segunda-feira, abril 28, 2008
JORGE DE LIMA
Imagem: Nu, tinta acrílica sobre tela de C. Santiago.
JORGE DE LIMA
“(...) e que todo o seu corpo tinha conhecido as mil mulheres que Salomnão deixou” (Jorge de Lima, Tarde oculta no tempo).
“Não te chamo Eva, não te dou nenhum nome de mulher nascida, nem de fada, nem de deusa, nem de musa, nem de sibila, nem de terras, nem de astros, nem de flores. Mas te chamo a que desceu do luar para causar as marés e influir nas coisas oscilantes. Quando vejo os enormes campos de verbena agitando as corolas, sei que não é o vento que bole, mas tu que passas com os cabelos soltos. Amo contemplar-te nos cardumes das medusas que vão para os mares boreais, ou no bando das gaivotas e dos pássaros dos pólos revoando sobre as terras geladas. Não te chamo Eva, não te dou nenhum nome de mulher nascida. O teu nome deve estar nos lábios dos meninos que nasceram mudos, nos areais movediços e silenciosos que já foram o fundo do mar, no lavado que sucede às grandes borrascas, na palavra dos anacoretas que te viram sonhando e morreram quando despertaram, no traço que os raios descrevem e que ninguém jamais leu. Em todos esses movimentos há apenas sílabas do teu nome secular que coisas primitivas escutaram e não transmitiram às gerações. (...) Então ouvistes o nome da que não chamo Eva nem lhe dou nenhum nome de mulher nascida”. (Jorge de Lima, O nome da musa).
“Assim, eu irei louvar e me prostrar diante da musa de certas reintegrações – musa única. E por isso revalarei também esta musa de sabedoria. E a revelarei a todos. E muitos serão os que primeiro a poderão contemplar. Porque esta musa sempre existiu e grandes foram sempre os poderes e as reintegrações que de toda ela provém. (...) eu vi com os meus olhos os prodígios da musa e a posso revelar a todos. Ela é uma fonte de propiciação, de semeaduras, de beleza, de renovação. Eu vos anuncio a minha musa, eu te revelarei, minha musa. (...) Nada mais direi sobre a musa que preside o desejo de criação do poeta...” (Jorge de Lima, Um anjo de tentação baixou junto ao poeta).
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