segunda-feira, julho 13, 2009
ANNE VALENTINE
Imagem: Beautiful legs, de Pedro Nossol.
A ESPANHA DE ANNE VALENTINE
(dedicado à todas as mulheres que nunca desistem de si e se permitem sonhar sem medo)
CAPÍTULO I - O Casamento
É noite de festa Venícia está reluzente, o coração palpitante, e já está atrasada mais de 1H para entrar na igreja que está lotada e um comentário geral toma conta do lugar. Todos falam do bom casamento que a família de Venícia está fazendo se unindo a família do noivo.
Ela com 25 anos formada em Direito e com uma bela carreira prestes à começar, largou tudo para se casar com Carlos, 28 anos empresário de uma rede de hotéis.
Carlos é um bom homem, gentil, educado, charmoso, mas trabalha demais, é distante e não permite que a esposa trabalhe.
Venícia se casou consciente disso e aceitava bem, estava encantada com aquele homem e com a boa vida que teria ao seu lado. Tinha certeza de que ele era o homem da sua vida, e que 1 ano de relacionamento mostrava bem isso, mostrava que seriam muito felizes.
Tudo foi deixado para trás; amigos, passeios em grupo, família. Foram morar em Nova Iorque, cidade dos negócios.
Os anos foram se passando e o casal se distanciando.
Carlos ficava cada vez mais rico, cada vez mais longe, mais distante da esposa. Não tinham filhos ainda porque ela não achava certo ter um filho e ter que criá-lo sem um pai presente.
Ele era mão aberta, não regulava a vida pessoal e a financeira da esposa, mas era ausente demais, era desligado demais, do tipo que se ela hoje estivesse de cabelo preto e amanhã loira, ele nem percebia.Isso a incomodava e fazia se sentir cada vez mais sem importância na vida dele.
A vida sexual do casal era morna desde o namoro e depois do casamento esfriou por completo.
Venícia apesar de amar o marido e gostar da sua companhia, não o
desejava mais como homem e toda vez que transavam, ela rezava para que terminasse logo, era uma tortura para ela. E assim se passaram 5 anos.
Nos últimos anos ele vinha para a casa apenas 1 ou 2 vezes por semana.
Ela já não tinha mais vida social, não tinha amigos verdadeiros com quem contar, estava solitária e triste.
Com o passar do anos ela definhou, deixou de ser vaidosa, perdeu a autoestima e se escondia debaixo de roupas que não convinham para uma mulher tão jovem.
CAPÍTULO II - A Viagem
Seu marido numa das poucas voltas para a casa propôs que ela fizesse uma viagem para qualquer lugar que lhe agradasse, pois ele logo partiria para a França inaugurar mais 3 hotéis e talvez não voltasse em menos de 2 meses.
Ela não teve reação nenhuma, já estava acostumada com as inúmeras viagens dele. Mas se animou um pouco pois fazia algum tempo que planejava conhecer a Espanha.
Na semana que precedeu a viagem ela se entusiasmou e esperou ansiosa até o dia do embarque.
Venícia falava fluentemente o espanhol entre tantas outras línguas que ela conhecia bem.
Apesar de ter muito dinheiro para pagar pelos luxos de qualquer hotel caríssimo, ela optou por sair da mesmice, optou por uma viagem aventureira de mochileiro. E foi se preparando psicologicamente para dormir em albergues, pensões e até trabalhar para pagar a hospedagem, mas não deixou de levar os seus cartões que estavam sempre ali prontos para serem usados em qualquer emergência, se acaso não conseguisse levar sua aventura adiante.
Numa segunda-feira ela desembarcou em Madri e seguiu direto para a província de Cáceres, local antes pesquisado e escolhido a dedo.
No final da terça-feira ela estava alojada em uma pensão simples e linda que oferecia quartos com cozinha e TV, não tinha telefone e se parecia muito com uma grande fazenda.
Cansada mas muito animada ela arrumava as suas coisas de higiêne pessoal no banheiro quando derrubou os absorventes dentro do vaso sanitário e no desespero deu descarga pensando que assim resolveria o problema. Mas para a sua surpresa ela descobriu que tinha entupido o banheiro. Desceu reclamar e descobriu que todos os outros quartos estavam ocupados, ela teria que esperar até desentupirem e utilizar o banheiro do quarto vizinho que também estava ocupado.
Nesta pensão nem tinha como reclamar, não era como os hotéis caríssimos que ela conhecia, que bastava uma ligação e todo o seu problema estava resolvido.
Subiu pisando duro mas consciente de que se estava disposta a aventura, ela acabara de começar.
Entrou de sopetão no quarto e deu de cara com uma barata enorme que a imobilizou de início e depois saiu desesperada andando para trás e gritando.
Que susto ela levou quando se chocou em algo e caiu no corredor. Outro susto levou quando se viu sendo levantada por um típico espanhol de pele bronzeada, com traços fortes e marcantes, apenas de toalha na cintura tentava acalmá-la e levantá-la.
- O que acontece com a moça? Porque o escândalo? Saí correndo achando que iria encontrar um bandido te atacando.
No nervosismo ela pronunciava em inglês, espanhol, português, e só parou quando ele pediu calma para poder entendê-la, ai ela falou em espanhol.
- Me desculpe, é que ....- ela parou para observar os traços e formas do belo espanhol, os olhos, os braços, as mãos. E se envergonhou por não ser discreta e parecer boba, corou e continuou. - Não foi nada, me dê licença por favor. - afastou o moço se levantou e entrou no quarto fugindo, sentindo vergonha de si por ter se perdido por uns instantes.
Deu de cara com a barata de novo e saiu gritando.
Ele estava encostado na porta observando, soltou uma gargalhada ao vê-la gritar e foi até lá matar a barata.
Ela ficou no corredor nervosa olhando aquele belo homem só de toalha matando a barata.
Quando ele saiu segurando a barata pela antena, ela fez cara de nojo e medo, correu agradecendo e fechando a porta. Se jogou na cama e buscou na mente as imagens do espanhol na memória, mas logo as afastou se sentindo culpada, traidora. Pegou o celular e ligou para a única amiga que era sexóloga e contou detalhes do que tinha acabado de acontecer.
Tâmila a amiga que conhecia todo o histórico de Venícia, adorou o acontecido e como amiga aconselhou que ela desfrutasse dos momentos e tentasse resgatar a mulher que estava adormecida dentro de si a muitos anos.
CAPÍTULO III - O Vizinho
Os conselhos da amiga ficaram na sua cabeça a noite toda. Ela assumiu que pela primeira vez em 5 anos a imagem de um homem havia chamado a sua atenção, mas logo em seguida vinha a culpa por ser casada. Ela mesma bloqueava as sensações como se não tivesse direito à isso. Dormiu e sonhou que batiam na porta, quando ela abriu ele o espanhol passava nu pelo corredor. Não resistiu e passou a seguí-lo, foi ficando tensa com medo de que alguém a visse. Mas o desejo e a excitação foram maiores, e quantomais ela tentava se aproximar, ele andava mais rápido fugindo.
Despertou ofegante e excitada, pensou em ligar para a amiga. Desistiu, algo estranho estava acontecendo , perdeu o sono. Teve vontade de abrir a porta, mas não fez, decidiu tomar ar, já que a sacada era alta e poderia relaxar olhando as luzes distante e as estrelas.
Ao abrir a porta-janela percebeu que seu vizinho de quarto também tomava ar e estava sem sono.
Ela observou calmamente o homem quase nú, só de samba-canção olhando as estrelas. De repente um susto, ele se vira e ela se esconde do lado de dentro, o coração dispara, ela aperta o roupão no peito, tentando sufocar as batidas do coração.
- Tem mais baratas no quarto que não estão deixando a moça dormir?
Levando a mão à boca ela repetia baixinho: “Ele me viu, não acredito. Ele me viu, droga!
-Moça. Qual é o seu nome?
“Saio, não saio?” - se perguntava ela.
- Sou...meu nome é...Venícia. - respondeu olhando fixamente para as
estrelas e saindo do quarto sem encará-lo. Não que não tivesse vontade, apenas não tinha coragem.
A conversa durou bastante tempo. Tempo suficiente para descobrirem coisas em comum, mas nada pessoal e particular. Ela era muito reservada.
Descobriram que eram duas pessoas descansando um pouco e saindo da rotina, e que tinham chegado no mesmo dia na pequena pensão.
Ela olhava de canto de olho para observá-lo quando percebia que ele
olhava as estrelas.
Este espanhol exalava sensualidade.
Ela não sabia o que era aquela atração que ele provocava nela, desconhecia estes sentimentos, desejos e curiosidades. Sabia apenas que aquele homem transmitia algo que ela gostava que provocava sensações boas, e nem imaginava de onde vinha.
- Vou me deitar, já está tarde. Qual é o seu nome? - perguntou curiosa e timidamente.
- Pensei que não fosse perguntar nunca. Meu nome é Hugo.
-Vou me deitar. - disse ela querendo encurtar a conversa e entrar.
-Tenha bons sonhos, e se tiver mais baratas em seu quarto lembre-se de que é só gritar.
Ela sentiu-se ruborizar. Deu-lhe boa noite e entrou sem encará-lo.
Passou a noite olhando para o teto e para as estrelas que podia visualizar pela sua janela. Teve uma imensa vontade de ir até a sacada mas faltou-lhe coragem.
O pensamento ia e vinha na imagem daquele homem que mexera tanto com a sua imaginação e trouxe à tona preocupações que ela já não tinha mais.
À muito que nem se preocupava com a vaidade, que deixara de ser mulher, de sentir desejo, de fazer sexo desejando, de comprar só por prazer, de se enfeitar, de se maquiar, ir ao cabeleireiro.
Se levantou foi até o espelho, mexeu nos cabelos, ajeitou de um lado, colocou do outro, abriu o roupão, observando o seu corpo se achou gorda.
Pela primeira vez em anos ela parou para se admirar em frente ao espelho. E disse pra si mesma: “Preciso me cuidar mais!”
As imagens de Hugo voltaram novamente, e ela se deixou levar pela
imaginação. Visualizou ele pulando a sacada, entrando no quarto a agarrando, beijando a sua boca, seu pescoço, abrindo o seu roupão e lhe beijando o corpo todo.
Estava excitada como nunca, se jogou na cama, fechou os olhos e se tocou imaginando e sentindo como se fossem as mãos de Hugo que tocavam percorrendo, massageando o seu corpo levando-a às nuvens. Gemeu sem querer, não pode segurar, e quando terminou sentiu vergonha.
Vergonha por achar que ele poderia ter ouvido e vergonha por ter se
excitado tanto à ponto de se masturbar pensando em outro homem que não o marido.
Logo veio a culpa, o sentimento do pecado cometido. Na sua cabeça se repetia: “Mulheres casadas não podem pensar em outros homens, desejar outros homens. Pecadora, pecadora.”
Naquela noite a culpa foi maior do que o prazer sentido e ela nem pode desfrutar de sua redescoberta como mulher. Nesta noite ela descobriu que sentia prazer, que desejava tanto quanto as mulheres dos filmes eróticos que ela assistia nas noites de solidão e achava tão fingido e irreal.
CAPÍTULO IV - A Mudança
Já é de manhã, ela está disposta e tomada por um desejo de comprar algumas coisas diferentes, roupas, calçados, quem sabe arrumar o cabelo. Também sentiu muito medo de dar de cara com ele. Não suportaria a vergonha de tal encontro e se ele desse a entender que tinha ouvido algo na noite anterior ela morreria de um ataque do coração.
Então abriu a porta bem devagarinho e olhou para os 2 lados do corredor, só quando teve a certeza de que ele não se encontrava por lá é que saiu.
Quando chegou na escada ouviu uma porta sendo destrancada, e não
pensou 2 vezes, disparou escada à baixo e passou correndo feito doida pela portaria sem ao menos deixar as chaves.
Na loja de roupas ela ficou nervosa, achava que tudo ficava feio, nada lhe caia bem, e já nem queria mais encarar o espelho.
Uma vendedora gentil e com o astral lá em cima se aproximou para atendê-la e dar sugestões. Fez Venícia ver que todas somos belas de alguma forma, e que devemos valorizar o que há de mais bonito em cada uma de nós. Mostrou que ela tinha um rosto bonito, seios belíssimos, pernas torneadas, e se a barriga a incomodava era só usar de artifícios que chamavam mais a atenção para as partes belas, que a barriguinha passaria despercebida. E não é que deu certo?
Venícia se sentiu melhor, mais a vontade e comprou muita coisa e deixou uma boa quantia em dinheiro como agradecimento para a vendedora tão gentil.
Ao passar por um salão, parou, pensou e entrou. Precisou aguardar, e ansiosa contou os minutos até ser atendida.
Fez uma mudança que revelou o brilho dos seus olhos e iluminou o seu rosto.
A redescoberta da mulher que sempre existiu dentro de si provocou grandes mudanças interna e externa. Mas o pensamento fixo em Hugo e a vontade de mudar para chamar-lhe a atenção, incomodava, fazendo se sentir mal e mais uma vez culpada.
Voltou para o quarto e entrou do mesmo jeito que saiu, na ponta dos pés e ligeirinho. Cheia de sacolas, e toda estabanada passou pela porta dele rezando para que não saisse até ela destrancar a porta e entrar.
Mas ele saiu, e ela se assustou derrubando algumas sacolas.
Gentil ele a ajudou recolhendo as que caíram da sua mão.
Venícia tremia e não conseguia colocar as chaves no buraco.
Ele ria sem que ela percebesse, achava muita graça na sua timidez.
Entraram, e ele foi logo puxando assunto.
- O seu perfume é ótimo.
- Obrigada. Pode colocar ai mesmo, obrigada. - respondeu ela querendo cortar a conversa e dispensá-lo sem ser grossa.
- Você é tímida, ou apenas não gosta de mim?
Já não sabia o que fazer para disfarçar, não queria encará-lo.
- Não, não sou. Obrigada mais uma vez. - seguiu até a porta para que ele entendesse e saísse.
- Tudo bem, você não quer conversar, e...
- E o quê? -perguntou ela curiosa.
- Estaria interessada em conhecer alguns lugares muito bonitos que tem poraqui? Sei que está de passagem e à passeio, e passeio sem conhecer nada não faz sentido além de ser perda de tempo.
- Eu...eu...adoraria.
- Te espero às 8, tá?
Ele saiu do quarto. E ela contou as horas.
A cabeça era um turbilhão, um misto de desejo, vontade, culpa e pecados.
Um tempo depois jogou a culpa que pesava nas suas costas num canto, tirou a aliança e se deixou ser a menina de antes do casamento. Começou a se arrumar, experimentou tudo, o cabelo ela arrumou de todas as formas, até se maquiou e gostou do que viu no espelho. Estava meio insegura ainda em relação ao corpo. Mas gostou da roupa escolhida e foi.
A noite foi maravilhosa, ele era incrivelmente a melhor companhia que ela já tinha tido. Era educado, engraçado, sabia conversar sobre tudo, e a fazia sentir-se a mulher mais linda de toda a Espanha. Só tinha olhos pra ela, nem se quer se atreveu a cobiçar outras tantas maravilhosas que tinha por lá.
-Vamos voltar pela ponte, é um lugar gostoso e muito bonito.
- Você que escolhe, e você que me guia esta noite. - parou e pensou: “ O que estou fazendo, estou me oferecendo?”
Seguiram rumo a ponte, que era linda, iluminada apenas pela luz da lua.
Caminharam até metade e pararam. Ele mostrou algumas constelações que ela nada viu, pois enquanto ele apontava para o céu explicando uma a uma, ela observava os traços marcantes e masculino dele, reparava em cada detalhe e contorno do rosto.
Tinha uma boca grande, pele bronzeada, barba por fazer, queixo largo e um cheiro muito bom, que mexia com os seus sentidos.
Ele voltou os olhos e viu que ela ficou inteiramente sem jeito, abaixou a cabeça e firmou os passos depressa, deixando-o para trás.
- Hei, espere! Onde vai? O que aconteceu? Vai entender o que se passa na cabeça desta mulher!
Hugo ficou na ponte apreciando o céu e tentando entender aquela mulher que era diferente de todas que tinha conhecido até agora. Já tinha estado com muitas mulheres, e a maioria liberal, que não procuravam compromisso, que eram sempre diretas quando queriam prazer, e até as que se faziam de difíceis só se mantinham até depois do jantar.
Mas Venícia não fazia teatro algum ou tentava seduzí-lo. Ela era ela mesma; tímida, desajeitada, amedrontada, reprimida.
E naquela noite ele se encantou, uma mulher bem diferente cruzou o seu caminho.
CAPÍTULO V - Noite sem Sono
Venícia se joga na cama, deixa as luzes apagadas e a janela da sacada aberta como sempre. Uma brisa suave entrava.
A cabeça estava confusa e os ouvidos atentos para descobrir se o vizinho do quarto ao lado chegava logo.
Hugo demorou, ela adormeceu e sonhou que estava nua na ponte sendo tocada e beijada por todo corpo por ele. Teve um orgasmo. Ou teve a sensação de ter tido um. Acordou ainda se deliciando com o sonho, e quando se virou viu o a luz da lua que entrava pela janela refletir na sua aliança trazendo-a para a realidade e trazendo mais culpa.
Sentiu-se mal, queria ser castigada para acabar com o tormento.
Pegou o celular e ligou várias vezes para o marido que não atendeu, e se deu conta de que já fazia quase uma semana que tinha chegado e que Carlos seu marido nem se quer tinha ligado para saber como ela estava. Jogou o celular no canto da cama.
Se levantou, foi tirar a maquiagem, tomou um banho. Já era madrugada, uma gostosa e estrelada madrugada. Resolveu olhar as estrelas porque estava sem sono. Mas desta vez foi cautelosa e espiou antes de sair. Colocou apenas a cabeça for a e viu que o espanhol apenas de samba-canção estava lá apreciando as estrelas também. Se recostou no escuro pelo lado de dentro onde ele não podia vê-la, mas ela poderia observá-lo o tempo que quizesse.
Hugo transmitia algo que para Venícia não tinha explicação, ela não conseguia entender o que era aquilo, aquela atração à ponto de deixar uma mulher feito boba. Não entendia, e sabia que era algo além só da aparência, se perguntava: “De onde vem? Onde está isso que mexe tanto comigo?”. Era como aproximar ferro do imã. Ele atraía, estimulava o desejo e a fantasia dela sem precisar fazer nada. E isso ela não aceitava, não entendia: “Porque não sinto isso pelo meu marido? Porque nunca senti isso por ninguém?”. Todas essas perguntas permaneceram sem explicação e entendimento.
CAPÍTULO VI - A Decisão
Ela acordou disposta à se distanciar de tudo isso. Não queria mais se sentir culpada e pecadora, porque estes sentimentos a estavam matando. Ia caminhar e aproveitar os dias de viagem que estavam chegando ao fim. Se trocou e logo saiu. Destrancou a porta bem devagar e a passos leve ia saindo para que ele não a ouvisse. Parou quando ouviu voz de mulher, gemido de mulher, e tinha certeza de que vinha do quarto dele. Tinha certeza, ouviu sim. Não aguentou e se aproximou até encostar a orelha na porta para se certificar. Foi tomada por algo muito parecido com ciúme, mas que ela jamais assumiu. Ouvia cada vez com mais clareza. Se perdeu na concentração para ouvir a tal mulher que nem se deu conta dele destrancando a porta. Que susto ela levou quando deu de cara com ele. Engoliu seco e não conseguiu encará-lo, mas os olhos percorriam dentro do quarto à procura da mulher.
-Bom dia Venícia, está indo passear?
- É...é....- e quase pendeu de tanto esforço para olhar por sobre ele que era bem mais alto do que ela.
-Está procurando alguma coisa? - perguntou ele rindo da situação e muito desconfiado do comportamento dela que nem percebia o papelão que estava fazendo.
-Não. - despertou ela. - Tenha um bom dia também. - e saiu se sentindo uma idiota.
- Espere. Ontem eu ia te propor...Venícia...
- Até mais. Convide a sua amiga, talvez ela queira ir.
Ele franziu a testa sem entender o que ela queria dizer com aquilo.
Quando se aproximou da terceira porta do mesmo corredor, do quarto logo ao lado do de Hugo, viu um casal saindo, rindo alto e estavam bêbados.
Sua fisionomia mudou e o queixo quase precisou de um guindaste para ser erguido. Sem pensar ela correu, na realidade queria um buraco para entrar dentro e nunca mais sair, mas como não era possível, apressou o passo e correu escada à baixo. Passou mais uma vez feito maluca pela portaria. Andou depressa sem olhar para trás e foi para bem longe da pousada. Parou de cansaço, não aguentava mais, suspirou e observou a bela praça.
No segundo suspiro ouviu seu nome, era ele, Hugo chamando.
- Venícia, pare mulher! Você quase me matou. Você caminha quase que correndo, andei bem até chegar aqui. Saiu feito doida, derrubou a carteira e o celular que não pára de tocar.
Ela não queria se virar, mas não tinha escolha. Pegou as coisas sem olhar para ele e agradeceu. As ligações eram do seu marido. Em seguida recebeu um torpedo de Carlos somente para avisar que a sua viagem se estenderia e em seguida estaria em outro país à negócios. Leu, e agradeceu a Hugo.
- Hoje terá uma desta típica numa cidadezinha aqui perto. Você quer ir comigo?
- Hum. Que me diz, Venícia?
- Quero. Que hora saímos?
- Às 8H, leva 40 min de carro, assim poderemos ver as danças e tudo mais desde o começo.
- Então até lá, tenho que me trocar, a minha roupa de dormir está chamando a atenção das pessoas.
Se despediu e foi caminhando de volta para a pousada.
Ela ficou lá encantada observando aquele homem de bermuda e chinelo, despenteado andando em meio a praça e pessoas bem vestidas. Sorriu sozinha, e nem sabia se estava feliz por ter mais uma chance de estar com ele ou por descobrir que não tinha outra mulher na cama dele.
CAPÍTULO VII - A Noite
Ela já tinha vivido dias longos e entediantes, mas aquele foi o mais longo da sua vida, o ponteiro do relógio parecia andar 1 segundo e voltar 2. Mas até que chegou a hora de sair. Estava deslumbrante, linda, perfumada. Bateu na porta e o coração dela disparou, tinha emoções só sentidas na adolescência. Se olhou mais uma vez no espelho, respirou fundo e foi atender. Não acreditava que ele pudesse ficar melhor do que já era. Mas a noite estava mágica, e ele estava muito mais sedutor, bem vestido e incrivelmente perfumado, um perfume que ficou guardado na memória dela.
Sairam para aguardar o táxi, e uma chuva fininha caía. Ela já estava impaciente, pensando: “Chuva agora não. Meu cabelo, minha maquiagem, meu passeio, droga!”
Quando o táxi chegou a chuva estava forte, e no meio do caminho piorou muito, o taxista aconselhou:
- Melhor vocês encontrarem abrigo, porque hoje não terão condições de voltar. Estas tempestades fazem estrago e é perigoso pegar a estrada. Eu não volto hoje, e acredito que não encontraram outro para retornar com vocês.
- Mas Sr, nós...- ia dizer alguma coisa e foi interrompida por ele.
- O Sr pode nos indicar alguma pensão, hotel ou pousada? Pelo menos até passar a chuva. - e fitou ela bem dentro dos olhos.
Venícia sentiu a sedução e o controle dele no ar, e acredito que o taxista também.
- Posso até levá-los a alguns, mas nesta época fica tudo sem vaga por causa das festas. - disse o Sr taxista.
E foi o que aconteceu, as comemorações foram canceladas e em nenhum lugar tinha um quartinho que fosse para se abrigarem.
O taxista se lembrou de um amigo, que alugava uns chalés, e contou-lhes que não era ali no centro mas era próximo.
Seguiram e até que enfim conseguiram se alojar, já que a tempestade estava muito forte e incessante.
Foram deixados lá e o táxi acelerou sumindo por entre a tempestade.
No silêncio Venícia parecia ouvir os batimentos do seu coração, e se não se controlasse ele sairía pela boca. Ela sentia o mesmo medo e a insegurança de quase 20 anos atrás quando deu o primeiro beijo atrás do banheiro da escola. Não que ela estivesse se preparando para beijar Hugo, mas a situação dava a entender que isso iria acontecer a qualquer momento. Então pensou: “Não tenho mais 13 anos. Sou mulher, conheço as coisas e a vida e não tenho motivos para me sentir assim amedrontada e...” Teve o pensamento interrompido por ele que se aproximou por trás deslizando as mãos do ombro até os antebraços dela, que sentiu um arrepio percorrerlhe
a espinha.
- Sente frio? - perguntou ele malicioso.
- Hum? - respirou – Um pouco.
Ele abraçou-a por trás, encostando o seu corpo quente no dela, que respirava entrecortado fechando os olhos e se deixando levar.
Ele beijou o seu ombro delicadamente testando para ver se havia recusa da parte dela. Deslizou beijando o pescoço e a virou beijando a boca com vontade, trazendo o corpo dela com força para junto do seu.
Ela se entregou à boca e as mãos dele que sabia exatamente com que intensidade e força tocar cada parte do seu corpo.
Foram muitos beijos regados a desejo carnal, e roupas sendo tiradas as pressas.
Venícia explorou cada parte daquele corpo que fez ela fantasiar todos aqueles dias e se deixou ser explorada, invadida com prazer.
Quando se deu conta de que faltava algo e ia parar, ele colocou o preservativo na sua mão para que ela mesma o colocasse.
Nesta noite ela se descobriu mulher, descobriu que deseja, é desejada e que podia sentir muito prazer.
Exaustos adormeceram.
CAPITULO VIII - Dia Seguinte
Ela se levantou antes dele, sem maiores intimidades pegou as roupas, bolsa e sapatos, saiu à procura de um táxi e voltou para a pousada. Tinha consciência de que o acontecido na noite anterior era algo que nada envolvia sentimento ou compromisso de ambas as partes, além do mais também não tinha interesse sentimental por Hugo.
Quando entrou no seu quarto trancou a porta encostou nela e sorriu lembrando da loucura que tinha acabado de cometer. Fechou os olhos e relembrou cada momento vivido ao lado daquele homem. A noite passada havia despertado nela uma mulher que ela desconhecia. Uma mulher cheia de planos, sonhos, que estava vendo a vida de uma outra forma, que se sentia mais mulher, mais completa, desejada, que desejava, que tinha fantasias e sentia prazer.
Foi tomar um banho, e o barulho da água fez ela viver a noite maravilhosa que teve com Hugo. Ainda sentia as mãos dele e a boca percorrendo o seu corpo.
Depois do banho veio a realidade e as preocupações; “ Será que acabou?
Como me comporto de agora em diante? Cumprimento? Evito? Converso sobre o assunto ou faço de conta que não aconteceu nada?”
Ela realmente não sabia o que fazer, nunca na vida tinha feito sexo sem compromisso, então não sei sabia como se comportar no dia seguinte e isso começou a atormentar, pois ainda tinha uns dias pela frente e não queria perder a viagem.
Ligou para a amiga e ficou muito tempo conversando,. Tâmila aconselhou a agir naturalmente.
Ela se perguntava; “Como agir naturalmente, se nem antes conseguia agir com naturalidade na presença dele?”
Neste dia ela tomou o café no quarto se fechou e ficou atenta aos barulhos para ver se ele chegava . Coisa que não aconteceu e um dia se passou.
Como ele não havia aparecido por um dia inteiro, ela não resistiu e foi até a portaria para saber do seu vizinho. Foi informada de que ele não havia passado a noite ali.
Achou estranho, mas até gostou porque não teria que encontrá-lo. Foi passear e fazer mais compras. Pensou nele o tempo todo, e passou o dia fora.
Resolveu jantar num restaurante simpático e pequeno. Enquanto ajeitava as suas sacolas e aguardava o pedido avistou ele no balcão bebericando algo.
Se perdeu observando os contornos dos braços, costas e coxas na calça branca e justa que ele usava.
Ele a viu e sorriu oferecendo o seu copo.
Ela se perdeu de susto e vergonha por ser apanhada. Bateu no enfeite da mesa e derrubou quebrando o vasinho. Se abaixou nervosa para catar os pedaços e viu ele já próximo se abaixando para ajudá-la.
- Boa noite, moça?
- Boa noite.
- Venícia, sobre ontem à noite...- foi interrompido por ela.
- Não, por favor não vamos falar à respeito.
- Mas...
- Não, por favor.
Ele segurou a mão dela, que sentiu o mesmo arrepio daquela noite. Os braços se acariciaram e o beijo foi inevitável. Foram para a pousada e se entregaram mais uma vez à química que se transformava em combustão quando se aproximavam.
Quando o garçom trouxe o pedido só encontrou as sacolas dela na mesa.
Ele recolheu e guardou tendo a certeza de que ela voltaria e assim poderia cobrar pelo prato.
A noite foi de carinho e de sexo selvagem, Venícia se entregou por completo, sem os temores da primeira noite juntos, e assim pode ir à lugares nunca imaginados.
Ele como sempre estava previnido, o preservativo estava sempre presente.
Antes de adormecerem ele pediu:
- Não saia escondido. Você não precisa ir se não quiser.
Ela encostou em seu ombro e sem responder fechou os olhos.
Hugo logo adormeceu.
Ela passou a observá-lo e se questionar: “ O que é isso? Sentimento não é, tenho certeza. O que é isto que sinto só com ele, que fogo é esse, de onde vem? De onde vem este tesão que ele me desperta? Vem dele? Vem de mim? Porque nunca senti antes, porque não sinto com o meu marido?” Depois vieram as indagações sobre o que mudara na sua vida depois dessa experiência. Sabia que nunca mais seria a mesma; “Como vou encarar o meu marido? É verdade que quase nunca nos vemos, mas uma hora vou ter que encará-lo.” Se levantou e foi para a sacada respirar um pouco. Colocou os pensamentos em ordem. Uma nova mulher estava prestes a voltar para a casa. Sentiu o abraço dele e um beijo carinhoso na cabeça.
Achou estranho, não foi um abraço de desejo, foi um abraço de carinho.
- Vamos dormir? - convidou ele.
- Não estou com sono.
- Quer conversar? - perguntou ele preocupado com a reação dela.
- Não. - respondeu ela saindo do abraço dele. - Vou para o meu quarto.
- Fique Venícia, vamos conversar.
- Me desculpe Hugo, mas não temos o que conversar.
- Como não? Já nos conhecemos à quase uma semana. Já transamos 2 vezes e só sabemos os nossos primeiros nomes. Quero saber mais de você, de onde é, o que faz, o que veio fazer aqui?
Ela se sentiu pressionada, achou estranho, pegou as suas roupas e saiu sem responder.
CAPÍTULO IX - A Volta pra Casa
Ela decidiu adiantar a sua volta, arrumou as malas, pagou para uma funcionária ir buscar as suas sacolas. Queria evitar um encontro com Hugo, não queria a intimidade que ele estava buscando. Não queria dividir a sua vida e muito menos contar que era casada. Mas não conseguia parar de pensar na pegada dele, nos beijos, no corpo e no cheiro de homem que era muito característico nele.
Uma batida na porta a trouxe de volta à realidade. Atendeu. Era ele.
- Venícia, posso entrar? - olhou e viu as malas sobre a cama. - Você vai embora?
- Estou indo Hugo.
- Vim me desculpar. Fui invasivo, não tinha porque te encher de perguntas e te constranger.
Ela se aproximou cheia de desejo e o agarrou que imediatamente correspondeu. Mal tiveram tempo de trancar a porta e em meio as malas e sacolas se entregaram mais uma vez.
- Te desejo uma boa viagem de volta.
- Vai ser Hugo, vai ser.
Se despediram ali trocando olhares até onde não dava mais quando ela entrou no táxi. O olhar e a expressão dele ficarão para sempre gravados na sua memória.
Na bagagem nada de fotos, mas na lembrança muitas coisas boas e grandes mudanças internas e externas. Venícia voltou uma nova mulher.
Voltou a estudar, decidiu se empenhar na profissão e acompanhar o marido que teve uma surpresa ao reencontrá-la.
Estava elegantemente sexy, em nada se parecia com a mulher que ele deixara a alguns meses atrás. Tiveram uma noite incrível de reencontro.
Carlos não reconheceu a mulher que ali estava e Venícia descobriu que estar com o marido também era muito bom, e a Espanha e Hugo só foram um tempero à mais.
A sua vida sexual com o marido mudou muito, a pessoal e profissional também. Ela passou a cuidar dos negócios com ele e passaram a viajar juntos.
Assumiu o seu lado sexy, vaidosa, passou a gostar mais de si e começou a ser feliz.
O marido agradeceu a mudança e ela mais ainda, pois somente agora se sentia mulher de verdade.
FIM
P.S.- Hugo se apaixonou por aquela mulher misteriosa, atrapalhada e diferente de todas que havia conhecido. Tentou dizer isso para ela, que não deu chance dele falar. Ela também fez parte da história de sua vida, da mais bela e mais emocionante fase.
ANNE VALENTINE – a escritora de Bragança Paulista, São Paulço, Anne Valentine, reúne seus textos eróticos, e-books, contos e outras prosas na sua página no Recanto das Letras e nos Autores.com.br. Sobre ela mesma ela diz: “Escrevo porque preciso, escrevo porque as histórias fervilham aqui dentro. Escrever sobre o amor é predileção, mas a inspiração é sempre uma surpresa e traz coisas cada vez mais surpreendentes!!! Receber comentários é maravilhoso! Por isso não deixe passar em branco o final da leitura! Para o escritor TODO comentário é de extrema importância. Meus contos eróticos tem o intuito de provar que para ser picante, excitante, não precisa ser escrachado, vulgar, se utilizar de palavras de baixo calão e colocar sempre a mulher como objeto para dar prazer. E claro, será sempre escrito a partir do ponto de vista de uma mulher, que espera mais, que quer mais. Eu visualizo e me inspiro na vida alheia, nas histórias das pessoas e lugares que conheço. Sou romancista de natureza, e ainda tenho muita coisa que precisa ser publicada aqui, mas falta tempo...”
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