quinta-feira, junho 18, 2009

DO FUNDO DO POÇO AO FULGOR DO FAROL: ARMADILHAS



Imagem: Attempting the Impossible, 1928 do pintor do Surrealismo belga, René Magritte (1898-1967)

DO FUNDO DO POÇO AO FULGOR DO FAROL: AS ARMADILHAS

“(...) Esse amor se existiu, floriu por dentro, imagem sem contorno e tão ficticia que se fez de renúncia, foi silêncio numa casa vazia” (Circulo, Gilberto Mendonça Teles).


ARMADILHAS


Letra & música de Luiz Alberto Machado


Eu te amei
apesar das armadilhas
Que perseguem todo amor

Eu me dei
Fui deriva tão somente
No teu jeito iridescente
Me pegou em pleno vôo

Me joguei
Respirei com tua vida
De maneira descabida
Que ninguém jamais ousou

Quando em vez
Permaneço em ti oculto
É aí que vem teu vulto
No poema que pintou

Hoje sou o delírio e a vertigem
Das lembranças que me afligem
Em pleno corredor

Já vingou e fez da dor o vício
Me jogou no precipício
E me salvou com teu amor

Eu bem sei quem sabe chega o dia
O destino dê valia
E me entregue a tua flor

O amor sempre prega das suas. É quando o amor quem manda que tudo sai da rota e dimensão. Quem escapa?

Primeiro, um ano: um mar de rosa. Só poesia e amor-perfeito. Mais: beijos, sexo, paixão. Tudo lindo, maravilhoso e entrega e identidade.

Dois anos, a coisa começa a emborcar. Ciúmes, cobranças, sexo, paixão e ódio. Tudo escalando uma íngreme passagem. Mas vai, aos trancos e barrancos.

Três anos: aos tombos, desce a ladeira desenfreada. É quando a gente olha pra gente à queima-roupa e diz: ela é linda de morrer, mas não é minha. Que adianta? Não tem mais âncora, nem porto.

É aí que a ainda se olha nos olhos e vê que nos últimos dois anos tudo se gastou, se desgastou e ofendeu o desejo e a ternura. Interrompida, virou silêncio na minha alma vazia. Virou renúncia de reavivar vulcão extinto. Não passou, mas ficou na insegurança, na aflição. O que era feitiço de luz e prazer, virou fatalidade chega dá no mocotó de dor até nas vísceras. Findando só com as prateleiras vazias, cinzas e uma dor de anteontem.

Foi quando vi o negro fundo do poço. Sem saída, sem apoio, sem perspectivas nem ninguém e com os nós das tripas coração.

É o fundo do poço. Na cabeça, veias e emoções, tudo reprisa, flash back, slow motion nos mínimos detalhes. Tudo em mim embriagado pela sedução da arte de ser mulher. Mas é mera ficção, já passou. Não tem firmeza, nem mais confiança. Desvaneceu. Restou o jejum e a clausura de não ter ninguém nem pra onde ir.

É o fundo do poço. E tudo desvelou o que não queria numa dor incoerente: a indiferença. Aí foi só arreando as bandeiras, arquivando as emoções, dando baixa no apreço e na paixão. E na minha dor eu jurei para mim: eu vou! Eu vou pagar, vencer, me livrar 100% de todas as garras e sumir! E fui, obstinado com a cabeça nos seios, no sexo, nas traquinagens de meio dia, nos agarrados da tarde toda, nas lambuzadas de noite adentro e fui destemido e certo. Morri por seis dias. Carreguei meu desespero, cavei tudo com minhas próprias unhas e alucinações. Me enterrei e não quis mais nada.

Aí quando a outra pessoa se faz de mouca, não dá mais: é o fim da picada. Para quem está morto enterrado, não há mais para onde ir. É o cúmulo do limite. Não tem mais jeito, não adianta ficar amuado cantando Jobim “Só tinha que ser com você” com a voz embargada e coração doendo mais que o corte que não sara. Não dá, tem que sair pro mundo, pra vida!

Bate a lembrança cortando a carne. Era tudo azul. Mas não deu, paciência. Passou. Agora só na outra. Não adianta, o que vale é a vida, ora.

Era o fundo do poço. Mas como tenho sete vidas lascadas e fôlego de escafandrista, me libertei, vou pra vida e vou deitar minha cabeça sobre os primeiros seios rosados, e vou amparar os meus dédalos nos primeiros decotes de sol e mar, e vou largar minha alma cansada e sofrida no primeiro relance de saias para dormir de não mais se acordar com a cabeça no colo da esperança entre as coxas que guardam o sexo desejado e me dará o ventre entumescido para que possa matar minha sede de século e poder morrer sorrindo a qualquer hora abraçado no jeito delirante de sedução da mulher.

PS: quero manifestar minha eterna gratidão à amiga, poeta, atriz e fotógrafa carioca, Mirita Nandi, pelo apoio inestimável e abraço terno dos últimos dias. E também para a minha amiga psicóloga paulista, Ana Bia Luz, que mesmo distante milhares de quilômetros, manifestou gesto inigualável de solidariedade. Obrigado, vocês são um amor de pessoas. Beijos no coração de vocês.

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