terça-feira, abril 29, 2008

A DELÍCIA DA PAIXÃO



Imagem: Carla van de Putterlaar.

BEM NA HORA

Luiz Alberto Machado

O meio-dia era ela. E eu com insolação para morrer afogado no seu mar. Era quando, bem na hora, meio dia em ponto, ela me afagava entre os seus domínios. E eu menino peralta me valia de suas correntes oceânicas para viver além de suas profundidades. Era o seu corpo de mar e as suas marés me embalando vida adentro com todos os brinquedos de seus tesouros. Até que me fizesse lua e ficasse orbitando ao ser redor, walkaround, virando comensal jubarte caçando seus cardumes de beijos, suas formas totais de encantos e carinhos que me davam a sua baía para minha invasão, surfando por suas ondas na minha satisfação frenética de recolher todos as suas mínimas expressões, a ponto de vasculhar sua lama e me relar no seu lodo e curtir sua imundície e saborear a sua deletéria emanação num banquete ginofágico que se fazia a terra onde vivo e sou predador, se fazia o planeta que me abriga, a nave que me leva inimputável, o porto de todos os meus abrigos. E dentro dela sou barco errante e teimoso a navegar num cruzeiro hedonista a brincar de luas e marés, marés de lua quando crescente eu estou rijo no cio para escalpelá-la com minhas sandices voluptuosas. E na lua cheia ela é madura no ponto para meu regozijo pleno. E na lua nova ela goza para me fazer o maior entre os mortais. E na minguante ela me recolhe letárgico no seio de todas as revigorantes paixões avassaladoras. E ela maré alta, eu rio Amazonas, o gozo em pororoca.

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