sexta-feira, setembro 28, 2012

PAIXÃO




Imagem: Venus e Adônis (c.1597), do pintor do Maneirismo Flamengo, Bartholomeus Spranger (1546-1611).

PAIXÃO 




Falar em química da paixão e do amor em nossos dias, confronta a dicotomia da racionalidade com a emotividade. Principalmente pela atitude experimentalista e pelo sucesso tecnológico que propiciaram um desigual conforto humano. Contudo, enquanto o conforto passa a ser a razão da saga humana hoje, engendrou-se o desconforto para o conhecimento, que impôs a si mesmo limites metodológicos e restrições de incidência, que o paralisaram em campos onde o experimento não pode operar. Nesses campos do amor e da paixão, a ciência cotidiana não entra e os considera o limbo da metafísica, o exagero da imaginação artística e a perfumaria opressora dos mitos superados. Dessa forma, falar de amor e de paixão em tempos de banalização e vulgarização das relações afetivas e sexuais, requer um exercício ético sem preconceitos.


Se no interior da própria ciência, a razão se autotematiza, no cotidiano, a opacidade continua. Há um mundo operatório que dá conta dos interesses e racionaliza as correlações de força vigentes, mantendo e justificando as disparidades, aquietando as consciências, criando virtualidades consoladoras e simulacros generosos, galvanizando as atenções e os esforços. Para um mundo limpo, tão limpo como as máquinas, cuja sujeira é permitida por não ter o odor e a organicidade dos seres vivos, uma razão limpa, sem as instabilidades do afeto e os riscos da paixão. Enquanto isso, uma corrente inglória e contumaz, insiste na afetividade em detrimento do mecanicismo desumano. Para que essa razão analítico-instrumental sobreviva, será sempre preciso separá-la do afeto. A inteligência mais alta é aquela que tem a eqüidistância dos eunucos e a limpidez da água destilada. Isto significa uma muralha construída entre a razão e a paixão, entre a cognição e a afetividade, a se tomar a terminologia piagetiana. O mundo do dado, como se insurgindo, não cansou, na história, de mostrar que onde a razão brilha, há uma coexistência com a paixão, onde ela desvela, ali está morando o afeto. Isso pode ser observado, tanto individual, quanto coletivamente.
A paixão, em Nietzsche, martela e fragmenta, atingindo a transmutação de todos os valores. Em Marx, subverte, denunciando a injustiça das estruturas econômicas e sociais. Em Freud, revela o inconsciente; e, no feminismo, desprivatiza o privado para denunciar a desigualdade entre os sexos. E isso quer dizer que não há Einstein sem a paixão pelo Universo, nem Mozart, sem a paixão pela Música, nem Marx, sem a paixão pelos desvalidos, nem Picasso, sem a paixão pela forma, cor e textura, nem movimentos sociais, sem a paixão pela transformação. Daí, conforme Gutiérrez (1998:80), "(...) paixão é criatividade: sem paixão não há poema, quadro, catedral, transformação social ou literatura. E é da paixão amorosa que trata a literatura, especialmente a romântica".
Em Goethe, com Werther, é a mais alta representação do amor impossível, do amor infinito e da morte. Onde a paixão é excesso, transgressão. E que as transgressoras, adúlteras, ou não, como as heroínas na história da ópera, sofrem sempre algum tipo de punição. A paixão sem qual o mundo é insípido, a paixão que alimenta e fecunda e sem a qual se perde a própria flor da vida, tendo as características do que, para Kant, é o sublime, pois em termos kantianos o sublime é noturno, tempestuoso, misterioso. Mas afastar a razão da paixão é útil para efetivar uma dominação sutil: a dominação que estimula a produção com a diminuição de angústias e tensões, a dominação dos controles mais fáceis, dada a previsibilidade dos seres com sentimentos pequenos e pouco intensos, a dominação da criação de necessidades para amortecer dúvidas e tecer existências lineares, que procuram se apropriar de mercadorias, em si, desnecessárias. Além disso, nessa teia de poderes estabeleceu-se uma outra dualidade: a do amor, de um lado, e o da paixão, de outro. Para o amor foram carreadas todas as qualidades superiores: o amor é construtivo, o amor é solidário, o amor é doação, o amor é o sentimento da união serena e estável.
À paixão foram reservados os estigmas do descontrole, da traição, da agressividade, da infelicidade, da imprevisão e da destruição. Assim, a paixão se tornou fonte de atos perigosos, como, no âmbito penal, o homicídio passional.
O amor-paixão que move o ser humano para pontos cruciais, que o lança para os abismos, ou que o abre para iluminações, é entrega plenificadora ou destruidora. Seu sentido plenificador ou destruidor está dependente do valor, está ligado aos projetos, está demarcado por trajetórias individuais, sociais ou culturais. Ele é demasiadamente humano. Por isso, é perigoso para a sociedade de controle. Somente humano. No entanto, é preciso entender que o amor e a paixão fazem parte da vida humana porque estão sempre presentes nos sentimentos humanos.


Para os poetas arrebatados a paixão não é, sente-se! E sente-se a cada momento, a cada beijo, a cada carinho, a cada sofrimento. Paixão é o que se cria fechados no mundo onde se balbucia palavras divinas que os beijos inocentemente interrompem! Paixão é a contemplação mística de olhar os olhos enobrecidos de prazer, de vida. Por isso e muito mais, a química do amor e da paixão é muito estudada hoje, pois o corpo produz substâncias que são como drogas que agem na pessoa quando está apaixonada.
Numa primeira tentativa conceitual empírica, a paixão pode ser entendida como um sentimento que desestrutura o indivíduo, pois ele deixa de lado o seu próprio eu para satisfazer as vontades e desejos do outro. Isso porque o apaixonado se anula, esquece de si mesmo para viver a vida do outro. Afasta-se dos amigos, da família e as vezes da própria sociedade. Ou seja, a paixão é a forma de amor que recusa o imediato e foge do próximo: aspira à distância e a inventa na medida de sua necessidade, para melhor se renovar e se exaltar. Esta definição está conforme com os preceitos do filosofo francês Denis de Rougemont, autor de "Os mitos do amor".
A paixão, por outro lado, é uma projeção narcisística: ama-se, no outro, a projeção de si mesmos, enquanto o casamento, por seu lado, elimina o aspecto nascisístico da relação (Bolsanello, 1979). O apaixonado projeta e enxerga no outro tudo que ele deseja ter ou ser. A paixão não dura a vida toda. Ela chega numa encruzilhada onde encontra dois caminhos a seguir: acabar ou transformar-se num grande amor.
Por outro lado, Jung (1980), observa que o encontro de duas personalidades é como o contato de duas substâncias químicas: se houver alguma reação, ambas serão transformadas. Por isso, entende-se que a paixão é aquela euforia, aquele tormento, as noites insones e os dias inquietos. Em êxtase ou tomados pela apreensão, sonhando acordados durante os afazeres, esquecendo as coisas, perdendo a noção do espaço, ficando sentados ao lado do telefone ou planejando o que vamos falar, obcecados, ansiando pelo próximo encontro com a pessoa amada. Sob esse entorpecimento, o riso deixa tonto, enfrenta-se riscos absurdos, diz-se tolices, ri-se demais, revela-se segredos bem guardados, conversa-se a noite inteira, anda-se pela madrugada e, o tempo todo, abraçam-se e beijam-se, esquecidos do mundo inteiro enquanto estão tomados pela febre e sem fôlego, plenos de êxtase (Fisher, 1995).
Numa outra visão, Freud considerou a paixão como um desejo sexual bloqueado ou postergado. Daí, muitos consideraram a paixão uma experiência mística, intangível, inexplicável e até sagrada, que desafia as leis da natureza e a investigação científica.
Há toda uma mística, desde Iansã, que é o orixá de um rio conhecido como Níger, cujo nome original em iorubá é Oyá. Deusa da espada do fogo, dona da paixão, Iansã é a rainha dos raios, dos ciclones, furacões, tufões, vendavais.  Orixá do fogo, guerreira e poderosa. Mãe dos eguns, guia dos espíritos desencarnados, senhora do cemitério. Orixá da provocação e do ciúme. Paixão violenta, que corrói, que cria sentimentos de loucura, que cria o desejo de possuir, o desejo sexual. É a volúpia, o clímax. Ela é o desejo incontido, o sentimento mais forte que a razão. A frase "estou apaixonado" tem a presença e a regência de Iansã, que é o orixá que faz com que os corações batam com mais força e cria nas mentes os sentimentos mais profundos, abusados, ousados e desesperados. É o ciúme doentio, a inveja suave, o fascínio enlouquecido. É a paixão propriamente dita. É a falta de medo das conseqüências de um ato impensado no campo amoroso. Iansã rege o amor forte, violento. Oyá é também a senhora dos espíritos dos mortos, dos eguns. É a deusa dos cemitérios. É ela que servirá de guia, ao lado de Obaluaiê, para aquele espírito que se desprendeu do corpo. É ela que indicará o caminho a ser percorrido por aquela alma. Comanda a falange dos Boiadeiros. Embora tenha sido esposa de Xangô, Iansã percorreu vários reinos. Foi paixão de Ogum, Oxaguian, Exu. Conviveu e seduziu Oxóssi, Logun-Edé e tentou, em vão, relacionar-se com Obaluaiê. Em Ifé, terra de Ogum, foi a grande paixão do guerreiro. Aprendeu com ele e ganhou o direito do manuseio da espada. Em Oxogbo, terra de Oxaguian, aprendeu e recebeu o direito de usar o escudo. Deparou-se com Exu nas estradas, com ele se relacionou e aprendeu os mistérios do fogo e da magia. No reino de Oxóssi, seduziu o deus da caça, aprendendo a caçar, tirar a pele do búfalo e se transformar naquele animal com a ajuda da magia aprendida com Exu. Seduziu o jovem Logun-Edé e com ele aprendeu a pescar. Iansã partiu, então, para o reino de Obaluaiê, pois queria descobrir seus mistérios e até mesmo conhecer seu rosto, mas nada conseguiu pela sedução. Porém, Obaluaiê resolveu ensinar-lhe a tratar dos mortos. De início, Iansã relutou, mas seu desejo de aprender foi mais forte aprendeu a conviver com os eguns e controlá-los. Partiu, então, para Oió, reino de Xangô, e lá acreditava que teria o mais vaidoso dos reis, e aprenderia a viver ricamente. Mas, ao chegar ao reino do deus do trovão, Iansã aprendeu muito mais. Aprendeu a amar verdadeiramente e com uma paixão violenta, pois Xangô dividiu com ela os poderes do raio e deu a ela o seu coração. O fogo é o elemento básico de Iansã. O fogo das paixões, da alegria, o fogo que queima. E aqueles que dão uma conotação de vulgaridade a essa belíssima e importantíssima divindade africana, são dignos de pena e mais dignos ainda, do perdão de Iansã.
Doroty Tennov, em 1960, identificou uma constelação de características comuns à condição de se estar apaixonado, um estado que ela chama de envolvimento, alguns psiquiatras chamam de atração e outros de paixão (Fisher, 1995).
O primeiro aspecto dramático dessa condição é seu início, o momento em que outra pessoa começa a assumir um significado especial. Depois, a paixão vai se desenvolvendo segundo um padrão característico, que começa com o pensamento invasivo. No começo, esses pensamentos invasivos ocorrem de maneira irregular. Mas se detém nos aspectos mais triviais da pessoa amada e a aumentar desproporcionalmente sua importância em um processo que Tennov denomina de cristalização (Fisher, 1995). A cristalização é distinta da idealização, pois a pessoa apaixonada na verdade percebe os pontos fracos da pessoa a quem idolatra.
As duas características mais importantes que aparecem nas divagações dos informantes apaixonados de Tennov são duas sensações esmagadoras: a esperança e a dúvida (Fisher, 1995). A timidez, o medo da rejeição, a ansiedade e o desejo de reciprocidade, são outras sensações importantes da paixão. Acima de tudo, há um sentimento de desamparo, uma sensação de que essa paixão é irracional, involuntária, não-planejada e incontrolável. Dessa forma, a paixão passa a ser um conjunto de intensas emoções que se desencadeiam sobre as pessoas e as inundam, deixando-as à mercê dos caprichos da outra pessoa, em detrimento de tudo o que os rodeia, incluindo o trabalho, a família e os amigos. E este mosaico de sensações involuntárias só está parcialmente relacionada ao sexo (Fisher, 1995).
A paixão, ainda, pode ser desencadeada, em parte, por um dos traços mais primitivos - o olfato. Cada pessoa tem um cheiro diferente. Todos têm um odor pessoal, tão característico como a voz, as mãos, o intelecto (Fisher, 1995). O corpo humano pode produzir os mais poderosos afrodisíacos olfativos. Tanto os homens quanto as mulheres têm glândulas apócrinas nas axilas, em volta dos mamilos e na virilha, que se tornam ativas na puberdade. A secreção dessas glândulas difere daquela das glândulas ecrinas, que se encontram na maior parte do corpo e produzem um líquido inodoro, porque seu exudato, junto com as bactérias existentes na pele, produz o cheiro acre e azedo da transpiração (Fisher, 1995). Os odores masculino ou feminino podem provocar fortes reações físicas e psicológicas. O cheiro de um homem ou de uma mulher podem trazer à tona muitas lembranças. Despertada a paixão, o cheiro da pessoa amada, torna-se um afrodisíaco, um estímulo contínuo ao relacionamento amoroso. Certo distanciamento é essencial para a paixão. Em geral, as pessoas não se apaixonam por alguém que conhece bem. O mistério é muito importante para o amor romântico. As dificuldades também parecem despertar essa loucura. É a caçada. Se uma pessoa é difícil de ser conquistada, isso desperta o interesse das outras. A ocasião também desempenha um papel importante na paixão. Via de regra, sente-se atraído por pessoas similares, tendendo a procurar pessoas semelhantes, o que os antropólogos chamam de união positiva entre iguais (Fisher, 1995). É a constelação de fatores que aparecem de uma vez, incluindo o momento oportuno, os obstáculos, o mistério, as semelhanças, um mapa amoroso coincidente, e até os cheiros certos,  que torna a pessoa suscetível a se apaixonar. Esse violento distúrbio emocional que se chama paixão ou atração pode começar com uma pequena molécula chamada feniletilamina, ou FEA. Conhecida como a amina da excitação. A FEA é uma substancia existente no cérebro que provoca as sensações de exaltação, alegria e euforia.
No aspecto biológico, os impulsos são os mesmos, com manifestações orgânicas concretas. A falta de controle desses impulsos faz a diferença, influenciando os aspectos psicológico e social, muito ligados.
Na raça humana centros cerebrais superiores dominam sobre os centros sexuais e o sexo reprodução muitas vezes se curva perante a complexidade do sexo prazer e o do sexo amor.
Os feromônios, certos odores nas fêmeas de animais, começam a ser estudados na espécie humana e já se conhece um pouco sobre uma detecção inconsciente dessas substâncias que estimulam a produção de outras substâncias cerebrais como a ocitocina, na hipófise, responsável pela produção de leite, contrações do parto e uma espécie de fome epidérmica: uma agradável sensação desencadeada pelas carícias em qualquer região do corpo.
A ocitocina facilita a ação dos feromônios durante o contato mãe-bebê logo após a parto estabelecendo a memória olfativa. Estas lembranças precoces ficam registradas de modo indelével na mente e vão influenciar todos os relacionamentos futuros, funcionamento na sociedade e capacidade de receber e dar carinho. Este argumento é reforçado pela psicologia da evolução.


Não há dúvidas que processos complexos como as fantasias e palácios são mais relevantes no estabelecimento dos encontros e, acima de tudo, o amor ágape é o grande amálgama divino indissolúvel pelo imperfeito homem, mas uma reflexão é para que os casais redescubram as agradáveis e inebriantes sensações proporcionadas pelos seus hormônios. O excesso de aromas oriundos dos banhos aromáticos, óleos, perfumes podem mascarar os feromônios. Portanto, não se deve subestimar ação hormonal: muitos casais enfrentam desgastes relacionais profundos durante a gestação ou menopausa por desconhecerem as alterações físicas provocadas pelos hormônios. Jovens maridos, que tinham um relacionamento prazeroso, muitas vezes, sentem-se desprezados durante a gestação pois as esposas já não parecem tão interessadas neles.  O casal se distancia e surgem mágoas. O problema é facilmente superado quando informamos que a gestante fica com o desejo sexual diminuído principalmente devido a elevação passageira da prolactina, um hormônio que estimula a lactação. A resposta sexual é normal desde que o marido continue a procurar a intimidade. Por isso, para o terapeuta familiar Robert Neuburger, a paixão altera a percepção da realidade por causa do o abandono da vigilância. Segundo ele, a paixão invade, pode fazer com que a pessoa negligencie os filhos, o trabalho, tudo. A paixão se organiza dentro da ansiedade e da urgência. O sentimento primordial é a necessidade absoluta do outro.  E esse estado precede o encontro com a pessoa que vai se transformar no objeto da paixão. Corresponde à necessidade de se sentir vivo. Geralmente, as pessoas se apaixonam quando estão se sentindo mal, insatisfeitas consigo mesmas e com os outros. Nessas situações, uma paixão faz a pessoa sentir que está vivendo intensamente. Claro que não se pode negligenciar a escolha da pessoa por quem se vai ficar apaixonado, mas o mecanismo passional vem antes. É acionado quando se começa a desejar algo que traga uma nova energia vital.
A paixão toca no que existe de mais profundo na existência de cada um. É uma autoterapia excelente e um antidepressivo muito eficaz, vez que ela está ligada à vida e à morte. Ter amado passionalmente permite aceitar a morte. Mas não se deve ultrapassar a dose. Há um aspecto mortífero na paixão. Os apaixonados tendem a ir além de suas forças, com uma percepção alterada da realidade. O resto do mundo não existe mais, e isso não pode durar para sempre. Depois, tudo vai depender da maneira como a pessoa aterrissa: devagarinho, com lembranças maravilhosas, ou com amargor e arrependimento. A menos que a paixão se transforme em amor duradouro.
O namoro, por exemplo, é um dos modos que o ser humano encontrou no decorrer de sua existência para descobrir-se como ser sensível, capaz de trocar emoções, sentimentos, carícias, em relação a si mesmo e ao outro. É um fenômeno conhecido por todos, podendo ser "rapidinho" descompromissado, como o "ficar", ou duradouro, envolvendo compromissos até de fidelidade. A adolescência materializa e demarca o seu aparecimento. E a morte, o seu fim. Com isso, diz-se que o ato de cativar, inspirar amor, atrair, namorar, só cessa com a finitude: a morte. Ocorre por infinitas razões: atração sexual, afinidades, paixão, curiosidades, carência afetiva, medo de ficar só entre tantos outros motivos, até buscando vivenciar essa forte emoção. O enamoramento é um estado de ser, que lança a uma experiência extraordinária, transgressora. Graças à transgressão desencadeada pela força de Eros, o deus do amor e do movimento para a mitologia grega, a libido para a psicanálise, encontra-se o fenômeno da mestiçagem entre os mais variados tipos étnicos. Nesses momentos de enamoramento, os envolvidos se percebem possuídos por uma emoção, uma força nascente, uma revelação diante do objeto de desejo, que os mobilizam a um renascimento, a uma redescoberta física, sexual, emocional e psíquica. É que a paixão tende a superar a diversidade existente entre as duas pessoa, razão de ser do próprio desejo. O interesse pelo outro está focado no que o apaixonado atribui ao outro de diferente. Assim, passa-se a atribuir ao eleito do desejo uma qualidade singular, o que é revelado pela intensidade e intimidade erótica que adquirem o seu gesto, seu toque, seu cheiro e suas carícias. Carícias erotizam para sempre o corpo. Nesses momentos, o desejo de estar no corpo do outro permite mergulhar no fantástico mundo da criatividade, liberar os horizontes do imaginário e, numa viagem sem fronteiras, possibilitar à pessoa amada o seu desvelar. Essa viagem de descoberta é vivida a dois, pois, ao permitir o desvelar-se da pessoa amada, desvelam-se também diante dela. Nessa fusão se completam e, por instantes, experimentam a eternidade. São momentos de beleza incontestável . O êxtase, a magia se presentificam.
Outro aspecto interessante do enamoramento é a percepção alterada da duração do tempo: as horas passam em minutos e os minutos estendem-se como se fossem horas. O encontro ocorre quando os dois conseguem operacionalizar o tempo. Há, portanto, uma preparação criativa, uma predisposição para viver o extraordinário, as festas, os espetáculos não ocorrem todos os dias. Nessa fantástica e instável caminhada existencial, Eros mostra-se sempre paradoxal: não oferece certezas e tampouco garantia de estabilidade, e continuidade. Ao se permitir viver o processo de enamoramento, portanto, estão-se expostos a serem invadidos por fortes ventos que, por certo, irão desestabilizar a fusão , e a tão sonhada completude , que se atribui ao outro o poder de possibilitar-se a viver. Afinal, sonhos são estados de ser dos mortais. Com certeza: um consolo, um prêmio pela nossa condição de mortais. A sedução é o ponto de partida para se atingir a paixão. O outro completa, atrai e, a partir daí inicia a paixão.
A palavra sedução é muitas vezes, utilizada com uma conotação negativa. No entanto, dentro de certos limites, a sedução é um processo normal e desejável nos relacionamentos humanos. A sedução é um jogo que tem como principal característica a formação de um sentimento diferente de todos os outros, que vai prendendo o seduzido sem que ele perceba. Existem, pois, diferentes maneiras de se praticar a sedução, como: fingir que não está percebendo a intenção do outro ou fingir preferências comuns. Na realidade o apaixonado não busca o outro, busca a si mesmo. O olhar sedutor transcende os limites do simples olhar, é um olhar colorido,  cheio de promessas. Todo ser humano de uma maneira ou de outra se sente incompleto e deseja buscar em outra pessoa o que lhe falta. A paixão, a sedução, não se liga a matemática, não tem idade. A intensidade da emoção sentida durante a fase da paixão, por si só justifica qualquer conseqüência negativa sofrida mais tarde. A paixão da qual nasce o ciúme é o desejo de posse. É fato estranho que a emoção mais sublime conhecida pelo homem, e, bem asism, pelo animais, é o amor. As maiores coisas realizadas pelo homem, são feitas devido aos impulsos do amor. Contudo, o própiro amor pode criar expressões de duas paixões muito opostas, a saber, a paixão de dar e partilhar aquilo que se ama, e a paixão de possuir e controlar a coisa amada.


O amor é uma experiência consumptiva. Mergulha-se euforicamente nesta deliciosa tortura onde freqüentemente é difícil manter a concentração.
Outros estudiosos identificaram algumas substâncias responsáveis pelo amor: dopamina, feniletilamina e ocitocina. Estes produtos químicos são todos relativamente comuns no corpo humano, mas são encontrados juntos apenas durante as fases iniciais do flerte. Ainda assim, com o tempo, o organismo vai se tornando resistente aos seus efeitos e toda a loucura da paixão desvanece gradualmente, quando a fase de atração não dura para sempre.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BRITZMAN, D. P. O que é esta coisa chamada amor. Identidade homossexual, educação e currículo. In: Educação e Realidade. Vol 21 (1), jan/jul, 1996.
FISHER, Helen. Anatomia do amor: a história natural da monogamia, do adultério e do divórcio. Rio de janeiro: Eureka, 1995
GUTIÉRREZ, Rachel. O amor sublime e os perigos da paixão. In: Feminino & masculino no imaginário de diferentes épocas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998
JACOBINA, Eloá & Kühner, maria Helena. Feminino & masculino no imaginário de diferentes épocas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998
JAGOT, Paul-C. Psicologia do amor: o institinto, a sensibilidade e a imaginação. Rio de Janeiro: Pallas, 1977
MACHADO, M.D.C. Corpo e moralidade sexual em grupos religiosos. Revista Estudos Feministas, nº 1/95, Rio de Janeiro: Escola de Comunicação/UFRJ, 1995.
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THIRÉ, Fernando. A psicologia sem mistérios. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1979
WATTS, Alan. O homem, a mulher e a natureza. Rio de Janeiro: Record, 1958

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