segunda-feira, outubro 08, 2012

A MULHER CELTA


Representação do auge do rito de Beltane, o Gamo Rei vai se deitar com a Deusa.

OS CELTAS - Os Celtas é o povo que existiu por cerca de dois mil anos entre o II milênio a.C até o advento do Império Romano por volta do sec. I d.C, no norte da Europa ocidental. Era um povo da família linguística indo-europeia que ocupavam desde a Península Ibérica até a Anatólia. Entre as suas tribos estão os Gauleses, os Bretões, os Caledônios, os Escotos, os Trinovantes, os Batavos, os Eburões, os Gálatas, entre outors. Foram eles que introduziram as calças na indumentária masculina. Suas tradições são identificadas na Irlanda, Pais de Gales, Cornualha, Gália, Galiza e norte de Portugal.
Os celtas, conforme Launay (1978) elevavam muito alto um ideal da perfeição humana, na aparecia fisica e no comportamento em sociedade. Um defeito físico era contrário à beleza, ele desqualificava sem apelação.
Os celtas foram os primeiros a escrever romances de amor na cultura ocidental. Seu amor à beleza física elevava entre eles o erotismo ao nível estético e culminava na obra de arte. Para os celtas o sexo é o retorno ao paraíso e o orgasmo é a porta de entrada para o paraíso.
Nos contos míticos das tribos celtas pré-cristãs encontrava-se a pederastia entre as atividades sexuais, entretanto, registra-se que a homossexualidade era punida em certas tribos pela influencia cristã. Tambem são detectadas bissexualidade no relato de luta entre os heróis e irmãos Cúchulaim que foi instruído militarmente pela mulher Scáthach, e Ferdiah, com narrativas de beijos e compartilhamento de camas entre ambos. Dessa luta, Cúchulaim atinge com sua arma misteriosa Gáe Bulg o ânus do irmão. Muitas mulheres nuas são enviadas diante dele para acalmar seu furor e se opor à carnificina.
Diodoro da Sicilia assinala que embora as mulheres sejam belas, os homens se entregam à paixão contra a natureza pelo sexo masculino. Deitados em terra sobre peles de animais selvagens, têm por habito de cada lado um companheiro no leito, acusando-os não só de pederasta, mas de proxenetismo homossexual.
Era um povo excessivo tratados na literatura como brutos ébrios de sangue, antropófagos, incestuosos e pederastas. Guerreavam nus, brandindo seus escudos num ritual que concedia à nudez um poder de imunização contra os ferimentos e a morte.
Entre os celtas a união sexual desempenha papel decisivo na entronização que se segue à eleição. O Rei Cormac não foi verdadeiramente rei da Irlanda, já que não dormiu com a rainha Méve que participava da divindade. O rei, diante de um grande número de pessoas, pratica uma união sexual com uma égua branca, sacrificada a seguir. O rei se banhava no caldo do cozimento da carne da égua e a bebia. Era o rito de fecundidade indo-europeu.
O chefe Cathal certa vez reuniu num espaço descoberto as mulheres cativas e obrigou-as a andar de quatro, cada uma carregando nas costas um dos jovens vencedores.
Nas festas celtas, as mulheres volúveis encontravam amantes, os moços, esposas; e os reis, soldados. Há, inclusive, a cena onde Cuchulainn é obrigado a ceder ao direito de cuissage de seu rei que, segundo o costume, se outorga a primeira noite de toda jovem casada, o que não é um privilégio e, sim, uma obrigação para com ele. Conchobar não está entusiasmado, pois teme a cólera do marido. Assim, aceita de bom grado que dois druidas se deitem entre a jovem e ele.
Também estava previsto o caso de uma mulher casada tomar um amante com autorização do marido.
No século XI, a igreja irlandesa segue ainda preceitos célticos em matéria de casamentos e divórcios. O Papa Alexandre II se indigna que eles desposem suas madrastas e não tenham pudor de delas terem filhos; de que um homem possa viver com a mulher de seu irmão, quando este ainda vive, que um outro possa viver em concubinato com duas irmãs e que muitos deles, repudiando a mãe, desposem as próprias filhas.
Enfim, os celtas se amavam e se entrematavam, trocavam presentes e cometiam atos facínoras uns contra os outros.


Estátua da Rainha Maedbh em Dublin, Irlanda (Patrick O'Reilly, escultor)

A MULHER CELTA - As mulheres celtas eram belas e exibiam vestes e adereços para se embelezarem mais. Possuiam igualdade de direitos e cediam sua virgindade aos prazeres de outros e se ofendiam quando eram recusadas pelos homens. Atendiam assim as exigências da natureza copulando abertamente com seus homens. Também atuavam incestuosamente na iniciação sexual dos irmãos.
As mulheres celtas possuíam aptidões de ensinar aos jovens guerreiros aperfeiçoando os seus conhecimentos das armas. Entre os aprendizes está Cuchulainn.
A sexualidade feminina, segundo Markale (1977), era tratada naturalmente e sem ser reprimida, uma vez que se encontrava inerente à natureza humana. O corpo da mulher é a fonte do prazer dela e de seu homem, por posssuir os ciclos da natureza e é senhora do seu próprio corpo.
Entre esse povo a mulher oferecia prazerosamente a amizade de suas coxas, transformando  a vida com o prazer do sexo ao conduzir seu homem ao outro mundo, uma vez que pelo sexo ela era iniciada nas artes divinatórias, tomando consciência do próprio corpo ao prazer. Exemplos estão em Isolda, Grainné e Desidré, além de outras que se tornaram sacerdotisas, druidesas e xamãs, bem como magistas, guerreiras e comandantes de batalha.
Não havia entre os celtas a condenação pelo adultério nas relações sexuais extraconjugais, possuíam o direito ao divorcio, herdavam propriedades, portavam armas e exercia atividades médicas. Só quando o Cristianismo imperou entre os celtas por volta do séc. V, por meio do bispo Patrício, que todos esses direitos adquiriram feições pecaminosas e foram combatidos.
As mulheres lendárias não recuam diante de nada para conseguir o homem de sua escolha. Conta-se que as mulheres respondem aos romanos: “Nós damos satisfação às exigencias da natureza de maneira preferível à de vocês, ó romanas. Nós nos unimos em pleno dia aos melhores homens, enquanto vocês deixam-se perverter em segredo à noite pelos mais vis”.
As mulheres celtas são assim descritas na literatura: “[...] então a jovem desatou os cabelos para lavá-los e pegou-os com as duas mãos, deixando-os tombar sobre o busto. Suas mãos eram mais brancas que a neve de uma noite e suas faces mais rosadas que uma dedaleira. Tinha uma boca fina e regular com destes brilhantes como perólas. Mais cinzentos que o jacinto eram seus olhos. Vermelhos e finos seus lábios. Seus ombros eram esbeltos e suaves, ternos, doces e alvos os seus braços. Seus dedos eram compridos, delgados e brancos. Tinha lindas unhas rosadas. Seus flancos era deslumbrante, mais branco que a espuma do mar. Suas coxas eram suaves e nacaradas, sua panturrilhas estreitas e vivas, seus pés finos de pele delicada, sadios e firmes seus calcanhares brancos e redondos seus joelhos...”.

O MOSTEIRO DE SANTA BRÍGIDA, EM KILDARE – Templo misto em que as mulheres realizavam diversas funções sacerdotais e vigiando o fogo que não podia se apagar. Assim, era conhecida como Minerva na Gália, abadessa de Kildare. A sua festa cai no dia de Imbolg, a festa pagã da primavera. A jovem Brígida, que não era ainda a santa, mas que dava em partilha aos pobres seus rebanhos e seus bens, atraira sobre si a cólera de seus pais, que decidiram desfazer-se de uma filha indifgna que dava o exemplo do desregramento. Fizeram-na subir para uma carruagem não para um passeio, mas para vendê-la ao rei Leinster.

A REVOLTA DA RAÍNHA BOUDICA – É a rainha dos Icenos, uma tribo druida e caçadores, líder guerreira de uma das mais violentas rebeliões que enfrentou o Império Romano ao ser atacada por ordem de Nero, libertando as tribos da Britania, que ocorreu entre 59 e 60 a.C, após a morte do seu marido, o rei Iceni Prasutagus. Segundo o historiador romano Tácito, Boudica resistiu e foi capturada, torturada e açoitada, teve suas filhas estupradas na sua frente, sua casa e tribos foram pilhadas como prêmio da guerra, todos os membros da tribo foram transformados em escravos. Ela foge e jura vingança, assumindo o controle dos Icenos e dos Trinobantes, atacando e incendiando Londres e cidades bretãs, conseguindo unir as tribos celtas. Os romanos só venceram os guerreiros da rainha depois de muitas batalhas sangrentas. Ela sobreviveu a todas as batalhas, retonando a sua casa com suas filhas, cometendo o suicídio por envenenamento para não se deixarem ser capturadas pelos inimigos, preferindo a morte ao domínio romano. Tornou-se o símbolo romântico de revolta e vitória à vista da adversidade, existindo uma estatua dela, em bronze,  com longos cabelos e um perfil desafiador na frente da Casa do Parlamento inglês.

A RAÍNHA RHIANNON, A DIVINA RAINHA DAS FADAS – A Grande Rainha Rhiannon era casada com Pwyll, um mortal, que dera-lhe um filho que desaparecera ao nascer. Quando as donzelas acorreram, esfregando o sangue de um animal de estimação no rosto dela, acusaram-na de ter comido o filho, sendo condenada a carregas todos os hóspedes do marido nas costas. Ocorre que sete anos depois, o filho reapareceu. Ela vivia acompanhada de três pássaros mágicos que encantavam os vivos e acordava os mortos, tornando-se a deusa dos encantamentos, da fertilidade e do submundo. Também é a deusa gaulesa da morte e tida como a deusa-cavalo gaulesa do inferno, que se identifica com a noite, a emoção, a lua e o drama. Era filha de Hefaid, senhor do outro mundo. Conta-se que ela, certa vez, tornou-se uma cavaleira, vestindo um hábito de ouro e montando um corcel branco que vai tentar o príncipe. Mas sua carreira é tão rápida que nenhum mensageiro enviado em seu encalço conseguia alcançá-la. O príncipe então parte em sua perseguição e a interpela. Ela pára pedindo que a salve de um casamento imposto, tomando-a por esposa.

A BELA DECHTIRÉ - O rei mítico Conchobar, deus da fertilidade pelo fao de sua iniciação e de suas funções reais, ouve falar de uma mulher muito bela Dechtiré, num palácio do outro mundo. Cônscio de suas prerrogativas, ele a pede para a noite. Mas ela está grávida e, uma vez no leito, queixa-se das dores do parto. Conchobar resolve dormir  e, de manhã, encontra um recém-nascido entre a mulher e ele. Lá em cima, Dechitiré volta a ser virgem e esposa Sualtam de quem tem um filho, que se confunde com o primeiro. Porém, uma vespa que ela engoliu em sonho lhe revela que o verdadeiro pai é o deu Lugh-Braço-Longo. O menino recebe o nome de Setanta e será mais tarde cognominado Cuchulainn. Entende-se que ele nasceu duas vezes e que tem quatro pais, o do outro mundo, o da fertilidade, o deus solar e um pai terrestre. Trata-se de um herói sobrecarregado.

A MÃE DO REI MONGAN – O rei fiachna, Iegal, fora guerrear em Alba contra os saxões. Deixou sua esposa na Irlanda quando esta recebera a visita de um homem imponente que lhe revela que seu marido será morto em combate no dia seguinte, a menos que ela consinta que ele lhe dê um filho. Para salvar o marido, a esposa consente e ele é miraculosamente salvo. Nasce, então, o rei Mongan que nada tinha de mítico, pois viveu na época história e morreu em 615, tendo três pais, dois dos quais deuses.

ÉTAIN – é uma mulher indefinível, reaprece em ciclo com o mesmo nome e a mesma aparência, como se simbolizasse uma permanência, entretanto, ela é a esposa de um rei de Tara, Eochaid Airem, de quem tem uma filha muito parecida consigo mesmo, que Eochaid a toma por ela. Muito tempo depois ela aparece como mulher de Cormac Conn Loinges, de quem tem filhos. Evidencia-se a seguir que Mess Buachalla, sua neta, foi mãe de seu irmão e de seu pai. Mas Etain teria sido a reprodução da Rainha Méve que dirigiu os exércitos do Connaught contra os do Ulster. Méve possuía caráter divino, pois praticava licenças sexuais acusando seu dom de fetilidade. Pois, para os celtas, a mulher que se oferece insolentemente ao homem de sua escolha não é uma desavergonhada, é uma deusa desfrutando de suas prerrogativas soberanas.

SCATACH – é a feiticeira escocesa que ensinou a Cuchulainn a ciência e proeza de vencer o inimigo. Cuchulain desafia a feiticeira que tem dois filhos, ele mata um deles e leva a cabeça para a mãe que reconhece a sua vitoria e o recebe em casa para cuidar de seus ferimentos. À noite, sua filha Uatach, que se enamora do herói, vem esgueirar-se nua em seu leito. Ele a repele, pois existe um géis, um tabu, que proíbe a um ferido ter contato com uma mulher. Contudo, a jovem, em troca de seu amor, lhe indica como obter de sua mãe que ela lhe ensine os três triuques de que ela detem o segredo e que farão dele um combatente invencível. Cuchulainn surpreende Scatach, conforme sua filha Uatach lhe havia ensinado. Sob ameaça de morte, ele exige que ela lhe ensine os truques secretos, que ela lhe conceda a filha por um ano e também “a amizade de suas coxas”, isto é, o complemento de sua iniciação pela união carnal.

CHIOMARA – Era a mulher de um rei gaulês e prisioneira dos romanos. Violada por um centurião, ela é revendida por 40 libras de prata a seu marido, que aceita o ajusta para salvá-la do cativeiro. Chiomara, no ponto de encontro, manda os homens de seu marido, que tinham ido levar o resgate, abaterem o centurião. Manda que lhe cortem a cabeça que ela leva numa dobra do manto. No momento em que ela reecontra o marido, este observa que é bonito respeitar um compromisso. Ela deixa rolar a cabeça do centurião aos seus pés: “Há uma coisa mais bela do que cumprir um contrato. Dois homens vivos não podem gabar-se de me haver possuído”.

No reino lendário dos celtas ainda são encontradas outras mulheres que merecem destaque. Exemplo disso é a raínha Maedbh, esposa do rei Ailil que mantinha amantes e conta-se que ela jamais se deitou com um homem sem que houvesse outro lhe esperando na sombra. Os mitos de Erc compreendem a mulher mais forte do mundo Fianna Éireann, ou Aife, que demonstrava atividades guerreiras às mulheres celtas. Os registros da rainha Cartimandua que era Era a rainha dos brigantes, ex-mulher de Venútio, casada com Vellocatus, quando o ex-marido investiu numa guerra contra ela, dando por seu desaparecimento.



O RITO DE BELTANE – Festival celta que ocorria no verão com danças em volta das fogueiras, nas homenagens ao deus Bellenos. Está relatada na obra “As brumas de Avalon” de Marion Zimmer Bradley. Na antiguidade era destinado às práticas despudoradas do sexo, celebrando a fertilidade, quando a donzela vira a caça dos caçadores. A festa se realiza até o presente, agora na primavera.

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