Representação do auge do
rito de Beltane, o Gamo Rei vai se deitar com a Deusa.
OS
CELTAS - Os Celtas é o povo que existiu por
cerca de dois mil anos entre o II milênio a.C até o advento do Império Romano
por volta do sec. I d.C, no norte da Europa ocidental. Era um povo da família
linguística indo-europeia que ocupavam desde a Península Ibérica até a
Anatólia. Entre as suas tribos estão os Gauleses, os Bretões, os Caledônios, os
Escotos, os Trinovantes, os Batavos, os Eburões, os Gálatas, entre outors.
Foram eles que introduziram as calças na indumentária masculina. Suas tradições
são identificadas na Irlanda, Pais de Gales, Cornualha, Gália, Galiza e norte
de Portugal.
Os celtas, conforme Launay (1978) elevavam muito alto um
ideal da perfeição humana, na aparecia fisica e no comportamento em sociedade. Um
defeito físico era contrário à beleza, ele desqualificava sem apelação.
Os celtas foram os primeiros a escrever romances de amor
na cultura ocidental. Seu amor à beleza física elevava entre eles o erotismo ao
nível estético e culminava na obra de arte. Para os celtas o sexo é o retorno ao paraíso e o orgasmo é a
porta de entrada para o paraíso.
Nos
contos míticos das tribos celtas pré-cristãs encontrava-se a pederastia entre
as atividades sexuais, entretanto, registra-se que a homossexualidade era
punida em certas tribos pela influencia cristã. Tambem são detectadas
bissexualidade no relato de luta entre os heróis e irmãos Cúchulaim que foi instruído militarmente pela mulher Scáthach, e Ferdiah, com narrativas de beijos e compartilhamento de
camas entre ambos. Dessa luta, Cúchulaim atinge com sua arma misteriosa Gáe
Bulg o ânus do irmão. Muitas mulheres nuas são enviadas diante dele para
acalmar seu furor e se opor à carnificina.
Diodoro
da Sicilia assinala que embora as mulheres sejam belas, os homens se entregam à
paixão contra a natureza pelo sexo masculino. Deitados em terra sobre peles de
animais selvagens, têm por habito de cada lado um companheiro no leito,
acusando-os não só de pederasta, mas de proxenetismo homossexual.
Era um
povo excessivo tratados na literatura como brutos ébrios de sangue, antropófagos,
incestuosos e pederastas. Guerreavam nus, brandindo seus escudos num ritual que
concedia à nudez um poder de imunização contra os ferimentos e a morte.
Entre os
celtas a união sexual desempenha papel decisivo na entronização que se segue à
eleição. O Rei Cormac não foi verdadeiramente rei da Irlanda, já que não dormiu
com a rainha Méve que participava da divindade. O rei, diante de um grande
número de pessoas, pratica uma união sexual com uma égua branca, sacrificada a
seguir. O rei se banhava no caldo do cozimento da carne da égua e a bebia. Era o
rito de fecundidade indo-europeu.
O chefe
Cathal certa vez reuniu num espaço descoberto as mulheres cativas e obrigou-as
a andar de quatro, cada uma carregando nas costas um dos jovens vencedores.
Nas festas
celtas, as mulheres volúveis encontravam amantes, os moços, esposas; e os reis,
soldados. Há, inclusive, a cena onde Cuchulainn é obrigado a ceder ao direito
de cuissage de seu rei que, segundo o costume, se outorga a primeira noite de
toda jovem casada, o que não é um privilégio e, sim, uma obrigação para com
ele. Conchobar não está entusiasmado, pois teme a cólera do marido. Assim,
aceita de bom grado que dois druidas se deitem entre a jovem e ele.
Também estava
previsto o caso de uma mulher casada tomar um amante com autorização do marido.
No século
XI, a igreja irlandesa segue ainda preceitos célticos em matéria de casamentos
e divórcios. O Papa Alexandre II se indigna que eles desposem suas madrastas e
não tenham pudor de delas terem filhos; de que um homem possa viver com a
mulher de seu irmão, quando este ainda vive, que um outro possa viver em
concubinato com duas irmãs e que muitos deles, repudiando a mãe, desposem as próprias
filhas.
Enfim,
os celtas se amavam e se entrematavam, trocavam presentes e cometiam atos
facínoras uns contra os outros.
Estátua da Rainha Maedbh em Dublin, Irlanda (Patrick
O'Reilly, escultor)
A MULHER CELTA - As mulheres celtas eram belas e
exibiam vestes e adereços para se embelezarem mais. Possuiam igualdade de
direitos e cediam sua virgindade aos prazeres de outros e se ofendiam quando
eram recusadas pelos homens. Atendiam assim as exigências da natureza copulando
abertamente com seus homens. Também atuavam incestuosamente na iniciação sexual
dos irmãos.
As
mulheres celtas possuíam aptidões de ensinar aos jovens guerreiros
aperfeiçoando os seus conhecimentos das armas. Entre os aprendizes está
Cuchulainn.
A sexualidade feminina, segundo Markale
(1977), era tratada naturalmente e sem ser reprimida, uma vez que se encontrava
inerente à natureza humana. O corpo da mulher é a fonte do prazer dela e de seu
homem, por posssuir os ciclos da natureza e é senhora do seu próprio corpo.
Entre esse povo a mulher oferecia
prazerosamente a amizade de suas coxas, transformando a vida com o prazer do sexo ao conduzir seu
homem ao outro mundo, uma vez que pelo sexo ela era iniciada nas artes
divinatórias, tomando consciência do próprio corpo ao prazer. Exemplos estão em
Isolda, Grainné e Desidré, além de outras que se tornaram sacerdotisas,
druidesas e xamãs, bem como magistas, guerreiras e comandantes de batalha.
Não havia entre os celtas a
condenação pelo adultério nas relações sexuais extraconjugais, possuíam o
direito ao divorcio, herdavam propriedades, portavam armas e exercia atividades
médicas. Só quando o Cristianismo imperou entre os celtas por volta do séc. V,
por meio do bispo Patrício, que todos esses direitos adquiriram feições
pecaminosas e foram combatidos.
As
mulheres lendárias não recuam diante de nada para conseguir o homem de sua
escolha. Conta-se que as mulheres respondem aos romanos: “Nós damos satisfação
às exigencias da natureza de maneira preferível à de vocês, ó romanas. Nós nos
unimos em pleno dia aos melhores homens, enquanto vocês deixam-se perverter em
segredo à noite pelos mais vis”.
As
mulheres celtas são assim descritas na literatura: “[...] então a jovem desatou
os cabelos para lavá-los e pegou-os com as duas mãos, deixando-os tombar sobre
o busto. Suas mãos eram mais brancas que a neve de uma noite e suas faces mais
rosadas que uma dedaleira. Tinha uma boca fina e regular com destes brilhantes
como perólas. Mais cinzentos que o jacinto eram seus olhos. Vermelhos e finos
seus lábios. Seus ombros eram esbeltos e suaves, ternos, doces e alvos os seus
braços. Seus dedos eram compridos, delgados e brancos. Tinha lindas unhas
rosadas. Seus flancos era deslumbrante, mais branco que a espuma do mar. Suas coxas
eram suaves e nacaradas, sua panturrilhas estreitas e vivas, seus pés finos de
pele delicada, sadios e firmes seus calcanhares brancos e redondos seus
joelhos...”.
O
MOSTEIRO DE SANTA BRÍGIDA, EM KILDARE – Templo misto em que as mulheres
realizavam diversas funções sacerdotais e vigiando o fogo que não podia se
apagar. Assim, era conhecida como Minerva na Gália, abadessa de Kildare. A sua
festa cai no dia de Imbolg, a festa pagã da primavera. A jovem Brígida, que não
era ainda a santa, mas que dava em partilha aos pobres seus rebanhos e seus
bens, atraira sobre si a cólera de seus pais, que decidiram desfazer-se de uma
filha indifgna que dava o exemplo do desregramento. Fizeram-na subir para uma
carruagem não para um passeio, mas para vendê-la ao rei Leinster.
A REVOLTA
DA RAÍNHA BOUDICA – É a rainha dos Icenos, uma tribo druida e caçadores, líder guerreira
de uma das mais violentas rebeliões que enfrentou o Império Romano ao ser
atacada por ordem de Nero, libertando as tribos da Britania, que ocorreu entre
59 e 60 a.C, após a morte do seu marido, o rei Iceni Prasutagus. Segundo o
historiador romano Tácito, Boudica resistiu e foi capturada, torturada e
açoitada, teve suas filhas estupradas na sua frente, sua casa e tribos foram
pilhadas como prêmio da guerra, todos os membros da tribo foram transformados
em escravos. Ela foge e jura vingança, assumindo o controle dos Icenos e dos Trinobantes,
atacando e incendiando Londres e cidades bretãs, conseguindo unir as tribos
celtas. Os romanos só venceram os guerreiros da rainha depois de muitas
batalhas sangrentas. Ela sobreviveu a todas as batalhas, retonando a sua casa
com suas filhas, cometendo o suicídio por envenenamento para não se deixarem
ser capturadas pelos inimigos, preferindo a morte ao domínio romano. Tornou-se
o símbolo romântico de revolta e
vitória à vista da adversidade, existindo uma estatua dela, em bronze, com longos cabelos e um perfil desafiador na
frente da Casa do Parlamento inglês.
A
RAÍNHA RHIANNON, A DIVINA RAINHA DAS FADAS – A Grande Rainha Rhiannon era
casada com Pwyll, um mortal, que dera-lhe um filho que desaparecera ao nascer.
Quando as donzelas acorreram, esfregando o sangue de um animal de estimação no
rosto dela, acusaram-na de ter comido o filho, sendo condenada a carregas todos
os hóspedes do marido nas costas. Ocorre que sete anos depois, o filho
reapareceu. Ela vivia acompanhada de três pássaros mágicos que encantavam os
vivos e acordava os mortos, tornando-se a deusa dos encantamentos, da
fertilidade e do submundo. Também é a deusa gaulesa da morte e tida como a
deusa-cavalo gaulesa do inferno, que se identifica com a noite, a emoção, a lua
e o drama. Era filha de Hefaid, senhor do outro mundo. Conta-se que ela, certa
vez, tornou-se uma cavaleira, vestindo um hábito de ouro e montando um corcel
branco que vai tentar o príncipe. Mas sua carreira é tão rápida que nenhum
mensageiro enviado em seu encalço conseguia alcançá-la. O príncipe então parte
em sua perseguição e a interpela. Ela pára pedindo que a salve de um casamento
imposto, tomando-a por esposa.
A BELA DECHTIRÉ - O rei mítico
Conchobar, deus da fertilidade pelo fao de sua iniciação e de suas funções
reais, ouve falar de uma mulher muito bela Dechtiré, num palácio do outro
mundo. Cônscio de suas prerrogativas, ele a pede para a noite. Mas ela está grávida
e, uma vez no leito, queixa-se das dores do parto. Conchobar resolve
dormir e, de manhã, encontra um recém-nascido
entre a mulher e ele. Lá em cima, Dechitiré volta a ser virgem e esposa Sualtam
de quem tem um filho, que se confunde com o primeiro. Porém, uma vespa que ela
engoliu em sonho lhe revela que o verdadeiro pai é o deu Lugh-Braço-Longo. O menino
recebe o nome de Setanta e será mais tarde cognominado Cuchulainn. Entende-se
que ele nasceu duas vezes e que tem quatro pais, o do outro mundo, o da
fertilidade, o deus solar e um pai terrestre. Trata-se de um herói
sobrecarregado.
A MÃE DO REI MONGAN – O rei
fiachna, Iegal, fora guerrear em Alba contra os saxões. Deixou sua esposa na
Irlanda quando esta recebera a visita de um homem imponente que lhe revela que
seu marido será morto em combate no dia seguinte, a menos que ela consinta que
ele lhe dê um filho. Para salvar o marido, a esposa consente e ele é
miraculosamente salvo. Nasce, então, o rei Mongan que nada tinha de mítico,
pois viveu na época história e morreu em 615, tendo três pais, dois dos quais
deuses.
ÉTAIN – é uma mulher indefinível,
reaprece em ciclo com o mesmo nome e a mesma aparência, como se simbolizasse
uma permanência, entretanto, ela é a esposa de um rei de Tara, Eochaid Airem,
de quem tem uma filha muito parecida consigo mesmo, que Eochaid a toma por ela.
Muito tempo depois ela aparece como mulher de Cormac Conn Loinges, de quem tem
filhos. Evidencia-se a seguir que Mess Buachalla, sua neta, foi mãe de seu
irmão e de seu pai. Mas Etain teria sido a reprodução da Rainha Méve que
dirigiu os exércitos do Connaught contra os do Ulster. Méve possuía caráter divino,
pois praticava licenças sexuais acusando seu dom de fetilidade. Pois, para os
celtas, a mulher que se oferece insolentemente ao homem de sua escolha não é
uma desavergonhada, é uma deusa desfrutando de suas prerrogativas soberanas.
SCATACH – é a feiticeira
escocesa que ensinou a Cuchulainn a ciência e proeza de vencer o inimigo.
Cuchulain desafia a feiticeira que tem dois filhos, ele mata um deles e leva a
cabeça para a mãe que reconhece a sua vitoria e o recebe em casa para cuidar de
seus ferimentos. À noite, sua filha Uatach, que se enamora do herói, vem
esgueirar-se nua em seu leito. Ele a repele, pois existe um géis, um tabu, que proíbe
a um ferido ter contato com uma mulher. Contudo, a jovem, em troca de seu amor,
lhe indica como obter de sua mãe que ela lhe ensine os três triuques de que ela
detem o segredo e que farão dele um combatente invencível. Cuchulainn surpreende
Scatach, conforme sua filha Uatach lhe havia ensinado. Sob ameaça de morte, ele
exige que ela lhe ensine os truques secretos, que ela lhe conceda a filha por
um ano e também “a amizade de suas coxas”, isto é, o complemento de sua iniciação
pela união carnal.
CHIOMARA – Era a mulher de
um rei gaulês e prisioneira dos romanos. Violada por um centurião, ela é
revendida por 40 libras de prata a seu marido, que aceita o ajusta para
salvá-la do cativeiro. Chiomara, no ponto de encontro, manda os homens de seu
marido, que tinham ido levar o resgate, abaterem o centurião. Manda que lhe
cortem a cabeça que ela leva numa dobra do manto. No momento em que ela reecontra
o marido, este observa que é bonito respeitar um compromisso. Ela deixa rolar a
cabeça do centurião aos seus pés: “Há uma coisa mais bela do que cumprir um
contrato. Dois homens vivos não podem gabar-se de me haver possuído”.
No
reino lendário dos celtas ainda são encontradas outras mulheres que merecem
destaque. Exemplo disso é a raínha Maedbh, esposa do rei Ailil que mantinha
amantes e conta-se que ela jamais se deitou com um homem sem que houvesse outro
lhe esperando na sombra. Os mitos de Erc compreendem a mulher mais forte do mundo Fianna Éireann, ou Aife, que
demonstrava atividades guerreiras às mulheres celtas. Os registros da rainha
Cartimandua que era Era a rainha dos brigantes,
ex-mulher de Venútio, casada com Vellocatus, quando o ex-marido investiu numa
guerra contra ela, dando por seu desaparecimento.
O RITO DE BELTANE –
Festival celta que ocorria no verão com danças em volta das fogueiras, nas
homenagens ao deus Bellenos. Está relatada na obra “As brumas de Avalon” de
Marion Zimmer Bradley. Na antiguidade era destinado às práticas despudoradas do
sexo, celebrando a fertilidade, quando a donzela vira a caça dos caçadores. A festa
se realiza até o presente, agora na primavera.
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