terça-feira, julho 28, 2009

Arthur Rimbaud



Imagem: Sitzender Akt auf Kissen, 1911 do pintor do Expressionismo alemão, August Macke (1887-1914)

A POESIA ERÓTICA DE ARTHUR RIMBAUD


TERCEIRO SONETO DE "LES STUPRA"
Franzida e obscura como um ilhós
Violeta,
Ela respira, humilde,entre a relva
Rociada
Ainda do amor que desce a branda
Rampa das
Brancas nádegas até o coração da
Greta.
Filamentos iguais a lágrimas de leite
Choraram sob o vento atroz que os
Arrecada
E os impele através de marnas
Arruivadas
Até perderem-se na fenda dos
Deleites.

Beijando-lhe a ventosa, o meu sonho o fequentam
A minha alma, do coito natural ciumenta
Qual lacrimal e ninho de soluços usa-a.

É a oliva esvaída e é a flauta agreste
O tubo pelo qual desce a amêndoa celeste
Feminal Canaã em seios rocios reclusa.
(trad. José Paulo Paes)

PRIMEIRA TARDE

Era bem leve a roupa dela
E um grande ramo muito esperto
Lançava as folhas na janela
Maldosamente, perto, perto.

Quase desnuda, na cadeira,
Cruzavas as mãos, e os pequeninos
Pés esfregava na madeira
Do chão, libertos finos, finos.

— Eu via pálido, indeciso,
Um raiozinho em seu gazeio
Borboletear em seu sorriso
— Mosca na rosa — e no seu seio.

— Beijei-lhe então os tornozelos.
Deu ela um riso inatural
Que se esfolhou em ritornelos,
Um belo riso de cristal.

Depressa, os pés na camisola
Logo escondeu: "Queres parar!"
Primeira audácia que se implora
E o riso finge castigar!

Sinto-lhe os olhos palpitantes
Sob os meus lábios. Sem demora,
Num de seus gestos petulantes,
Volta a cabeça: "Ora, esta agora!..."

"Escuta aqui que vou dizer-te..."
Mas eu lhe aplico junto ao seio
Um beijo enorme, que a diverte
Fazendo-a rir agora em cheio...

— Era bem leve a roupa dela
E um grande ramo muito esperto
Lançava as folhas na janela
Maldosamente, perto, perto.
(Tradução: Ivo Barroso_

ADORMECIDO NO VALE

É um vão de verdura onde um riacho canta
A espalhar pelas ervas farrapos de prata
Como se delirasse, e o sol da montanha
Num espumar de raios seu clarão desata.

Jovem soldado, boca aberta, a testa nua,
Banhando a nuca em frescas águas azuis,
Dorme estendido e ali sobre a relva flutua,
Frágil, no leito verde onde chove luz.

Com os pés entre os lírios, sorri mansamente
Como sorri no sono um menino doente.
Embala-o, natureza, aquece-o, ele tem frio.

E já não sente o odor das flores, o macio
Da relva. Adormecido, a mão sobre o peito,
Tem dois furos vermelhos do lado direito.
(Trad.: Ferreira Gullar)

SENSAÇÃO

Pelas noites azuis de verão, irei nos caminhos,
Picoté pelos trigos, pisar a erva pequena:
Rêveur, sentirei o frescor tenho os meus pés.
Deixarei o vento banhar a minha cabeça nua.

Não falarei, não pensarei nada:
Mas o amor infinito montar-me -á na alma,
E irei adiante, bem distante, como um bohémien,
Pela natureza, felizes como uma mulher.

PRIMEIRA NOITE

Extremamente era despida
E grandes árvores indiscretas
Às vidraças lançavam eles feuillée
Malinement, muito perto, muito perto.

Sentado sobre a minha grande cadeira,
Seminua, juntava-se às mãos.
Sobre o pavimento frissonnaient de vontade
Os seus pequenos pés tão finos, tão finos.

Olhei, cor de cera,
Um pequeno raio buissonnier
Cintilar no seu sorriso
E sobre o seu seio, mosca rosier.

Beijei as suas finas cavilhas.
Teve suave rire brutal
Quem cortava-se cachos em claros trilles,
Bonito rire de cristal.

Os pequenos pés sob a camisa
Salvaram-se: <>>
A primeira audácia autorizada,
Rire fingia ao punir!

Pauvrets palpitante sob o meu lábio,
Beijei devagar os seus olhos:
Lançou a sua cabeça mièvre
De trás: <>
O Sr., tenho duas palavras a dizer-lhe… >>
Lancei-lhe o resto ao seio
Num beijo, que fez-o rir
Bom rire que bem queria…

Extremamente era despida
E grandes árvores indiscretas
Às vidraças lançavam eles feuillée
Malinement, muito perto, muito perto.

VÉNUS ANADYOMÈNE

Como um caixão verde estanhar, uma cabeça
De mulher à cabelos morenos fortemente pommadés
De uma velha banheira emerge, lento e bête,
Com défices bastante mal emendados;

Seguidamente o colo gordo e cinzento, as largas omoplatas
Quem sobressaem; a costas correm que retorna e que surge;
Seguidamente as redondezas dos rins parecem tomar I' desenvolvimento
A gordura sob a pele parece em folhas planos;

A espinha dorsal é ligeiramente vermelha, e o todo sente um gosto
Horrível étrangement; observa-se sobretudo
Singularités que é necessário ver! a lupa…

Os rins levam duas palavras gravadas: Clara Vir;
- E qualquer este corpo remue e estica seu largo croupe
Bonito hediondamente de um úlcera ao ânus.

O BARCO ÉBRIO

Como descesse ao léu nos Rios impassíveis,
Não me sentia mais atado aos sirgadores;
Tomaram-nos por alvo os Índios irascíveis,
Depois de atá-los nus em postes multicores.

Estava indiferente às minhas equipagens,
Fossem trigo flamengo ou algodão inglês.
Quando morreu com a gente a grita dos selvagens,
Pelos Rios segui, liberto desta vez.

...................................

Mais doce que ao menino os frutos não maduros,
A água verde entranhou-se em meu madeiro, e então
De azuis manchas de vinho e vômitos escuros
Lavou-me, dispersando a fateixa e o timão.

Eis que a partir daí eu me banhei no Poema
Do Mar que, latescente e infuso de astros, traga
O verde-azul, por onde, aparição extrema
E lívida, um cadáver pensativo vaga;

...................................

Se há na Europa uma água a que eu aspire, é a mansa,
Fria e escura poça, ao crepúsculo em desmaio,
A que um menino chega e tristemente lança
Um barco frágil como a borboleta em maio.

Não posso mais, banhado em teu langor, ó vagas,
A esteira perseguir dos barcos de algodões,
Nem fender a altivez das flâmulas pressagas,
Nem vogar sob a vista horrível dos pontões."

SONETO DO OLHO DO CU

De Artur Rimbaud & Paul Verlaine

Obscuro e franzido como um cravo roxo,
Humilde ele respira escondido na espuma,
Úmido ainda do amor que pelas curvas suaves
Dos glúteos brancos desce à orla de sua auréola.
Uns filamentos como lágrimas de leite,
Choraram ao vento inclemente que os expulsa,
Passando por calhaus de uma argila vermelha,
Para escorrer por fim ao longo das encostas.
Muita vez minha boca uniu-se a esta ventosa,
Sem poder ter o coito material, minha alma
Fez dele um lacrimário, um ninho de soluços.
Ele é a tonta azeitona, a flauta carinhosa,
Tubo por onde desce a divina pralina,
Canaã feminino que eclode na umidade.
(Trad. José Miguel Wisnik)

ARTHUR RIMBAUD – Jean-Nicolas Arthur Rimbaud nasceu em 20 de outubro de 1854, em Charleville, nas Ardenas. Sua precocidade revelou-se no Colégio de Charleville, onde surpreendeu mestres e colegas com sua inteligência excepcional que o levava a traduzir poesias latinas. Com 15 anos publicou seu primeiro poema. Com o fim da guerra cresce seu desejo de viver em Paris para onde vai em setembro de 1871. Às vésperas de sua partida escreve Le bateau Ivre, uma de suas obras-primas. Na capital francesa conhece Paul Verlaine com quem teria uma conturbada relação. A agressividade em seus contatos com os meios literários, a vida boêmia e o uso de drogas caracterizam sua conduta em Paris. Lá viveu menos de seis meses, voltando em fevereiro de 1872 para Charleville. Retorna a Paris a pedido de Verlaine e seguem juntos para a Bélgica, permanecendo algumas semanas em Bruxelas. Depois de sucessivas brigas separam-se. No final de 1872 Rimbaud termina Un saison en enfer e dois anos depois Illuminations, encerrando, aos 20 anos, sua carreira literária. Começa a viver uma nova existência, entre mistérios sucessivos. Nos anos seguintes percorre toda a Europa. Em 1880 vai para a Abissínia trabalhar no comércio de marfim, café e peles. No início de 1891 nasce um tumor em seu joelho direito que provoca dores terríveis. Volta a França para se operar e é diagnosticado que ele está com câncer. Sua perna é amputada. Internado pela segunda vez morre em novembro de 1891, aos 37 anos.

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