sexta-feira, outubro 12, 2007



Imagem: Reclining Nude, 1919. de Amedeo Modigliani (Pintor e Escultor Italiano, 1884-1920 – Expressionismo)

CONVITE

“(...) E se uma mulher despida é sempre um desejo mais aperfeiçoado do que todos os milagres...” (José Craveirinha, poeta moçambicano, Em quantas partes?)

“(...) Ela está recostada e deixando-se amar, do alto do seu divã, ela sorri sem medo, ao meu amor profundo e doce como o mar que procura alcançá-la assim como um rochedo. (...) Sua coxa e seus rins, seu braço e sua perna, óleo lustroso e cisne a ondular sua linha, passam por meu olhar de luz aguda e terna; ventre e seios do amor, cachos de minha vida...” (Charles Baudelaire - 1821-1867, As jóias).

Luiz Alberto Machado


Plena tarde e o céu inteiro na pradaria: um mar espalmado que se resume ao rumor da nudez inundando todas as súplicas dos meus quereres tostados de fogo ardente.
Á espreita vou requestado com toda luxúria de minha alma herege confiscar toda mansa fragrância do seu milagre fabuloso, da sua majestosa divindade nua, feita para amar, para apertar com jeito, para vibrar em mim danada do céu queimando a lenha do que se faz predador e presa entre nós.
Tudo é demasiado próximo no hálito quente da sua sedução a céu aberto e entregando todo o tesouro do coração, todas as posses, suplícios, encantos e eu possesso aos bocados, desesperado e faminto de emoções poderosas a morder com trela a tarde da primavera no ninho do seu corpo nu que me embriaga com o veneno da paixão.
Aceito o convite e ébrio dou fé do olhar ardente na insônia de quem ama devendo o beijo, o abraço e a garanhagem libertadora. E estendida sobre o meu desejo traz o colo e sua macia tepidez para a incursão de nossa refrega a transpor toda doçura e vício na vertigem de nossas entregas.
Esta a canção que afaga o dorso nu num duelo de dentes cerrados e se faz servidão na ponta dos seios duros e tomada pela pele acetinada que eterniza minha loucura em êxtase enquanto transgredimos de nós, das regras, da arena no êxodo do mundo, duelando com o passado de vigília e arrependimentos, duelando com a vida pelo que já foi e o que virá das venturas e destroços que se redimem no ardor do incenso de seu corpo que governa e que se faz tarde nas minhas mãos errantes.
E do seu corpo roubo a paz que se faz tisana alquímica no meu estertor, sorvo seu sexo dando vazão a minha agonia gulosa que faz abluções do charco empoçado de delícia nas entrepernas que se faz contenda tirânica na nossa luta corporal munida de armas das carícias até sermos derrotados, vencidos pela vida. Só o amor resiste aos escombros. E renascinzas, o amor assim é na entrega servil dos amantes.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.

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