Imagem: Lilith,
John Collier.
OS SUMÉRIOS: UM PAÍS ENTRE DOIS RIOS –A
civilização suméria é uma das mais antigas que apareceu no V milênio a.C., no
território da Mesopotâmia, muito antes dos egípcios e chineses e desapareceu no
II milênio. Sua língua é de origem étnica desconhecida. Para os
sumérios existir, simplesmente, era expiação bastante no terrível universo.
A MULHER SUMÉRIA – A
mulher suméria era responsável pela coleta de grãos e cereais, razão pela qual
descobriu a cerveja quando estes grãos, sob a água da chuva, fermentaram ao ar
livre, tornando-se um importante alimento no período. Ainda que reduzida ao
fabrico da bebida no ambiente doméstico, desde a antiguidade a mulher ficou
encarregada de produzir esta bebida para o consumo próprio e familiar.
As mulheres eram excluídas de educação,
exceto Enheduana, a filha de Sargão, que passava por uma moça letrada.
Na legislação sumeriana as mulheres possuíam
independência do marido, podendo separar-se por decisão judicial. O adultério
era crime, só absolvido com perdão do marido. Na família, era ela responsável
pelas dívidas.
Era costume a prostituição das mulheres
uma única vez com estrangeiros, oferecendo ao templo o dinheiro recebido pela
prostituição. A que morresse virgem ou de parto era considerada demônio.
O papel das mulheres na armazenagem era reconhecido e tem
sua marca no idioma sumério, os aposentos da mulher da casa. Os cereais e
outros produtos eram em geral armazenados nos aposentos das mulheres, e as
mulheres administravam e eram as guardiãs destes bens armazenados.
A necessidade das mães estarem próximas às suas crianças
exigia que as mulheres ficassem ao redor de suas casas. Mas, mesmo em casa, as
mulheres não restringiam suas atividades aos afazeres domésticos ou a cuidar
somente de crianças. Pelo contrário, o papel feminino no lar incluía a produção
de bens básicos e a gerência dos produtos domésticos.
O
direito das mulheres sumerianas variava de acordo com o status social de cada
uma. Por exemplo, as mulheres da realeza gozavam de um certo poder político e
econômico enquanto que as mulheres comuns não participavam da vida política e
literária. As mulheres que gozavam de status, como as sacerdotisas, membros da
realeza tinham o direito de aprender a ler e a escrever e daí adquiriam autoridade
para administrar, e as mulheres menos prestigiadas, com menos status social
ocupavam-se da criação dos filhos e das atividades domésticas. Apesar de na
Mesopotâmia as mulheres, de uma maneira geral, não terem sido tratadas como
iguais aos homens, a posição delas variavam muito entre as cidades-estados.
Mulheres e homens mantinham-se sempre perfumados.
Pesquisadores descobriram traços de aromaterapia revelando que mulheres
utilizavam cones de ervas aromáticos em suas cabeças, que durante o dia,
derretiam deixando os cabelos aromáticos. A touca real era composta de pregas,
com babados na parte traseira, continham enfeites, joias de alta qualidade e
eram muito pesadas.
Entre as mulheres, algumas tantas se
destacam, a exemplo de Kubaka, a mulher da cerveja, que era uma
senhora taverneira de Kish, esperta e robusta que tornou-se rainha em 2500
a.C., por 100 anos, sendo sucedida por seus filhos. Também Sabtien, a mulher
cervejeira.
KUN-BAU DE KISH, A GUARDIÃ DA TAVERNA – Kun-Bau ou Kubaba
foi a única mulher governante suméria, que reinou por 100 anos e aparece na
Lista Real Sumeriana que contem a relação de todos os reis da Suméria,
registrando o local da realeza e governantes oficiais com o período de seus
governos. Antes de ser governante, era uma famosa proprietária de cabaré que
amealhou fortuna e, por isso, subiu ao trono.
A MULHER SÁBIA - Em Enmerkar e o Senhor de Aratta, um
relato heróico sobre um dos primeiros reis sumérios, quando Enmerkar vai até a
cidade de Aratta (cidade esta a qual ele submeteu a cerco para obter suas
pedras e minerais preciosos), sua conselheira vai até ele em elegante esplendor
para aconselhá-lo e ao rei de Aratta que eles deveriam trocar alimentos por
minerais preciosos. Dessa forma, as mulheres serviam como sábias e conselheiras.
Assim, as mulheres eram consideradas sábias e eram aquelas que desempenhavam as
funções do cuidado das crianças. Isso queria dizer que a criança desenvolvia
desde os primórdios da infância a imagem da toda-poderosa e sábia "deusa
do quarto de dormir e brincar". Por outro lado, criavam produtos básicos
através da culinária, tecelagem e preparo da cerveja. Tais atividades são
sofisticadas em termos tecnológicos, e também são complexas, devendo parecer
particularmente mais difíceis do que aquelas atividades nas quais os homens
participavam. A natureza elaborada das atividades femininas devem ter reforçado
desde os primórdios da infância a impressão da mulher sábia. Estes dois fatores
contribuem para a imagem da mulher como aquela que acumula conhecimento, e que
dispensa também conhecimento especializado.
A
POETA ENHEDUANNA – Os mais antigos poemas foram escritos por uma mulher:
Enheduanna, filha de Sargão. Ela foi instalada por seu pai como Alta
Sacerdotisa (En) do deus da Lua, Nanna em Ur. Nessa capacidade, ela escreveu os
grandes poemas Ninmesharra e Nininshagurra, um ciclo de hinos aos templos da
Suméria, e talvez também, Inana e Ebih. Era vista como mulher solitária
escrevendo numa área que pertencia aos homens. Ela não foi a primeira Alta
Sacerdotisa.
A POETA KUBATUM – Também outra mulher, Kibatum, esposa de
Sushin, durante o período da Terceira Dinastia de Ur, compôs canções de amor.
HIERODULAS, AS FUNCIONÁRIAS DA DEUSA DO
AMOR – O grande-sacerdote do deus da cidade devia praticar o ritual da
hierogamia, casamento com a grande-sacerdotisa de Innana, materializando o
casamento entre os deuses, de que dependia a prosperidade dos humanos. Quanto
às hierodulas subalternas, estavam à disposição dos crentes, mediante pagamento
que o povo não negligenciava em ritual, porque os recursos que o templo obtinha
graças às Jovens do Amor, estavam longe de ser desprezíveis. Na Suméria havia
um bordel divino.
O SÉQUITO DAS TOCADORAS DE MÚSICA – em Ur, por volta de
2.550 a.C., encontrou-se no cemitério da localidade, 1.800 túmulos, entre eles,
as tocadoras de músicas que ainda estavam com seus dedos dedilhando as cordas
dos seus instrumentos. Foram vítimas de um suicídio coletivo para seguir o seu
senhor no outro mundo, transformado em deus.
ISHTAR, A RAÍNHA DO CÉU, DEUSA LUNAR- Era uma das
manifestações da Magna Dea, a Grande Mãe, personificando a força criadora e
destruidora da vida nas fases lunar. Deusa da fertilidade que concedia a
reprodução e crescimento aos seres humanos, animais e campos. Deusa do amor que
desceu de Vênus com seu séquito de sacerdotisas Ishtaritu, ensinando aos homens
a arte do êxtase. Rainha do Céu regia as estrelas, formando o cinturão de
Ishtar. Percorria o céu todas as noites em uma carruagem puxada por leões,
controlando o movimento dos astros e as mudanças do tempo. É representada pela
mãe que segura os seios fartos, a virgem guerreira, a insinuante sedutora.
Também era a Mãe Terrível, Senhora dos Terrores, quando descia ao mundo
subterrâneo causando desespero na terra. Quando se ausentava, nada podia ser
concebido, tudo mergulhava numa inércia. Personifica o principio feminino e nas
celebrações de Shapatu as mulheres a veneravam invocando suas bênçãos.
A
DEUSA INNANA - A deusa Ishtar-Innana no templo de Eanna, em Uruk, a capital da
religião suméria. Era a deusa do amor, da fecundidade e da prosperidade. Dumuzi
foi o primeiro esposo terrestre de Innana, com ele é inventada a escrita na
mesopotâmia.
Essa deusa era presa de disputas
amorosas, mas também era intrigante, ambiciosa e sedenta de poder. Um dia ela
decide aumentar o seu poder e influencia na cidade e fazer dela o centro do
mundo. Para consegui-lo só há uma solução: apossar-se, não importando por que
meios, dos famosos Me, encerrados no fundo seu palácio de Apsu, por Enki, em
Eridu. A bela ambiciosa desembarca com grande pompa na cidade de Enki.
Sedutora, carnuda, provocante. O pai Enki, o sábio, com isso atravessado na
garganta, imediatamente chama o seu mordomo, o deus Isimud, a quem dita as suas
ordens: a jovem deve ser recebida e tratada regiamente, é preciso fasciná-la,
conquistá-la. Então, a mesa é imediatamente servida. Enki apaixonado, febril e
tímido, profere elogios lisonjeiros e langorosos. A cerveja corre
abundantemente. Mas a embriaguez toma posse do espírito do sábio. Levanta-se em
um momento de exaltação, brandindo a taça, com o olhar lúbrico e proclama:
“Pelo meu poder, pelo meu poder, à santa Innana, minha filha, eu quero
presentear os Me”. A pequena astuta não tinha perdido a cabeça e tarde da noite,
enquanto o sábio Enki estava na bebedeira, a bela acabou o carregamento dos Me
na sua barca celeste e parte para Uruk, orgulhosa e altiva. Quando o sábio
acordou sóbrio percebeu com horror que os Me desapareceram. O fiel Isimud
lembra-lhe então o gesto grandioso da véspera, feito em plena embriaguês. Aí
ele envia Isimud ajudado por um destacamento do monstros marinhos, em
perseguição da fugitiva com a ordem imperiosa de recuperar a preciosa carga.
Isimud alcança Innana mencionando o seu objetivo, quando ela fica indignada
berrando traição e recusando-se de restituir o presente. Dá-se, então, os
assaltos furiosos da esquadra de monstros, mas a deusa desembarca em Uruk, sã e
salva, com a sua preciosa carga intata no meio de uma enorme quermesse popular.
No
seu templo, o sacerdote-rei seguia regulamente para a consumação da hierogamia,
pratica que consistia no cumprimento dos deveres conjugais do rei para com a
deusa Innana, representada por uma das suas sacerdotisas. Da sua união dependia
a prosperidade do país.
Em sua homenagem teve inicio o sacerdócio
feminino iniciado Enheduana e seu pai Sargão de Akkad. O papel
das sacerdotisas nos templos sumérios era o de prostitutas sagradas que eram
usadas nos rituais do casamento sagrado, responsáveis por aplacar a fúria dos
deuses, pelas boas colheitas e fertilidade de homens e mulheres, mantendo a paz
na Suméria. Essas mulheres eram as intermediárias entre os deuses, os
governantes e o povo. As sacerdotisas possuíam o hábito de beber
cerveja, mesmo sendo proibidas por lei que coibiam essas práticas por ela com a
pena de morte.
LILITH
– Lilith era chamada de a Grande Deusa, a Lua Negra, a Raínha do Céu e era associada
a coruja. É no Alfabeto de Bem-Sira, do século VII, que Lilith é considerada a
predecessora de Eva. Para
os hebreus, a primeira esposa de Adão que se recusou a se deitar por baixo no
ato sexual, exigindo sexo de igual para igual. Por isso abandonou Adão, não
acatando ao domínio do homem sobre a mulher. Justou-se aos anjos caídos, se
casando com Samael. Depois ela foi eliminada pelos hebreus no Velho Testamento.
Na mitologia judaica é o
demônio, acusada de ser a serpente que levou Eva a comer o fruto proibido. Na Mesopotâmia é associada a um demônio feminino da
noite, portadora de doenças e da morte. Na Suméria ele surgiu por volta de 3
mil aC., como demônios e espíritos malignos de ventos e tormentas. Na Babilônia
simbolizava a lua, deusa das fases boas e ruins. Nas lendas vampíricas ela paria 100
filhos, súcubus e lilims, se alimentando da energia do sexo e do sangue humano.
Outras expressões de Lilith são identifcadas como manipuladora dos sonhos
humanos gerando poluções noturnas que cortava o pênis com a vagina e matava com
aperto esmagador ao peito. Representa a liberdade sexual feminina e a castração
masculina.
A DEUSA NUBARSHEGUNU – Essa deusa tinha uma filha, a bela e viva
Ninlil. A mãe já tinha notado o belo jovem que era Enlil, o ser de olhos
brilhantes. Considerando que ele era um bom partido, encorajou a filha a
seduzir o efebo, com vista no casamento. Ninlil escutou os sábios conselhos de
sua mãe e a armadilha funcionou às maravilhas. Mas no momento de consumar a
união, Ninlil protestou e recusou satisfazer os ardores do jovem deus. Este,
mortificado, voltou como uma fera para a cidade, decidido a todos os extremos.
Depois convocou o seu conselheiro Nusku que arranjou-lhe uma barca para que ele
e Ninlil, os dois apaixonados, de novo juntos, embarcassem para um cruzeiro sentimental pelo Eufrates. Mas,
no caminho, a jovem recursou outra vez ceder. Enlil perdeu a cabeça e
violentou-a. uma catástrofe! Os 50 deuses berraram contra a infâmia, não
tolerando a violação, baniu Enlil. Mas Ninlil, moça honesta e nada rancorosa,
acompanha-o aos infernos. Esta prova de amor inflama a imaginação do violador
que arquiteta um estratagema muito complicado para sair do apuro. Na travessia
dos infernos, por três vezes ele se transforma em divindades menores, guardiãs
ou guias das Trevas: de cada vez ele aproveita para fecundar Ninlil. Assim,
três crianças são engendradas e tornam-se divindades infernais que permitem ao
seu irmão mais velho, Nanna, subir tranquilamente e instalar-se no trono lunar.
O caso termina com os dois apaixonados reintegrados na cidade.
A
DEUSA NISABA - No sonho de Gudéia registrado no grande hino de seu templo,
Nisaba é a donzela do estilete divino de prata (ou seja, o lápis ou caneta
divinos) que consulta uma tábua estelar que tem aos seus joelhos. Na revisão do
Ano Novo, Nisaba colocava as tábuas de lápis lazuli em seus joelhos, pegava o
estilete dourado em suas mãos e alinhava os servos para Nanshe. Ela não era uma
secretária. A feitura das listagens no Hino de Nanshe era feita por seu marido,
Haya. Aqui, ela é aquela que matém os registros para Enlil. Conforme dito num
hino para o rei Ishib-irra, "nos locais onde ela se aproxima, encontra-se
a escrita". Ela é o paradigma da mulher sábia, de grande percepção e
conhecimento, que tudo sabe. Ela é também a grande professora, que dá conselhos
para toda terra e dá sabedoria aos reis. Segundo as palavras de um hino do rei
Lipit-Ishtar: Nisaba, mulher radiante de alegria, Mulher fiel, escriba, deusa
que tudo sabe, Guiou seus dedos sobre a argila, Embelezou a escrita nas tábuas,
Fez a mão resplandecente com o estilete de ouro, a linha de medição, a linha de
pesquisa, A régua que dá sabedoria,Nisaba deu a você da forma mais generosa. A
escrita, a contabilidade e a tomada de notas são essenciais para a civilização
urbana. Por isso, ela era a deusa da escrita, da contabilidade, da pesquisa.
DEUSA NUNGAL – A deusa
Nungal, a carcereira do Ekur, é a responsável pela guarda de pessoas em
calabouços e prisões. Ao seu encargo estava o complexo de templos de Enlil, o
jovem deus mais importante dos sumérios, situado em Nippur. Nungal é cantada em
um hino, onde a própria deusa conta o papel terrível e de grande importância
que esta parte do templo, quando ela descreve os grandes dias de julgamento e
seu papel neles. Nestes dias, o acusado é julgado pelas águas do rio. Se ele
boiar ou nadar, ele passa no teste. Mas mesmo se o acusado falhar no teste, não
será permitido que este se afogue. O bastão divino de Nungal salva o condenado
das águas, e ele é dado para ela que o irá colocar na prisão, chamada pela
deusa de "casa da vida". Nungal descreve o calabouço com termos que
lembram a definição poética do inferno. A prisão de deusa é um local para
suspiros e queixas, na qual os infelizes passam os dias em lágrimas e lamentações.
Nesse lugar, ela mantém os condenados sob sua guarda, até a hora em que ele ou
ela tenham chegado ao "coração de seu deus(a)". Nesse momento,ela
então irá purificar o condenado e retorná-lo (ou a ela) à boa "mão de seu
deus(a)". Por isso, ela guarda e preserva o prisioneiro ou prisioneira,
possibilitando que ele ou ela retornem à sociedade.
NINKASI,
AQUELA QUE ENCHE A BOCA – A deusa Ninkasi nasceu do fluxo de água brilhante,
cultivando a cevada florida, pela mistura do malte com as especiarias e pelo
condicionamento da cerveja no vasilhame. Era filha de Enki, deus das águas
doces e do conhecimento, e de Ninti, deusa dos oceanos, que participaram da
criação humana com seu próprio sangue e modelando o homem na argila. Um poema sumério foi escrito em sua homenagem por
volta de 3.900 aC., contendo a primeira receita da cerveja, criada a partir do bappir que é o pão de cevada
maltada e farinha de cevada, acrescido de água, malte, mel e tâmaras. É
considerada a saciadora dos desejos e dos corações.
A DEUSA NINGIRIM - Nos
textos mais antigos do período histórico, o dos textos de Fara e Abu Salabikh
(cerca de 2.500 Antes da Era Comum), havia uma deusa muito importante chamada
Ningirim, que aparece de forma proeminente na literatura de encantamentos como
exorcista dos deuses, a deusa das fórmulas mágicas e da purificação da água. Em
tempos sumérios posteriores, exorcismos e encantamentos estão nas mãos de Enki
e seu filho, Asarluhi; ainda mais tarde na literatura mesopotâmica, os papéis
destes dois últimos deuses são tomados por Ea e Marduk. Ningirim nunca
desaparece inteiramente da literatura mágica posterior da Mesopotâmia, mas ela
fica detentora de um papel menor cuja função em exorcismos e encantamentos cede
lugar a Enki e Asarluhi, sendo portanto um pálido eco de sua importância
anterior.
A DEUSA NISABA
Protege o crescimento dos cereais, simbolizada pelo grão divino. A deusa
Nisaba, a deusa da vegetação mais estreitamente associada com grãos, também é
conhecida por arrumar os galpões de armazenagem de grãos, bem como é
identificada com a sala de armazenagem. A área do templo chamada de giparu, a
área para armazenagem de alimentos, também servia como ala onde morava a Alta
Sacerdotisa ou Alto Sacerdote da cidade.
DEUSA
NINURRA – A mudança de gênero da deusa Ninurra para deus reflete a evolução da
cerâmica desde seus tempos iniciais, ou seja, a transformação de tarefas
desenvolvidas no lar por mulheres e que passam para a esfera profissional
masculina. Por isso ela representa a arte de fazer cerâmica. Assim, a deusa da
cerâmica foi transformada num deus e por último, tendo sido absorvida pela
figura de Enki. Uma mudança semelhante ocorreu nas artes Mânticas.
A DEUSA ARURU – a deusa criadora. Ela criou no deserto, com pouco de argila e
de água, um ser excepcional que deveria vencer a presunção do fogoso rei de
Uruk. Enkidu, uma criatura do silencio noturno, nasceu, criado entre as feras e
coberto de pelos. Em combate, foi vencido por Gilgamesh.
Outras
deusas são representadas pela Deusa Uttu, o arquétipo da esposa. Já a deusa
Nintu também é chamada A Grande Sábia de todas as Coisas.
AS ESTATUAS FEMININAS – Nas estátuas
femininas, as mulheres usam longos panos deapejados que deixam descobertos o
ombro e o braço direitos. Observam0se vários traços comuns estas estátuas:
ombros muito largos, peito trapezoidal afinando-se na cintura, cotovelos
exageradamente pontiagudos, olhos e sobrancelas incrustados com conchas ou
betume, expressão do rosto parada. A
mais notável estátia é a da Grande Cantora Ur-Nina que está sentada sobre uma
almofada de pernas cruzadas, charme aristocrático, sorriso calmo, olhos
maliciosos, boca em biquinho, cabeleira delicadamente penteada e dividida no
alto da cabeça e que desce em ondas negras até o meio do tronco, com um
gracioso nó de cabelos sobre a têmpora, na altura das orelhas. Também a estátua
da Mulher Melancólica do Rei Manishtusu: pequeno busto de mulher, rosto
embonecado, cercado por cabelos ondulados presos por uma fita, olhos muito
expressivos, serena. A Estátua da Mulher de Echarpe, a eposa de Gudéia, que usa
um vestido de duas peças, ornamentado com franjas e rendas de argolinhas,
pescoço enfeitado com um colar rígido de várias voltas sobrepostas, a cabeleira
apertada sob um echarpe segura por uma fita na testa, nobre e altiva.
CARPIDEIRAS:
AS CANTORAS DOS LAMENTOS: O papel da deusa como carpideira estende-se para além
da família, pois as deusas eram as principais cantoras dos lamentos na tradição
literária suméria, as principais carpideiras sobre as cidades sumérias
destruídas. Os lamentos congregacionais chamados balags: Nessas composições, o
mais comum é ver a deusa Inana fazer lamentos sobre cidades destruídas.
OS
LAMENTOS DA DEUSA AMAGESHTINANNA –Os lamentos da deusa Amageshtinanna feitos
para seu irmão Dumuzi, que havia morrido e então descido ao Reino dos Mortos.
Esses lamentos eram tão incessantes que os deuses concordaram que ela tomasse o
lugar de Dumuzi no Reino dos Mortos por certo período durante o ano.
OS
LAMENTO DE INANNA - São reconhecidos os
lamentos que Inana cantou pelo mesmo Dumuzi que tinha sido seu esposo. O
lamento que Inana cantou sobre o cadáver do rei Ur-Nammu, a quem ela
identificava como Dumuzi.
O
LAMENTO DE NINGAL - O lamento de Ningal sobre a cidade de Ur, foi escrita pouco
após a destruição da cidade, ao final da terceira dinastia de Ur. Nesse poema,
Ningal, a deusa de Ur, chora pela cidade. De forma significativa, ela é
mostrada cantando dois lamentos, um antes da cidade ser destruída, na tentativa
de impedir a destruição iminente; no segundo lamento, quando a cidade foi
destruída, ela se queixa da perda da cidade e de seu lar. Ela se lamenta:
"seus cabelos ela cortou como se fossem galhos; em seu peito, sobre o
ornamento de moscas de prata, ela bateu e bradou "pobre de minha
cidade!", com os olhos cheios de lágrimas, amargamente ela chorou".
Com isso, ela pretendia convencer os deuses a não destruir a cidade de Ur.
Neste caso, ela não teve sucesso. Mas após a destruição, ela continuou o
lamento, a fim de despertar a misericórdia dos deuses.
O
LAMENTO DE ERIDU - Mostra a deusa Damgalnuna chorando a perda de sua cidade,
Eridu. Ela começa o lamento: "Ela tocou seus seios como se fossem garras,
ela levou suas mãos aos olhos, ela soltou um grito de dor em frenesi, ela
segurou a adaga e a espada em suas duas mãos; as armas rangiram ao se tocar, e
ela cortou seus cabelos como galhos, soltando um amargo lamento".
LAMENTO
DE NINSHUBUR - Quando Ninshubur, a assistente e conselheira de Inana, começa a
fazer o lamento por sua senhora, que está presa no Reino dos Mortos, ela
"esbugalhou seus olhos, ela tocou em seu nariz, ela tocou nas suas coxas
com as mãos tal qual garras". O seu choro na Descida à Mansão dos Mortos
tinha um objetivo específico: ela chorava frente aos deuses a fim de fazê-los
agir para resgatar Inana, que estava sendo mantida como prisioneira no Reino
dos Mortos.
A HIEROGAMIA: O DIVINO
FEMININO
SARGÃO DE ACAD – Sua mãe era uma
sacerdotisa de uma pequena aldeia, Azupiranu, nas marges do Eufrates. Naquela
época as sacerdotisas estavam proibidas de conceberem, mas não era obrigadas à
castidade. A futura mãe encontrou um desconhecido e o que tinha de acontecer
aconteceu. Quando a criança nasceu, ela colocou-a em uma cesta que confiou às
águas negligentes do Eufrates: “Minha mãe, a grande-sacerdotisa, concebeu-me e
pôs-me no mundo em segredo. Ela colocou-me dentro de um cesto de junco cuja
abertura fechou com betume. Jogou-me no rio sem que eu pudesse sair. O rio
levou-me até a casa de Aqqi, o aguadeiro, que me adotOu como seu filho e me
criou, ensinando-me a profissão de jardineiro. Foi quando a deusa Ishtar se
enamorou de mim e foi assim que durante 56 anos eu exerci a realeza”. Ele,
então, destronou o Rei Urzababa e tornou-se o novo soberano, criando a cidade
de Acad. Conta-se que ele venceu 34 batalhas, destruiu as muralhas até o mar,
criando a monarquia unitária. Morre ele em 2379, sucedido por seu filho Rimush.
A
EPOPÉIA DE GILGAMESH - No Épico de Gilgamesh, a mãe divina de Gilgamesh,
Ninsun, explica ao jovem monarca o significado de seu sonho. Meio milênio
antes, num hino ao Rei Gudéia de Lagash (cerca de 2.200 Antes da Era Comum, ou
cerca de 4.200 anos atrás), a deusa Nanshe é chamada da grande intérprete de
sonhos dos deuses, uma especialista neste campo, sendo então quem irá
interpretar o sonho de Gudéia para ele. Além de se poder pedir para Nanshe
auxiliar na interpretação de sonhos, ela também podia auxiliar na incubação de
um sonho, ou seja, fazer um sonho acontecer através de um conjunto de imagens
previamente estudadas e trabalhadas às quais se pretende encontrar resposta no
sonho. Este é o papel que Nanshe desempenha na Canção dos Bois do Arado, onde o
fazendeiro vai sonhar com Nanshe e faz com que ela fique ao seu lado para
induzir o sonho.
No caso de Gilgamesh, onde a mãe do jovem rei de Uruk
explica o significado dos dois sonhos que Gilgamesh teve, quando este vai até
ela por este motivo. Como muitas destas artes, a interpretação dos sonhos moveu
para longe da casa, transformando-se também numa das especialidades da Alta
Sacerdotisa de Ur.
Gilgamesh construiu as gigantescas muralhas de Uruk, com
900 torres de vigia semi-circulares. Foi o quinto soberano da I dinastia de
Uruk, reinando por 127 anos. Nunca foi vencido, arrogante, de temperamento
vulcanico. O seu desejo insaciável não deixou uma virgem ao seu
apaixonado, nem a filha do guerreira, nem a mulher do nobre. Era erotômano,
provava a esposa antes do marido.
Os abusos de Gilgamesh foram denunciados
aos deuses que apelaram para Aruru, a deusa criadora que mesmo criando Enkidu.
Conta-se que uma prostituta seduziu e civilizou Enkidu que conta os excessos de
Gilgamesh, enfurecendo-se. Dá-se o confronto e Enkidu reconhece a realeza do
adversário. Por sua vez, Gilgamesh modera-se, a cidade volta a ter paz e
liberdade.
Certa feita, Agga, o rei de Kish exigiu
submissão de Gilgamesh. Este aconselhando-se com a Câmara Alta dos Anciãos,
recebeu o aconselhamento de submeter-se a Kish. Então, ele convoca a Câmara
Baixa que é composta por todos os cidadãos de Uruk, que apoiou Gilgamesh e
marcha contra Kish, não havendo conflito pela existência de um acordo entre
ambos.
Doutra feita, Gilgamesh ouviu as queixas
da bela deusa do Amor, Inanna-Ishtar que havia descoberto uma árvore meio
enraizada pelo vento nas margens do Eufrates. A deusa apanhou-a e plantou-a no
seu jardim em Uruk com a intenção de extrair dela a madeira para fabricar uma
cama e uma cadeira. Mas quando a árvore cresceu, fopi conquistada pela Serpente
que fez nela um ninho, o pássaro Imdugud instalou-se nela, assim como o demênio
Lilith. Foi aí então que Gilgamesh armou-se de sua lança e fez a serpente em
pedaços, afugentando o pássaro Imdugud e Lilith. A deusa recuperando sua
árvore, constriu um tambor pukku e uma varinha nikku que, um belo dia, caíram
nas profundezas dos infernos.
A deusa do Amor, Innana-Ishtar apaixona-se
por Gilgamesh e descaradamente vale-se de provocá-lo. O rei que se tornou
virtuoso, repele-a com brutalidade. Então a deusa, humilhada, apela ao pai dos
deus Anu, seu pai, para que ele faça descer à terra o Touro Celeste, a fim de
matar Gilgamesh e arrasar Uruk. Como o patriarca dos deuses demora, a deusa do
Amor ameaça-o de abrir as portas dos infernos: os mortos então voltariam à
terra. Na cede e Innana-Ishtar conduz o Touro até Uruk. O ataque mata centenas
de guerreiros de Uruk, até que Enkidu se agarra aos chifres do Touro e com
apoio de Gilgamesh matam-no. Mas os deuses condenaram Enkidu à morte, por ter
participado do massacre de Humbaba e do Touro. Morre Enkidu doente. Gilgamesh
vendo-se mortal, com apenas dois terços de essência divina, busca a imortalidade
numa vida errante até chegar nas águas da morte. Ele encontra Utanapishtim, o
salvador da humanidade no dilúvio que, atendendo aos pedidos da esposa, revela
o segredo da planta da juventude eterna no fundo das águas. Gilgamesh mergulha
e volta com a famosa erva. No regresso, ao banhar-se numa nascente, uma
serpente surge e se apodera da preciosa planta. É o fracasso irremediável.
ENKIDU - Os sumérios então levam até Enkidu uma
cortesã, confiando que a atração dele por ela poderia trazê-lo para o mundo dos
humanos. Ela se mostra para ele. Enkidu, deveras atraído, une-se a ela por seis
noites e sete dias. Finalmente saciado, ele tenta retornar para seus animais.
Mas três fatores intervém. Os animais agora fogem dele, pois Enkidu agora tem o
cheiro de seres humanos. Enkidu tenta correr atrás dos animais, mas ele não
consegue correr tanto quanto antes. E terceiro, seus olhos se abriram, e ele
entende o que lhe aconteceu, dá-se conta de que ele pertence ao mundo dos
homens e mulheres. Então, ele retorna à cortesã, que começa a dar a ele suas
primeiras lições sobre civilização. Ela divide com ele suas roupas, ensina-lhe
a comer, leva-o até os pastores, ensina-lhe a beber cerveja. Depois de tudo
isso, Enkidu está pronto para realizar seu destino e razão pela qual foi
criado, indo então à cidade para encontrar Gilgamesh.
BIBLIOGRAFIA
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