se integram nos centros
nervosos. No homem as funções sexuais se tornaram grandemente encefalizadas e
condicionadas por fatores sociais e psíquicos. Alguns pesquisadores dizem que a
persistência das relações sexuais no homem se deve à secreção contínua de
estrógenos e andrógenos pelo córtex adrenal, mas é mais certo dizer que se deva
ao maior grau de encefalização das funções sexuais e a relativa emancipação do
controle institintivo e hormonal. Entretanto, o tratamento com hormônios
sexuais aumenta o interesse e o impulso sexuais (Bolsanello, 1979). Nesse
sentido, revela Bolsanello (1979:72) que "(...) As mulheres em geral levam até trinta minutos
para chegar ao orgasmo, enquanto os homens, podem, com freqüência, alcançá-lo
em dois ou três minutos".
Já alguns observadores chegam a formular a idéia de que as
mulheres podem ser sexualmente anestesiadas desde a infância, pelas atitudes da
sociedade. Outros asseguram que as moças, mesmo agora, reprimem seus
sentimentos sexuais para poderem adaptar-se à imagem geralmente aceita de
comportamento feminino apropriado. Isso às vezes torna impossível para elas
sentirem seja o que for em relação ao sexo.
O condicionamento cultural, também, aparentemente, é o causador da
reputação do homem como um operador rápido. Já foi dito que isso acontece como
resultado dos meninos treinarem para alcançar o clímax o mais depressa
possível, durante as primeiras masturbações, a fim de serem descobertos pelos
pais. Muitos homens também tiveram suas primeiras experiências sexuais com
prostitutas, e por razões óbvias, encorajam seus clientes a completarem seus
negócios no menor tempo possível. Na teoria, parece que a grande disparidade na
rapidez da reação sexual faria ser virtualmente impossível uma relação
satisfatória, quando, na realidade, porém, um casal depressa aprende a
acomodar-se um ao outro, pelo esforço e pela prática (Bolsanello, 1979). Sob o
manto da atração, quando os corpos se aproximam e a excitação é o estágio
inicial do preparo. Nesse estágio, ocorrerá que, no corpo da mulher, se
processarão reações, como a dos mamilos que ficarão eretos e aumentarão de
tamanho. Os seios incharão e ficarão maiores. Os lábios externos, na abertura
vaginal, irão esticar-se para fora e achatar-se. Os lábios internos se
expandirão, abrindo caminho para a subseqüente penetração. A excitação além de
dar prazer, desempenha um real papel no preparo do corpo para o ato sexual. Um
fenômeno de transpiração acontece nas paredes da vagina. Estas gotas formam uma
camada suave, permitindo ao pênis deslizar mais facilmente. O clitóris pode
aumentar (Bolsanello, 1979). No homem, o pênis fica ereto, pela dilatação das
artérias do seu interior. O cumprimento de sangue entra e enche pequeno
reservatórios. Pequenas válvulas neste órgão fecham-se automaticamente,
evitando o escapamento do sangue e forçando o pênis a permanecer em estado de
ereção. Esta é uma ação tão reflexa que pode acontecer com um homem adormecido,
sob anestesia, ou mesmo até quando paralítico. O escroto se contrai e os
testículos se elevam (Bolsanello, 1979). No Kama Sutra há toda uma explicação
prática, com rituais e ensinamentos na arte da sedução, que está sempre
presente na relação de um casal. Os praticantes do Kama Sutra têm como primeira
preocupação agradar à mulher em todas as áreas de convivência, principalmente
sexual, a despeito de ela estar condicionada a posturas submissas. Nesse
período de excitação, os corpos atraídos buscarão carícias que são os contatos
de corpo com corpo, de efeito agradável. Manifesta-se por um afago, por um
abraço, por um aperto de mãos, por um entrelaçamento, dentre outras, embora a
carícia não seja sempre de natureza sexual, acompanhando-se invariavelmente,
quando sincera, de um sentimento afetuoso, de amizade, de simpatia, de ternura,
de carinho, de amor.
A carícia é um ato relacionado com o instinto. O instinto sexual
faz agradáveis os afagos, os atos de carinho e ternura que antecedem a posse
carnal. Eles vão se tornando mais ardentes, com o crescer da excitação e tendem
a se aproximar das partes do corpo sexualmente mais excitantes. As carícias vão
desde o beijo facial, do pescoço e ombro, até desejo de se despirem,
desnudando-se um ao outro. Haverá toques corporais que proporcionará além dos
beijos, lambidas e sugadas na pele, nos seios, no ventre e até na região
genital, seja no contato bucal na região genital, feita pelo homem, ou seja,
cunilíngua; ou pela mulher, felação, ou mesmo uma estimulação simultânea buço-genital,
todas, enfim, formas de preparo que dá maior prazer a ambos. O segundo estágio
da relação sexual é o estágio do auge. O clímax da excitação sexual e
consequentemente a satisfação pelo orgasmo. Nesse estágio é que se destaca na
mulher, que o clitóris afastar-se-á da vagina. A vagina vai dilatar-se, seu
terço externo inchará, ficará distendido e formará o que se conhece como
plataforma orgásmica, estando pronta para o clímax. Nesse período o homem está
experimentando tensões e espasmos musculares semelhantes. Suas batidas
cardíacas, número de inspirações e pressão sanguînea aumentarão. Todas as
alterações corporais do estágio do auge estão agora no ponto máximo. No momento
do orgasmo, a mulher sente uma sensação de suspensão, seguida de imediato por
uma onda de intenso e sensual alerta, centralizando-se no clitóris e
irradiando-se pelve acima. O sentimento pode variar desde um nível suave até o
de um choque. Um embotamento de sensações acontece noutras partes do corpo
(Bolsanello, 1979). Para Master & Johnson (1976:145) a experiência
orgástica feminina é uma intensa experiência psicofisiológica, derivada de uma
base biológica inerente à natureza humana. Ou seja: “(...) o orgasmo feminino é
uma experiência psicofisiológica que ocorre e é obtido sob um contexto de
influência psicossocial. Fisiologicamente é um rápido episódio de descarga
física de incremento vasocongestivo e miotônico desenvolvido em resposta aos
estímulos sexuais. O ciclo da respostas sexuais com o orgasmo como último ponto
em progressão, desenvolve-se a partir de origem biológica profundamente
integrada na condição da existência humana”.
Um segundo ponto de vista, é o mais radical, e defende a idéia de
que o orgasmo é normal ou pelo menos comum entre fêmeas de mamíferos, e que em
verdade a sua ocorrência, fato relativamente comum nas mulheres modernas é que
necessitaria de explicações. A capacidade orgástica e até multiorgástica
feminina seria o resultado de um período muito antigo, localizado em um tempo
anterior ao conhecimento humano da agricultura, no qual o impulso sexual
feminino era muito poderoso e as relações sexuais extremamente lascivas e carregadas
de um erotismo agressivo. Ao contrário do orgasmo masculino que normalmente
ocorre no relacionamento sexual com notável regularidade, o orgasmo feminino
por não possuir essa característica tem sido muito estudado seja na freqüência
de sua ocorrência em grupos de mulheres, seja em relação ao detalhes anatômicos
principais responsáveis por sua manifestação. Durante o orgasmo masculino, os
músculos pélvicos contrair-se-ão de forma a literalmente arremessar o pênis
para o fundo da vagina. Um arqueamento involuntário das costas movimentará todo
o corpo dele para a frente. Na hora da ejaculação, alguns homens perdem
momentaneamente a consciência. O líquido seminal é bombeado através do pênis,
em aproximadamente seis jatos ou espasmos separados, e saem sob total pressão
(Bolsanello, 1979).
No campo da masturbação, a mulher começa usando a mão. Algumas
esfregam toda a região pubiana com as costas da mão. Outras usam pressão para
cima e para baixo. Algumas exploram a região dentro da vagina, em torno dos lábios
e útero, e, finalmente concentram-se em esfregar um dos lados da saliência
clitoral, até o orgasmo. No caso das lésbicas, estas preferem as mulheres não
por poderem ter uma boa relação sexual orgásmica com homens, e sim porque se
dão melhor com mulheres, compreendendo-as e apaixonando-se por elas com maior
facilidade. E apaixonar-se é realmente a expressão correta para se usar, ao
descrever-se muitos relacionamentos entre lésbicas. Uma ligação entre mulheres
pode ser afetuosa e cálida, duradoura com as companheiras vivendo juntas por
muitos anos (Bolsanello, 1979).
Nas mulheres o período de máximo ardor sexual tende a ocorrer
perto da menstruação, mas, principalmente nos povos civilizados, o ardor sexual
é mais dilatado (Bolsanello, 1979).Há que se entender, afinal, que desde as
idéias do neurologista Sigmund Freud (1856-1939) que o assunto envolvendo a
sexualidade, deixam muita gente chocada ainda hoje, mais de sessenta anos
depois da sua morte. Como fundador da psicanálise, Freud instalou a sexualidade
no centro da alma humana e, segundo ele, toda a existência é guiada pelo desejo
sexual, a libido, que se manifesta desde os primeiros anos de idade e não só na
puberdade, como se imaginava no final do séc. XIX. Todos os distúrbios mentais,
teriam de acordo com essa teoria, uma origem comum - os traumas sexuais
ocorridos durante a infância. Aplicando suas descobertas ao estudo da
sociedade, Freud concluiu que as civilizações só existem graças á repressão do
instituto sexual. Livre de qualquer amarra, a libido induz os indivíduos à
violência descontrolada e inviabiliza os vínculos sociais. Enquanto isso, Jung
(1980), defendia que cada homem leva consigo a imagem de uma mulher, cada
mulher leva consigo a imagem de um homem. É uma bissexualidade psíquica.
A bissexualidade explica os mais diversos comportamentos internos
e externos do homem quanto da mulher. O animus e anima são formadores
estruturantes de arquétipos de homens e mulheres que se interrelacionam entre a
consicência individual e a consciência coletiva (Cherman, 1982). Disso, vê-se
que a preocupação com a sexualidade, notadamente os comportamentos humanos de
atração sexual, carecem de ser melhor observados nas salas de aula, uma vez que
colocam em pratos limpos, sem preconceitos nem tabus, a natureza humana como um
todo.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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