segunda-feira, julho 06, 2009
LILIA DINIZ
Imagem: Raquel Marques, foto de Flavio Miranda
O JEITO SENSUAL DE POETAR DA LILIA DINIZ
SABOR NORDESTINO
Se me queres cajuí
desejo ser doce e raro
deixar no teu corpo o cheiro
dos cajueiros nordestinos.
Desejo ser cajuína
saciar tua sede
com os beijos sonoros
dos passarinhos empapuçados.
Desejo ser “pé de tonel”
embriagar teu corpo
MAIS MAIÓ
Mode dessas tuas coisa
de viver a me percurá
o tamãe do meu querê
agora eu vou lhe contá
que santo Antõe
num lhe avisou
adispois num vem falá
tempera, meu bem tempera
é assim o meu gostá
Mais maió que os pé de manga
que tem lá no meu quintá
esperano vim a chuva
pra puder afulorá
mais maió que as pitombera
carregada de bolota
mode a gente chupá
Mais maió que as goiabeira
que aqueles pé de ingá
que tem lá na umarizeira
donde a gente vai banhá
mais maió que as jaqueira
toda cheinha de jaca
pá gente se impanziná
Mais grande que a lua cheia
quando vem alumiá
os terreiro lá da roça
pa mode a gente brincá
mais maió que as catinguera
que os pé de sapucaia
que os rio que os má
ESSÊNCIA
Impregnado em meu
corpo
trago o cheiro doce do
cedro.
Nas minhas magras
veias
o que corre não é
sangue azul
nem vermelho
é puro leite
é puro azeite de
babaçu.
BUCHUDA
“Pra sair de uma ressaca
somente outra cachaça”
Grávida de poemas
baldeio versos pálidos
embriagada pelo
licor da inspiração.
Entonteço em palavras
e cambaleio quase em
passamento.
Tenho alucinações com
gosto de alho e
no escuro tateio versos
que fervilham como
azeite apurado
no fogo da casca de babaçu.
Busco dormir em vão,
poemas vão germinando
qual plantio de feijão
no abafado das
roças encoivaradas
No truvo do quarto
misturo palavras no papel
quando passa a gastura
vem a ressaca.
Bebo novamente na
caneca prateada
da garapa que me engravida.
LIÇA MUIÉ
me rio
me lua
me pote
me jacá
me poço me mato
me pilão me barro
me azeite me açude
me abane me esteira
me cabaça me quibane me cacimba
me vagalume me lamparina
me poetiso
em ti
AFOGADA
Náufraga no açude
dos teus beijos
pesco estrelas
no céu da tua boca
Minha boca faminta
devorando tua língua
minha língua sacana
tarando versos
que borbulham
nas chamas
no teu corpo
Minha língua desvairada
linguando versos
no universo de tuas coxas
em teu pescoço de lótus
em teu ventre de Vênus
entranhas que devoro
adentro
desvendo
Minha língua estúpida
quente e tarada
metáfora
Minha língua
sem nexo
teu gozo
linguagem
na palavra entremeada
urdida
tramada
fundida a ferro e fogo
minhas mãos
teu gosto
teu gozo
poemaconcreto
Passeio meus olhos
pelos teus seios em erupção
tateio teus pêlos ralos
devoro tuas costelas
profano pétala por pétala
tua flor encarnada
entranhada
entre
tuas pernas
Para além dos perigos
que corremos
para o bem dos castigos
que sofremos
traduzidos no verbo língua
Língua com língua
aos poucos saboreamos
a pele
Sentidos (in)versos
às avessas
pelo corpo
devorados
perigos e castigos
Línguas poemadas
línguas conjugadas
línguas esfomeadas
nas fendas entreabertas
do desejo liberto
Pra tua sede
insaciável
água só no céu
da minha boca
e na infinidade
da minhas pernas
entreabertas
abertas
entreti
entremim
entreti
entremim
Habitam no seio da tua alma
trovões de seda
que ao sussurrarem
despertaram primaveras
em mim
Eclodem bugaris, miosótis
e um ser/tão
adormecido
de desejos
Ecoam em minha pele
e acordam o sono profundo
de minhas pálpebras cerradas
costuradas com o fio
da tua ausência
Acalentando e guardando
na caixa do poema
o medo das noites
que passei sem ti
Careço de ti
Iluminando meus dias
Com a lamparina
Dos teus olhos
Busco territórios do teu querer
bocaolhossonhoscorposexo
alcanço a doçura
da tua palavra
em canções indomáveis
e versos selvagens
que não se deixam prender.
Que esse fogo
a queimar nos teus pés
incendeiam minha existência fria
e te busco pra me aquecer.
Desgrenhando
teus cabelos
me rasgueio em poesia
e me (re)encontro
nas aldeias
do teu corpo
Descer do céu
nas escadas do teu beijo
é padecer de amor
nas labaredas
do teu corpo
Quando teus beicim apitombado
apareceram
nas linhas tortas do meu olhar
desandei léguas
cerrado dentro de mim
Era ver cobra
rastejando pelo gosto
dessa raspinha acre-doce
que juro ter o teu beijar.
Eu colibri baleado
pelo desejo de provar
a carnadura
da tua bocaliandra
e o cheiro jabuticaba
dos teus cabelos sarará.
Pele de jatobá marelim
cantiguinha de beija-flor
sucupira floridinha
ninho de fogo - pagou.
Mutambinha cheirosa
araçá bem madurim
araticum, cagaita
ingá, meu ingá docim.
CABOCA GOYÁ
Perdida nas sombras tortas
do cerrado
catando gravetos,
folhas secas,
flores murchas,
um resto qualquer
de cigarra morta
que negue essa aldeia
a pul(s)ar ancestralmente
na batida do meu peito
Goyá! Goyá! Goyá!
Goyá! Goyá! Goyá!
Goyá! Goyá! Goyá!
Buscando uma erva
que cure de vez
a dor de uma ausência
das fogueiras que jamais
me esquentaram os pés
Goyááááááááááááá!
Sugando o encarnado
das caliandras
para tingir meu sangue
de outro vermelho
mais luz
menos dor
mais planta
menos eu
Goyá!
Desejando encontrar
um fruto
acre
amargo
doce
azedo
que extinga por fim
o gosto incomparável
do suco de estrelas
que me eleve a alma
Com ternura
e por saudades do cerrado!
LILIA DINIZ – a poeta e atriz maranhense Lília Diniz fez teatro de rua em Serra de Martins/RN, participou de muitas cantorias com repentistas da Paraíba, do Ceará e do Rio Grande do Norte, além de participar de várias perfomances teatrais poéticas em Congressos, Seminários e outros eventos. É membro do Proyecto Cultural Sur, movimento de intercâmbio que abriga poetas, artistas plásticos, atores e músicos da América Latina e América Central. Participou do IX e do X Congresso Brasileiro de Poesia realizado em Bento Gonlaves-RS. Ela é autora dos livros Miolo de pote da cacimba de beber e Babaçu, Cedro e outras poéticas em Tramas. E edita o blog Lilia Diniz. Veja a Poeta do Mês do Guia de Poesia.
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